Da esq. para a dir.: pastor
Hohberg, rabino Ben Chorin e imame Sanci
O material abaixo foi,
originalmente publicado, pelo site do UOL.
Berlim abrigará primeiro templo do mundo a reunir sinagoga, mesquita
e igreja14
DW
Berlim
vai ganhar um templo multirreligioso: a House of One (Casa de Um Só) – o
primeiro edifício sacro do mundo a reunir, sob o mesmo teto, uma sinagoga, uma
mesquita e uma igreja. Com início das obras programado para os primeiros meses
de 2016, a construção será um teste de tolerância.
Na
apresentação do projeto à imprensa, nesta terça-feira (3), o rabino Tovia Ben
Chorin ficou lado a lado com o pastor luterano Gregor Hohberg e o imame Kadir
Sanci no futuro canteiro de obras. Num gesto simbólico, os três empilharam nas
mãos três tijolos claros, o material com que será erguido o futuro templo.
"Cidade
das feridas, cidade dos milagres" é como o rabino Ben Chorin define a
capital alemã, local onde foi planejado o Holocausto, um dos maiores crimes
contra a humanidade do século 20. Os pais do religioso fugiram em 1935 da
Alemanha para a então Palestina, e ele veio de Jerusalém para Berlim há seis
anos.
Público jovem
como alvo
Uma união
assim seria, sem dúvida, rara no Oriente Médio ou em países como a Nigéria,
onde conflitos religiosos custam tantas vidas humanas – mas tampouco é
corriqueira na Alemanha, onde ainda se esbarra na rejeição aos que seguem
outras religiões.
Membros
de outras religiões também serão convidados para os diferentes cultos na House
of One. Essa demonstração de abertura visa atrair, sobretudo, os jovens, que
raramente são vistos nas igrejas cristãs. Por sua vez, a comunidade judaica de
Berlim, praticamente exterminada no Holocausto, cresce lentamente.
Apenas os
seguidores do Islã veem aumentar a presença dos jovens fiéis na vida religiosa.
Visando esse público, fora alguns versos em árabe, as preces de sexta-feira
serão basicamente realizadas em alemão. Tal opção não é comum nas mesquitas,
onde geralmente se celebra em turco, árabe ou bósnio. No meio tempo,
fundamentalistas islâmicos mais linha dura vêm criticando na internet a
participação muçulmana no projeto.
Renovar sem
confundir
O projeto
de arquitetura sacra na capital é iniciativa da Comunidade Judaica de Berlim,
do Seminário Abraham Geiger, do islâmico Fórum de Diálogo Intercultural e da
Congregação Luterana das Igrejas de São Pedro e Santa Maria. Orçado em 43
milhões de euros, a intenção é que seja inteiramente financiado por
crowdfunding (patrocínio público). No site da House of One, em sete idiomas,
qualquer pessoa poderá contribuir, comprando um tijolo.
Seu
futuro endereço é a Praça Petriplatz, no centro histórico da cidade: um terreno
baldio na antiga Alemanha Oriental, usado como estacionamento até algum tempo
atrás. Porém, há 700 anos, cristãos têm celebrado aqui os seus cultos –
primeiro numa igreja gótica, depois numa neobarroca e, então, numa em estilo
neogótico.
Essa
última igreja foi seriamente danificada durante a Segunda Guerra Mundial e
demolida durante os anos do regime comunista da República Democrática Alemã
(RDA). O novo templo ecumênico será erguido exatamente sobre os fundamentos
dessa última casa de oração.
"Nós
não queríamos simplesmente construir uma igreja", explica o pastor
Hohberg. "A cidade se transformou. Gente de todas as confissões vive aqui
e quer um lugar onde possa se congregar." Por isso, as três religiões
monoteístas vão projetar, construir e habitar juntas a nova casa.
"Mas
não estamos à procura de uma nova religião e não queremos confundir nossas
identidades", acrescenta o imame Sanci. Por sua vez, o rabino liberal Ben
Chorin almeja um lugar para aprender sobre religião sem missionarismo, para
discuti-la criticamente. Ele lembra que "a fala é mais lenta do que as
armas".
O
"Um" da diversidade
Espaços
multirreligiosos – ou ecumênicos – existem em outros lugares, como em
aeroportos ou na Organização das Nações Unidas (ONU). Em Berna, capital da
Suíça, está sendo construído um centro com esse caráter. Mas a iniciativa
berlinense é diferente: trata-se de um edifício sacro interreligioso.
O
escritório de arquitetura Kuehn Malvezzi, de Berlim, foi quem venceu a
concorrência internacional. Seu projeto pretende se destacar majestosamente na
paisagem urbana, com uma torre de 32 metros de altura pairando sobre um cubo e
uma cúpula central.
Cada uma
das três religiões vai dispor de dependências próprias para seu culto, com dois
andares – como de praxe nas mesquitas e sinagogas – ou apenas um – no caso da
igreja. "Nós voltamos bem atrás na história e constatamos que as formas
originais dos locais de culto para cristãos, judeus e muçulmanos não diferem
tanto assim entre si", revela o arquiteto Winfried Kühn.
Ainda
assim, o projeto foi várias vezes adaptado às necessidades das diferentes
religiões. Sinagogas e mesquitas precisam estar direcionadas para o leste, e a
sinagoga precisa de espaço na parte superior para as cabanas do Sucot, a Festa
dos Tabernáculos.
Graças às
frestas de inspiração oriental na alvenaria, o edifício todo será banhado de
luz. O espaço mais amplo será a nave abobadada central, um local de encontro e
diálogo para fiéis e ateus.
Uma
questão, porém, permanece em aberto e sujeita a diálogo: "Quem é o 'One',
o Deus único?". A resposta do rabino Ben Chorin é bem direta e singela:
"É alguém que criou a diversidade. Senão seria muito chato."
O artigo original da UOL poderá
ser visto por meio desse link aqui:
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
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