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O que a bola de neve quer esconder
Igreja
evangélica da prancha de surfe, frequentada basicamente por jovens, tenta
censurar livro que revela o conservadorismo por trás do discurso aparentemente
liberal de suas lideranças
Por Rodrigo
Cardoso
A Igreja
Bola de Neve Church se inseriu no mercado das igrejas evangélicas brasileiras
sob a aura de uma instituição religiosa amparada por uma embalagem
contemporânea e liberal. É assim desde 1999, quando o surfista Rinaldo Luiz de
Seixas, 41 anos, o apóstolo Rina, transformou em púlpito a prancha de surfe e
abriu as portas de suas unidades, que hoje somam cerca de 200 e têm 60 mil
fiéis. Mas, desde o mês passado, com o lançamento de “A Grande Onda Vai te
Pegar – Marketing, Espetáculo e Ciberspaço na Bola de Neve Church” (Fonte
Editorial), livro que investiga essa igreja composta majoritariamente por
jovens de classe média e alta, em sua maioria internautas e fãs de gêneros
musicais como reggae, rock, rap e hip-hop, ganhou evidência a filosofia de
conduta conservadora com que a denominação tenta controlar o cotidiano de seus
fiéis. Os pastores interferem nas escolhas dos parceiros amorosos e chegam a
sugerir uma cartilha ‘informal’ sobre posições sexuais permitidas.
Foto do historiador Maranhão
Na Bola
de Neve do apóstolo Rina, (abaixo) há, segundo o historiador Maranhão Filho (acima),
indicações aos fiéis sobre as posições sexuais mais e menos aceitas
Foto do apóstolo Rina
O
historiador que assina a obra, Eduardo Meinberg de Albuquerque Maranhão Filho,
foi membro da Bola de Neve entre 2005 e 2006, chegou a ser aprovado no curso de
líderes de células, mas, por desentendimento com um diácono, não assumiu a
função. Desde 2009, ele publica trabalhos sobre a denominação religiosa e até
hoje é abastecido com informações por pessoas da igreja. Para ele, o apego a
uma leitura descontextualizada da Bíblia e o moralismo em relação a questões
sexuais e de gênero são os principais aspectos que evidenciam o tradicionalismo
da Bola de Neve. “Para namorar um rapaz – e só pode ser um rapaz –, uma moça
tem de ter a concordância do líder de célula, pastor ou apóstolo”, diz Maranhão
Filho, que fala, ainda, da existência de uma espécie de guia de conduta não
escrito sobre as posições sexuais permitidas. “Neuza Itioka, uma palestrante
externa do ministério Ágape e Reconciliação, foi à Bola ministrar um curso de
cura e libertação e pregou: ‘A boca serve para comer, mas não para fazer
sexo’.”
Especialista
em marketing e comunicação social, Maranhão Filho expõe ainda uma estratégia da
Bola de Neve conhecida apenas no meio religioso. Em Florianópolis, Santa
Catarina, onde ele passou a ter contato com a denominação, líderes da igreja
relataram a ele que há um grande esforço para que a evangelização foque com
mais empenho na classe universitária. “Querem formar crianças, adolescentes e
universitários cristãos”, diz. “O objetivo é mudar para perto das universidades
para ter gente deles dentro da academia e falar da igreja dentro e fora da
instituição. É proselitismo forte”, afirma o autor, cuja obra é resultado de
oito anos de pesquisa, fruto de uma dissertação de mestrado defendida na
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESCC) em 2010.
