Este estudo é parte de uma breve introdução ao Antigo Testamento. Nosso interesse é ajudar todos os leitores a apreciarem a rica herança que temos nas páginas da Antiga Aliança. No final de cada estudo o leitor encontrará direções para outras partes desse estudo
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO - O
Que é o Antigo Testamento? — pARTE 7
IV. Transmissão
Textual: Como a Bíblia chegou até nós? — Continuação
Graças ao trabalho de inúmeros indivíduos
fiéis ao longo de muitos séculos nós podemos ler a Bíblia hoje. Estes
indivíduos são tecnicamente chamados de escribas. Estes homens copiaram, à mão,
a Palavra de Deus, tomando grande cuidado para manter a exatidão daquilo que
copiavam.
C. A Transmissão do Texto em Outras
Línguas — Continuação.
3. Os Targuns
Aramaicos.
O aramaico tornou-se a língua
comum em todo o Oriente Médio e Mesopotâmia, como fruto da ascensão do império
Babilônico. Os judeus — conquistados no século VI a.C. — bem como todos os
outros povos subjugados pelos babilônios e persas, passaram a usar o aramaico
como o idioma do dia a dia, do comércio e posteriormente, também do serviço da
sinagoga. O aramaico é uma língua pertencente ao ramo semítico norte -
ocidental e muito próxima do hebraico, que pertence ao mesmo ramo. No segundo
livro do Reis encontramos um curioso incidente que demonstra claramente que o
aramaico era usado como idioma diplomático, e que era entendido tanto por
judeus como pelos assírios – ver 2 Reis 18:17—26. Com o passar do tempo o
aramaico adquiriu uma importância crescente no meio do povo judeu, que passou a
utilizá-lo cada vez mais. O aramaico se tornou a língua, por excelência dos
judeus, suplantando o hebraico que se viu reduzido à língua sagrada da Bíblia
Hebraica, dos serviços religiosos do templo em Jerusalém, dos estudos e das
discussões rabínicas e era falado no dia a dia, quase que exclusivamente, na
cidade de Jerusalém.
Nos serviços religiosos nas
sinagogas o hebraico era utilizado mas existia uma tradução para o aramaico
após a leitura hebraica de cada versículo da
parasháh — capítulo, porção ou seção do Pentateuco; e, logo
após a leitura de cada dois ou três versículos da haftaráh — conclusão
feita com a leitura de algum dos profetas. Este trabalho era efetuado por um
tradutor profissional chamado de meturgman — que fazia a tradução “ad
lib” ou espontaneamente, e sem o uso de nenhum material escrito.
Os targuns são uma coleção de
escritos baseados no texto do Antigo Testamento. Estes escritos em aramaico são
do início da Era Cristã e algumas partes são até mais antigas. Os targuns
surgiram em uma época em que o povo judeu precisava de uma interpretação dos
ensinamentos do Antigo Testamento em uma linguagem acessível. Em certas partes
os targuns refletem uma tradução relativamente culta do Antigo Testamento.
Juntamente com a tradução encontramos comentários e histórias que reforçam o
significado do texto. Por este motivo os targuns não são considerados uma
testemunha fiel do Antigo Testamento, apesar de nos auxiliarem a compreender as
primeiras interpretações judaicas.
V. Hermenêutica: Como
devemos interpretar a Bíblia?
Até agora, discutimos o Cânon, a
inspiração e a transmissão textual. Examinamos quais livros constituem o Antigo
Testamento, como o Espírito de Deus trabalhou em conjunto com autores humanos
para produzir o Antigo Testamento e como os livros chegaram até nós.
Mas ainda ficam algumas perguntas
importantes: Como devemos interpretar o
Antigo Testamento? Será que vamos sempre entender o texto apenas pela leitura?
Ou será que devemos seguir certas regras da hermenêutica ou interpretação?
Nem todos os intérpretes bíblicos
concordam com o significado de cada passagem da Bíblia. Porém, a maioria admite
que a existência de certas diretrizes, nos ajuda a determinar o significado de
cada passagem. Daremos uma visão geral de algumas das diretrizes mais
importantes.
A. O uso do método
gramático-histórico – este método busca encontrar o “sentido mais
simples” de uma passagem da Bíblia, aplicando regras básicas de gramática e
sintaxe. Ele procura determinar o que o texto quer dizer gramaticalmente e o
que significa historicamente.
B. Compreenda o
contexto – o termo “contexto” refere-se às palavras e sentenças que
estão ao redor de uma palavra ou afirmação e que ajudam a compreender o
significado das mesmas. Suponhamos que eu lhe diga: “Eu cortei um pedaço da
manga”. Qual é o significado de manga? Será que eu estou falando de uma peça de
roupa? Será que eu me refiro a uma fruta? Sem o contexto, é impossível
determinar o significado da palavra.
