O material abaixo é parte de um
sermão pregado por Charles Spurgeon que foi publicado em forma de e-book por:
♦ Fonte: Spurgeongems.org
♦ OEstandarteDeCristo.com
♦
Tradução: Camila Rebeca Almeida
♦
Revisão: William Teixeira
A Aparência de Piedade
Sem Poder
(Sermão Nº 2088)
Pregado na manhã do Dia
do Senhor, 2 de junho de 1889,
por C.H. Spurgeon, no
Tabernáculo Metropolitano, Newington.
“Tendo aparência de piedade, mas negando-lhe o poder.
Afasta-te também desses.” (2 Timóteo 3:5 – tradução literal do inglês)
PAULO nos adverte sobre alguns
personagens que aparecerão nos últimos tempos. É uma lista mui terrível.
Semelhantes têm aparecido em outros momentos, mas somos guiados por sua advertência
a apreender que eles aparecerão em maior número nos últimos dias do que em
qualquer época anterior. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos,
presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos,
profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes,
cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais
amigos dos deleites do que amigos de Deus [2 Timóteo 3:2—4].
Estes abundarão como moscas na
decadência do ano e tornarão os tempos excessivamente perigosos. Estamos nos
aproximando desse período, neste exato momento. Que essas pessoas,
algumas delas, estão dentro da Igreja é a parte mais dolorosa disso.
Mas eles estarão assim, porque eles estão incluídos nesta última cláusula do
catálogo sombrio, o qual temos considerado como o nosso texto: “Tendo aparência
de piedade, mas negando a eficácia dela”.
Paulo não pinta o
futuro com óculos cor de rosa; ele não é um Profeta de língua suave de uma
idade de ouro na qual esta terra maçante seja imaginada como sendo brilhante.
Há irmãos e irmãs sanguíneos que estão ansiosos para que tudo progrida cada vez
melhor e melhor, até que, finalmente, essa presente era amadureça em um
milênio. Eles não serão capazes de sustentar as suas esperanças, pois a
Escritura não lhes dá nenhuma base sólida de apoio. Nós, que acreditamos que
não haverá reino milenar sem o Rei e que não esperamos nenhuma regra de
justiça, exceto a partir do advento do Senhor justo, estamos mais perto do
alvo.
À parte do segundo advento de
nosso Senhor, o mundo é mais propenso a afundar em um pandemônio a elevar-se em
um milênio. A interposição Divina parece-me a esperança estabelecida diante de
nós na Escritura e, de fato, é a única esperança adequada para a ocasião. Nós observamos
o escurecimento decadente das coisas. O estado da humanidade, embora melhore
politicamente, ainda assim tornar cada vez pior espiritualmente. Certamente,
somos assegurados no versículo 13 que “os homens maus e enganadores irão de mal
para pior, enganando e sendo enganados”. Isso brotará na Igreja Cristã e ao
redor dela, um grupo de homens sem fé que professam ter fé – homens ímpios, que
se unirão com os santos – homens que têm a aparência de piedade, mas negam a
eficácia dela.
Podemos chamar estes tempos de
trabalhosos, se quisermos, mas nós malmente chegamos ao limiar daqueles
verdadeiros tempos difíceis que serão trabalhosos para a Igreja, no qual ela
precisará, ainda mais do que atualmente, clamar fortemente para que o Senhor a
mantenha viva. Com esta nuvem sobre o nosso espírito, nós chegamos ao texto em
si. Vamos considerá-lo cuidadosamente e que o Espírito Santo nos ajude! A
verdadeira religião é uma coisa espiritual, mas necessariamente incorpora-se em
uma forma. O homem é uma criatura espiritual, mas o espírito humano precisa de
um corpo para consagrar-se. E assim, por essa necessidade, nós nos tornamos
unidos ao materialismo. E se não “metade pó, metade divindade”, como alguém
disse, somos certamente tanto matéria e alma. Em cada um de nós existe a forma
ou corpo e a alma ou poder. É assim com a religião: é essencialmente uma coisa
espiritual, mas requer uma forma na qual incorpora e manifesta-se.
