Este estudo é parte de uma Análise do Livro do
Gênesis. Nosso interesse é ajudar todos os leitores a apreciarem a rica herança
que temos nas páginas da História Primeva da Humanidade. No final de cada
estudo o leitor encontrará direções para outras partes desse estudo
O Livro do Gênesis
O Princípio de Todas as Coisas
בְּרֵאשִׁית בָּרָא אֱלֹהִים אֵת הַשָּׁמַיִם וְאֵת הָאָרֶץ
Eretz ha
ve-et Hashamaim et
Elohim Bará Bereshit
Terra a
e céus os
Deus criou princípio No
Gênesis 1:1
VII. Gênesis 3—11 —
PARTE C.
CONTINUAÇÃO...
Verso
6: Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e
árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também
ao marido, e ele comeu.
De repente, a árvore proibida possuía, da perspectiva da
mulher, três qualidades que a recomendavam:
1. Em primeiro lugar a árvore era fisicamente agradável,
isto é, “era boa para se comer”.
2. Em segundo lugar, a árvore parecia ser esteticamente agradável,
pois o texto bíblico nos diz que a árvore era: “agradável aos olhos”.
3. Em terceiro lugar, e isto é bastante estranho, a árvore parecia
possuir uma qualidade que, aos olhos da mulher, a transformavam em uma árvore:
“desejável para dar entendimento”. Isto parece ser resultado direto da fantasia
que existia na cabeça de Eva, pois não temos nenhuma idéia de como é que alguém
pode tornar-se mais sábio apenas por comer determinado fruto. Todavia, esta
parece ser, das três qualidades, aquela que mais apelava à mulher em sua
desvairada fantasia.
A ironia da cena está finamente estampada na trama. Ao decidir
desobedecer ao mandamento de Deus, a mulher manifestava a mais absoluta falta
de entendimento, que por ironia, era exatamente o que ela estava buscando
alcançar mediante o ato de desobediência ao mandamento de Deus
Excitada pela idéias disseminadas pela Serpente, a mulher acredita
realmente que o fruto desta árvore possui a capacidade de satisfazer não
somente ao apetite e ao paladar, mas também à razão! Aliado a isto, existia a
promessa da serpente de que eles poderiam “ser como Deus, conhecedores do bem e do
mal”. Mas tomar e comer do fruto proibido, não representava
para eles também a realidade da morte, de acordo com as palavras de Deus quando
disse: “no dia em que dela comeres, certamente morrerás”. Sim, e eles certamente sabiam disso. Mas como é que eles
entendiam a expressão “morte”? Temos que tomar sempre muito cuidado para não
trazermos para dentro dos textos bíblicos nossas idéias preconcebidas. Neste
caso me refiro a lermos a expressão morte da maneira como estamos acostumados a
utilizá-la, que é, como representativa dos conceitos de: cessação da vida ou da
existência ou mesmo da consciência. Para o homem e sua mulher estes conceitos
não estavam presentes, pois se este fosse o caso, que vantagem teriam realmente
de tomar e comer do fruto? Para eles, portanto, o conceito representado pela
expressão “morte” implicava sim, na separação de Deus, de Seus favores e da
possibilidade de participar, em algum tempo futuro, da árvore da vida. Mas,
diante da fantasia causada pelo desejo de ser algo mais, tudo isto poderia ser
amplamente compensado pelo conhecimento adquirido, pela elevação alcançada e
pela exaltação de ser, exatamente, como Deus mesmo. Aqui estamos diante de uma
complexa “teia” dos mais intricados sofismas e, devemos ter a humildade
para nunca presumir que podemos entender exatamente tudo o que estava se
passando na mente de nossos primeiros pais.
Em resumo podemos dizer que, para a mulher, não havia nenhuma
outra maneira de se alcançar o conhecimento, a não ser por um ato de aberta
desobediência a um mandamento direto de Deus. Por outro lado era como se não
existisse nenhuma outra maneira de ser semelhante a Deus, que não fosse essa,
alcançada mediante um ato voluntário de desobediência. Para a mulher, comer do fruto, em flagrante desobediência ao
mandamento de Deus, era a única maneira de alcançar — sequil — entendimento. Esta última expressão
significa literalmente o seguinte: “prosperar, fazer prosperar ou ter sucesso”.
