Mostrando postagens com marcador Teologia da Prosperidade. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Teologia da Prosperidade. Mostrar todas as postagens

sábado, 2 de abril de 2016

AVIVAMENTO, TEOLOGIA DA PROSPERIDADE E CRESCIMENTO DA IGREJA


Charles Finney, defensor da ideia que a salvação depende do próprio ser humano e não de Deus

Ansiando por Avivamento

Michael Horton

Muito do que distingue a cultura norte americana - o culto da celebridade, da juventude e da inovação - nasceu na trilha de serragem dos avivalistas. O culto da Próxima Grande Coisa - quer fosse uma nova banda de rock, modismo de dieta, movimento político ou explosão espiritual ou cruzada religiosa - não é resultado simplesmente de nosso cativeiro à cultura; o fenômeno cultural mais amplo talvez nunca tivesse surgido não fossem os avivamentos. Numa sociedade anterior à televisão, os avivamentos não eram apenas influenciados pela cultura popular. Eram a cultura popular.

Há duas maneiras de entender os avivamentos. A primeira é ver o avivamento como uma “surpreendente obra de Deus”, uma “bênção extraordinária de Deus sobre seus meios ordinários de graça”. Foi assim que Jonathan Edwards via, conforme Ian Murray sumariza.[1] Deus é totalmente livre para impedir ou enviar o avivamento conforme ele deseja.

A segunda abordagem vê o avivamento como algo dentro de nosso controle - algo que pode ser encenado e gerenciado com resultados previsíveis. Se seguir os passos certos, você consegue os resultados certos. Basicamente, esta é uma abordagem tecnológica à religião. Como um gênio da garrafa, até Deus está sujeito às leis de causa e efeito. Nas palavras do evangelista do século Dezenove, Charles Finney (principal promotor desse segundo ponto de vista): “Um avivamento não é milagre nem depende em qualquer sentido de um milagre. É simplesmente o resultado filosófico do uso correto dos meios como qualquer outro efeito”. O impulso radical protestante por evidências extraordinárias e métodos extraordinários tornou-se especialmente marcante com Charles Finney. Finney definiu suas “novas medidas” como “induções suficientes para converter os pecadores”.[2]

Ironicamente, sob o verniz do derramamento do Espírito, essa espécie de avivamento era mais como o deísmo: Deus estabeleceu estas leis e agora depende de nós. Sinto a mesma espécie de coisa quando me deparo com evangelistas da prosperidade. Por mais que se fale em milagres, essas maravilhas acabam sendo totalmente naturais. Siga os passos que mando e você conseguirá o seu milagre. Será que Deus realmente é necessário nesse esquema, exceto como arquiteto original que estabeleceu tudo desse jeito?

Era feita constante pressão sobre a engenhosidade do evangelista para manter a temperatura emocional. Não era necessário somente a experiência inicial de conversão, mas uma perpétua experiência de tremedeira e abalos. “O avivamento pode diminuir ou acabar”, advertia Finney, “a não ser que os cristãos sejam frequentemente reconvertidos”.[3] Um avivamento podia ser planejado, encenado e manejado. A Grande Comissão dizia apenas “Ide”, de acordo com Finney.

Ela não prescrevia fórmulas. Não as admitia... e o objetivo dos discípulos era tornar conhecido o evangelho da maneira mais efetiva... a fim de obter a atenção do maior número possível. Ninguém pode encontrar qualquer forma de fazer isso estabelecida na Bíblia.[4]

Assim como o novo nascimento está inteiramente nas mãos do indivíduo, por meio de quaisquer “excitamentos” propensos a “induzir o arrependimento”, a igreja é concebida principalmente como uma sociedade de reformadores da moral. Em uma carta sobre avivamento, Finney escreveu o seguinte: “Ora, a grande empreitada da igreja é reformar o mundo - acabar com toda espécie de pecado. A igreja de Cristo foi originalmente organizada como corpo de reformadores… para reformar as pessoas individuais, comunidades e governos”. Se as igrejas não querem seguir isso, elas terão simplesmente de ser deixadas para trás.[5] Noutras palavras, têm de pensar como um movimento e não uma igreja.

John Williamson Nevin, contemporâneo reformado de Finney, contrastou o que chamou de “sistema do banco” (precursor do chamado ao altar) e o “sistema do catecismo”:

A antiga fé presbiteriana em que eu nasci, foi baseada na ideia de uma religião familiar do pacto, ser membro da igreja por meio do ato santo de Deus no batismo, e seguir a isso num treinamento catequético regular dos jovens, com referência direta a eles virem à mesa do Senhor. Numa palavra, tudo procedia sobre a teoria de religião sacramental e educativa.[6]

Esses dois sistemas, concluiu Nevin, “no fundo envolvem duas teorias da religião diferentes”.

A conclusão de Nevin tem sido provada pela história subsequente. Perto do final de seu ministério, ao considerar a condição de muitos que haviam experimentado os seus avivamentos, o próprio Finney indagava se esse anseio infindo por experiências cada vez maiores poderia conduzir à exaustão espiritual.[7] De fato, sua preocupação era justificada. A região onde os avivamentos de Finney eram especialmente dominantes hoje é referida por historiadores como “distrito queimado e apagado”, um berço de desilusão e proliferação de seitas esotéricas.[8]

Eventualmente, o ideal de uma experiência de conversão mensurável não apenas aumentou, como também era posta em oposição ao crescimento constante e real, o qual não se podia fazer uma fórmula padronizada de medidas. Havia passos e sinais óbvios que eram marcas verificáveis do fato de uma pessoa realmente estar “por dentro”. A rotina dos procedimentos de conversão acabaram sendo - como os das fábricas na Revolução Industrial - calculada, medida e reproduzida. Foi isto que aconteceu ao avivamentismo anglo-americano.

Cada despertamento sucessivo ou novo avivamento dizia ser radical, dispensando a bagagem do passado que pesa em sobrecarga à missão. Em relação à história da igreja, esses movimentos são, na verdade, radicais. Contudo, não tem sido nada contraculturais, especialmente no contexto americano. Os valores da democracia e da livre empresa - fundamentados na escolha individual - tornaram-se o próprio evangelho no Segundo Grande Despertamento.