O povo Cristão pende a um
determinado método exterior de procedimento, um modo exterior peculiar de
profissão de sua fé, que se torna para a verdadeira piedade o que o corpo é
para a alma. A forma é útil, a forma é necessária, a aparência deve ser
vitalizada; assim como o corpo é útil, é necessário e é vitalizado pela alma.
Se vocês obtiverem tanto a forma, como modelada na Palavra de Deus e o poder,
como concedido pelo Espírito de Deus, vocês fazem bem e são Cristãos
vivificados. Se vocês obtêm o poder sozinho, sem a forma ordenada, vocês
mutilam um pouco a si mesmos. Mas, se vocês obtêm a forma sem o poder, então,
habitam em morte espiritual.
O corpo sem o espírito está
morto. E o que se segue após a morte com a carne? Ora, corrupção; corrupção tão
horrível que até mesmo o próprio amor tem que clamar: “sepulte a minha morta de
diante de minha face”. De modo que, se houver em alguém o corpo de religião sem
a vida da religião, isso conduz à decadência e assim, à corrupção; e isso tem a
tendência de decompor o caráter. A matéria-prima de um diabo é um anjo
desprovido de santidade. Vocês não podem fazer um Judas,
exceto a partir de um Apóstolo. O eminentemente bom em forma
exterior, quando, sem vida interior, decompõe-se na coisa mais suja debaixo do
céu. Não se maravilhem que estes são chamados “tempos trabalhosos”, em que tais
personagens abundam.
Um Judas é um peso terrível para
que este pobre mundo suporte, mas uma tribo deles deve ser um perigo, de fato.
No entanto, se não da pior forma, são suficientes para serem temidos os que têm a sombra da religião sem a sua substância. Dos tais eu tenho
que falar neste momento, dos tais que Deus lhes dê a Graça Divina para que se
convertam! Que nenhum dentre nós jamais seja manchas em nossas
festas de amor, ou nuvens sem água levadas pelos ventos. Mas, isso seremos se
tivermos a aparência de piedade sem o poder dela. Com grande solenidade de alma
eu abordo este assunto, buscando do Senhor a ajuda de Seu Espírito, que faz com
que a Palavra seja apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.
Primeiro, falarei sobre os homens, e em segundo lugar, de sua tolice. E quando
eu terminar isso, terei algumas palavras de instrução para oferecer como forma
de conclusão.
I. Em primeiro lugar, vamos falar um pouco sobre os HOMENS. Eles
tinham a aparência de piedade, mas negavam a eficácia dela. Observem o que eles
tinham e, em seguida, observem o que eles não tinham. Eles tinham uma aparência
de piedade. O que é uma aparência de piedade? É, antes de tudo, a atenção para
as ordenanças da religião. Estas, na medida em que são bíblicas, são poucas e
simples. Há o batismo, no qual, figurativamente, o crente é sepultado com
Cristo, para que ele possa elevar-se em novidade de vida. E há a Ceia do
Senhor, na qual, em tipo e emblema, ele se alimenta de Cristo e sustenta a
vida, que veio a ele pela comunhão com a morte de Cristo. Aqueles que têm
obedecido ao Senhor nestes dois preceitos têm demonstrado em suas próprias
pessoas a aparência de piedade. Essa forma é de toda maneira instrutiva para os
outros e importante para o próprio homem.
Todo batizado e cada comungante à
mesa do Senhor, deve ser piedoso e gracioso. Mas nem o batismo nem a Ceia do
Senhor garantirão isso. Onde não há a vida de Deus na alma, nem a santidade ou
piedade seguem as ordenanças. E, assim, nós podemos ter em torno de nós
mundanos batizados e homens que vão da mesa do Senhor para beber o cálice dos
demônios. É triste que seja assim. Tais pessoas são culpadas de presunção,
falsidade, sacrilégio e blasfêmia. Ai de mim, nós nos sentamos ao lado dos tais
a cada Domingo!