A dissertação deu origem ao livro e, com isso,
veio à tona outro componente conservador da denominação evangélica: a censura
religiosa. A Bola de Neve tentou barrar, na Justiça, a publicação da obra. Sem
sucesso na esfera legal – a ação e um agravo de instrumento foram indeferidos
por um juiz e um desembargador de São Paulo –, a Bola de Neve enviou à
Universidade de São Paulo (USP), onde ocorreu o lançamento do livro no dia 30
de outubro, um advogado que, acompanhado de dois rapazes, disse, segundo o
autor: “Se você lançar, publicar ou divulgar o livro, vai ter problemas.” A
tentativa de censura prévia chocou a comunidade acadêmica. “No mês passado,
durante a 17ª Jornada de Estudos da Religião da Associação dos Cientistas
Sociais da Religião do Mercosul, foi discutido o risco de um grupo religioso
barrar pesquisas acadêmicas e científicas”, afirma o professor de pós-graduação
em ciências da religião da Universidade Metodista de São Paulo, Leonildo
Silveira Campos. Referência internacional em pesquisas sobre relações entre
religiões, marketing e mídia, Campos resume o sentimento com essa manobra da
Bola de Neve Church. “Há um medo por parte dos cientistas da religião de que a
moda (da censura religiosa) pegue.”
Para Tais
Amorim, advogada da igreja, essa ação não se trata de um episódio de
intimidação, mas uma tentativa de negociar amigavelmente com Maranhão Filho a
não publicação do livro, além de tomar conhecimento dele, adquirindo um
exemplar. Ou seja, no mínimo, fica claro que a Bola de Neve entrou na Justiça
sem ao menos conhecer o conteúdo completo da obra que repudiou. “A obra trata
da entidade como uma agência mercadológica. Essa não é a igreja Bola de Neve.
Ela não tem nenhuma estratégia de atuação, de marketing, para crescimento. As
estratégias são divinas”, diz ela. Ironia do destino, o autor lançou sua obra
em um simpósio internacional da Associação Brasileira de História das Religiões
(ABHR), cujo tema era “Diversidades e (in)Tolerâncias Religiosas”.
Aparentemente
resignada com o lançamento do livro, a Bola de Neve diz não ter intenção de
continuar sua campanha contrária à publicação. A igreja pedia, além da
suspensão do lançamento e do cancelamento do simpósio, que Maranhão Filho
retirasse de circulação todos os artigos sobre a instituição, excluísse a
fanpage do livro no Facebook e não fizesse mais nenhum tipo de menção a ela em
trabalhos futuros. Mais: estipulava uma multa de R$ 50 mil caso o livro fosse
lançado e uma multa diária de R$ 10 mil após o lançamento. “Seria o início de
uma mordaça cristã em relação a trabalhos sobre evangélicos?”, questiona
Maranhão Filho, que, depois de passar a ser vítima de ciberbullying e receber
ameaças, procurou um advogado e a polícia para garantir sua integridade.
Fotos:
Gabriel Chiarastelli; JOSE PATRICIO/AE
O artigo original poderá ser acessado
por meio desse link aqui:
O autor desse blog já recebeu
dois comentários vindo de uma mesma pessoa da Bola de Neve Church (?), com
conteúdo agressivo e intimidatório que reproduz abaixo para o conhecimento de
todos:
Anônimo8 de junho de 2013 06:52
VOCE É BURRO PARA PUBLICAR UMA
MERDA DESTA DO RINA
VOCE NAO SABER O MAL QUE CAI DE
FALAR DE UM SERVO DE DEUS
Anônimo8 de junho de 2013 06:55
AE
COM TANTA FACULDADE E É UM IDIOTA
SAIBA QUE MEU IRMAO FOI USUARIO
DE DROGAS POR 8 ANOS, E 4 NO CRACK. E GARCAS A DEUS POR TER ESTES HOMENS COM A
"VISAO" CORRETA , POIS HOJE A VIDA DELE FOI RESTAURADA , E UM SERVO
DE DEUS TRABALHA, E ALEM DE TUDO TODA A FAMILIA ABRAÇOU A VISAO
OTARIO
Só podemos lamentar tais atitudes
agressivas e de tentativas de cerceamento da liberdade por parte daqueles que
alegam que anunciam um evangelho libertador. Pena, pena mesmo.
Que Deus Abençoe a Todos
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa
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Desde já agradecemos a todos.
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