O movimento de crescimento da igreja era tão culturalmente (e até mesmo politicamente) atado quanto seus críticos têm argumentado. No entanto, um dos mais alardeados críticos do movimento - o movimento emergente - não parece menos preso aos modismos culturais. Mais uma vez ouvimos as mensagens usuais de “entre nessa ou seja deixado para trás”. Temos de começar tudo de novo, dizem, com igrejas de ministérios comuns comparados a telefones públicos: ainda existem, mas ninguém os utiliza. Como na maioria das rebeliões, isso reflete reações sem discernimento para com o que identifica, quem sabe legitimamente, como sendo consumismo impensado. É fácil simplesmente mudar de partido político. Não requer esforço determinar nossas convicções doutrinárias, simpatias culturais e morais, e práticas eclesiais simplesmente por antíteses. “Tudo tem de mudar!” Acabem com os pastores que pregam sermões; vamos fazer um diálogo com a Bíblia como um dos parceiros da conversa. Compartilhamos nossa jornada. Em qualquer caso, não se trata de frequentar a igreja e sim de ser igreja, não sobre ouvir o evangelho, mas ser o evangelho. O discernimento informado é algo de que o evangelicalismo, através de todas as suas “tribos”, agora parece carecer desesperadamente.

Há muitos hoje que pensam como Edwards, mas agem como Finney. Em Head and Heart (Cabeça e Coração), o historiador católico Garry Wills observa:

A reunião no acampamento marcou o modelo para o credenciamento dos ministros evangélicos. Eram validados pela reação da multidão. O credenciamento organizacional, a pureza doutrinária e a educação pessoal eram inúteis aqui - de fato, alguns ministros mais cultos tinham até de fingir ignorância. O pastor era ordenado pelo seu inferior, pelos convertidos que ele conseguia. Isso era um procedimento ainda mais democrático do que a política eleitoral, onde um candidato representava um ofício e gastava algum tempo fazendo campanha. Esta era uma proclamação espontânea e instantânea realizada pelo Espírito. Essa religião faça você mesmo pedia um ministério “realize por você mesmo”.[9]

Wills repete a conclusão de Richard Hofstadter de que “o sistema de estrelas não nasceu em Hollywood, mas na trilha de serragem dos avivalistas”.[10]

Existem numerosas instruções no Novo Testamento sobre ofícios da igreja e as qualificações dos oficias, pregação, os sacramentos, oração pública e disciplina. Em marcante contraste, não há instruções sobre avivamentos - nem mesmo exemplos. Encontramos no livro de Atos o relato da obra extraordinária do Espírito por meio dos apóstolos. Por todo o relato de Lucas, encontramos a expressão, “E se espalhava a Palavra de Deus”. Era assim que o jardim de Deus crescia. O ministério deles, junto com os sinais e maravilhas que o certificavam, permanecem como as marcas indeléveis da verdade da sua mensagem para nós hoje. Como a Sexta-feira Santa e a Páscoa, Pentecostes foi um evento não repetível na história da redenção, e é um presente que continua frutificando, por meio do ministério corriqueiro.

Muitas das razões que damos para a necessidade de avivamento (letargia no evangelismo e missões, falta de uma experiência genuína da graça de Deus, frieza na oração, aumento dos vícios e da infidelidade, dos males sociais, etc.) são problemas que o ministério comum precisa tratar a cada semana. O anseio por avivamento não somente pode levar-nos a tratar esse ministério como inócuo; pode sutilmente justificar um estado inaceitável no ínterim. Outra questão é a extensão à qual um anseio por avivamento tem sido entretecido na religião civil. O antídoto ao nervo moral decaído e ao fervor patriótico é o avivamento. Entre outros problemas, isso transforma o evangelho em meio para se atingir um fim. A missão da igreja não é mais entregar a Cristo com todos os seus benefícios salvíficos aos pecadores; é principalmente agir como “alma da nação”, conduzi-la adiante e para cima até seu destino excepcional.

Este tem sido o ciclo vicioso do avivalismo evangélico desde então: um pêndulo que oscila entre entusiasmo e desilusão, ao invés de manter firme maturidade em Cristo mediante a participação na vida ordinária da comunidade do pacto. A pregação regular de Cristo a partir de toda a Escritura, Batismo, Santa Ceia, orações de confissão e louvor, e todos os demais aspectos da comunhão cristã ordinária são vistos como comuns demais. Se concordamos com isso depende em grande parte se cremos que é Deus que salva os pecadores ou se achamos que salvamos a nós mesmos com a ajuda de Deus.

Impelidos para lá e para cá com todo vento de doutrina e muitas vezes nenhuma doutrina, aqueles que foram criados no evangelicalismo se acostumaram ao super e a eventos cataclísmicos de intensa experiência espiritual que, no entanto, se desgastam. Quando as experiências acabam, frequentemente existe muito pouco para impedi-los de tentar formas diferentes de terapias espirituais ou de caírem totalmente fora da corrida religiosa.

Não será surpresa que eu prefira a primeira abordagem: avivamento como uma bênção extraordinária de Deus sobre seus meios ordinários de graça. Olhando em retrospectiva para a história da igreja, vemos alguns momentos notáveis em que - contra todas as condições humanas - o Espírito abençoou o ministério de sua Palavra de maneiras extraordinárias. Se o Senhor for enviar outra bênção dessa espécie, devemos nos deleitar em sua surpreendente graça.

Os pregadores de avivamento do passado, mais notavelmente Edwards e Whitefield - e em grande extensão João Wesley - ainda acreditavam que o avivamento era uma bênção extraordinária sobre os meios ordinários da graça de Deus. No livro de Atos encontramos muitos exemplos de experiências óbvias de conversão - frequentemente associadas a fenômenos extraordinários. Porém, é sempre mediante o ministério da Palavra. Mesmo quando um anjo apareceu ao centurião romano, Cornélio, em Atos 10, a mensagem era mandar chamar a Pedro para que ele viesse pregar o evangelho a ele, à sua casa e aos seus soldados. Ouvindo a mensagem, Cornélio e muitos outros creram e foram batizados. Assim, mesmo na era do extraordinário ministério dos apóstolos, os meios ordinários da graça estão na frente e no centro.

Porém, mesmo que seja visto como obra gratuita de Deus e que não tenhamos o direito de exigir nem o poder para controlar, será que o foco no avivamento não contribui para nossa insatisfação com as bênçãos ordinárias de Deus em seus meios ordinários? Estou inclinado a pensar que este é - e tem sido o caso. Observamos esse perigo até mesmo no primeiro Grande Despertamento. Tem sido dito que George Whitefield foi a primeira celebridade dos Estados Unidos. Isso não denigre o seu caráter. De muitas formas, Whitefield demonstrou notável humildade. Para cima e para baixo pela costa Atlântica, porém, os seus eventos de avivamento dividiam as igrejas. Questionar os métodos inovadores que estavam sendo empregados seria apagar o Espírito. Denúncias de diversos pastores como sendo não convertidos, simplesmente por eles terem questionado o avivamento, dividiam até os calvinistas coloniais.