A aparência de piedade inclui a
frequência nas assembleias do povo de Deus. Aqueles que professam a Cristo
estão acostumados a reunirem-se em determinados momentos de adoração e, em suas
assembleias, eles se juntam em oração e louvor comum. Eles ouvem o testemunho
de Deus por Seus servos, a quem Ele chama para pregar a Sua Palavra com poder.
Eles também se associam em comunhão da Igreja para fins de ajuda mútua e
disciplina. Esta é uma forma muito apropriada – plena de bênção, tanto para a
Igreja e para o mundo – quando isso não desfalece em mera forma. Um homem pode
ir para o céu sozinho, mas ele fará melhor se ele viaja para lá com o Sr.
Grande Coração e Pai Honesto e Cristã e as crianças. O povo de Cristo é chamado
de ovelhas por uma razão – eles gostam de andar unidos. Os cães ficam muito bem
separadamente, mas as ovelhas estão melhores em companhia. As ovelhas de Cristo
gostam de estar juntas no mesmo pasto e prosseguir em um rebanho os passos do
Bom Pastor. Aqueles que constantemente se associam em culto, unem-se em
comunhão da Igreja e trabalham juntos para fins sagrados têm a aparência de
piedade e isso é de uma forma muito útil e adequada. Mas ai, isso não tem valor
sem o poder do Espírito Santo.
Alguns vão mais longe do que a
adoração pública. Eles usam uma grande quantidade de falar religioso. Eles
livremente falam das coisas de Deus, em companhia Cristã. Eles podem defender
as Doutrinas da Escritura, eles podem pleitear seus preceitos e podem narrar a
experiência de um Crente. Eles são mais afeiçoados a falar sobre o que está ocorrendo
na Igreja, o bisbilhotar das ruas de Jerusalém é muito agradável para eles.
Eles temperam seu discurso com frases piedosas, quando eles estão em companhia
que aprovará isso. Eu não os censuro, pelo contrário, eu gostaria que houvesse
mais de santa conversação entre os professos. Eu gostaria que pudéssemos
reviver o velho hábito: Os que temem ao Senhor falam frequentemente um com o
outro — Malaquias 3:16.
A santa conversação faz com que o
coração brilhe e nos dá um antegozo da comunhão do glorificado. Mas pode haver
um cheiro de religião na conversa de um homem e, no entanto, pode ser um sabor
emprestado, como molhos quentes usados para disfarçar o ranço de carne antiga.
Aquela religião que vem de lábios exteriores, mas não surgem das fontes profundas
do coração não é aquela água viva que brotará para a vida eterna. A língua
piedosa é uma abominação, se o coração está destituído da Graça Divina.
Mais do que isso, alguns têm uma
aparência de piedade, mantida e anunciada pela atividade religiosa. É possível
ser intensamente ativo no trabalho exterior da Igreja e ainda não saber nada
sobre o poder espiritual. Alguém pode ser aparentemente um excelente professor
de Escola Dominical e ainda ter a necessidade de ser ensinado o que é nascer de
novo. Alguém pode ser um pregador eloquente, ou um diligente oficial na Igreja
de Deus, e, no entanto, não saber nada sobre o misterioso poder do Espírito da
Verdade no coração. É bom ser como Marta em serviço. Mas uma única coisa é
necessária: sentar-se aos pés do Mestre e aprender, como fez Maria.
Quando tivermos feito todo o
trabalho que nossa posição nos exige, podemos apenas ter exibido a aparência de
piedade. A não ser que ouçamos ao nosso Senhor e de Sua Presença derivemos
poder, seremos como o bronze que soa e como o sino que retine. Irmãos, falo
para mim e para cada um de vocês em solene seriedade. Se muito falar, doação
generosa e ocupação constante pudessem ganhar o Céu, poderíamos facilmente nos
assegurar disso, porém, mais do que estes são necessários. Eu falo a cada um de
vocês. E se eu destacasse qualquer um mais do que a outros, como sendo alvo de
meu discurso, este seria o melhor dentre nós, alguém que está fazendo mais por
seu Mestre e que, no interior da alma está pensando: “Essa advertência não se aplica
a mim”.
