Bíblia (Corbis/VEJA)
O material abaixo foi publicado
no site da Revista VEJA e é da autoria de Mariana Zylberkan e Daniel Haidar.
O
peso do voto evangélico nas eleições
Entrada de Marina Silva – e a
escorregada de sua campanha – levaram temas como aborto e casamento gay para o
centro da campanha
Há uma semana, a equipe da
campanha da candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, comemorava na manhã
de sábado o resultado da pesquisa Datafolha, que registrava a meteórica
arrancada da ex-senadora, nova favorita para alcançar o cargo mais poderoso da
República. Horas depois, os mesmos assessores se desdobravam para tentar
estancar uma crise que se espalhava pelas redes sociais à mesma velocidade com
que a candidata ascendeu nas pesquisas. O motivo: o capítulo do programa de
governo do PSB que defendia o casamento gay havia sido alterado. E Marina
passou a ser bombardeada dos dois lados: foi alvo da fúria de pastores
evangélicos e de movimentos LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais).
Que temas como o casamento gay e
a legalização do aborto sempre aparecem incendiando debates em eleições não é
nenhuma novidade para os eleitores brasileiros – e os assuntos talvez não sejam
tão discutidos no país quanto no período de campanha. Por trás da discussão
está o peso da religião na hora do voto. E a entrada da evangélica Marina
Silva, da Assembleia de Deus, na corrida eleitoral após a trágica morte do
cabeça da chapa, Eduardo Campos, imediatamente levou temas como aborto e
casamento gay para o centro da campanha. Não é possível dimensionar ainda o
tamanho real do estrago, mas, dois dias depois do recuo de Marina com sua
cartilha de governo, o instituto Datafolha estava na rua pesquisando as
intenções de voto. O resultado: Marina caiu de 41% para 39% das intenções de
voto entre os evangélicos.
Apesar do desgaste pela mudança
de posição, coordenadores e aliados de Marina avaliam que a decisão fez mais
bem do que mal à trajetória eleitoral dela: os evangélicos representam 22% dos
brasileiros. E essa faixa do eleitorado tende a um alinhamento natural à
candidatura de Marina. Prova disso foi que sua entrada na corrida presidencial
desidratou justamente o candidato oficial das igrejas, que leva o
"pastor" no nome: Pastor Everaldo, do Partido Social Cristão, o PSC.
“Pastor Everaldo chegou com grande potencial de polarizar nossos votos, mas a
propositura da Marina foi mais ampla, juntou a bandeira da família com o
contexto social e político do momento”, diz o bispo Robson Rodovalho, fundador
da igreja Sara Nossa Terra, no Distrito Federal, onde a candidata do PSB lidera
as pesquisas de intenções de votos com 33%, ante 23% de Dilma Rousseff, segundo
o Datafolha.
A influência nas eleições de
bandeiras defendidas pelos evangélicos é reflexo da própria expansão da
religião no país. Segundo o último Censo, realizado pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatísticas (IBGE), em 2010, os seguidores representam 22,2% da
população, percentual que aumentou 61% em relação às duas décadas anteriores –
em 1991, eram 9%.
Os evangélicos também têm forte
presença no Congresso Nacional, em comparação aos católicos, religião da
maioria dos brasileiros. Nos meios de comunicação, a busca dos pastores começou
nos anos 1980 como uma forma de conquistar concessões de rádio e televisão.
Atualmente, o Congresso possui 73 deputados e senadores evangélicos – a meta
para este ano é que o número chegue a cem cadeiras. Desde 1986, a cada pleito,
o número de parlamentares cresce 20%. Neste ano, a bancada evangélica emplacou
o primeiro representante no Executivo: o bispo Marcelo Crivella (PRB), sobrinho
de Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) – ele deixou
o cargo de ministro da Pesca para concorrer ao governo do Rio de Janeiro.
Apesar da crescente
representatividade política, é difícil esperar que os 22,2% da população
brasileira que se declara evangélica irá votar em bloco em um determinado
candidato. “Eles não são um grupo homogêneo, é uma diversidade grande”, diz
Magali do Nascimento Cunha, professora do Programa de Pós-graduação em
Comunicação Social da Universidade Metodista.
Mesmo com interesses difusos, os
bispos e pastores representam o segmento da sociedade atual mais comprometido
com o debate político. “Não há outro grupo tão articulado e com objetivos tão
nítidos do que os evangélicos”, diz Magali.
Rio de Janeiro – Em poucos
Estados brasileiros a disputa do voto evangélico é tão representativa quanto no
Rio de Janeiro, que tem dois dos quatro principais candidatos ligados a
igrejas: Marcelo Crivella e Anthony Garotinho (PR). Na última pesquisa do
Ibope, Garotinho liderava a disputa com 27% das intenções de voto, enquanto
Crivella marcava 17% das preferências. De acordo com a pesquisa, feita entre os
dias 30 de agosto e 1º de setembro, 29% do eleitorado fluminense é evangélico,
48% se declaram católicos e 23% dizem ter outra religião.
Os evangélicos estão divididos
entre Crivella e Garotinho, que se apresenta como "Irmão Garotinho"
em programas de rádio e já foi multado por distribuir brindes religiosos. Entre
os evangélicos, 30% apoiam Garotinho e 28% apoiam Crivella.
Para tentar ganhar votos de
eleitores católicos ou que declaram ter outras religiões, o marqueteiro Lula
Vieira tenta fazer adaptações na imagem de Crivella. Em eleições passadas, ele
começou bem, impulsionado pelos evangélicos, mas não chegou ao segundo turno.
Pela primeira vez desde que concorreu e foi eleito em 2002, o bispo licenciado
foi recomendado pelo marqueteiro a evitar o uso da palavra
"universal" e a trajetória religiosa simplesmente deixou de ser
mencionada na biografia do seu site.
"O limite do Crivella é
exatamente o fato dele ser evangélico. Existe discriminação à maneira como ele
construiu sua carreira de político", explica a socióloga Maria das Dores
Campos Machado, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e
autora de Política e religião: a participação dos evangélicos nas eleições.
Garotinho misturou o apelo
religioso com práticas populistas no governo (1998-2001) e hoje possui a maior
rejeição entre os candidatos (34%). É considerado o adversário preferido no
segundo turno entre os candidatos, por esse índice negativo. "Crivella e
Garotinho aproveitam o eleitorado evangélico, mas o problema é falar com o
resto. A capital vai ser dura com eles", avalia o cientista político
Ricardo Ismael, professor da PUC-Rio.
Se para Garotinho e Crivella o
desafio é conquistar eleitores fora dos templos evangélicos, Lindberg (PT) e
Pezão (PMDB) ainda tentam conquistar espaço nesses redutos. Desde o ano
passado, o candidato petista, ex-comunista e católico não-praticante, percorre
cultos e abraça fiéis. Pezão também tenta não ficar em desvantagem. Bateu o
recorde de aparições na maior rádio gospel do Estado e por isso chegou a ser
multado pelo Tribunal Regional Eleitoral por campanha antecipada.
O artigo original do site da VEJA
poderá ser visto por meio desse link aqui:
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Alexandros Meimaridis
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