Assim, enquanto temos toda razão ao destacar avivamentos como entendiam Edwards e Whitefield, em contraste ao avivalismo que veio a ser identificado com Finney e o Segundo Grande Despertamento, quero insistir na questão mais profunda: Será que o anseio intenso por avivamento é, em si mesmo, parte do problema, alimentando a expectação febril pelo Próximo Grande Evento? Já não é suficientemente notável que o próprio Jesus Cristo fale conosco sempre que a sua Palavra é pregada a cada semana? Não é milagre bastante que um jardim viçoso esteja florescendo no deserto dessa presente época do mal? Não basta a maravilha de que o Espírito ainda esteja ressuscitando aqueles que estão espiritualmente mortos para a vida, mediante essa pregação do evangelho? Será o batismo de água um compromisso externo, o qual fazemos em resposta a uma decisão que nós fizemos de nascer de novo? Ou não seria um meio da graça milagrosa de Deus? Não é suficiente que os que pertencem a Cristo estejam crescendo na graça e no conhecimento de sua Palavra, fortalecidos na fé pela administração regular da Ceia, comunhão na doutrina, oração e louvor, dirigidos por presbíteros e servidos por diáconos? Não tende esse anseio por avivamento a dar a impressão de que entre os avivamentos há calmarias em que o Espírito não está ativo, pelo menos no mesmo poder ou grau de poder através desses meios que Cristo designou?

Da perspectiva do Novo Testamento, o que acontece todo dia nas igrejas através da América e por todo o mundo é o que realmente importa em termos de arrependimento e fé. O problema é que muitas igrejas que anseiam o avivamento querem isso para consertar nossos males espirituais como nação, mas, sem saber, são propagadores da secularização das pessoas nos bancos das igrejas a cada semana. Não é apenas este ou aquele avivamento, a meu ver, mas o próprio anseio por avivamento que trabalha contra o meio paciente, difícil, frequentemente entediante, no entanto, maravilhosamente efetivo que Deus ordenou para a expansão de seu reino.  O pragmatismo passa a ser a norma. Passado e presente têm de ser esquecidos. Deus está fazendo algo completamente novo entre nós, que não pode ser limitado a vasos antigos. É este modo de pensar que nos tira da pregação fiel, da administração dos sacramentos, e da responsabilidade mútua pela vida e doutrina na comunhão dos santos.

Notas:

[1] Ian Murray, Revival and Revivalism: The Making and Marring of American Evangelicalism, 1750 – 1850 (Edinburgh: Banner of Truth, 1994). Acho persuasiva e útil sua distinção entre avivamento e avivamentismo. No entanto, fica aberta e pergunta se a ênfase anterior também não prejudicou o ministério ordinário.

[2] Ironicamente, Finney tinha ponto de vista ex opere operato das próprias novas medidas que jamais permitiram o batismo e Ceia. Quanto à carga pelagiana, a Systematic Theology (Minneapolis: Bethany, 1976) de Finney nega explicitamente o pecado original e insiste em que o poder da regeneração está nas mãos do próprio pecador, rejeitando qualquer noção substitutiva da expiação em favor das teorias de influência moral e governo moral, considerando a doutrina da justificação por justiça de outrem como sendo “impossível e absurda”. Na verdade, Roger Olson, em sua defesa do Arminianismo, vê a teologia de Finney como estando muito além do âmbito arminiano (Arminian Theology [Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2006], 27). É assim ainda mais notável que Finney tenha ocupado lugar tão distinto entre os evangélicos, como ilustra o tributo a ele no Centro Billy Graham (em Wheaton, Illinois). Não nos admira que a religião norte-americana pareceu a Bonhoeffer como sendo “Protestantismo sem a Reforma”.

[3] Charles G. Finney, Revivals of Religion (Old Tappan, NJ: Revell, n.d.), 321.

[4] Citado por Michael Pasquarello III, Christian Preaching: Trinitarian Theology of Proclamation (Grand Rapids: Baker Academic, 2007), 24.

[5] Charles Finney, Lectures on Revival (2nd ed.; New York: Leavitt, Lord, 1835), 184 – 204. “Lei, recompensas e castigos - essas coisas e afins estão no coração e alma da persuasão moral... Meus irmãos, se os corpos eclesiásticos, faculdades, e seminários apenas avançassem - quem não lhes desejaria a bênção de Deus? Mas se eles não progridem - se nós não ouvimos deles nada senão queixas, denúncias, repreensões com respeito a quase todos os ramos de reforma, o que poderá ser feito?”

[6] John Williamson Nevin, The Anxious Bench (London: Taylor & Francis, 1987), 2 – 5.

[7] Veja Keith J. Hardman, Charles Grandison Finney: Revivalist and Reformer (Grand Rapids, Baker, 1990), 380 – 94

[8] Veja, por exemplo, Whitney R. Cross, The Burned-Over District: The Social and Intellectual History of Enthusiastic Religion in Western New York, 1800 – 1850 (Ithaca, NY: Cornell University Press, 1982).

[9] Garry Wills, Head and Heart: American Christianities (New York: Penguin, 2007), 294.

[10] Ibid., 302.

Este artigo é um trecho do livro Simplesmente Crente, lançamento de Março/2016 da Editora Fiel.

O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright. Em caso de dúvidas, faça contato com a Editora Fiel.

Michael Horton

Michael Horton é professor de Apologética e Teologia Sistemática na Westminster Seminary California (EUA).

O artigo original poderá ser visto por meio desse link aqui:


Que deus abençoe a todos.

Alexandros Meimaridis

PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa página no Facebook através do seguinte link:


Desde já agradecemos a todos.      

sábado, 27 de fevereiro de 2016

OS GRANDES EQUÍVOCOS DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE


Deus te ama e tem um plano maravilhoso para a tua vida. 

O artigo abaixo é da autoria do irmão Augustus Nicodemus Lopes.

Afinal, o que está errado com a teologia da prosperidade?

Apesar de até o presente só ter melhorado a vida dos seus pregadores e fracassado em fazer o mesmo com a vida dos seus seguidores, a teologia da prosperidade continua a influenciar as igrejas evangélicas no Brasil.

Uma das razões pela qual os evangélicos têm dificuldade em perceber o que está errado com a teologia da prosperidade é que ela é diferente das heresias clássicas, aquelas defendidas pelos mórmons e "testemunhas de Jeová" sobre a pessoa de Cristo, por exemplo. A teologia da prosperidade é um tipo diferente de erro teológico. Ela não nega diretamente nenhuma das verdades fundamentais do Cristianismo. A questão é de ênfase. O problema não é o que a teologia da prosperidade diz, e sim o que ela não diz.

1. Ela está certa quando diz que Deus tem prazer em abençoar seus filhos com bênçãos materiais, mas erra quando deixa de dizer que qualquer bênção vinda de Deus é graça e não um direito que nós temos e que podemos revindicar ou exigir dele.

2. Ela acerta quando diz que podemos pedir a Deus bênçãos materiais, mas erra quando deixa de dizer que Deus tem o direito de negá-las quando achar por bem, sem que isto seja por falta de fé ou fidelidade de nossa parte.

