Antonio Miotto/FotoArena/Folha Press Templo de Salomão viito de cima, de dimensões monumentais
O material abaixo foi publicado na
edição 811 da revista Carta Capita, antes, portanto, do trágico acidente que vitimou o candidato à presidência Eduardo Campos e mais sete pessoas.l.
Sociedade
Religião
ALÉM DO MISTICISMO
Os evangélicos crescem com
efeitos importantes na política, mas só Deus conhece o desfecho dessa história
por Piero Locatelli e Rodrigo
Martins
Sob forte esquema de segurança, o
bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, inaugurou o
maior templo religioso do País, superlativo até nos detalhes. Com 100 mil
metros quadrados de área construída, ele é quase quatro vezes maior que o
santuário de Nossa Senhora Aparecida. O novo edifício tem 56 metros de altura e
a fachada revestida com pedras vindas de Hebrom, cidade que abriga os túmulos
de Abraão, Isaac e Jacó em Israel. O quarteirão inteiro pretende ser a
recriação do Templo de Salomão, o primeiro de Jerusalém, segundo a Bíblia
hebraica. O antigo santuário sobreviveu por quatro séculos, até ser totalmente
destruído pelo Império Babilônico no século VI antes de Cristo. Arvora-se a
ressurgir, agora, numa movimentada avenida da zona leste de São Paulo, ao custo
estimado de 685 milhões de reais.
O templo tem capacidade para
abrigar 10 mil fiéis, além de dispor de um estacionamento com 2 mil vagas para
carros. O altar seria a réplica da Arca da Aliança, que, segundo a tradição
judaico-cristã, guardava os Dez Mandamentos esculpidos por Deus nas tábuas e
entregues ao profeta Moisés. Na inauguração do colossal santuário, na
quinta-feira 31/07/2014, a presidenta Dilma Rousseff chegou acompanhada por seu
vice, Michel Temer, e pelo ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. O
governador paulista Geraldo Alckmin, do PSDB, e o vice-presidente da Câmara,
Arlindo Chinaglia, do PT, também se dispuseram a acompanhar o longo culto
religioso, permeado por vídeos com histórias bíblicas e relatos de pastores e fiéis
que superaram o vício da droga.
Não causa estranhamento tamanho
interesse despertado na classe política. Somente a Universal conta com mais de
1,87 milhão de seguidores, segundo o Censo 2010, do IBGE. Os evangélicos das
mais variadas denominações somam 42,3 milhões de fiéis, ou 22,2% da população,
massa de eleitores cobiçadíssima. Trata-se da religião que mais cresce no
Brasil, à custa de um lento, mas constante, declínio católico. Os seguidores da
Igreja de Roma passaram de 73,6%, em 2000, para 64,6%, em 2010. Se mantida a
tendência, os protestantes poderão representar um terço dos brasileiros na
próxima década.
Mesmo após uma semana turbulenta,
em que a presidenta concedeu sua primeira entrevista como candidata à
reeleição, ouviu queixas de empresários em um evento da Confederação Nacional
da Indústria e se reuniu com sindicalistas da Central Única dos Trabalhadores,
Dilma fez questão de cumprimentar Macedo pela faraônica obra. Para a campanha
petista, é crucial restabelecer laços com a comunidade evangélica, que mantém
uma relação conflituosa com o governo e costuma dar muita dor de cabeça nas
eleições, como se viu em 2010 com o obscurantista debate sobre o aborto puxado
pelos religiosos. Não por acaso, os nove partidos da coligação de Dilma optaram
por criar um comitê específico para sensibilizá-los. A missão foi confiada a
Marcos Pereira, pastor da Universal e líder do PRB, e aos presidentes do PSD,
Gilberto Kassab, e do PROS, Eurípedes Júnior.
Dilma não é a única candidata em
busca do voto evangélico. Em 7 de julho, no segundo dia oficial de campanha, o
tucano Aécio Neves reuniu-se com o pastor José Wellington Bezerra da Costa,
presidente da Convenção-Geral das Assembleias de Deus no Brasil. O encontro,
realizado no bairro do Belém, também zona leste da capital paulista, reuniu
mais de 2 mil fiéis. Foi articulado pelo ex-governador paulista José Serra,
candidato do PSDB ao Senado por São Paulo, e pelo senador Aloysio Nunes
Ferreira, candidato a vice na chapa de Aécio Neves.