Ó, meu irmão ativo e enérgico,
lembre-se a palavra: Aquele, pois, que cuida estar em pé,
olhe não caia —1 Coríntios 10:12. Se algum de vocês não gosta deste
sermão de examinação, seu desagrado prova o quanto você precisar dele. Aquele
que não está disposto a investigar a si mesmo deve estar incriminando-se por
essa falta de vontade de olhar para as suas questões. Se você está certo, não
se oporá a ser pesado na balança. Se você é, de fato, de ouro puro, ainda pode
sentir ansiedade com a visão da fornalha, mas você não será levado à ira com a
perspectiva do fogo. Sua oração será sempre: Sonda-me, ó Deus, e
conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos. E vê se há em
mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno — Salmos 139:23—24.
Não preciso ampliar além, pois
vocês todos conhecem o que é uma aparência de piedade e a maioria de nós que
está aqui presente agarra-se a esta forma, que nunca possamos desonrá-la!
Confio que estamos ansiosos para fazer essa aparência conforme as Escrituras
para que a nossa forma de piedade seja aquela que os primeiros santos tinham.
Sejamos cristãos de um tipo elevado, formados no próprio molde de nosso Senhor.
Mas não se tornem rigorosos pela forma e negligenciem a vida interior, isto nunca
funcionará. Lutaremos com a roupa de um homem e permitiremos que o homem, ele
mesmo, morra?
Mas agora, como essas pessoas não
tinham o poder da piedade, como é que eles vieram a ter a aparência dela? Isso
requer várias respostas. Alguns têm a aparência de piedade, pela via
hereditária. Seus antepassados sempre foram pessoas piedosas e eles quase que
naturalmente assumem a confissão de seus pais. Isso é comum e onde isso é
honesto, é mui louvável. É uma grande misericórdia quando, no lugar dos pais,
estarão os filhos. E espero que possamos antecipar que os nossos filhos nos
seguirão nas coisas de Deus, se, pelo exemplo, instrução e oração, temos
buscado isso diante do Senhor.
Somos infelizes se não vemos
nossos filhos andando na verdade de Deus. Ainda assim, a ideia de membresia por
direito de nascimento é um mal e é tão perigoso quanto antibíblico. Se as
crianças são inseridas na Igreja simplesmente por causa de sua filiação
terrena, com certeza isso não é consistente com a descrição dos filhos de Deus,
que é encontrada na Escritura inspirada: Os quais não nasceram do sangue, nem
da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus — João 1:13.
Não geração, mas REGENERAÇÃO faz o Cristão. Vocês não são Cristãos porque podem
traçar uma linha de descendência carnal ao longo de vinte gerações de filhos de
Deus.
Vocês devem, vós mesmos, nascer
de novo. Pois, exceto que um homem nasça do alto, não pode ver o reino de Deus.
Muitos, sem dúvida, tomam posse naturalmente da aparência de piedade por causa
de laços familiares, isto é uma obra miserável. Ismael é filho pesaroso de
Abraão, Esaú de Isaque e Absalão de Davi. A Graça não corre no sangue. Se vocês
não têm base melhor para a sua religião do que a sua paternidade terrena, vocês
estão em uma situação infeliz.
Outros aceitaram a aparência de
piedade pela força da autoridade e influência. Eles eram, como rapazes,
colocados como aprendizes de homens piedosos. Como moças, que estavam sob a
orientação de mestres piedosos. E enquanto cresciam, ficaram sob a influência
de pessoas de inteligência e caráter superior que estavam do lado do Senhor.
Isso explica a sua aparência de piedade. Muitas pessoas são produtos dos seus
ambientes, religião ou irreligião é para eles o resultado das circunstâncias.
Essas pessoas foram levadas a fazer uma profissão de fé em Cristo, porque os
outros o fizeram e amigos os encorajaram a fazê-lo.