3. Ela acerta quando diz que devemos sempre declarar e confessar de maneira positiva que Deus é bom, justo e poderoso para nos dar tudo o que precisamos, mas erra quando deixa de dizer que estas declarações positivas não têm poder algum em si mesmas para fazer com que Deus nos abençoe materialmente.

4. Ela acerta quando diz que devemos dar o dízimo e ofertas, mas erra quando deixa de dizer que isto não obriga Deus a pagá-los de volta.

5. Ela acerta quando diz que Deus faz milagres e multiplica o azeite da viúva, mas erra quando deixa de dizer que nem sempre Deus está disposto, em sua sabedoria insondável, a fazer milagres para atender nossas necessidades, e que na maioria das vezes ele quer nos abençoar materialmente através do nosso trabalho duro, honesto e constante.

6. Ela acerta quando identifica os poderes malignos e demoníacos por detrás da opressão humana, mas erra quando deixa de identificar outros fatores como a corrupção, a desonestidade, a ganância, a mentira e a injustiça, os quais se combatem, não com expulsão de demônios, mas com ações concretas no âmbito social, político e econômico.

7. Ela acerta quando diz que Deus costuma recompensar a fidelidade, mas erra quando deixa de dizer que por vezes Deus permite que os fiéis sofram muito aqui neste mundo.

8. Ela está certa quando diz que podemos pedir e orar e buscar prosperidade, mas erra quando deixa de dizer que um não de Deus a estas orações não significa que Ele está irado conosco.

9. Ela acerta quando cita textos da Bíblia que ensinam que Deus recompensa com bênçãos materiais àqueles que o amam, mas erra quando deixa de mostrar aquelas outras passagens que registram o sofrimento, pobreza, dor, prisão e angústia dos servos fiéis de Deus.

10. Ela acerta quando destaca a importância e o poder da fé, mas erra quando deixa de dizer que o critério final para as respostas positivas de oração não é a fé do homem, mas a vontade soberana de Deus.

11. Ela acerta quando nos encoraja a buscar uma vida melhor, mas erra quando deixa de dizer que a pobreza não é sinal de infidelidade e nem a riqueza é sinal de aprovação da parte de Deus.

12. Ela acerta quando nos encoraja a buscar a Deus, mas erra quando induz os crentes a buscá-lo em primeiro lugar por aquelas coisas que a Bíblia constantemente considera como secundárias, passageiras e provisórias, como bens materiais e saúde.

A teologia da prosperidade, à semelhança da teologia da libertação e do movimento de batalha espiritual, identifica um ponto biblicamente correto, abstrai-o do contexto maior das Escrituras e o utiliza como lente para reler toda a revelação, excluindo todas aquelas passagens que não se encaixam. Ao final, o que temos é uma religião tão diferente do Cristianismo bíblico que dificilmente poderia ser considerada como tal. Estou com saudades da época em que falso mestre era aquele que batia no portão da nossa casa para oferecer um exemplar do livro de Mórmon ou da Torre de Vigia...

Postado por Augustus Nicodemus Lopes

O artigo original poderá ser lido por meio do seguinte link:


Que Deus abençoe a todos.

Alexandros Meimaridis

PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa página no Facebook através do seguinte link:


Desde já agradecemos a todos.

domingo, 8 de novembro de 2015

UMA ABORDAGEM POUCO ORTODOXA DOS CHAMADOS EVANGÉLICOS



O artigo abaixo foi publicado pelo site da Revista Superinteressante da Editora Abril.

Evangélicos

Não dá mais para fingir que não vemos. Um a cada cinco brasileiros já é evangélico - e o número continua crescendo. Se você quer entender o Brasil e antever o futuro, precisa antes saber como isso foi acontecer.

Por Redação da Revista Supernteressante

O texano Kenneth Hagin, nascido em 1917, era uma criança doente. Desde os 9 anos, ficou confinado na casa do avô. Aos 16, desenganado pelos médicos, infeliz e preso a uma cama, tinha poucas esperanças de ver sua vida melhorar. Um ano depois, em agosto de 1934, Hagin teve uma revelação. Ele compreendeu de repente o significado de um versículo do Evangelho de São Marcos. A passagem do Novo Testamento dizia: “Tudo quanto em oração pedires, credes que recebeste, e será assim convosco”. Hagin então ergueu as mãos para o céu e agradeceu a Deus pela cura, mesmo sem ver sinal de melhora. Então levantou-se da cama. Estava curado.

A mensagem, que Hagin popularizou por meio de mais de 100 livros, é clara: Deus é capaz de dar o que o fiel desejar. Basta ter fé e acreditar que as próprias palavras têm poder. Sendo assim, para os verdadeiros devotos, nunca faltará dinheiro ou saúde. Essa doutrina ficou conhecida como “teologia da prosperidade”. A crença foi incorporada anos depois por várias igrejas. Ela é central no mais impressionante fenômeno religioso do Brasil contemporâneo: a explosão evangélica.

No começo, essa explosão se deu em silêncio, praticamente ignorada pelas classes médias. Os templos evangélicos surgiam nas cidadezinhas perdidas e nas periferias miseráveis das metrópoles. Já não é mais assim. No primeiro dia de 2004, a Igreja Pentecostal Deus é Amor inaugurou no coração de São Paulo o seu novo templo. A obra tem tamanho de shopping center, arquitetura de gosto duvidoso e comporta 22 mil pessoas sentadas.
É cinco vezes maior que a católica Catedral da Sé, lá perto.

Há meio século os evangélicos são a religião que mais cresce no país. Nos últimos 20 anos, mais que triplicou o número de fiéis: de 7,8 milhões de pessoas em 1980 para 26,4 milhões em 2001, um pulo de 6,6% para 15,6% da população brasileira. Em 2010 já ultrapassava os 40 milhões, Hoje representa cerca de 22% de toda população brasileira. Em algumas cidades, foram criados vagões de trem exclusivos para crentes, em que as pessoas podem viajar ouvindo pregações bíblicas. Em outras, não parece longe o dia em que eles representarão mais de 50% dos habitantes. Com mais de 400 anos de atraso, finalmente estamos sentindo os efeitos da Reforma protestante que varreu a Europa no século 16.

Um terreninho do Céu

Evangélicos, é importante esclarecer, é a mesma coisa que protestantes. As duas palavras são sinônimas. Ou seja, evangélicas são praticamente todas as correntes nascidas do racha entre o teólogo alemão Martinho Lutero e a Igreja Católica, em 1517. O alemão estava especialmente chateado com o comportamento dos padres, que, segundo ele, tinham virado corretores imobiliários do céu, comercializando indulgências – vagas no Paraíso para quem pagasse.

