quarta-feira, 20 de agosto de 2014

POLÍTICA DA SALVAÇÃO

Templo de Salomão, recém-inaugurado em São Paulo, torna-se o mais vistoso símbolo da participação evangélica na esfera pública brasileira

O material abaixo foi publicado no site do jornal Zero Hora:

Política da salvação: novas estratégias e mudança de perfil marcam o avanço dos evangélicos

por Letícia Duarte — colaborou Paulo Germano
09/08/2014 | 18h01

Política da salvação: novas estratégias e mudança de perfil marcam o avanço dos evangélicos Marcos Porto/Agencia RBS
Política da salvação: novas estratégias e mudança de perfil marcam o avanço dos evangélicos Foto: Marcos Porto / Agencia RBS

Se nos anos 1990 a Igreja Universal do Reino de Deus ganhava destaque no Jornal Nacional pelos chutes de um pastor na estátua de uma santa católica ou por gravações de Edir Macedo ensinando discípulos a arrecadar doações dos fiéis, a instituição que agora chegou às páginas do New York Times ostenta uma nova imagem.

Ao afirmar que o recém-inaugurado Templo de Salomão faz o "icônico Cristo Redentor do Rio de Janeiro, que tem apenas metade da altura, parecer um enfeite em comparação", um dos jornais mais respeitados do mundo reconhece não apenas a magnitude da obra, mas as novas bases que sustentam a ascensão evangélica no país.

Com referências do Antigo Testamento e ares de profetismo – reforçados pela barba branca que Edir Macedo deixou crescer no ano passado como um "voto" de espera pelo templo –, o visual repaginado da Universal foi minuciosamente planejado. De olho na classe média emergente, o movimento busca acrescentar consistência simbólica à escalada pentecostal na sociedade brasileira. Ao erguer uma réplica do espaço sagrado do judaísmo numa área equivalente a cinco campos de futebol, hastear a bandeira de Israel na inauguração da sede de R$ 680 milhões e adorná-la com símbolos judaicos, como os menorás (candelabros de sete pontas) que decoram as paredes do templo, a Universal passa a reivindicar também o seu quinhão na "terra santa". Um ambiente bem diferente de sua fundação, em 1977, em um coreto na periferia do Rio.

Naqueles tempos de vacas magras, não demorou a aparecer o debochado apelido de "supermercado da fé". Uma alusão não apenas aos galpões onde os cultos ocorriam, com placas de néon piscando nas fachadas, mas também à teologia da prosperidade – uma marca da Universal reprovada por protestantes mais tradicionais –, que promete curas e glórias materiais em troca de dízimos.

– Por outro lado, a Igreja Católica sempre ocupou os ambientes mais nobres da cidade, com sedes em praças públicas ou ao lado das prefeituras – lembra Ricardo Mariano, professor da Universidade de São Paulo e pós-doutor em Sociologia da Religião. – De 15 anos para cá, a Universal vem erguendo catedrais para obter maior respeitabilidade e legitimidade.

O faraônico Templo de Salomão surge como ápice dessa demonstração de força. Para o sociólogo Clemir Fernandes, pesquisador do Instituto de Estudos da Religião (Iser), a Universal muda sua identidade porque os fiéis também mudaram. Além de os antigos adeptos terem sido beneficiados pelo avanço econômico da classe C, a instituição cobiça novos públicos. -

– A igreja agora busca uma tradição, e essa tradição é ressignificada à luz de seus interesses. Como não tem história, precisa se embasar no que é sólido, apoiando-se na tradição judaica – analisa Clemir.

Embora a Igreja Universal tenha perdido 200 mil fiéis no último censo de 2010 em relação ao anterior, disputando espaço com uma dissidência, a Igreja Mundial do Poder de Deus, os evangélicos têm hoje uma representatividade inédita. Na contagem do IBGE, saltaram de 2,61% da população, em 1940, para 22,16% em 2010. No Congresso, a Frente Parlamentar Evangélica reúne 70 deputados e três senadores - e a tendência é de aumento. Nas eleições deste ano, o número de candidatos pastores cresceu 40%, saltando de 193 para 270, enquanto apenas 16 concorrentes se apresentam como "padres", uma queda de 30% em relação ao pleito anterior, conforme os registros do Tribunal Superior Eleitoral. Não por acaso, todos os candidatos fazem adequações no discurso para contemplar os evangélicos – como a presidente Dilma Rousseff, que, diante de fiéis da Assembleia de Deus na sexta-feira, afirmou que "todo dirigente precisa da graça de Deus".

