Martinho Lutero
Em
breve estaremos comemorando, no próximo dia 31 de Outubro de 2012, os 495 anos
do início do movimento que ficou conhecido como a Reforma
Protestante do Século XVI. Nossa intenção nesse artigo é
ajudar todos os leitores a entenderem, pelo menos um pouco, o significado desse
verdadeiro mover de Deus no século XVI. Nesse artigo estaremos interessados
apenas nos antecedentes que culminaram com a presença de Martinho Lutero diante
do imperador do sacro império romano-germânico, Carlos V, na famosa dieta de
Worms.
I. Por que a Igreja precisava de
Reforma?
O
fato é que sempre, durante toda a história da igreja cristã existiram, aqui e
ali, movimentos reformistas bons e maus.
No
século XV a Igreja Católica Apostólica Romana estava por demais corrompida e
precisava, urgentemente, de uma Reforma. Neste contexto a relevância da rainha
Isabel de Castela, na Espanha, cognominada “a Católica” é da maior importância.
Isabel de Castela
Isabel
de Castela casou-se com Fernando de Aragão e juntos herdaram o reino de Castela,
quando Henrique IV, meio irmão de Isabel, faleceu de maneira prematura. Assim
ficou consolidado o reino de Aragão e Castela que dominava, praticamente, toda
a península Ibérica.
Deste
casal. Isabel e Fernando surgiram muitos descendentes: filhos, netos, bisnetos
e tataranetos, que tiveram relevantes papeis na história posterior de toda a
Europa. Apenas para citar alguns casos, por exemplo:
· Catarina
de Aragão, a primeira esposa repudiada pelo rei Henrique VIII da Inglaterra era
filha de Isabel. Este fato marcou o início da ruptura entre o que ficou
conhecido como a Igreja da Inglaterra e a Igreja Romana!
· Carlos
V, o imperador que Lutero teve que enfrentar na Dieta de Worms, era neto de
Isabel.
· Felipe
II, filho de Carlos V era bisneto de Isabel e veio a se casar com sua prima, em
segundo grau, Maria Tudor, que era rainha da Inglaterra e neta de Isabel.
Isabel
era uma mulher sensível e reconhecia que a Igreja Romana estava muito
corrompida e precisava ser Reformada. Para que a Reforma tivesse resultados
práticos, Isabel acreditava que a mesma deveria se iniciar por uma completa
reforma do clero, e isto por vários motivos:
· Nos
séculos anteriores ao século XV, os cardeais e os bispos com frequência se tornavam
mais guerreiros do que pastores e se envolviam com todo empenho nas intrigas
políticas da época, e isto, não para o bem dos seus rebanhos, mas para seus
satisfazer seus próprios interesses políticos e econômicos. Cardeais e Bispos
costumavam representar muitas das maiores fortunas da Europa naqueles anos.
Isto tudo diz respeito ao alto clero.
· O
baixo clero também precisava de Reforma porque os sacerdotes eram, em sua
grande maioria, ignorantes e incapazes de responder às mais simples perguntas
por parte de seus paroquianos. Além disso, muitos deles não sabiam nada mais
que dizer a missa, sem sequer entender o que estavam dizendo. Muitos eram
analfabetos e memorizavam as falas que repetiam nas missas sem terem a menor
ideia do que estavam falando em latin!
· A
vida monástica estava arruinada com muitos mosteiros sendo governados não de
acordo com a regra criada pelo seu fundador, e sim de acordo com a vontade dos
monges e madres das altas esferas.
· A
tudo isso, devemos somar o verdadeiro descalabro que era o pouco caso que se
fazia do celibato. Os filhos bastardos de papas, cardeais e bispos se moviam
com desenvoltura no meio da nobreza reclamando os direitos do sangue de quem
eram herdeiros.
· Neste
particular precisamos citar o próprio arcebispo de Toledo, na Espanha, dom
Alonso Carrillo de Albornoz que tinha pelo menos dois filhos bastardos.
· No
baixo clero, era comum os padres viverem publicamente com suas concubinas e
filhos.