E é exatamente nisto mesmo que reside a essência da cobiça: um desejo veemente
de possuir algo, de tal maneira, que parece que só poderemos alcançar a
verdadeira felicidade se possuirmos o objeto desejado. O homem e sua mulher são
culpados desta terrível transgressão. Quando iremos aprender que nossa
verdadeira felicidade só pode ser alcançada, de forma exclusiva, mediante nosso
relacionamento com Deus? E isso nas condições estabelecidas por
Deus mesmo.
O primeiro relato de pecado na Bíblia está limitado ao uso de 8
palavras apenas:
וַתִּקַּח = wattiqqah - tomou-lhe.
מִפִּרְיוֹ = mippireyo - do fruto.
וַתֹּאכַל = watto`kal - e comeu.
וַתִּתֵּן = wattitten - e deu.
גַּם־לְאִישָׁהּ
= gam-le`isah - também ao marido.
עִמָּהּ = `immah – esta palavra funciona literalmente como um advérbio ou uma
preposição significando “com” e não é normalmente traduzida.
וַיֹּאכַל = wayy`okal – comeu.
Ao contrário da crença popular que diz que eles comeram uma maçã,
a Bíblia não especifica qual tipo de fruto Adão e Eva comeram. A única árvore
frutífera mencionada diretamente no texto é a figueira, no verso 7. A tradição,
geralmente aceita de que nossos primeiros pais comeram uma maçã, provavelmente
está baseada na similaridade sonora, em latim, entre malus, “mal”, e malum, “maçã”.
Devemos notar que a mulher não tenta o homem. Ela apenas estende a
mão e ele toma o fruto e come. O homem não questiona nem argumenta contra. Não
há diálogo registrado entre eles. O que move Adão não é o desejo de agradar sua
mulher como alguns poderiam supor. O que o move é sua própria cobiça como
persuadido pela sua própria consciência, de que aquela era a atitude certa a
tomar. A mulher permite que sua própria mente e julgamento sejam seus guias. O
homem nem aprova nem condena o que ela faz. Mas ao pecar, desobedecendo a uma ordem
direta do seu Criador, Adão pecou contra a verdadeira e grande sabedoria; pecou
contra incontáveis graças e misericórdias que lhe haviam sido manifestas e
demonstradas; pecou, ainda mais, contra a luz mais cristalina que alguém
poderia ter recebido e, contra o maior amor contra o qual uma criatura pode
pecar.
De acordo com o relato da queda no pecado que encontramos
no livro de Gênesis, o homem não se encontrava em liberdade para pecar. Pelo
contrário ele é mostrado como estando debaixo de um mandamento divino para não
pecar e tinha como grande incentivo a ameaça de Deus de que ele morreria caso
desobedecesse, independentemente do que isso significava. Adão e Eva estavam
debaixo de um mandamento restritivo de Deus para não fazerem o que eles
acabaram, de fato, fazendo. Liberdade, como autoridade, é composta por dois
elementos: capacidade ou força, associada ao direito. Toda a autoridade que
exercita a força sem o direito constitui-se em uma perversão desta mesma
autoridade, naquilo que chamamos de totalitarismo. Da mesma maneira a liberdade
que faz aquilo que não tem o direito de fazer constitui-se em uma perversão
desta mesma liberdade naquilo que chamamos de anarquismo.
A afirmação teológica de que Deus criou o homem livre,
isto é, com uma liberdade tal que o permitia pecar — chamada tecnicamente de “posse pecare”, constitui-se em uma
explicação do pecado pelo próprio pecado. Se Deus dotou o homem com este tipo
de liberdade, então Deus não poderia, em justiça, permitir que a liberdade
humana sofresse a escravidão que o pecado impõe sobre ela.
