O material que apresentamos abaixo foi publicado,
originalmente, no site do Brasil Post em seu caderno de comportamento. A autora
do artigo nasceu no ceio de uma família envolvida com uma das muitas divisões —
seitas — que existem debaixo do grande guarda—chuva, chamado de Igreja Católica
Romana: o Opus Dei.
A Prelazia da Santa Cruz e Opus
Dei — do latim: Obra de Deus é uma das muitas divisões existentes dentro da
Igreja Católica Apostólica Romana. Ela existe como instituição hierárquica da
Igreja Católica, e trata-se de uma Prelazia Pessoal do papa a quem juram
lealdade e a quem respondem com exclusividade. O Opus Dei é composto por
leigos, casados, solteiros e sacerdotes. Sua missão é participar dos esforços
evangelizadores da Igreja de Roma.
O Opus Dei foi fundado no dia 2
de outubro de 1928 por São Josemaría Escrivá de Balaguer, sacerdote espanhol
canonizado em 2002. No dia 28 de novembro de 1982 o papa João Paulo II através
da Constituição Apostólica Ut Sit1 constituiu o Opus Dei como prelazia pessoal.
O artigo abaixo traz o testemunho
pessoal de uma mulher que durante 18 anos esteve como verdadeira prisioneira
desse sistema perverso, que de forma absurda recebe o nome de “Opus Dei”.
Segue o artigo:
Como foi ser mulher e crescer no Opus Dei
Publicado:
15/05/2014
por Nana Queiroz
por Nana Queiroz
Devo ser
um dos projetos mais fracassados do Opus Dei no Brasil. Nasci em uma família do
que eles chamam supernumerários (casais que dedicam a vida a espalhar a
mensagem do Opus Dei), cresci ouvindo palestras e aulas sobre sua doutrina.
Para quem
não sabe, o Opus Dei é uma entidade da Igreja Católica, e não uma seita como
muitos dizem. Também não tem nada a ver com toda aquela baboseira do Código da
Vinci, a começar pelo fato de que não existem monges no Opus Dei e matar pessoas
estaria completamente fora de questão mesmo para os mais apaixonados.
Digo isso
porque o Opus Dei já tem defeitos demais para ser acusado dos que não tem. E o
primeiro deles é sua doutrina com relação às mulheres.
Certo
verão, quando eu tinha 14 anos, cheguei para uma das palestras na casa do Opus
Dei na Vila Mariana, em São Paulo, com um blusinha regata extremamente
confortável. Uma das mulheres que viviam na casa em esquema de completa
dedicação (ela havia abdicado de namorar e ter família, por exemplo, pelo que
ela acreditava ser correto) chegou para mim e disse:
- Sei que
você é magrinha e não tem um corpo muito provocativo (!), mas você nunca deve
subestimar o efeito que tem nos homens. Não vai querer ser responsável pelo
pecado de outra pessoa, né?
Acho que
este foi o primeiro momento em que eu senti que aquela instituição era absurda
e eu deveria sair correndo. Que tipo de pensamento é este de que eu sou
responsável pelo que outra pessoa pensa ou faz só porque estou com calor???
Era a
culpabilização da mulher pelas atrocidades do homem ali, falando na voz da
religião.
Durante
minha adolescência, enfrentei diversos momentos em que isso foi reforçado.
Quando comecei a namorar, aos 15, tinha muito medo de ir para o inferno porque
meu namorado tinha tido uma ereção ao me beijar. Fui a um padre e perguntei o
que deveria fazer. Ele me respondeu:
- Você é
a condutora da carruagem, se há risco, não deve nem beijar seu namorado, para
não perder o controle dos cavalos.
O pobre
do meu primeiro namoradinho topou o desafio e me namorou sem beijo na boca nem
nada por algum tempo. Um abraço querido nele, se estiver lendo isso.
Eu não
vou falar sobre casar virgem e outros princípios das religiões. Posso discordar
deles (profundamente, aliás), mas defendo até a morte o direito das pessoas
terem suas convicções e viverem conforme mandam suas consciências. O que não
admito é que a religião seja usada para colocar as mulheres em uma posição de
profunda culpa como a que eu vivi durante minha adolescência.
Via meu
corpo como um convite ao crime e um risco eterno de ganhar o inferno sem nem
saber. Passava calor por medo de ser vista de maneira sexual. Se um homem me
olhasse de um jeito que eu não queria, a culpa era minha, eu convidei o olhar,
afinal. Se alguém passasse a mão em mim eu deveria pensar em que roupa tinha
usado para provocar este comportamento no homem.
Aos 18
anos, me libertei da religião dos meus pais e nunca mais pisei no Opus Dei.
Ainda sou muito espiritualizada, mas temo religiões como as crianças temem o
Bicho Papão.
Claro,
devo a eles uma série de coisas bonitas, como o ensinamento de que meu trabalho
deve sempre estar a serviço do mundo que quero construir. Respeito
profundamente as pessoas que encontram ali um significado para suas vidas, como
meus pais e um dos meus irmãos. Mas nunca consegui perdoá-los por como me
fizeram perceber meu corpo. Pior: por como me fizeram perceber como mulher.
Espero que um dia eles pensem sobre isso e mudem. Eu acredito em
transformações.
O artigo original poderá ser lido
por meio desse link aqui:
OUTROS ARTIGOS ACERCA DA IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA
Que Deus Abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
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