Uma Marcha Triunfal da Antiguidade
A EVIDÊNCIA DO NOVO TESTAMENTO — PARTE 8 — COLOSSENSES 2:13—15
— PARTE 1
Atenção
esse artigo é parte de uma série onde pretendemos tratar dos alegados encontros
de poder e de curas maravilhosas que nos são apresentadas todos os dias pelos
pastores midiáticos. No final de cada estudo você encontrará links para outros
estudos.
Texto
Base: COLOSSENSES 2:13—15
13
E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela
incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos
os nossos delitos;
14
tendo cancelado o — χειρόγραφον — cheirógrafon —escrito de dívida, que era
contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu- o
inteiramente, encravando-o na cruz;
15
e, ἀπεκδυσάμενος —
apekdusámenos — despojando os
principados e as potestades, ἐδειγμάτισεν — edeigmátisen — publicamente os expôs ao
desprezo, θριαμβεύσας — thriambeúsas — triunfando deles na cruz.
O texto que temos
diante de nós apresenta inúmeras dificuldades de interpretação. As questões
mais importantes dizem respeito ao significado de χειρόγραφον —
cheirógrafon —escrito de dívida,
o uso da imagem de “Triunfo” e a tradução de ἀπεκδυσάμενος —
apekdusámenos — despojando.
Bem, vamos começar
com a primeira palavra:
Documento obliterado pelo ato de rasgar
I. χειρόγραφον — cheirógrafon —escrito de dívida
W. Carr escreveu em seu artigo “Duas Notas em
Colossenses”[1]
que o termo χειρόγραφον — cheirógrafon, se refere a algo, literalmente,
a uma confissão “escrita pelo próprio punho do acusado” como uma espécie de confissão,
conforme descobertas arqueológicas feitas na Ásia Menor de escritos em pedra
contendo a confissão de pecadores arrependidos que, dessa forma confessavam
seus pecados em algum local de culto. Nesse sentido, Carr sugere que Cristo
“obliterou” essa metafórica autoconfissão pública. Desse modo, se os
colossenses estivessem insistindo, mesmo depois de terem sido libertados por
Cristo, em se obrigarem a obedecer às regras inventadas por eles mesmos ou por
outros novamente, então eles estariam escrevendo, outra vez, o tal “escrito de
dívida” para que todos pudessem ver. Comparar com:
Colossenses
2:20
Se
morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no
mundo, vos sujeitais a ordenanças.
A ideia de Carr de
que Paulo teria usado um costume local como ponto de contato com os costumes
das próprias tradições gentílicas correntes em Colossos, como uma maneira de
ajudá-los a compreender o significado da libertação das obrigações pagãs,
possui um forte apelo, temos que admitir. Mas isso, também temos que admitir
acaba autodestruindo a metáfora usada por Paulo. A imagem de uma pedra sendo
pendurada na cruz de Cristo é algo que representa mais um “peso” em si mesma,
do que a própria metáfora pode suportar.
Por isso, cremos que
é mais satisfatória a ideia mais antiga de que
χειρόγραφον — cheirógrafon representa uma confissão de
dívida e que a imagem usada por Paulo trata-se apenas de um jogo de palavras
onde se cancela um escrito qualquer fazendo uma cruz — literalmente um “Xis” —
sobre o documento. Com isso concorda o
pesquisador Adolf Deissmann que afirma que papiros originais foram encontrados
“cruzados” com a letra grega “Χ”, chi, e cita, como exemplo o papiro
Florentinus do ano 85 d.C. Nesse documento o rei do Egito dá a seguinte ordem
durante um processo de julgamento: “Que o material manuscrito — χειρόγραφον — cheirógrafon — seja “riscado” ou cruzado com
um “Xis”.[2]
Dessa forma o que Paulo chama de — χειρόγραφον — cheirógrafon
— não seria a própria lei em si mesma, como desejam alguns, e sim,
provavelmente, o escrito que se encontra registrado nos livros celestiais — ver
Apocalipse 20:12 e também o livro pseudoepigráfico Apocalipse de Sofonias 7:1—11. Essa
página, cada uma referente a um indivíduo é arrancada e pregada na cruz, que se
torna num registro público do fato que fomos perdoados por Deus — conforme
Colossenses 2:13. De que maneira a cruz cancela o
débito é algo sobre o que Paulo não elabora nesse contexto.