Lutero abriu a primeira fenda no até então indevassável poder papal sobre as almas do Ocidente. A ele se seguiram outros. Na Inglaterra, o rei Henrique VIII criou sua própria dissidência do catolicismo – depois batizada de anglicanismo – só porque o papa não queria que ele se divorciasse e casasse de novo. Na Suíça, Ulrico Zwinglio e João Calvino aprofundaram as reformas de Lutero. Zwinglio pregava o princípio que fundamentaria todo o movimento: o cristão deve seguir apenas a Bíblia (os católicos aceitam influências de teólogos, como Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino). Já Calvino foi o responsável pela introdução do puritanismo, que combinava regras rígidas de conduta com uma fervorosa dedicação ao trabalho. No começo do século 20, o sociólogo alemão Max Weber publicou o texto clássico A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, no qual atribui a essa invenção de Calvino o sucesso do capitalismo em países evangélicos.

Todos esses movimentos estimulavam o fim do monopólio da Igreja sobre a interpretação da Bíblia. Cabia a todo e qualquer cristão ler as Escrituras e tirar delas o que quisesse. Os protestantes recusavam a idéia de que um único líder – o papa – deveria guiar os rumos da religião. Foi isso que começou a fragmentação do movimento em diversas correntes, com pequenas diferenças doutrinárias. Surgem os batistas, os metodistas, os presbiterianos...

Mas o Brasil colonial passou quase imune à avalanche protestante. Houve apenas algumas exceções, como os calvinistas franceses e holandeses que invadiram o país – o primeiro culto evangélico por estas terras foi celebrado por franceses no Rio de Janeiro, em 1557, só 57 anos depois da missa católica inaugural. Era proibido realizar cultos de qualquer religião que não o catolicismo no território português.

A liberdade religiosa no Brasil só veio com a independência, na Constituição de 1824, ainda que impondo restrições de que as reuniões acontecessem em locais que não tivessem “aparência exterior de templo”. No mesmo ano, alemães fundaram a primeira comunidade luterana do Brasil. Logo depois chegaram as correntes missionárias, como os metodistas, dispostas a pregar nas ruas para salvar almas. Eles caíram nas graças da elite intelectual republicana que, impressionada com a “ética protestante”, defendia a presença de evangélicos como condição para a modernização do país.

Mas os protestantes que prosperaram no Brasil pouco tinham a ver com a tal ética protestante de Weber. No início do século 20, a fundação de duas igrejas seria decisiva para definir o perfil evangélico nacional: a Congregação Cristã no Brasil, inaugurada em São Paulo pelo italiano Luigi Francescon, em 1910, e a Assembléia de Deus, aberta um ano depois em Belém pelos suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg. Apesar da origem européia, eles chegaram ao país via Estados Unidos, onde se envolveram com uma nova corrente protestante, o pentecostalismo, um grupo que crescia em popularidade por lá desde a virada do século.

Começou aí o que o sociólogo Paul Freston chama de “a primeira onda do pentecostalismo brasileiro”. O movimento era desaprovado tanto por católicos quanto pelos protestantes “históricos”, como são conhecidas as correntes diretamente ligadas a Lutero e Calvino. Nem uns nem outros gostavam da principal característica da doutrina pentecostal: a exacerbação dos poderes sobrenaturais do Espírito Santo (a palavra “pentecostalismo” vem de uma passagem da Bíblia que diz que, num dia de Pentecostes – a Páscoa judaica –, o Espírito Santo desceu aos apóstolos e começou a operar milagres). O mais notável desses poderes é a capacidade que Deus tem de curar imediatamente qualquer problema de saúde – daí as cenas de aleijados abandonando muletas e míopes pisando nos óculos. O pentecostalismo cresceu na classe baixa, promovendo cultos de adoração fervorosa e improvisada, bem dissonantes dos protestantes tradicionais, tão formais quanto contidos.

Para participar das novas congregações, os fiéis eram obrigados a se submeter a rígidas normas comportamentais. Os pentecostais eram os “crentes” estereotípicos: mulheres de cabelos compridos e saia, homens de terno e Bíblia na mão. As palavras essenciais para entender suas rotinas de vida são ascetismo, ou a recusa de usufruir os prazeres da carne, e sectarismo, o isolamento do restante da sociedade. Por trás delas, está a idéia de que o cristão deve se manter concentrado em Deus. Só assim ele pode evitar que o Diabo ganhe espaço na sua vida. Para os pentecostais, o mundo é simples: o que não é de Deus é o Diabo.

A Deus é Amor, aquela que acabou de abrir um megatemplo no centro de São Paulo, é uma das mais rigorosas entre as pentecostais. Ela proíbe freqüentar praias, praticar esportes ou participar de festas. Às mulheres, é vetado cortar o cabelo e depilar. Crianças com mais de 7 anos não podem jogar bola, graças a um versículo bíblico que diz “desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança”. Tantas regras têm compensação: para os pentecostais, o melhor da vida está reservado aos fiéis para depois da morte.

Até a década de 50, esse modelo reinou sozinho no pentecostalismo nacional. Fez sucesso, mas ficou restrito a grupos relativamente pequenos. A chegada da “segunda onda”, no entanto, traria uma novidade. É o que se convencionou chamar de “neopentecostalismo”. Em 1951 desembarcou aqui a Igreja do Evangelho Quadrangular, inaugurando no país o pentecostalismo de costumes liberais. “Todas essas igrejas que fazem sucesso hoje são nossas filhas, netas ou bisnetas”, diz o pastor Neslon Agnoletto, do conselho nacional da Quadrangular. De fato, inovações como os hinos com ritmos populares, a forte utilização do rádio e regras de comportamento menos duras, todos ingredientes indispensáveis do “evangelismo de massas”, foram práticas importadas pela Quadrangular, fundada nos Estados Unidos em 1923.

Deus é um office-boy

Para resumir, neopentecostalismo quer dizer que Monique Evans, Gretchen e Marcelinho Carioca podem agora se considerar “crentes”. Para isso, algumas adaptações aconteceram: saem os homens de terno e as mulheres de pêlos nas pernas, entram pessoas que se vestem com roupas comuns e não se animam a seguir normas rígidas de conduta. A primeira inovação foi riscar do mapa o ascetismo, o sectarismo e a crença de que a melhor parte da vida está reservada para o Paraíso. “A preocupação dos neopentecostais é com esta vida. O que interessa é o aqui e o agora”, afirma o sociólogo Ricardo Mariano, autor de Neopentecostais – Sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil.

Outra diferença é a radicalização da divisão do Universo entre Deus e o Diabo. Para os neopentecostais, os homens não são responsáveis pelos atos de maldade que cometem: é o Diabo que os leva a pecar. Numa sessão de descarrego da Igreja Universal, o pastor explicou que, se o fiel enfrenta um problema há mais de três meses, é provável que esteja carregando um encosto. “Se a dificuldade completar um ano, daí não há dúvida: a culpa é do demônio”, disse para a congregação. Ele não se referia só a entraves financeiros ou comportamentais. A receita vale para tudo, inclusive para doenças incuráveis. Assim, expulsar o demônio do corpo é a receita única para todos os males, de casamento infeliz até câncer no pulmão.