A compreensão do contexto também
é importante para uma interpretação correta das passagens da Bíblia. Os
estudantes da Bíblia devem analisar três tipos de contexto: o contexto
imediato, o contexto remoto e o contexto histórico.
1. Contexto imediato
- o contexto imediato refere-se às palavras ou frases nos versículos mais
próximos à palavra ou afirmação que se deseja compreender. Normalmente, é o que
mais influencia no significado. Minha frase ambígua mencionada acima, por
exemplo, torna-se clara se eu acrescentar: “Hoje, quando eu estava consertando
uma camisa, cortei um pedaço da manga”.
2. Contexto remoto
– o contexto remoto descreve o material bíblico nos capítulos ao redor e mais
distantes. Ele também pode influenciar o significado da passagem em questão,
porém, normalmente não de uma forma tão direta quanto o contexto imediato.
Algumas vezes, os leitores consultam outros livros da Bíblia escritos pelo
mesmo autor, para observar como ele usa uma determinada palavra ou frase em
outras partes de seus escritos. Pode-se até mesmo pesquisar uma idéia ao longo
de todo o Antigo Testamento ou de toda a Bíblia.
3. Contexto histórico
– o contexto histórico refere-se ao momento da História em que o autor escreveu
determinada passagem da Bíblia. Teremos uma compreensão melhor do livro de
Lamentações, por exemplo, se soubermos que o autor estava descrevendo a
condição de Jerusalém depois de sua destruição em 587 a.C. Podemos entender
melhor o significado de um salmo de Davi, se soubermos a ocasião em que ele foi
escrito. Assim, o contexto histórico forma o pano de fundo sobre o qual o autor
bíblico compôs seu texto.
C. Determine o tipo de
literatura – A bíblia contém vários tipos ou gêneros diferentes de
literatura e o intérprete deve aplicar diferentes princípios, em cada caso. Por
exemplo: uma narrativa histórica relata uma história; é bem diferente de uma
profecia, que chama o povo a confiar em Deus ou descreve os planos futuros de
Deus para o mundo. Poesias e parábolas também requerem consideração especial. Quando
não é levado em consideração o tipo de literatura, pode-se chegar a uma
interpretação distorcida da passagem bíblica.
D. Interprete a
linguagem figurativa – Em nossa maneira de falar no dia-a-dia,
usamos com frequência a linguagem figurativa. Falamos do sol se levantando, ou
de estar morrendo de fome, ou de calçar os sapatos de outra pessoa. Não
queremos dizer nenhuma dessas coisas literalmente; na realidade, essas “figuras
de linguagem” comunicam certas verdades de uma forma simbólica.
A Bíblia contém muita linguagem
figurativa. O profeta Isaias a usou quando escreveu ”... e todas as árvores do campo baterão palmas”. Na verdade, o que ele
queria dizer era que Deus faria toda a natureza florescer. O salmista em Salmos 1:1, usou esse tipo de linguagem
quando escreveu: “Bem-aventurado o homem
que não anda no conselho dos ímpios”. Andar no conselho dos ímpios
significa ouvir o conselho de pessoas ímpias. Podemos acabar dando
interpretações estranhas se não levarmos em consideração o uso da linguagem
figurativa na Bíblia.
E. Deixe que as
Escrituras interpretem as Escrituras – Algumas vezes, encontramos na
Bíblia passagens que continuam sendo difíceis de entender, mesmo depois que
aplicamos os princípios da hermenêutica. Talvez a passagem tenha dois sentidos
possíveis ou pareça contradizer outra passagem da Bíblia.
Como devemos entender, por
exemplo, o texto de Tiago 2:24? O versículo diz: “Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente”.
Mas em Romanos 3:28 diz: “Concluímos, pois, que o homem é justificado
pela fé, independentemente das obras da lei”. Essas duas passagens entram
em contradição, ou haveria outra explicação? Em tais casos, devemos deixar que
as Escrituras interpretem as Escrituras. Ou seja, devemos encontrar outro texto
bíblico que apresente ensinamentos claros sobre o assunto em questão e
interpretar a passagem difícil à luz daquela que é a mais clara. Podemos fazer
isso, pois a palavra de Deus não se contradiz.
Aplicando esse principio,
descobrimos outras passagens bíblicas que ensinam claramente que a salvação é
obtida pela graça e somente pela fé – entre estas passagens podemos citar, por
exemplo:
Gálatas 3:1—6 – Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros,
ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado? Quero apenas saber
isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé?
Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos
aperfeiçoando na carne? Terá sido em vão que tantas coisas sofrestes? Se, na
verdade, foram em vão. Aquele, pois, que vos concede o Espírito e que opera
milagres entre vós, porventura, o faz pelas obras da lei ou pela pregação da
fé? É o caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça.
Efésios 2:8—9 - Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto
não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.
