Este estudo é parte de uma breve introdução ao Antigo Testamento. Nosso interesse é ajudar todos os leitores a apreciarem a rica herança que temos nas páginas da Antiga Aliança. No final de cada estudo o leitor encontrará direções para outras partes desse estudo
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO - O
Que é o Antigo Testamento? — pARTE 5
IV. Transmissão
Textual: Como a Bíblia chegou até nós? — Continuação
Graças ao trabalho de inúmeros indivíduos
fiéis ao longo de muitos séculos nós podemos ler a Bíblia hoje. Estes
indivíduos são tecnicamente chamados de escribas. Estes homens copiaram, à mão,
a Palavra de Deus, tomando grande cuidado para manter a exatidão daquilo que
copiavam.
4. Os Manuscritos do
Mar Morto.
Um jovem pastor beduíno, da tribo
de Taamireh, chamado Muhammad adh-Dhib, descobriu os primeiros manuscritos em
uma caverna, na região do Mar Morto em 1947. Nesta, que foi a primeira
descoberta de manuscritos naquela região, foram encontrados dois rolos do profeta
Isaías - como o que é mencionado em Lucas 4:16—17 — um completo e outro
fragmentado. Além destes foram encontrados ainda na caverna 1 de Qumram, dois
importantes manuscritos grafados pela própria comunidade, conhecidos como Gênesis Apokryphon — 1 Q Gen Apo — e o
Rolo da Guerra – Milhamâ - 1 Q M.
Após essa descoberta, arqueólogos e historiadores[1]
exploraram toda aquela região, incluindo as localidades de Hirbet Qumran, Wadi
Murabba’at, Nahal Hever, Massada, Hirbet Feshkha, Hirbet Mid e Ein Guedi Estas
explorações mostraram-se muito produtivas, pois através delas, foram
encontrados inúmeros manuscritos grafados em papiros. Estes manuscritos estavam
grafados em hebraico, aramaico e também em grego. Todos estes documentos
estavam escritos em papiros, e foram produzidos entre os anos 200 a 100 a.C., e
nos mesmos, nós podemos encontrar manuscritos de todos os livros do Antigo
Testamento, com exceção, do livro de Ester. Os manuscritos oferecem também,
muitas informações acerca da comunidade de Qumram e discutem as práticas
religiosas e as atividades diárias daquela comunidade. Todos estes manuscritos
revelam vários tipos textuais da Bíblia Hebraica existentes no período do
Segundo Templo. Neles estão
representados o texto hebraico que deu origem à LXX, o tipo textual hebraico do
Pentateuco Samaritano, assim como o tipo textual do Texto Massorético. Segundo
a estimativa de alguns estudiosos, o total de manuscritos encontrados gira em
torno de 823, enquanto outros fornecem o número de 668 manuscritos. O total de
textos bíblicos achados em Qumram é de aproximadamente 190.
Além dos textos bíblicos, foram
encontrados livros apócrifos/deuterocanônicos[2]
- tais como os livros do Eclesiástico e Tobias, pseudoepígrafos[3] - tais como o Livro dos
Jubileus e o Testamento dos XII Patriarcas - targumim[4]
do livro de Jó e de Levítico e um grande número de escritos produzidos pela
própria comunidade de Qumram, tais como: o Apócrifo do Gênesis, a Regra da
Comunidade, o Rolo do Templo, a Regra da Guerra, o Documento de Damasco,
Cânticos de Louvor ou Hodayot, os Pesher[5]
de Habacuque e de Naum, e o Rolo de Cobre, entre outros. Além dos livros,
alguns objetos sagrados judaicos como tefilim ou filactérios e alguns mezuzot
ou objetos fixados nos batentes das portas, também se encontravam no local das
descobertas; estes mezuzot, que são usados pelos judeus até os nossos dias,
continham pequenos trechos bíblicos – como, por exemplo, Deuteronômio 6:8—9. De
todas as cavernas, as que forneceram materiais mais importantes, foram as de
número I, IV e IX. Segundo os eruditos, somente na gruta IV, foram encontrados
cerca de 580 manuscritos, vários dos quais em estado muito fragmentário. Além
de textos bíblicos em hebraico, também foram achados textos em aramaico e
manuscritos da LXX em grego nas grutas IV e VII.