O profundo exame do coração, que
eles deveriam ter exibido, foi suprimido e eles foram encontrados entre o povo
de Deus, sem ter que bater no postigo para a entrada. Eu não quero que ninguém
condene a si mesmo, porque ele foi guiado ao Salvador por amigos piedosos,
longe disso; mas, no entanto, há o perigo de que falhemos em ter arrependimento
pessoal e fé pessoal e estejamos contentes em nos apoiar sobre as opiniões dos
outros.
Eu tenho visto a aparência de
piedade assumida por conta de relacionamentos. Muitas vezes uma corte e
casamento conduziram a uma religiosidade formal, mas a um coração faltoso. O
futuro marido é induzido a fazer uma profissão de fé por causa de alguém que
era uma cristã sincera e não quebraria o mandamento do Senhor ao entrar em jugo
desigual com um incrédulo. A piedade nunca deve ser fingida para que possamos
colocar um anel de casamento no dedo, este é um triste abuso da confissão
religiosa.
Outros tipos de amizade, também
têm levado homens e mulheres a professarem uma fé que nunca tiveram e para
unirem-se visivelmente à Igreja, enquanto que em espírito e em verdade eles
nunca foram realmente uma parte dela. Eu expus essas coisas para vocês para que
possa haver um grande exame de coração entre todos nós e para que possamos
candidamente considerar como obtivemos a nossa aparência de piedade. Certas
pessoas assumem a forma de piedade, a partir de uma disposição religiosa
natural. Não suponham que todas as pessoas não-convertidas não tenham religião.
Muita religiosidade é encontrada nos pagãos e há povos que têm, naturalmente,
mais reverência do que outros. O Alemão, com sua profunda filosofia, muitas
vezes é livre, não apenas da superstição, mas da reverência. O Russo é de raça
naturalmente religiosa, para não dizer supersticiosa. Estou falando à maneira
dos homens — o Russo sempre tira o chapéu para santos lugares, fotos e pessoas
e ele é pouco inclinado a descrer ou a zombar. Percebemos tais diferenças entre
os nossos próprios conhecidos: um homem é facilmente enganado pelos céticos,
enquanto outro está disposto, com a boca aberta, a acreditar em cada palavra.
Alguém é naturalmente um infiel, outro é tão naturalmente crédulo.
Eu quero dizer, então, que, para
alguns, a aparência de piedade recomenda a si mesma, porque eles têm uma
inclinação natural à esta forma. Eles não poderiam ser felizes a menos que
estejam frequentando um local onde Deus é cultuado, ou sem que sejam contados
entre os crentes em Cristo. Eles lidam com a religião, como eles fazem em sua
vida de negócios. Permitam-me lembrá-los do valor questionável daquilo que
brota da natureza humana caída. Seguramente isso não traz ninguém para o reino
espiritual, pois “o que é nascido da carne é carne”. Apenas “o que é nascido do
Espírito é espírito”. “Vocês precisam nascer de novo”. Cuidado com tudo o que
surge no campo sem a semeadura do lavrador, pois passará a ser uma erva
daninha. Ó, senhores, chegará o dia em que Deus nos provará com fogo e o que
veio da natureza não regenerada não resistirá ao teste, mas será totalmente
consumido!
Não duvido que, nestes dias
lustrosos, muitos têm uma aparência de piedade por causa do respeito que isso
lhes traz. Houve um tempo em que ser Cristão era ser insultado, se não fosse
preso e, talvez, queimado na fogueira. Os hipócritas eram em menor número
naqueles dias, pois uma confissão custava muito. No entanto, por estranho que
pareça, houve alguns que eram como Judas mesmo naqueles tempos. Hoje, a
religião segue seu caminho em chinelos de veludo; e em certas classes e níveis,
se os homens não fizessem alguma confissão religiosa, seriam vistos com
suspeita e, portanto, os homens tomarão o nome de Cristão sobre si e usarão a
religião como uma parte da vestimenta.