II. O Triunfo
O significado de θριαμβεύσας — thriambeúsas — triunfando não diz tanto
respeito ao ato de triunfar em si mesmo, e sim ao ato de celebrar um triunfo. O
ato de desfrutar de uma procissão triunfal como a descrita por Paulo em
2
Coríntios 2:14
Graças,
porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de nós,
manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento.
Tal triunfo em
Colossenses 2:15 poderá estar fazendo referência a:
A. Os poderes como
cativos de Cristo.
B. Os convertidos
como pessoas verdadeiramente livres.
C. Os cristãos como
soldados de Cristo.
De acordo com os
historiadores, uma marcha triunfal dos romanos seguia o seguinte esquema: 1)
Soldados inimigos capturados e despojos de guerra, quadros que retratavam cenas
das batalhas e das cidades conquistadas, cartazes com os nomes das pessoas
aprisionadas; 2) Presentes oferecidos pelo povo conquistado para honrar o
conquistador; 3) Bois brancos para serem sacrificados ao Deus Júpiter; 4)
Prisioneiros algemados; 5) Oficiais portando modelos das armas usadas na
conquista; 6) Magistrados e senadores; 7) O comandante vitorioso sobre uma
carruagem acompanhado de seus filhos menores — seus filhos maiores montam
cavalos e acompanham outros oficiais; 8) Romanos que foram libertados da
escravidão; 9) Soldados romanos com coroas de louros cantando canções zombando
de seus comandantes[3].
O comentarista Lamar
Williamson afirma que quando o verbo grego θριαμβεύω — thriambeúo — é seguido por um objeto direto,
nesse caso a expressão grega αὐτοὺς — autoùs
— tem o significado de: “conduzi-los como inimigos conquistados em uma parada
vitoriosa”. Uma vez que a parte mais emocionante dessas paradas era poder
arrastar os inimigos derrotados pelas ruas da cidade do vencedor expondo-os ao
ridículo, os mesmos costumam aparecer como objeto direto do verbo “triunfar
sobre alguém”, isto é, conduzir algum cativo em uma parada triunfal. Por
extensão, com o passar do tempo, a expressão passou a agregar também o sentido
de “expor alguém ao ridículo”.
O conceito de
“exposição” está presente em toda a extensão do versículo. Desse modo, é
inevitável que o significado de ἀπεκδυσάμενος — apekdusámenos — despojando os principados e as potestades,
independentemente de como tal expressão é traduzida, a mesma é de importância
central ao significado de δειγματὶσω — deigmatìso — publicamente os expor ao
desprezo, que é o único verbo finito em toda essa sentença.
Essa mesma expressão
é usada por Mateus com relação à atitude de José acerca de Maria, mas no
sentido inverso:
Mateus
1:19
Mas
José, seu esposo, sendo justo e não a querendo infamar, resolveu deixá-la
secretamente.
No judaísmo a humilhação de uma mulher
adúltera era feita pelo ato de arrancar suas roupas e expor seus seios à vista
de todos. De todas essas informações cremos que é bastante seguro traduzir essa
expressão por: “humilhar por meio duma exposição pública”. A expressão
adicional ἐν παρρησίᾳ —
en parresía
— em público ou publicamente enfatiza , com precisão, a natureza da exposição.
CONTINUA...
LISTAS DOS ESTUDOS DE ENCONTROS DE PODER
001 — Introdução =
002 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = Expressões Diversas
003 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = ἀρχῆ — arché e ἄρχων — árchon.
004 – A linguagem de “Poder” no Novo Testamento = ἐξουσίαις – exousías – potestades, autoridades.