OUTROS ARTIGOS ACERCA DO LIVRO DE GÊNESIS
001 — Introdução e Esboço
002 — Introdução ao Gênesis — Parte 2 — Teorias Acerca da Criação
003 — Introdução ao Gênesis — Parte 3 — A História Primeva e Sua Natureza
004 — Introdução ao Gênesis — Parte 4 — A Preparação para a Vida Na Terra
005 — Introdução ao Gênesis — Parte 5 — A Criação da Vida
006 — Introdução ao Gênesis — Parte 6 — O DEUS CRIADOR
007 — Introdução ao Gênesis — Parte 7 — OS NOMES DO DEUS CRIADOR, OS CÉUS E A TERRA
008 – Gênesis — A Criação de Deus - Parte 1 – A Criação de Deus Dia a Dia – O Primeiro Dia — Parte 1
009 – Gênesis — A Criação de Deus - Parte 8A – A Criação de Deus Dia a Dia – O Primeiro Dia — Parte 2
010 — Estudo de Gênesis — A Criação de Deus - Parte 9 – A Criação de Deus Dia a Dia – O Segundo e o Terceiro Dia
011 — Estudo de Gênesis — A Criação de Deus — Parte 10 — A Criação de Deus Dia a Dia — O Quarto Dia
012 — Estudo de Gênesis — A Criação de Deus — Parte 11 — A Criação de Deus Dia a Dia — O Quinto Dia
013 — Estudo de Gênesis — A Criação de Deus — Parte 12 — A Criação de Deus Dia a Dia — O Sexto Dia — Parte 1
013A — Estudo de Gênesis — A Criação de Deus — Parte 12A — A Criação de Deus Dia a Dia — O Sexto Dia — Parte 2
014 — Estudo de Gênesis — A Criação de Deus — Parte 13 — Teorias Evolutivas
015 — Estudo de Gênesis — Gênesis 2 — Parte 14 — GÊNESIS 2A
016 — Estudo de Gênesis — Gênesis 2 — Parte 15 — GÊNESIS 2B
017 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — Parte 16 — GÊNESIS 3A
018 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — Parte 17 — GÊNESIS 3B
019 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — Parte 18 — GÊNESIS 3C
020 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — O Livre Arbítrio — Parte 19
021 — Estudo de Gênesis — Gênesis 3 — O Dois Adãos — Parte 20
022 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — A Era Pré-Patriarcal e a Mulher de Caim — Parte 21
023 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — Caim, O Primeiro Construtor de Uma Cidade — Parte 22
024 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — Caim, Como Assassino e Fugitivo da Presença de Deus — Parte 23
025 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — Caim, Como Primeiro Construtor de uma Cidade e Pseudo-Salvador da Humanidade — Parte 24
026 — Estudo de Gênesis — Gênesis 4 — A Conclusão Acerca de Caim — Parte 25
027 — Estudo de Gênesis — Gênesis 5 — Sete e outros Patriarcas Antediluvianos — Parte 26
028 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — A Perversidade Humana, Os Filhos de Deus e as Filhas dos Homens— Parte 27A
029 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — OS Nefilim e os Guiborim — Os Gigantes e os Valentes — Parte 27B
030 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — A Maldade do Coração Humano— Parte 27C.
031 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — A Corrupção Humana Sobre a Face da Terra e Deus Pode se Arrepender? — Parte 27D.
032 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — Noé e a arca que ele construiu orientado por Deus — Parte 28A.
033 — Estudo de Gênesis — Gênesis 6 — Noé e a arca que ele construiu orientado por Deus — Parte 28B.
034 — Estudo de Gênesis — Gênesis 7 — Noé e a arca que ele construiu orientado por Deus — Parte 29 — O Dilúvio Foi Global Ou Local?
035 — Estudo de Gênesis — Gênesis 8 — A promessa que Deus Fez a Noé e seus descendentes — Parte 30 — Nunca Mais Destruirei a Terra Pela Água
036 — Estudo de Gênesis — O Valor Perene do Dilúvio para todas as Gerações — PARTE 001
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038 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 001
039 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 002
040 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 003
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042 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 005 — OS FILHOS DE NOÉ — PARTE 001
043 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 006 — OS FILHOS DE NOÉ — PARTE 002 — OS NEGROS SÃO AMALDIÇOADOS?
044 — Estudo de Gênesis — A Aliança de Deus com Noé — PARTE 007 — OS FILHOS DE NOÉ — PARTE 003 — A CONTRIBUIÇÃO DOS FILHOS DE NOÉ PARA A HUMANIDADE
Que
Deus abençoe a todos.
Alexandros
Meimaridis
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