O ritual é feito aos gritos de “sai, capeta”, às vezes com lágrimas escorrendo pelo rosto e transes que terminam no exorcismo. Os cultos tornaram-se mais ativos, incluindo aplausos para Jesus e música gospel. Mas a inovação mais profunda do neopentecostalismo foi a aplicação da teologia da prosperidade, aquela exposta no primeiro parágrafo desta reportagem. Graças a ela, o neopentecostalismo ganhou o apelido de “fé de resultados”.

“A teologia da prosperidade faz o fiel encarar Deus como um office-boy”, diz o cientista da religião e pastor Paulo Romeiro, autor de Supercrentes – O Evangelho Segundo os Profetas da Prosperidade. “O crente dá ordens e determina o que pretende. Não há qualquer reconhecimento das fragilidades humanas e de suas necessidades em relação a um Deus superior”, afirma Romeiro. No Brasil, além da Universal, a Renascer em Cristo, a Sara Nossa Terra e a Internacional da Graça de Deus adotam a teologia da prosperidade.

A força de enxurrada com que o neopentecostalismo cresceu desorganizou todo o protestantismo. “Há uma verdadeira perda de identidade no movimento evangélico mundial. O pentecostalismo flexibilizou suas exigências comportamentais e até os protestantes históricos passaram a aceitar a participação mais ativa do fiel no culto e algumas manifestações sobrenaturais”, afirma o pastor batista Joaquim de Andrade, pesquisador da Agência de Informações da Religião. Mais e mais, boa parte do mundo protestante aceita a teologia da prosperidade.

A onda de mudança foi bater até onde a Reforma de Lutero não tinha chegado: nas praias do catolicismo. A influência neopentecostal sobre a renovação carismática católica é tão grande que seu maior expoente no Brasil, padre Marcelo Rossi, é acusado de ter gravado hinos religiosos tirados de templos evangélicos.

Promessas de um novo mundo

Mas por que cada vez mais pessoas abandonam suas religiões para tornarem-se evangélicas? Nos anos 60, a nova religião era vista como uma forma de migrantes de zonas rurais enfrentarem a falta de valores e regras da sociedade moderna e estabelecerem relações de solidariedade na metrópole. Demorou dez anos para essa hipótese ser desacreditada por estudos que mostraram que as igrejas eram compostas igualmente pelos pobres nascidos e viventes na cidade e no campo.

Houve espaço para teorias conspiratórias: o avanço evangélico seria um plano dos Estados Unidos (ou do Diabo) para dominar a América Latina. A hipótese foi defendida a sério pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, que na década de 80 enviou memorando ao Vaticano, citado no livro de Mariano, afirmando que a CIA, aliada à direita brasileira, acelerava a “expansão dessa religião alienante no continente para frear a proliferação da Igreja Católica progressista”.

Mas essas explicações não convencem ninguém e o avanço neopentecostal exigiu um novo foco nos estudos. Em seu mais recente trabalho, o ainda não publicado “Análise Sociológica do Crescimento Pentecostal no Brasil”, Mariano afirma que as motivações para a conversão estariam nas soluções mágicas oferecidas. “Uma grande parcela da população não tem acesso ao serviço de saúde – e, quando tem, recebe atendimento precário e mal entende os médicos. É muito mais fácil, e faz mais sentido, acreditar que os problemas são causados pelo demônio e se tratar na igreja”, afirma o sociólogo.

Não é apenas a questão médica que está em jogo. A dualidade entre Deus e o Diabo é uma das mais eficientes respostas para a eterna pergunta sobre como é possível existirem tantas coisas ruins. Um presidiário pode culpar a influência do demônio pelo passado violento – uma explicação para o sucesso da religião nas prisões. Essa dualidade também pode estar na raiz da popularidade evangélica entre ex-viciados em drogas – e de sua comprovada eficácia na luta contra o vício. O apelo pode efetivamente ajudar ex-criminosos e ex-viciados a deixarem seus “maus hábitos” para trás. Com isso, os neopentecostais respondem satisfatoriamente às questões dos nossos tempos – coisa que outras religiões nem sempre conseguem fazer.

Juntando tudo, o que se tem é uma religião que escancara uma ambição materialista e imediata na relação com Deus. Um apelo e tanto, que parece ter especial atração para os mais pobres. Estaríamos, portanto, diante de uma mudança naquilo que as pessoas esperam da experiência religiosa? “Não”, responde o estudioso de religiões Antonio Flávio Pierucci, da Universidade de São Paulo. “A maior parte das religiões tem esse viés materialista. As pessoas sempre rezam com o objetivo de pedir e receber algo. A diferença é que os evangélicos assumem essa faceta sem se envergonhar.”

Seria injusto, no entanto, listar apenas explicações sociológicas para justificar a onda de conversões. Poucas religiões têm tanta disposição para atrair fiéis como os evangélicos. Templos são abertos nos mais distantes rincões e pastores dedicam-se com fervor. As igrejas estão à frente das demais no entendimento de que evangelizar é como convencer um consumidor a comprar. “Os depoimentos de fiéis na TV e no rádio são o apelo de marketing para demonstrar a eficiência dos serviços”, diz Ari Pedro Oro, antropólogo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e organizador do livro Igreja Universal do Reino de Deus. As igrejas seduzem com um produto atraente e oferecem bom serviço. São religiosamente adeptas da mais pura e simples mentalidade empresarial.

Crescei e mutiplicai

Em novembro do ano passado, um evangélico foi ao Programa do Ratinho pedir a devolução dos dízimos que havia dado à igreja. Argumentava que o pastor lhe prometera prosperidade em troca do dinheiro. Sem melhorar de vida, o fiel, como se fosse um consumidor lesado, foi ao Ratinho pedir o dinheiro de volta.

Essa história ilustra de modo brilhante a relação que as neopentecostais criaram com seus fiéis-clientes. Elas prestam um serviço. E eles pagam. É bom lembrar que dar dinheiro a Deus, seja através da caridade ou de doações, é parte da doutrina de diversas religiões, incluindo todas do braço judaico-cristão. Com a teologia da prosperidade, no entanto, o dinheiro ganhou nova função. Agora é preciso dar para receber. Num de seus livros, Edir Macedo, o líder da Universal, explica que devemos formar uma “sociedade com Deus”. “O que nos pertence (nossa vida, nossa força, nosso dinheiro) passa a pertencer a Deus; e o que é d’Ele (as bênçãos, a paz, a felicidade, a alegria, tudo de bom) passa a nos pertencer”, afirma o bispo.