Em 2010, o pastor Costa declarou
apoio à candidatura de Serra, apesar de Marina Silva, então candidata à
Presidência pelo PV e hoje vice na chapa de Eduardo Campos (PSB), ser uma
devota assembleiana. Além disso, a filha do líder religioso, Marta Costa (PSD),
foi indicada como segunda suplente de Ferreira na disputa pelo Senado na última
eleição. A despeito das intensas movimentações no campo religioso, o senador
José Agripino Maia (DEM), coordenador da campanha de Aécio, despista: “Não
existe um planejamento para as igrejas evangélicas”.
Campos, por sua vez, participará
de uma reunião em São Paulo com pastores da Igreja Brasil para Cristo no
domingo 3. A coordenação da campanha socialista assegura que a vice Marina
Silva está distante dessas articulações, por ser refratária à mistura de
política com religião. Mas os socialistas admitem dialogar com grandes
denominações evangélicas, a exemplo da Assembleia de Deus. A aproximação com
setores religiosos ficou a cargo da comissão de articulação e mobilização,
tocada por um representante da Rede, Pedro Ivo, e um do PSB, Milton Coelho.
Outros líderes evangélicos
reúnem-se em torno da candidatura do pastor Everaldo Dias Ferreira, do PSC.
Abertamente contra a descriminalização do aborto e a união civil entre casais
do mesmo sexo, o candidato é um árduo defensor da redução da maioridade penal.
Embora figure nas pesquisas com algo entre 3% e 4% das intenções de voto,
Everaldo deve ter o mesmo espaço que Dilma, Aécio e Campos nos telejornais da
TV Globo e nos debates. Mesmo com essa exposição, o pastor dificilmente
alcançará uma votação de dois dígitos, avalia o cientista político Claudio
Couto, da Fundação Getulio Vargas. “Everaldo tem potencial para crescer, pode
até chegar a um patamar similar ao de Heloísa Helena em 2006, com 6,85% dos votos
válidos, mas duvido que vá muito além disso.”
Com bandeiras obscurantistas e
forte discurso oposicionista, Everaldo deve facilitar a vida de Aécio e Campos
na campanha, inclusive por contribuir na dispersão dos votos evangélicos, o que
pode precipitar o segundo turno. Deverá ainda difundir as pautas de líderes
neopentecostais que disputam cadeiras no Congresso. Entre seus apoiadores está
o deputado Marcos Feliciano (PSC-SP), ex-presidente da Comissão de Direitos
Humanos da Câmara e conhecido pelo seu desprezo a minorias. A cúpula do partido
acredita que Feliciano triplicará o número de votos obtidos nas eleições
passadas. Em 2010, ele arrebanhou 211 mil eleitores. O PSC também aposta na
popularidade do cirurgião plástico Roberto Miguel Rey Junior, o Dr. Rey dos
reality shows, para alavancar votos de seus candidatos a deputado federal em
São Paulo.
Silas Malafaia, que apoiou Serra
na última corrida presidencial, também já atua como cabo eleitoral de Everaldo.
Líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, o pastor escancarou sua
estratégia em um vídeo distribuído na internet. “Existem centenas de projetos
no Congresso Nacional para detonar a família, detonar os bons costumes da
sociedade. Temos de marcar uma posição firme para que Everaldo, se não for para
o segundo turno, possa ter quantidade de votos grande”, diz Malafaia. “E aí
vamos sentar à mesa e dizer: olha aqui queridão, quer o nosso apoio? Você vai
assinar um documento aqui, e não pode votar nisso, nisso, nisso. Esse é o jogo
político.”
A principal aposta continua no
Poder Legislativo. Nunca tantos pastores foram candidatos como nestas eleições.
O número subiu de 193, em 2010, para 270 neste pleito, um aumento de 40%. Como
termo de comparação, somente 16 padres católicos são candidatos em todo o País.
A bancada evangélica projeta um crescimento de 30%, podendo chegar a 95
deputados federais e senadores. Atualmente, ela conta com 73 congressistas, de
acordo com o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar.
Nos últimos quatro pleitos, a
bancada evangélica na Câmara passou de 44 para 71 deputados. Apenas em 2006, o
número recuou para 32. À época, 16 parlamentares não se reelegeram após terem
seus nomes envolvidos na Máfia das Ambulâncias, exposta pela CPI dos
Sanguessugas. À exceção desse revés pontual, a tendência sempre foi de
crescimento contínuo.