Todos
estes fatores: o espírito guerreiro, os interesses financeiros e a crassa
imoralidade eram para a rainha Isabel motivo de escândalo. Com a finalidade de
reformar o alto clero, os reis espanhóis obtiveram de Roma, o direito de nomear
os bispos em seus territórios. Enquanto em Castela, Isabel se esforçava para
encontrar homens idôneos para ocupar as vagas dos bispados, em Aragão, Fernando
fazia nomear arcebispo de Zaragoza, seu filho bastardo, dom Fernando, de apenas
seis anos de idade.
Francisco Ximenez de Cisneros
Finalmente
Isabel conseguiu achar um homem realmente decente em Francisco Ximenez de
Cisneros, a quem nomeou como arcebispo de Toledo. Este Francisco já havia,
desde muito cedo, se chocado com os interesses do arcebispo Alonso Carrillo de
Albornoz e havia passado 10 anos na cadeia por ordens do arcebispo, sem ceder,
todavia, nas suas críticas.
Ao
arcebispo Carrillo seguiu o arcebispo Pedro Gonzalez de Mendonça e com a morte
deste, o caminho estava aberto para a indicação de Francisco Ximenez de
Cisneros. Curiosamente, a nomeação do bispo Cisneros, o grande reformador da
igreja espanhola, foi confirmada pelo Papa Alexandre VI, de tristíssima memória
e dono de umas das piores reputações entre todos os papas romanos.
Papa Alexandre VI
Ao
papa Alexandre VI, que era também espanhol e cujo nome era Rodrigo de Borja y
Doms e que foi chamado na Itália de Rodrigo Borgia, é a quem devemos creditar,
por causa da sua extremada corrupção e vida imoral, a maior contribuição jamais
feita para a Reforma Protestante por um oficial católico romano.
Como
dissemos anteriormente, tanto o alto clero como o baixo clero estavam
completamente corrompidos. Com o Papa Alexandre VI a corrupção tomou assento no
próprio trono papal. Este papa teve inúmeros filhos com várias mulheres e
chegou a ajuntar tão grande fortuna a ponto de se reputado como o homem mais
rico da Europa.
Foi
este papa que convenceu o grande Michelangelo a traçar os primeiros planos para
uma nova e suntuosa basílica de São Pedro que, como veremos a seguir, teve
profundo impacto no início do movimento que ficou conhecido como a Reforma
Protestante do Século XVI.
Basílica de São Pedro
II. Lutero e a questão das
indulgências.
· Breve
história da vida e da obra de Martinho Lutero.
· Lutero
nasceu em Eisleben, na Alemanha em 1483.
· Em
Abril de 1501 Lutero ingressou na universidade de Erfurt onde obteve o grau de
bacharel em Artes em 1502 e de mestre em Artes em 1505.
· Em
1505, pouco antes de completar 22 anos, Lutero ingressou no mosteiro
agostiniano de Erfurt.
· Sua
motivação era usar os meios propostos pela Igreja Romana para obter a salvação
da sua alma e para isto a vida monástica lhe parecia o melhor caminho.
· Lutero
foi consagrado como padre em 1507.
· Por
mais que se esforçasse, entretanto, não conseguia encontrar a paz almejada
através da prática de boas obras, da confissão e das mais variadas penitência.
· Seu
mentor, então, recomenda-lhe que leia os livros dos místicos católicos. Por
algum tempo Lutero encontrou algum consolo nestas leituras, mas nada que
realmente pudesse acalmar sua alma.
· Lutero
prosseguiu com seus estudos. Entre 1508 e 1512 ensinou filosofia na
Universidade de Wittenberg, onde também acabou por tornar-se doutor em Teologia
e se especializou nas epístolas aos Romanos, aos Gálatas e aos Hebreus. Sem que
soubesse, Lutero estava sendo conduzido por Deus para estudar três dos mais
contundentes livros do Novo Testamento cujos ensinamentos eram fortemente
contrários às doutrinas ensinadas pela Igreja Católica Apostólica Romana.
