O líder pastoral Marcos Lord
vestido como drag queen: Luandha Perón, para os íntimos. Foto: Gustavo Miranda
/ Agência O Globo
Já temos
vista o mundo evangélico ou gospel produzir tantas coisas contrárias aos
ensinamentos bíblicos que agora já mais nada nos surpreende.
O
material abaixo foi divulgado no site do Jornal O GLOBO do Rio de Janeiro e
traz uma demonstração de onde chegou o povo chamado evangélico ou gospel com
sua hermenêutica centrada em deixar a Bíblia de lado e adotar invencionices
humanas.
Segue o
artigo do site do “o Globo”
Superando preconceito,
pastor evangélico é também drag queen
Ele
defende releitura do livro sagrado e prega a liberdade como ‘o maior presente
de Cristo’
Por FABÍOLA
LEONI
RIO —
Numa hora, ele pega a Bíblia na cabeceira para fazer uma pregação. Na outra,
pega os cílios postiços para a próxima parada gay. Apesar de soarem
antagônicas, as opções fazem parte do cotidiano do líder pastoral Marcos Lord —
ou drag queen Luandha Perón, para os íntimos. Professor da rede pública há sete
anos, em Duque de Caxias, Marcos é um carioca de sorriso largo, que demonstra
sua crença religiosa com uma devoção para fiel fervoroso nenhum botar defeito.
Evangélico de berço, ele diz ter sofrido quando se revelou homossexual, há dez
anos, aos 26. A saída para não abandonar a fé foi entrar na Igreja da
Comunidade Metropolitana (ICM). O ramo evangélico é conhecido por ter a maior
parte dos fiéis integrantes da comunidade LGBT, o cenário propício para o
nascimento, em 2011, de Luandha — “uma subversão, uma exaltação do feminino”,
como define o pastor.
— Quando
o Marcos está no trabalho, Luandha fica guardadinha ali no lugarzinho dela,
como um gênio na garrafa — afirma o professor do 3º ano do ensino fundamental,
que diz que os alunos não sabem da existência da personagem.
A
transformação leva 30 minutos. Usando o próprio altar da igreja como mesa de
maquiagem, Marcos pinta o rosto, sobe no salto alto e põe uma peruca de cabelos
castanho-escuro com mechas californianas.
Perguntado
sobre como é feita a pregação de um gay num ambiente com preceitos evangélicos,
que levantam a bandeira contra a homossexualidade, o líder pastoral, sem tirar
os olhos da Bíblia, defende de forma categórica uma releitura do livro, seu
“manual de fé”. A ICM é considerada uma igreja inclusiva, o que, segundo
Marcos, é uma expressão redundante — já que, para ele, todas as igrejas
deveriam ser inclusivas. O pastor prega a liberdade como “o maior presente de
Cristo” e acredita que “o essencial é o amor e a mensagem que a palavra de Deus
transmite”. Para ele, a questão está no que ainda pode ser considerado
sacrilégio ou não a partir das antigas escrituras.
— Se você
for ler a Bíblia ao pé da letra, terá muitos problemas. Ela fala sobre
escravidão, que você tem direito a ter um irmão escravo seu por sete anos. Ela
diz que você não tem direito de comer carne de porco. Mas quem vai abrir mão de
comer o seu presunto e o seu pernil? Se nós mantivéssemos a mesma visão que
sempre tivemos da religião evangélica, a mulher estaria até hoje calada —
argumenta, seguro. — Eu não posso simplesmente pegar a Carta aos Romanos e
lê-la como se ela tivesse sido escrita para os brasileiros do século XXI. A
Carta aos Romanos foi escrita para os cristãos de Roma, daquele período
histórico, do primeiro século. Então eu não posso achar que ela é válida para
hoje. Mas eu posso tentar pegar alguns ensinamentos que estão ali e achar novos
significados para os dias de hoje? Posso. Assim como pego os ensinamentos da
minha avó e tento trazer para minha vida até hoje. Mas isso não quer dizer que
eu não vá pedir manga com leite numa lanchonete porque ela disse uma vez, lá
atrás, que faz mal.