Conhecida por posturas conservadoras nos campos moral e sexual, com apoio de católicos em temas como a proibição do aborto, a bancada evangélica aos poucos espicha seu olhar. Professor da PUC Goiás, o cientista das religiões Alberto da Silva Moreira observa que a aproximação dos pentecostais com o judaísmo não se dá apenas no campo simbólico: também estreitam laços com Israel na esfera política. Uma expressão disso seriam as manifestações de líderes evangélicos contra a condenação do governo Dilma à ofensiva israelense em Gaza - que incluíram um protesto com cerca de 80 devotos diante do Ministério das Relações Exteriores.

– Isso significa que igrejas como a Universal estão se alinhando em bloco com a direita cristã conservadora filo-israelense. É o mesmo que faz a direita cristã dos Estados Unidos – analisa Moreira, recordando que a defesa de boas relações com Israel é ao mesmo tempo uma forma de defender a continuidade do rentável turismo de crentes à Terra Santa.

Mas seria um erro imaginar que a bancada evangélica funciona como um coral afinado de mãos erguidas o tempo todo. No dia a dia, divisões internas e interesses particulares separam os congressistas de diferentes igrejas, o que limita seu poder. Autor do livro Mercado Religioso Brasileiro: do Monopólio à Livre Concorrência (Nelpa, 2012) e professor da Universidade Federal do Maranhão, o sociólogo Gamaliel da Silva Carreiro identifica que a maioria dos eleitos por voto evangélico está ali para defender interesses miúdos dos setores que representam, como uma concessão de rádio ou um terreno para a nova igreja, e não para pensar um projeto de país.

– Eles têm dificuldade em pensar o Brasil. Pensam pequeno. Só conseguem se organizar quando há temas muito contraditórios que afrontam valores cristãos – afirma Carreiro.

Na avaliação do pesquisador, há preconceito em parte das críticas à atuação política dos evangélicos, já que a organização em defesa de interesses particulares é considerada legítima quando se trata de outros grupos, como a bancada ruralista ou os metalúrgicos. Lembrando que os católicos historicamente exercem grande influência política, Carreiro cita um conceito do sociólogo alemão Norbert Elias para explicar a diferença atual entre o poder dos dois grupos: enquanto os católicos são os "estabelecidos", seus concorrentes ainda são "outsiders".

– Por mais que os evangélicos venham crescendo, eles ainda são outsiders, e a sociedade sempre desconfia de outsiders. Como a Igreja Católica está estabelecida por muito tempo, os católicos têm confiança e credibilidade junto ao Estado, com muitos recursos destinados a ONGs católicas. A vinda do Papa, por exemplo, recebeu muitas verbas do Estado – compara Carreiro.

A associação entre fé e política no Brasil remonta ao período colonial. Como observa a cientista da religião Sandra Duarte de Souza, professora do programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista, a Igreja Católica foi essencial para legitimar o projeto colonizador. E essa influência sobrevive até hoje, apesar da laicidade, consagrada pela Constituição de 1891.

O problema que a gente enfrenta é que a confissão religiosa de alguns acabe sendo imposta para todos. O Estado tem que cuidar de todos, mas isso não é possível quando uma bancada impede. O risco é que a religião se sobreponha à cidadania e obstaculize políticas públicas – preocupa-se Sandra.

Mas até que ponto pode chegar a influência evangélica? Apesar da curva ascendente, o professor Eduardo de Quadros, do Programa em Ciências da Religião da PUC Goiás, não acredita em riscos à democracia. Por mais que seus membros atuem na arena política, o projeto pentecostal teria um recorte mais individualista, associado ao mercado.