· Ao
fazer estes estudos Lutero foi capaz de perceber claramente os erros da Igreja
Romana.
· Em
1515 Lutero foi nomeado vigário geral responsável por 11 mosteiros. Este foi
também o ano em que se viu envolvido nas controvérsias acerca da venda das
indulgências que havia se tornado apenas numa fábrica de fazer dinheiro para a
Igreja Romana e era completamente destituída de qualquer valor espiritual.
· Por
este tempo também Lutero começa a repensar a salvação eterna da sua alma
baseado na afirmativa de Paulo em Romanos 1:17, e que diz: O Justo viverá por fé.
· Com
a compreensão deste versículo Lutero estava chegando à redescoberta de uma
verdade bíblica a muito sepultada, que é a que trata da justificação do pecador
diante de Deus, baseada exclusivamente na graça de Deus e mediante a fé em
Jesus Cristo apenas. Aqui nasciam três dos cinco pilares da Reforma
Protestante: Solus Christus, Sola Gratia e Sola Fide — Somente Jesus, Somente a
Graça e Somente a Fé.
Cinco "Solas"
Lutero
torna-se um severo crítico da dominação da filosofia tomista – São Tomás de
Aquino – sobre a teologia romana. Estuda os escritos de Agostinho de Hipona, de
Anselmo da Cantuária e de Bernardo de Claraval.
· Em
1516 Lutero se torna pároco da igreja em Wittenberg. Torna-se um pregador
popular e começa a se opor à venda de indulgências como um meio de libertar as
almas que se encontravam no purgatório.
· Na
noite de 31 de Outubro de 1517, Lutero fixou na porta de entrada da
Scholosskirche – castelo-igreja – em Wittenberg suas noventa e cinco teses
acadêmicas, intituladas “Debate para o Esclarecimento do Valor das
Indulgências”.
Lutero na frente da Catedral
fixando as teses
· Para
sua surpresa o debate que se seguiu foi muito além do que ele esperava.
Porta onde as 95 teses estão gravadas de forma permanente
III. Lutero diverge cada vez mais
da Igreja Romana.
· Lutero
foi denunciado em Roma e o teólogo João Eck tornou-se seu oponente pelo resto
da sua vida.
Disputa entre Johannes Eck e
Martinho Lutero
· Entre
12 a 14 de Outubro de 1518, Lutero esteve na presença do Cardeal Cajetano que
exigia que Lutero se retratasse da tese de número 58 que diz — Tampouco consistem eles dos méritos de
Cristo e dos santos, pois esses sempre operam, sem o Papa, a graça do homem
interior e ao mesmo tempo a cruz, a morte e o inferno do homem exterior —
pois segundo o cardeal a mesma rejeitava a autoridade papal. Lutero recusou-se
e teve que fugir às pressas. Este encontro marcou o início dos seus estudos
concernentes à autoridade do papado, dos quais ele concluiu que o papado não possui nenhuma autoridade derivada da Bíblia,
mas somente dos concílios que ele considerava que podiam errar.
Cardeal Cajetano julgando Lutero.
· Suas
novas descobertas foram apresentadas em um debate com João Eck na Universidade
de Leipzig entre os dias 4 e 8 de Julho de 1619. Nesta ocasião Eck forçou
Lutero a admitir que ele sentia que os concílios podem errar, e isto consistia
em uma doutrina especificamente combatida pela Igreja Romana.
· Ainda
neste encontro, João Eck conseguiu arrancar de Lutero uma confissão onde ele
pensava que João Huss havia sido injustamente condenado pelo Concílio de
Constança acontecido entre os anos de 1414—1418.
João Huss
· A
partir daí Lutero passou a depender cada vez mais e mais da Bíblia como única
fonte de autoridade em questões de fé e prática. E aqui temos outro pilar da
Reforma Protestante: Sola Scriptura. Como o todo da salvação depende
exclusivamente de Deus e da obra realizada pelo Senhor Jesus, então não existe
nenhum espaço para o ser humano se gloriar. Aqui está outro pilar da Reforma
Protestante: Soli Deo Gloria.