Foi nos
idos de 1968, nos Estados Unidos, que surgiu a Metropolitan Community Church,
liderada pelo pastor Troy Perry, que se revelou homossexual. O estudo da Bíblia
feito a partir de um novo viés, com enfoque nos contextos histórico e social,
ocorreu de forma concomitante com perseguições e ameaças à igreja, que cresceu
desde então. Perguntado se é reconhecida internacionalmente, Marcos diz que ela
é chamada de “a igreja dos direitos humanos” e que sua líder mundial, Nancy
Wilson, faz parte de um grupo de aconselhamento, com representantes de
organizações sem fins lucrativos, religiosas e laicas, que assessora o
presidente Barack Obama.
No
Brasil, a comunidade existe há cerca de dez anos, segundo o pastor. Há unidades
em Fortaleza, Maceió, Teresina, Cuiabá, Maringá (Paraná), Caxias do Sul (Rio
Grande do Sul), Belo Horizonte, Vitória, São Paulo e Mariporã (São Paulo). No
Rio, há unidades em São João de Meriti e a comunidade Betel, em Irajá, onde
Marcos é o líder pastoral. Na unidade, os cultos ocorrem numa pequena sala,
onde podem ser vistos banners com dizeres como “O Senhor é meu pastor, e Ele
sabe que eu sou gay”. Apesar de ser uma comunidade mundial, a ICM não é ligada
a nenhuma convenção nacional de igrejas evangélicas.
A aflita
descoberta da homossexualidade
Para quem
desde que se entende por gente ouviu que ser gay era pecado e tinha “espíritos
malignos”, a descoberta do gosto por uma pessoa do mesmo sexo pareceu um
martírio. Marcos disse que teve receio do preconceito e da reação da família —
que, inicialmente, foi negativa — e que fez penitências contra si próprio, em
prol de sua “libertação”. Numa delas, levantou-se de madrugada durante sete
dias. Foi na época em que morava com o irmão, pastor de uma igreja evangélica,
em Barra Mansa, no Sul Fluminense.
— Eu me
lembro claramente de uma noite. Estava passando por aquele momento de crise
existencial e de madrugada fazia poças de lágrimas, ajoelhado no chão, pedindo
a Deus que me libertasse. No fim da sétima noite, eu percebi que não ia
adiantar, que Deus não tinha que me libertar, que não havia do que ser
libertado. E a crise foi tentar encontrar lugar na minha fé para a minha
sexualidade, entender que eu poderia ser gay e ser cristão — diz Marcos, que
conheceu a ICM por meio de um amigo. — No começo, eu tive muita resistência. Eu
não queria uma igreja para gays. Eu queria uma igreja. Eu imaginava que ia ter
uma drag queen dublando a Fernanda Brum e a Cassiane, e que na hora da pregação
o pastor ia transformar todos os personagens da Bíblia em homossexuais. Mas
fui, e eles estavam estudando a Bíblia, como eu estudava nas igrejas de onde
vim. Percebi que era uma igreja como qualquer outra. Só que me aceitava como eu
sou.
Luandha
Perón, segundo Marcos, aparece em eventos — paradas gay e festas da igreja —
como forma de militância. O nome tem justificativa: é uma homenagem à África e
à paixão pelo Museu Evita, em Buenos Aires, que conheceu em sua primeira viagem
internacional, feita há três anos. Já a ideia de virar drag queen teve
inspiração política: uma apresentação de integrantes da ICM de São Paulo.
Durante a parada gay, fiéis da igreja paulista foram às ruas vestidos de
noivas, para criticar o governo brasileiro, que se coloca contra o casamento
entre pessoas do mesmo sexo.