Atualmente a cruz é
usada como um colar. A cruz como o instrumento de vergonha e morte de nosso
Salvador é esquecida, e em seu lugar, é feita o distintivo de honra, uma jóia
com que homens ímpios podem adornar-se. É este o indicativo da
falsidade dos tempos? Acautelem-se da busca por respeito através de uma piedade
hipócrita. A honra obtida por uma profissão sem coração é, aos olhos de Deus, a
maior desgraça. O ator pode pavonear-se em sua imitação de realeza, mas ele deve
tirar a coroa e as vestes quando a cena findar. E o que ele, então, será?
Desde os dias de
Iscariotes até agora, alguns assumiram a forma de piedade para lucrar com isso.
Obter lucro da piedade é imitar o filho da perdição. Esta é uma
estrada perigosa e ainda assim, muitos arriscam suas almas pelo lucro que
encontram nela. Aparente zelo por Deus pode realmente ser zelo pelo ouro. O
imperador Maximiliano mostrou grande zelo contra a idolatria e publicou um
decreto para que as imagens de ouro e prata fossem derretidas. Ele era
extremamente zeloso sobre isso. As imagens deviam todas ser derretidas e o
metal confiscado para o imperador.
Foi astutamente suspeitado que
este grande iconoclasta não foi totalmente estimulado por motivos altruístas.
Quando um empreendimento traz a água ao moinho, não é difícil mantê-lo. Alguns
amam a Cristo porque eles carregam a Sua bolsa de dinheiro para Ele.
Acautelem-se desse tipo de piedade que faz um homem hesitante até que ele veja
se um dever recompensará ou não e, em seguida, faz ele ficar ansioso porque
espera que isso atenderá ao seu propósito.
Mais uma vez, eu não duvido que
uma forma de piedade venha a muitos porque traz a leveza de consciência e eles
são capazes, como o Fariseu, de agradecer a Deus que eles não são como os
demais homens. Eles não foram à Igreja? Será que eles não pagaram por seus
bancos? Eles agora podem ir para o seu negócio diário sem essas fisgadas de
consciência que viriam por negligenciar as exigências da religião. Essas
pessoas professam que foram convertidas e elas são contadas com os crentes.
Mas, infelizmente, eles não pertencem a eles.
De todas as pessoas estas são
mais difíceis de alcançar e menos susceptíveis de serem salvas. Elas se
escondem por trás da fortificação de uma religião nominal. Elas estão fora do
alcance do tiro e projétil da repreensão do Evangelho. Eles pairam entre os
pecadores e assumem seus alojamentos entre os santos. Triste é que situação do
homem que usa o nome da vida, mas nunca foi vivificado pelo Espírito Santo.
Assim, tenho mui debilmente buscado mostrar o que estes homens tinham e por que
eles tinham.
Vamos agora lembrar o que eles
não tinham. Eles tinham “aparência” de piedade. Mas eles negaram “o poder”. O
que é esse poder? O próprio Deus é o poder da piedade; O Espírito Santo é a
vida e a força dela. A piedade é o poder que traz um homem a Deus e vincula-o a
Ele. A piedade é o que cria o arrependimento em direção a Deus e a fé nEle. A
Piedade é o resultado de uma grande mudança do coração com referência a Deus e
Seu caráter. A piedade olha para Deus e lamenta sua distância dEle. A piedade
apressa-se a aproximar-se e não descansa até que ela esteja em casa com Deus. A
piedade faz um homem semelhante a Deus. A piedade conduz um homem a amar a Deus
e servi-lO. Ela traz o temor de Deus diante de seus olhos e o amor de Deus em
seu coração. A piedade conduz à consagração, à santificação, à concentração. O
homem piedoso procura primeiro o reino de Deus e a Sua justiça e espera que as
outras coisas sejam acrescentadas a ele. A piedade faz com que um homem tenha
comunhão com Deus e dá-lhe uma participação com Deus em Seus desígnios
gloriosos. E por isso o prepara para morar com Deus para sempre.