Cinco solas
· Lutero
tornou-se tão inimigo do papado que começou a desenvolver inúmeras idéias que
muito da corrupção que existia na igreja devia-se exatamente ao fato da
existência da instituição chamada de papado. Lutero publicou, no final da sua
vida, um pesado e muito amargo livro intitulado: “Sobre o Papado em Roma,
Fundado pelo Diabo”.
IV. Lutero começa a promover a
necessidade da Reforma.
· Foi
somente após o debate em Leipzig, em 1519, que Lutero começou a reclamar
abertamente que a Igreja Católica Romana precisava ser reformada. Para alcançar
este objetivo produziu uma série de livros e tratados, entre os quais podemos
citar:
o
Carta
Aberta à Nobreza Cristã da Nação Alemã sobre a Reforma do Estado Cristão.
o
Do
Cativeiro Babilônico da Igreja.
o
Sobre
a Liberdade Cristã.
· Nestes
materiais Lutero começou a ensinar o
sacerdócio universal dos crentes, Cristo como único mediador entre Deus e os homens e a autoridade exclusiva das
Escrituras, em oposição à autoridade dos papas e dos concílios.
· Além
do mais, Lutero passou a acentuar a necessidade de pôr um fim aos abusos
eclesiásticos, tendo alistado várias práticas abusivas nos jejuns, missas, dias
santos e votos monásticos, entre os quais, considerava especialmente pernicioso
o celibato para os clérigos.
· Lutero
atacou frontalmente o sacramentalismo da Igreja Romana e questionava a doutrina
ensinada acerca da repetição do sacrifício de Cristo mediante a missa católica.
· Por
fim Lutero passou a ensinar a ética cristã com base no amor.
V. A Cúria Romana reage a Lutero.
· Em
15 de Junho de 1520, a cúria Romana expediu a bula — uma carta pontifícia de
caráter especialmente solene — Exsurge
Domine, que ameaçava Lutero de ser excomungado a menos que se retratasse de
seus pontos de vista.
· A
reação de Lutero foi queimar a bula papal em público, juntamente com muitos
livros que ensinavam as doutrinas católicas romanas. O rompimento era
definitivo e não havia mais nenhum modo de voltar atrás.
Lutero Queimando a Bula Papal
· O
imperador Carlos V reagiu ordenando a queima, também em público, dos livros
escritos por Lutero.
Imperador Carlos V
· O
imperador Carlos V apesar de católico, usou as proposta de Lutero contra o
papado como uma arma em benefício próprio quando percebeu que o papa Leão X se
inclinava, de maneira mais favorável a seu rival, Francisco I, da França.
· Mas,
ao mesmo tempo, Carlos V desejava ver Lutero condenado à morte sem que fosse
sequer ouvido. Mas tanto príncipes como teólogo, por razões diversas, não
consentiam com tal possibilidade. Ficou
então decido que Lutero deveria comparecer diante duma dieta – Assembléia
política de alguns Estados do Império – que se reuniria em Worms no ano de
1521.
· Lutero
então compareceu diante do Imperador Carlos V na dieta de Worms em 1521. O
homem responsável por interrogá-lo, perguntou a Lutero se se retratava. Lutero
respondeu dizendo que seus livros refletiam a doutrina cristã e que não era
lícito ninguém pedir-lhe para se retratar de tais escritos.
Dieta de Worms
· Depois
de apresentar outras acusações, seu inquiridor, por fim, lhe perguntou:
Retratas-te, ou não? Ao que Lutero respondeu em alemão, desprezando o latim, a
língua oficial dos teólogoS: NÃO POSSO NEM QUERO RETRATAR-ME DE COISAALGUMA,
POIS IR CONTRA A CONSCIÊNCIA NÃO É JUSTO NEM SEGURO. DEUS ME AJUDE. AMÉM.
Lutero diante da
Dieta de Worms
Que
Deus abençoe a todos.
Alexandros
Meimaridis
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