— Quando
você vai para a balada, vira um personagem Não é a mesma pessoa que vai
trabalhar de segunda a sexta. E, no meu caso, a drag queen é um personagem
político, exaltando a mulher. As pessoas não gostam só porque é gay, e sim
também porque é pintosa. As pessoas gostam de falar “Ai, não basta ser gay,
ainda tem que dar pinta?” Por que não se pode dar pinta? Por que ser feminino é
tão ruim? — pergunta Marcos, já sendo maquiado para se transformar em Luandha.
— Quando começa esse processo de maquiagem, o Lord vai para trás das cortinas,
e a Luandha vai surgindo. Ela vai começando a criar corpo, forma, a personalidade
de Luandha vai surgindo. Ela é diferente de mim. Ela é mais ousada. Eu sou um
pouco mais contido. O grande problema de o Lord virar Luandha é a sobrancelha e
o chuchu (a barba).
Para
Marcos, a inclusão que acontece na ICM é algo radical, já que deve ser aceito
tudo aquilo que pode até chocá-lo:
— Imagina
uma drag queen no culto? Imagina a primeira vez que a Luandha for pregar? Mas
tudo causa. Na primeira vez que uma mulher botou uma calça, as pessoas ficaram
assombradas. Como ela tinha a ousadia de fazer aquilo? Então o processo é esse.
No começo choca, causa estranhamento, mas as pessoas vão se acostumando. E se
ninguém causar esse primeiro impacto, esse primeiro choque, nunca vai passar
disso, sempre vai ser um choque.
Maquiador
de Luandha, o professor de história Léo Rossetti — também drag queen e membro
da ICM Betel — defende que as pessoas usem a maquiagem como forma de transitar
entre gêneros e ser o que quiser. Ele afirma que Deus não está preocupado com
os corpos e não se define nem como macho, nem como fêmea:
— Se falo
que Deus é homem, eu o estou fechando, tornando-o menor. Ele é tudo. Deus está
preocupado com outras coisas, com o coração e com a justiça, por exemplo.
Jesus na Lapa
Baseado
no slogan da ICM de igreja inclusiva, o pastor Marcos afirma que Jesus Cristo
era um ser extremamente inclusivo, que chamava para perto de si os excluídos da
sociedade, como cegos e mulheres. E aposta que, se Cristo nascesse nos tempos
atuais, isso aconteceria na Lapa, bairro boêmio carioca:
— A gente
aqui costuma dizer isso e que ele seria amigo das travestis, dos transexuais,
dos malandros da Lapa. Jesus sempre andou com quem estava à margem da
sociedade. Nós procuramos fazer isso também, apesar de não ser fácil esse
trabalho diário. É chamar quem acha que não tem lugar junto às pessoas.
Segundo
Marcos, apesar de os princípios da ICM se chocarem com os de outras igrejas,
existe diálogo entre elas.
— Todo
ano participamos da caminhada pela liberdade religiosa, contra a intolerância.
Falamos com muita tranquilidade com a igreja episcopal anglicana, e temos
contato próximo com a igreja presbiteriana da Praia de Botafogo. Mas há uma
verdadeira ojeriza por parte das igrejas neopentecostais, principalmente. A
gente vê pastores aí que, se pudessem, botavam o porrete na mão do povo para
bater, porque eles não batem. Eles não são homofóbicos — ironiza o pastor.
Sobre
relacionamentos amorosos, Marcos diz não se sentir à vontade para se envolver
com “alguma ovelha” da comunidade, que conta, por exemplo, com mais duas drag queens.
Livre e desimpedido, como se intitula atualmente, ele afirma que pensa em ter
uma filha, que se chamaria Maria Eduarda. Segundo Marcos, que já foi noivo de
uma mulher, se até os 40 anos não achar um companheiro com quem construir uma
família, dará entrada mesmo assim no processo de adoção.
O artigo original do site do o
Globo poderá ser visto por meio desse link aqui:
E assim vamos, de passo em passo,
ladeira abaixo...
Que Deus tenha misericórdia de
todos e que mantenha suas misericórdias renovadas a cada manhã.
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que
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