Como mencionamos acima, o tipo de
texto do TM está representado nos manuscritos de Qumram e esta representação é
a mais significativa de todas, pois cerca de 60% de todo o material do Antigo
Testamento, encontrado em Qumram, concorda com o TM. Assim temos que o nível de
concordância textual destes manuscritos com o TM é muito grande, o que serve
para comprovar a antiguidade do tipo textual ao qual pertence o texto
preservado pelos escribas e mais tarde pelos massoretas durante a Idade Média.
De todos os livros do Antigo Testamento, o Pentateuco apresenta uma maior
homogeneidade em sua transmissão textual.
A comunidade de Qumram, ao que
parece tinha mais apreço por determinados livros bíblicos, por serem
provavelmente mais populares, entre os adeptos do grupo. Estes textos bíblicos
são representados por muitas cópias encontradas em Hirbet Qumram como, por
exemplo: Gênesis 16 e 17, Êxodo 13, Deuteronômio 25, Isaías 20 a 24 e o Salmo
34. Até hoje há divergências em torno da identidade da comunidade de Qumram.
Segundo alguns esse grupo seria identificado com os essênios, um dos vários
ramos do judaísmo no período dos 200 anos que antecederam o advento de Cristo,
juntamente com os fariseus, os saduceus e os zelotes. A identificação da
comunidade de Qumram com os essênios continua em aberto até o presente momento.
5. Os Fragmentos da Guenizá[6]
do Cairo.
Um grande lote de manuscritos do
Antigo Testamento foi encontrado, “oficialmente”, em 1896, na guenizá da
Sinagoga Ben Ezra em Fustat, na parte antiga da cidade do Cairo, no Egito. Esta
sinagoga havia sido até o ano 882 d.C. uma antiga igreja cristã, chamada de
Igreja de São Miguel. Naquele ano, ela foi vendida para um grupo de Judeus, que
a converteram em seu templo religioso. Em todas as sinagogas judaicas existe um
espaço especialmente separado para guardar todo o material que não esteja mais
em uso pela comunidade. Este material é geralmente composto de cópias dos
livros do Antigo Testamento e de livros litúrgicos e outros materiais usados na
liturgia. Este cuidado era necessário pela convicção que os Judeus têm de que
todo o material que contenha o nome inefável de Deus יהוה – YHVH
– o eterno, precisa ser sempre guardado com a maior reverência. Era também
costume, de vez em quando, retirar todo o material da guenizá e providenciar
que o mesmo fosse cuidadosamente enterrado, visando impedir que o mesmo fosse
profanado. No caso específico da guenizá da Sinagoga Ben Ezra no Cairo, os
manuscritos que estavam lá, foram esquecidos e uma parede foi construída
obstruindo o acesso à guenizá. Talvez alguém tenha pensado em retirá-la de lá
antes de a parede ser completamente fechada, talvez foi deixada ali
propositadamente protegida de mãos que pudessem profanar os documentos nela
contidos. Nunca saberemos o que realmente aconteceu. O fato é que uma
quantidade enorme de documentos ficou escondida atrás daquela parede.
Existem informações precisas de
que, por volta de 1860, o esconderijo havia sido descoberto e os primeiros
fragmentos começaram a ser retirados da guenizá e começaram a circular. Nos
dias de hoje, os muitos milhares de manuscritos fragmentários da guenizá da
Sinagoga Ben Ezra, estão espalhados por diversas coleções entre as cidades de
Oxford, Londres, Nova York, São Petersburgo outras. A coleção mais importante,
devido à quantidade de manuscritos e a importância do material contida neles, é
a Coleção Taylor-Schechter, pertencente à Biblioteca da Universidade de
Cambridge. Os responsáveis por esta coleção foram o próprio Salomão Schechter e
o Dr. Charles F. Taylor, diretor do St. John’s College, matemático e hebraísta
cristão. Outra grande coleção pode ser encontrada na Biblioteca Bodleian, em
Oxford.