– Talvez a Universal seja a maior multinacional brasileira, presente nos cinco continentes. Nenhuma empresa nacional fez esse sucesso em tão pouco tempo. É a empresa de salvação – analisa Quadros. Na era do consumo, nada mais oportuno do que a fé ostentação.

PARTIDOS

Partido Republicano Brasileiro (PRB)

Braço político da Igreja Universal, tem como expoente o bispo Marcelo Crivella, sobrinho de Edir Macedo. Senador eleito, Crivella foi ministro da Pesca e hoje concorre ao governo do Rio.

Partido Social Cristão (PSC)

Ligado à Assembleia de Deus, lançou Pastor Everaldo como candidato a presidente, embora seu nome mais conhecido seja Marco Feliciano. Em março, insatisfeito com o espaço no governo, o partido rompeu com Dilma Rousseff.

Partido da República (PR)

Abrange filiados das igrejas Batista, Universal, Assembleia de Deus e várias outras. Presbiteriano, o ex-governador do Rio Anthony Garotinho integra a legenda. Tiririca, embora nada tenha a ver com os evangélicos, busca a reeleição pelo PR.

Outras legendas

A influência evangélica não se restringe a três partidos. Há representantes em praticamente todas as siglas – uma mostra disso é a eclética Frente Parlamentar Evangélica.


O material original do site do Zero Hora poderá ser visto por meio desse link aqui:


Alexandros Meimaridis

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Desde já agradecemos a todos.

2 comentários:

  1. Glórias á Deus e parabéns pelo blog irmão Alex.
    Sempre que posso leio e pesquiso aqui em seu blog e também divulgo o blog, com informações importantes como as mentiras cabeludas do "Yossef Akiva".
    Irmão, é notório que seu conhecimento é vasto, sendo assim gostaria de te fazer uma pergunta:-Qual método você acha melhor para memorizar, aprender (não decorar) textos bíblicos ou até mesmo a Bíblia completa, sei que parece muita coisa, mas estou pequisando sobre "mnemotécnica" (pode ser até uma sugestão do assunto para seu blog), memorização e palácio da memoria, nesse último, a pessoa imagina vários cómodos de um palácio ou uma casa para começar e associa o cômodo com a informação, "automaticamente" a pessoa ao se lembrar dos cômodos, também se lembrará dos textos, tem pessoas que conseguem ter 1.600 cômodos (isso é muito usado em estudos para concursos), e comecei a estudar hebraico (de forma autodidata) e já comecei ver algumas coisas em grego, em sua opinião, você acha que dá para associar tudo isso, pois trata-se de um mesmo assunto Bíblia (claro que a Bíblia contém vários tópicos), ou você acha que devo ir mais devagar nos estudos.Desde já obrigado, vou tentar achar a resposta aqui em seu blog, mas em todo o caso vou deixar meu e-mail: cleitonnalves@hotmail.com

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    1. Caro Cleiton,

      Obrigado por me escrever e por tuas generosas palavras.

      Quanto a memorização de versículos minha sugestão é que você recorte pequenos cartões de cartolina ou fichas de cadastro e que escreve, de próprio punho o versículo que deseja memorizar de um lado. Do outro lado escreva apenas a referências.

      Vá produzindo os cartões e leve sempre com você uma porção deles. Existem durante o dia vários momento em que você poderá tomar os cartões e começar a trabalhar com eles. No princípio as coisas são mais devagar mesmo, mas à medida que sua mente começar a ser treinada nessa atividade as coisas ficarão mais fáceis.

      Procure separar os versos por tema ou por secções se preferir memorizar porções maiores. Esse método funcionou muito bem para mim. Eu o usei até memorizar cerca de 3000 versículos.

      Quanto aos outros estudos, e importante que você ande na velocidade que tuas "pernas" conseguem. Pegar coisas demais para fazer, poderá ser motivo de desânimo, um pouco mais adiante. Portanto procure o equilíbrio perfeito entre que o que você deseja fazer e o que realmente pode fazer.

      Grande abraço e espero ter podido te ajudar.

      Abraço fraterno ,

      irmão Alex

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