O número das bancadas religiosas
em assembleias legislativas e câmaras municipais também tem disparado. Já há
frentes parlamentares evangélicas organizadas em 15 estados. Nos municípios, é
mais difícil mapear a tendência. Pelas contas do Fórum Evangélico Nacional de
Ação Social e Política, o número de “vereadores de Deus” aproxima-se de 10 mil.
Dessa forma, em diferentes pontas
do espectro político, os parlamentares evangélicos tentam influenciar a agenda
nacional. Primeiro, na conquista de dividendos para as igrejas, como isenção
fiscal, a manutenção das leis de radiodifusão, a obtenção de pedaços de ruas
para a construção de templos, a instituição de leis que reconheçam a cultura
evangélica e forcem a abertura dos cofres públicos a tais eventos. Mas também
na criação de obstáculos à aprovação de projetos vistos como uma ameaça à
família e aos bons costumes, entre eles os direitos LGBT.
De acordo com o coordenador do
Centro de Educação, Filosofia e Teologia da Universidade Mackenzie, Rodrigo
Franklin de Sousa, os neopentecostais têm uma atuação mais coesa e coordenada
do que outros religiosos. “Eles descobriram essa ligação entre religião e poder
e estão explorando cada vez mais esse viés”, afirma. “Tanto o protestantismo
quanto o catolicismo têm, desde o Iluminismo, uma discussão em torno do Estado
laico, do que deve ser papel da religião e da política. Mas muitas denominações
evangélicas agem de forma mais pragmática.”
Os pragmáticos também estão
presentes nas eleições ao governo dos estados. Anthony Garotinho, da Igreja
Presbiteriana, e Marcelo Crivella, da Universal, lideram a disputa pelo governo
do Rio de Janeiro, e ambos devem servir de palanque para a candidatura de Dilma
à reeleição. Nas eleições de 2002, Garotinho terminou a corrida presidencial em
terceiro lugar, com quase 18% dos votos válidos, um dos melhores desempenhos
obtidos por um candidato evangélico. Só ficou atrás do resultado de Marina
Silva em 2010, quando a ex-ministra conquistou 19,3% do eleitorado na disputa
pela Presidência da República.
“É inegável o peso político desse
segmento, mas não dá para vencer uma disputa majoritária defendendo os
interesses de apenas um setor da sociedade”, pondera o sociólogo inglês Paul
Freston, professor da Universidade de Wilfrid Laurier, no Canadá. Um dos
principais estudiosos do protestantismo brasileiro e pós-doutor pela
Universidade de Oxford, no Reino Unido, Freston lembra que tanto Garotinho
quanto Marina têm um histórico de atuação política anterior à conversão
religiosa. “Eles não se apresentaram como o candidato dos evangélicos, e sim
como políticos que, entre outras coisas, são evangélicos”, explica. “Além
disso, é um equívoco acreditar que todos os protestantes formam um bloco coeso
e monolítico. Dentro do mundo evangélico, há muitas divisões de cunho social,
teológico e também político. Muitas igrejas continuam refratárias à
participação de bispos e pastores na política nacional.”
A opinião é compartilhada por
Couto, da FGV. “É tolice acreditar que 22% da população, pelo simples fato de
ser evangélica, vai confiar seu voto num pastor ou num candidato da mesma
religião”, avalia. “Esse tipo de apelo costuma funcionar mais em cargos
proporcionais, para o Legislativo, e é até previsto certo crescimento da
bancada religiosa a cada nova eleição.”
O êxito eleitoral dos candidatos
evangélicos deve-se à sede de representação política desse segmento, mas também
ao poder midiático de muitas igrejas. Um levantamento feito pelo Instituto de
Estudos da Religião, em 2009, identificou 20 redes de televisão que transmitiam
conteúdo religioso, das quais 11 eram evangélicas e nove católicas. Apenas a
Igreja Universal controla mais de 20 emissoras de televisão, 40 de rádio,
gravadoras, editoras e a segunda maior rede de tevê do País: a Record. O
arrendamento de espaço para igrejas na tevê aberta é quase uma regra. Na Band,
RedeTV! e Gazeta, o horário reservado a programas religiosos ultrapassa 30
horas semanais.
Até o ano passado, a Igreja
Mundial do Poder de Deus, uma dissidência da Universal, liderada pelo pastor
Valdemiro Santiago, dispunha de 1,6 mil horas mensais de programação na tevê.
Ocupava, por exemplo, 23 horas diárias na Rede 21, do Grupo Bandeirantes. Pela
exposição na RedeTV!, desembolsava 6 milhões de reais por mês. Não conseguiu,
porém, bancar os milionários contratos e perdeu espaço para o rival Macedo.