É uma leitura polêmica do Evangelho. A idéia de que dar dinheiro é parte de uma relação de troca com Deus desperta calafrios em muitos religiosos. “É uma contradição. A Reforma protestante começou justamente porque Lutero se levantou contra a venda das indulgências”, diz o pastor Paulo Cezar Brito, líder da Igreja Evangélica Maranata, uma pentecostal que rejeita a teologia da prosperidade.

“Templo é dinheiro”, diz a maldosa adaptação do ditado popular. “Deus é o caminho, Edir Macedo é o pedágio”, diz outra. Na cabeça de muita gente, as igrejas evangélicas são ótimas opções de carreira para quem pretende enriquecer facilmente. Não dá para negar que muitos realmente ganharam dinheiro com a fé alheia – em especial os líderes das grandes igrejas. Como em qualquer empresa moderna, pastores hábeis que trazem muito dinheiro para a igreja ganham bem – ninguém confirma a informação, mas comenta-se que alguns salários se parecem com os de astros de futebol, na casa das várias dezenas de milhares de reais. Mas essas afirmações escondem também um preconceito. Em termos legais, não há diferença entre um templo evangélico e qualquer outro local de cultos religiosos. A Constituição garante a todos – evangélicos, católicos ou budistas – a mesma isenção de vários tributos, entre eles o IPTU e o Imposto de Renda.

Além disso, o crescimento da concorrência faz ser cada vez mais difícil sobreviver entre tantas denominações evangélicas. Calcula-se que uma congregação precise ter no mínimo 50 integrantes para recolher dízimos e doações em quantidade suficiente para cobrir as despesas mínimas, como aluguel e contas de luz e água. Nessas horas, ser a religião dos pobres não é vantagem. Por isso, cada denominação procura seu nicho de atuação. A Assembléia de Deus prefere abrir templos dentro de bairros isolados, enquanto a Universal opta pelas grandes vias de acesso – uma decisão que pouco tem a ver com a fé, segue mais a lógica da competição de qualquer mercado capitalista.

O maior país católico do mundo pode estar se tornando uma nação de maioria evangélica? Dificilmente, concorda a maioria dos especialistas. Mas eles discordam na hora de prever o ritmo do crescimento. De um lado, estão os que acham que o boom já passou e que a Igreja Católica, com a renovação carismática, equilibrou o jogo. Do outro, pesquisadores que veem no frágil compromisso dos brasileiros com a religião um prato cheio para os neopentecostais. Cerca de 80% dos nossos católicos se dizem não-praticantes. É um enorme mercado para os evangélicos.

Não é à toa que a maioria dos convertidos vem do catolicismo. Mas, na hora de afirmar a identidade e escolher um adversário, o pentecostalismo ataca o candomblé e a umbanda. E vai na jugular, às vezes escorregando para a intolerância religiosa. Em quase todos os templos é possível ouvir que essas religiões cultuam o Diabo. Também há casos de ataques a terreiros estimulados por pastores. Pode-se dizer que a briga contra as religiões afro-brasileiras, e não contra o catolicismo, o verdadeiro rival, seja uma estratégia de marketing. Quando enfrentaram os católicos, os evangélicos levaram um contra-ataque duro, que envolveu denúncias de charlatanismo e estelionato e ameaçou a sobrevivência das igrejas, além de provavelmente afastar fiéis. A popularidade dos evangélicos chegou ao fundo do poço quando um pastor da Universal chutou na TV uma estátua de Nossa Senhora Aparecida (os evangélicos não cultuam imagens).

Mas, embora esses episódios possam dar a impressão de que o fanatismo religioso esteja em alta no Brasil, muitos especialistas defendem a tese de que o crescimento evangélico seja um indício do contrário: de que cada vez mais gente rejeita a religião. É o que sugerem pesquisas mostrando concentrações de evangélicos nas mesmas regiões onde há altos índices de pessoas “sem religião” – caso do estado do Rio e da zona leste paulistana. “As pessoas estão experimentando uma nova crença. Se perceberem que não está dando certo, que Deus não é tão fiel, podem desistir da busca”, diz o sociólogo Pierucci. “Abandonar a religião oficial é o primeiro passo de saída do mundo religioso”, afirma.

Um indício de que a conversão ao mundo evangélico significa um arrefecimento do fervor religioso é o fato de que as neopentecostais exigem poucas mudanças nos fiéis. O resultado é que, quanto mais crescem, menos os evangélicos mudam a cara do país – bem ao contrário da revolução que ocorreu na Europa com as idéias de Lutero e Calvino. Prova disso é a programação da Rede Record, comprada pela Igreja Universal com o dinheiro do dízimo, que pouco difere das concorrentes.

Talvez o trunfo evangélico para conquistar almas seja sua capacidade de adaptação. Com a rejeição à centralização da interpretação bíblica herdada da Reforma protestante, qualquer um pode abrir um templo e pregar como quiser. Assim, enquanto seus “irmãos” se expandiam em áreas pobres, a Igreja Bola de Neve cresceu 1 100% em três anos orando para os ricos. Seus dez templos, cuja marca registrada são as pranchas de surfe como púlpito e os hinos religiosos em ritmo de reggae, funcionam em áreas de classe média-alta de São Paulo e cidades de praia como Florianópolis, Itacaré e Guarujá. O público são jovens da classe A e B, com curso superior. Para quem está acostumado a fiéis pobres e pouco instruídos, a Bola de Neve é uma surpresa desconcertante. Para os evangélicos, somente mais uma prova de que a obra de Deus chegará a todos os corações.

Sérgio Gwercman

O artigo original poderá ser visto por meio do seguinte link:


NOSSO COMENTÁRIO

O artigo apesar de falho em vários aspectos tem méritos e deve ser lido por todas as pessoas interessadas no fenômeno que atende pelo nome de “Evangélicos”.

Que Deus abençoe a todos.