Consequentemente, nós devemos
reexaminar as palavras de Tiago em seu contexto e descobrir se Tiago não quis
dizer alguma outra coisa quando usou a expressão “justificada por obras”. De
fato, uma leitura cuidadosa, irá nos mostrar que Tiago queria dizer que Abraão
e Raabe provaram que sua fé era genuína, ao realizarem boas obras, um conceito
que não contradiz os ensinamentos de Paulo.
F. Descubra a aplicação
para a vida moderna – No início deste estudo, explicamos que um dos
testes de canonicidade era que um livro bíblico precisava ser escrito para
todas as gerações. A principio, o autor escreveu para um determinado público,
mas se a mensagem é verdadeiramente palavra de Deus, terá aplicação para todas
as gerações. A tarefa final do
intérprete, depois de aplicar os princípios corretos da hermenêutica para
determinar o que o texto significava para o seu público inicial, é de
determinar o que o texto significa nos dias de hoje.
Para fazer isso, devemos
compreender quais questões de nossa cultura moderna são paralelas às questões
da passagem bíblica estudada. Então, até o ponto em que há paralelos, podemos
aplicar o ensinamento da Bíblia para a nossa situação atual.
A Bíblia não é simplesmente um
livro antigo com uma mensagem para pessoas da antiguidade. É a Palavra de Deus.
Ela falou a Israel e nos fala nos dias de hoje. Nossa tarefa, como cristãos, é
estudar essa mensagem, aplicá-la em nossas vidas e compartilhá-la com o mundo
que precisa desesperadamente ouvi-la.
Apêndice A
Livros Fontes
Mencionados nas Sagradas Escrituras
Livro das Guerras do Senhor
|
Números 21:14
|
Livro dos Justos
|
Josué 10:13
|
Registros da História do Rei Davi
|
1 Crônicas 27:24
|
História dos Reis de Israel e de Judá
|
2 Crônicas 27:7
|
História dos Reis de Israel
|
2 Crônicas 33:18
|
História dos Reis
|
2 Crônicas 24:27
|
Crônicas de Samuel, o vidente
|
1 Crônicas 29:29
|
Crônicas do profeta Natã
|
1 Crônicas 29:29
|
Crônicas de Gade, o vidente
|
1 Crônicas 29:29
|
Livro da Profecia de Aías
|
2 Crônicas 9:29
|
Livro das Visões de Ido, o vidente
|
2 Crônicas 9:29
|
Livro da História de Semaías, o profeta
|
2 Crônicas 12:15
|
Livro das Crônicas de Jeú filho de Hanani
|
2 Crônicas 20:34
|
Livro da Visão do Profeta Isaías
|
2 Crônicas 32:32
|
Livro da História de Hozai (videntes)
|
2 Crônicas 33:19
|
Profecia de Enoque
|
Judas 14
|
Outros artigos acerca da Introdução ao Antigo Testamento
001 – O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO
002 – A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA
003 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 1 = Os
Escribas e O Texto Massorético — TM
004 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 2 = O Texto
Protomassorético e o Pentateuco Samaritano
005 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 3 = Os
Manuscritos do Mar Morto e os Fragmentos da Guenizá do Cairo
006 - A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 4 = A
Septuaginta ou LXX
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa página no Facebook através do seguinte link:
Desde já agradecemos a todos.
Parte do material contido neste
estudo foi adaptado e editado das seguintes obras, que o autor recomenda para
todos os interessados em aprofundar os conhecimentos acerca do Antigo
Testamento:
Bibliografia
Arnold, Bill T. e Beyer, Bryan E.
Descobrindo o Antigo Testamento.
Editora Cultura Cristã, São Paulo, 2001.
Confort, Philip Wesley (Editor). A Origem da Bíblia. Casa Publicadora das
Assembleias de Deus, Rio de Janeiro, 4ª Edição, 2003.
Francisco, Edson de Faria. Manual da Bíblia Hebraica – Introdução ao
Texto Massorético. Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, São Paulo, 1ª
Edição, 2003.
Geisler, Norman e Nix, William. Introdução Bíblica – Como a Bíblia chegou
até nós. Editora Vida, São Paulo, 2ª Impressão, 1977.
Walton, John H. Chronological Charts of The Old Testament. The Zondervan
Corporation, Grand Rapids, 1978.
Würthwein, Ernst. The Text of the Old Testament. William B. Eerdmans Publishing
Company, Grand Rapids, Reprinted, 1992.
Enciclopédias
__________The
New Encyclopaedia Britannica. Encyclopaedia Britannica Inc., Chicago, 15th
Edition, 1995.
Amado, estou feliz por ter encontrado este blog. Fui grandemente ajudado. Que Deus lhe abençoe ricamente. Um abraço.
ResponderExcluirCaro Thiago,
ExcluirAmém e Deus te abençoe.
Irmão Alex
Deus continue abençoando sua vida, essa é uma fonte fiel de edificação a luz das Escrituras, muito obrigado. Rev. Jose Anderson
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