Mesmo com a gigantesca despesa nas obras do Templo de Salomão, a Universal
conseguiu ampliar sua presença na tevê.
Aparentemente, parece nunca
faltar dinheiro para os projetos da igreja. Nem por isso a Universal deixa de
buscar formas para baratear seus custos. O Templo de Salomão foi erguido com
um alvará de reforma, e não de construção. Com a manobra, a Universal deixou de
pagar à prefeitura 5% do valor da obra, cerca de 35 milhões de reais, destinado
a melhorias no entorno. Concedido em 2008, o documento foi expedido
pelo antigo Departamento de Aprovação de Edificações, então chefiado por
Hussain Aref, afastado do cargo após denúncias de corrupção e enriquecimento
ilícito.
O caso é investigado pelo
Ministério Público, mas a Universal diz não ter sido notificada sobre qualquer
irregularidade. “É, no mínimo, prematuro afirmar que tenha havido fraude em
qualquer etapa da construção do Templo de Salomão, que transcorreu ao longo de
quatro anos sob intensa fiscalização e grande transparência”, afirmou a igreja
por meio de nota.
Antes mesmo da inauguração, o
novo santuário atraía visitantes de diferentes regiões do País, que chegam em
caravanas com crachás pendurados para entrar no prédio com horário marcado. Uma
única excursão do Rio de Janeiro trouxe 105 ônibus cheios para assistir a um
culto. Bispos, pastores, obreiros e voluntários da igreja são os únicos
autorizados a entrar no templo até agora. Os fiéis seguem regras rígidas. Nada
de celulares, falatório, risadas ou roupas curtas.
Em frente ao Templo de Salomão,
há uma Igreja Evangélica da Assembleia de Deus e a Paróquia São João Batista,
praticamente uma miniatura diante do novo edifício. No restante da avenida há
ao menos dez outros locais que abrigam cultos evangélicos, incluindo um da
própria Universal. A vizinhança se
completa com lojas de equipamentos para restaurantes, móveis, material de
costura, distribuidoras de diversos produtos, padarias baratas e ambulantes.
Por lá também floresce um comércio com miniaturas do templo, bíblias e
camisetas religiosas.
A construção também serve para
atrair outros fieis. Fã do padre Marcelo Rossi, a copeira Odila Carla Ferreira,
de 46 anos, ainda faz parte da maioria católica, mas demonstra como as
fronteiras religiosas são tênues. Ela dedicou um dia de suas férias para
“admirar” o local. “Não tenho carinho pela Universal, mas aprecio isso aqui. O
templo foi feito para todos os cristãos.”
A postura de Odila reflete a
estratégia bem-sucedida da Universal ao não identificar seu templo. Não há
referências claras de que a construção foi feita pela igreja de Macedo. Os
símbolos mostrados também são utilizados por outras religiões, como a estrela
de Davi, a arca, o Menorá (candelabro judaico) e as oliveiras.
A longuíssima
barba cultivada por Macedo ajuda a personificar Moisés, profeta adorado por
várias religiões.
Segundo Franklin de Sousa, os
fiéis transitam facilmente entre diferentes denominações, e Macedo tenta tirar
proveito disso. “A Universal já atrai fiéis de outros credos há muito tempo,
porque a religiosidade brasileira é dada a esse tipo de sincretismo”, diz.
“Algumas pessoas podem ter vergonha de admitir que vão à Universal, então esse
templo dissociado dela pode produzir esse efeito,” explica o professor do
Mackenzie.
E talvez angariar muitos votos.
Voz da Universal no Congresso, o PRB hoje conta com 10 deputados federais e 21
estaduais. O presidente da legenda, pastor Marcos Pereira, diz ser possível
dobrar o número nestas eleições. Com um palanque tão vistoso, é difícil
contestar a profecia do líder religioso.
O artigo original da Carta
Capital poderá ser visto por meio desse link aqui:
Apesar de não concordarmos com
algumas afirmações que generalizam demais os fatos, ainda assim, recomendamos
que todos tomem conhecimento do que anda pensando e fazendo a liderança dos
chamados evangélico. PODER! ELES DESEJAM O PODER, já que lhes falta o
verdadeiro poder do Espírito Santo em suas vidas.
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos
leitores que puderem que “curtam” nossa página no Facebook através do seguinte
link:
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Desde já agradecemos a todos.
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