Segundo estimativas de
estudiosos, a Coleção Taylor-Schechter possui cerca de 140.000 fragmentos de
manuscritos, que estão sendo catalogados até ao dia de hoje (Setembro de 2012).
O número total do material da guenizá, segundo estimativas, gira em torno de
200.000 fragmentos. O estudioso Emanuel Tov informa que dessa quantidade cerca
de 10.000 são fragmentos bíblicos, muitos dos quais não foram ainda publicados.
Estes manuscritos apresentam sistemas diversos de notas massoréticas,
vocalização e acentuação e também apresentam uma escrita hebraica cuidadosa
enquanto que outros fragmentos foram escritos de maneira descuidada.
Outros artigos acerca da Introdução ao Antigo Testamento
001 – O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO
002 – A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA
003 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 1 = Os
Escribas e O Texto Massorético — TM
004 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 2 = O Texto
Protomassorético e o Pentateuco Samaritano
005 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 3 = Os
Manuscritos do Mar Morto e os Fragmentos da Guenizá do Cairo
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2012/09/a-transmissao-do-texto-da-biblia-parte-3.html
006 - A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 4 = A
Septuaginta ou LXX
007 - A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 5 = Os Targuns
e Como Interpretar a Bíblia
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa
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Desde já agradecemos a todos.
Parte do material contido neste estudo foi adaptado e editado das
seguintes obras, que o autor recomenda para todos os interessados em aprofundar
os conhecimentos acerca do Antigo Testamento:
Bibliografia
Arnold, Bill T. e Beyer, Bryan E.
Descobrindo o Antigo Testamento.
Editora Cultura Cristã, São Paulo, 2001.
Confort, Philip Wesley (Editor). A Origem da Bíblia. Casa Publicadora das
Assembléias de Deus, Rio de Janeiro, 4ª Edição, 2003.
Champlin, R. N, editor. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia.
Editora Hagnos, São Paulo, SP.
Francisco, Edson de Faria. Manual da Bíblia Hebraica – Introdução ao
Texto Massorético. Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, São Paulo, 1ª
Edição, 2003.
Geisler, Norman e Nix, William. Introdução Bíblica – Como a Bíblia chegou
até nós. Editora Vida, São Paulo, 2ª Impressão, 1977.
Walton, John H. Chronological Charts of The Old Testament. The Zondervan
Corporation, Grand Rapids, 1978.
Würthwein, Ernst. The Text of the Old Testament. William B. Eerdmans Publishing
Company, Grand Rapids, Reprinted, 1992.
Enciclopédias
__________The
New Encyclopaedia Britannica. Encyclopaedia Britannica Inc., Chicago, 15th
Edition, 1995.
[1] Entre estes podemos citar:
Eleazar L. Sukenik, Harold H. Rowley, William F. Albright, Roland de Vaux, A.
Supont-Sommer, Yigael Yadin, Nahman Avigad, Josef T. Milik e Geza Vermes.
[2] Chama-se de livros
apócrifos/deuterocanônicos a coleção de livros que foram acrescentados ao cânon
da Bíblia Católica Romana a partir no Concílio de Trento que visava combater a
Reforma Protestante.
[3] Chama-se de livros
pseudoepigráficos a coleção de livros produzidos por diversos autores que,
visando aumentar a aceitação de seus escritos, atribuíam os mesmos a famosos
personagens do passado.
[4] Do hebraico – targum,
os Targumin eram traduções dos livros do Antigo Testamento, do hebraico para o
aramaico, que iam muito além da versão original. Neles encontramos comentários,
ampliações, alterações, narrativas, interpretações, explicações e tradições
rabínicas.
[5] Do hebraico – pesher
é o termo aplicado aos textos do Mar Morto que contêm explicações ou
comentários a respeito dos textos bíblicos. Os comentários são relacionados a
acontecimentos escatológicos ou referentes ao fim dos tempos.
[6] O termo hebraico hzyng - — guenizá – significa
esconderijo, arquivo, tesouro, armário e depósito. Identifica, nas sinagogas
judaicas, o local onde são recolhidos os livros sagrados, os livros litúrgicos
e os objetos rituais que não estão mais em uso.
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