Alexandros Meimaridis

PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa página no Facebook através do seguinte link:

http://www.facebook.com/pages/O-Grande-Diálogo/193483684110775

Desde já agradecemos a todos. 

domingo, 13 de setembro de 2015

PECADOS QUE PODEM NOS DESTRUIR POR COMPLETO – PARTE 004 — A AMBIÇÃO


Essa é uma série na qual pretendemos, dentro do possível, discutir alguns dos mais insidiosos pecados que ameaçam nossas almas. Trata-se de ações ou reações que caracterizam um coração perverso diante de Deus, algo com o que muitos personagens bíblicos tiveram que lutar, mas que pela graça de Deus conseguiram vencer. Nós também, como seres humanos iguais a eles estamos sujeitos a enfrentar esses mesmos pecados e temos que entender como essas situações funcionam, para poder lançar mão da graça de Deus e vencer as mesmas. A QUARTA questão que devemos analisar é:

4. A Ambição

A ambição, apesar de muitos não terem esse entendimento é uma espécie de incredulidade — pecado, portanto — que surge sempre que não nos sentimos satisfeitos com os bens que possuímos ou com nossa condição nessa vida. Esse pecado é o grande sustentador do falso ensinamento que chamamos de “Teologia da Prosperidade”, algo que domina a vasta maioria do povo chamado evangélico no Brasil dos dias de hoje. Mas, como já dissemos, trata-se de um grave pecado e uma verdadeira abominação diante de Deus, principalmente quando seus pregadores usam Deus — que é o possuidor de toda a prata e de todo o ouro — como uma desculpa aceitável para não termos que passar por nenhum tipo de necessidade. Se nosso Pai é rico, nos dizem os proponentes da Teologia da Prosperidade, é apenas natural que nós sejamos ricos também. E com esse canto de sereia e amparados pelo pecado da ambição, muitos pregadores estão cada vez mais ricos, enquanto o povo continua cada vez mais pobre e mais despossuído de quaisquer bens que tinham antes de embarcar nessa canoa furada.

Todavia a Palavra de Deus é bem clara quanto a toda essa questão ao dizer:

Efésios 5:5

Sabei, pois, isto: nenhum incontinente, ou impuro, ou avarento, que é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus.

Já em 1 Timóteo 6:6—12 nos encontramos uma série de promessas e ameaças para nosso próprio bem. E faremos uma escolha sábia de decidirmos aplicar essas verdades.

1 Timóteo 6:6—12

6 De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento.

7 Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele.

8 Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes.

9 Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição.

10 Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores.

11 Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas coisas; antes, segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão.

12 Combate o bom combate da fé. Toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado e de que fizeste a boa confissão perante muitas testemunhas.

Além dessa exortação, Paulo também tem uma palavra para os que são ricos nessa vida:

1 Timóteo 6: 17—19

17 Exorta aos ricos do presente século que não sejam orgulhosos, nem depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus, que tudo nos proporciona ricamente para nosso aprazimento;

18 que pratiquem o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir;

19 que acumulem para si mesmos tesouros, sólido fundamento para o futuro, a fim de se apoderarem da verdadeira vida.

Mas há ainda outros versículos chaves para se combater a ambição. Entre esses vamos encontrar:

Provérbios 30:7—9

7 Duas coisas te peço; não mas negues, antes que eu morra:

8 afasta de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário;

9 para não suceder que, estando eu farto, te negue e diga: Quem é o SENHOR? Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus.

Ter muito dinheiro pode ser algo perigoso, mas o mesmo é verdadeiro quando temos pouco dinheiro. Ser pobre pode, de fato, ser muito danoso tanto para a saúde física quanto espiritual. Por outro lado, ser rico, não é a resposta apropriada. Como Jesus deixou bem claro, pessoas ricas têm problemas para entrar no Reino de Deus porque confiam nas riquezas e não confiam no Senhor:

Mateus 19:23—24

23 Então, disse Jesus a seus discípulos: Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no reino dos céus.

24 E ainda vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.

Mateus 6:24

Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.

Mais alguns versículos que podemos usar para vencer a batalha contra o pecado da ambição:

Provérbios 23:4

Não te fatigues para seres rico; não apliques nisso a tua inteligência.

Como vimos acima as riquezas são movediças. Para o Livro dos Provérbios a verdadeira riqueza está em ter sabedoria, entendimento e conhecimento, e aplicar tudo isso em temer o Senhor Deus.

O apóstolo Paulo é um excelente exemplo para nós em toda essa questão. Ele diz o seguinte:

Filipenses 4:11—13

11 Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação.

12 Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez;

13 tudo posso naquele que me fortalece.

Paulo aprendeu a estar contente mesmo em meio às circunstâncias mais difíceis. O segredo de viver assim é simples: confiar em Deus de tal modo que a pessoa pode dizer: tudo posso naquele que me fortalece. Isso não significa, como defendem muitos dos proponentes da Teologia da Prosperidade, que Deus irá conceder qualquer coisa que a pessoa necessitar ou até não necessitar. A afirmação de Paulo só pode ser entendida, de modo apropriado, dentro do contexto maior da epístola que enfatiza nossa obediência a Deus e nossa disposição de servir a Deus e ao próximo.

Outra passagem muito importante e bastante contundente nesse contexto é:

Hebreus 13:5—6

5 Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei.

6 Assim, afirmemos confiantemente: O Senhor é o meu auxílio, não temerei; que me poderá fazer o homem?

O único antídoto verdadeiro para a ambição e o amor ao dinheiro é o contentamento que vem de conhecer tais promessas de Deus, como as seguintes:

Deuteronômio 31:6

Sede fortes e corajosos, não temais, nem vos atemorizeis diante deles, porque o SENHOR, vosso Deus, é quem vai convosco; não vos deixará, nem vos desamparará.

Josué 1:5

Ninguém te poderá resistir todos os dias da tua vida; como fui com Moisés, assim serei contigo; não te deixarei, nem te desampararei.

Salmos 118:6

O SENHOR está comigo; não temerei. Que me poderá fazer o homem?

E comparar com

Hebreus 13:3

Lembrai-vos dos encarcerados, como se presos com eles; dos que sofrem maus tratos, como se, com efeito, vós mesmos em pessoa fôsseis os maltratados.


OUTROS ARTIGOS DE PECADOS QUE PODEM DESTRUIR NOSSAS ALMAS
Estudo 001 — A FALSA CULPA

Estudo 002 — A ANSIEDADE

Estudo 003 — O REMORSO

Estudo 004 — A AMBIÇÃO

Estudo 005 — A AMARGURA

Estudo 006 — A INVEJA E O CIÚME

Estudo 007 — A IMPACIÊNCIA — PARTE 001

Estudo 007 — A IMPACIÊNCIA — PARTE 002

Estudo 007 — A IMPACIÊNCIA — PARTE 003

Estudo 007 — A IMPACIÊNCIA — PARTE 004 – FINAL

Estudo 008 — APATIA E DESÂNIMO — PARTE 001

Estudo 008 — APATIA E DESÂNIMO — PARTE 002

Estudo 008 — APATIA E DESÂNIMO — PARTE 003

Estudo 008 — APATIA E DESÂNIMO — PARTE 004

Estudo 009 — A AUTOADULAÇÃO — PARTE 001

Estudo 009 — A AUTOADULAÇÃO — PARTE 002

Estudo 010 — DESEJOS INDULGENTES OU PECAMINOSOS
Que Deus abençoe a todos. 

Alexandros Meimaridis 

PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa página no Facebook através do seguinte link: 
http://www.facebook.com/pages/O-Grande-Diálogo/193483684110775 
Desde já agradecemos a todos.