005 – A linguagem de “Poder” no Novo Testamento = δυνάμεις — dunámeis — poderes.
006 – A linguagem de “Poder” no Novo Testamento = Θρόνοι— thrónoi — tronos.
007 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = κυριοτῆς — kuriotês — domínio.
008 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = ὀνόματι — onómati — nome.
009 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = ἄγγελοs — ággelos — anjo.
010 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = δαιμονίον — daimoníon — demônio, πνεῦμα τὸ πονηρὸν — pneûma tò poniròn — espírito maligno, ἀγγέλους τε τοὺς μὴ τηρήσαντας τὴν ἑαυτῶν ἀρχὴν— angélous te toùs me terèsantas tèn eautôn archèn — anjos, os que não guardaram o seu estado original ou anjos caídos.
011 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = ἀγγέλους τῶν ἐθνῶν — angélous tôn ethnôn — anjos das nações.
012 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = ἀγγέλους τῶν ἐθνῶν — angélous tôn ethnôn — anjos das nações — Parte 2.
013 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = ἀγγέλους τῶν ἐθνῶν — angélous tôn ethnôn — anjos das nações — Parte 3 — Final.
014 — A Evidência do Novo Testamento – Parte 1 — Introdução
015 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 2 — As Passagens Disputadas — 1 Coríntios 2:6—8 — Parte 1
016 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 3 — As Passagens Disputadas — 1 Coríntios 2:6—8 — Parte 2
017 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 3 — As Passagens Disputadas — Romanos 13:1—3
018 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 4 — As Passagens Disputadas — Romanos 8:31—39
019 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 5 — As Passagens Disputadas — 1 Coríntios 15:24—27a — PARTE 1
020 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 6 — As Passagens Disputadas — 1 Coríntios 15:24—27a — PARTE 2
021 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 7 — As Passagens Disputadas — Colossenses 3:13—15 — PARTE 1
022 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 8 — As Passagens Disputadas — Colossenses 3:13—15 — PARTE 2
023 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 9 — As Passagens Disputadas — Efésios 1:20—23 — AS REGIÕES CELESTIAIS — PARTE 1
024 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 10 — As Passagens Disputadas — Efésios 1:20—23 — AS REGIÕES CELESTIAIS — PARTE 2
025 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 11 — As Passagens Disputadas — EFÉSIOS 1:20—23 — PARTE 3
026 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 12 — As Passagens Disputadas — EFÉSIOS 1:20—23 — PARTE 4
027 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 13 — As Passagens Disputadas — EFÉSIOS 1:20—23 — PARTE 5
028 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 14 — As Passagens Disputadas — EFÉSIOS 1:20—23 — PARTE 6
029 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 15 — As Passagens Disputadas — EFÉSIOS 1:20—23 — PARTE 7 — A DESTRUIÇÃO DA MORTE E DE SEUS ALIADOS
030 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 16 — As Passagens Disputadas — COLOSSENSES 1:16 — A CRIAÇÃO DE TODAS AS COISAS POR MEIO DE E PARA O PRÓPRIO CRISTO
031 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 16 — As Passagens Disputadas — COLOSSENSES 1:16 — TENTANDO DEFINIR OS PODERES
032 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 16 — As Passagens Disputadas — COLOSSENSES 1:16 — TENTANDO DEFINIR OS PODERES —PARTE 002
033 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 17 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 001
034 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 18 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 002
035 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 19 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 003
036 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 20 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 004
037 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 21 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 005
038 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 22 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 006
039 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 23 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 007
040 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 24 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 008
041 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 25 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 009
042 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 26 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 010
043 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 27 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 011 — O PRÍNCIPE DA POTESTADE DO AR
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2017/02/encontros-de-poder-043-evidencia-do.html
Que Deus abençoe a
todos.
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a
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Desde já
agradecemos a todos.
Muito edificante esse artigo! Estava procurando um comentário sobre o texto de Colossenses citado para discutir com minha família no culto doméstico de hoje e agora teremos um bom material! Muito obrigada!
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