Muitos que têm a aparência de
piedade são estranhos a este poder e por isso estão em religião mundana, em
oração mecânica; em público uma coisa e em privado outra. A verdadeira piedade
repousa em poder espiritual e os que estão fora disso estão mortos enquanto
vivem.
Qual é a história comum daqueles
que não têm esse poder? Bem, queridos amigos, o seu curso geralmente transcorre
assim, eles não começam negando o poder, mas eles começam a tentar agir sem
ele. Eles gostariam de tornarem-se membros da Igreja e como eles temem que eles
não estejam aptos para isso, eles olham sobre algo que se pareça com a
conversão e novo nascimento. Eles tentam convencer a si mesmos de que eles
foram transformados, eles aceitam emoção como a regeneração, e a crença na
doutrina pela crença em Cristo.
É mais difícil no começo contar
bronze como o ouro, mas ele progride mais fácil, enquanto se persiste nisso.
Remendando uma conversão e fabricando uma regeneração, eles se aventuram
adiante. No início, eles têm uma boa quantidade de suspeita de si mesmos, mas
eles diligentemente matam cada questionamento, tratando-o como uma dúvida
desnecessária. Assim, aos poucos, eles acreditam em uma mentira.
O próximo passo é fácil, eles
enganam a si mesmos e passam a acreditar que eles são certamente salvos. Tudo
agora é certo para a eternidade, assim eles imaginam. E eles cruzam os braços
em calma segurança, reunindo-se com o povo de Deus, eles erguem uma ousada
fachada e falam tão bravamente como se fossem os verdadeiros soldados do Rei
Jesus. As boas pessoas ficam encantadas ao reunirem-se com os irmãos
revigorados e ao mesmo tempo conduzem-nos em sua confiança. Assim, eles enganam
os outros e ajudam a fortalecerem-se em sua falsa esperança.
Eles usam as frases preciosas dos
Cristãos sinceros. Misturando-se com eles, tomam as suas expressões
particulares e pronunciam chibolete da forma mais aprovada. Por fim, eles dão o
passo ousado de negar o poder. Eles mesmos estando sem ele, concebem que os
outros estão sem ele, também. A julgar pelo seu próprio caso, eles concluem que
é tudo uma questão de palavras. Eles prosseguem muito bem, sem qualquer poder
sobrenatural e outros, sem dúvida, fazem o mesmo, eles apenas adicionam um
pouco de hipocrisia a isso para agradar o próprio povo piedoso.
Eles praticamente negam o poder
em suas vidas, para que aqueles que os veem os consideram Cristãos e digam:
“Não há realmente nada nisso; pois, essas pessoas são como nós somos. Eles têm
um toque de pintura aqui e um pouco de verniz ali, mas é tudo a mesma madeira”.
Praticamente, suas ações asseguram ao mundo que não há poder no
Cristianismo. É só um nome. Muito
em breve, privadamente, em seus corações, eles pensam que é assim e eles
inventam doutrinas que correspondam a isso. Olhando para eles, veem Cristãos
inconsistentes e Crentes em falta e eles dizem para si mesmos: “Não há muito na
fé, afinal. Eu sou tão bom quanto qualquer um desses crentes e talvez melhor,
embora eu tenha certeza que não há nenhuma obra do Espírito em mim”.
Assim, dentro de seus próprios
corações eles creem, o que, a princípio, eles não ousam falar: eles consideram
a piedade uma coisa vazia. Aos poucos, em alguns casos, essas pessoas de forma profana negam o poder Divino da nossa santa Fé e, em seguida, eles se
tornam os maiores inimigos da cruz de Cristo. Esses traidores,
nutridos na própria Casa de Deus, são os piores inimigos da verdade de Deus e
da justiça. Eles ridicularizam o que uma vez eles professavam reverenciar.
Eles mediram o milho de Cristo com o seu próprio alqueire. E porque nunca
sentiram os poderes do mundo vindouro, eles imaginam que ninguém mais o tem
sentido também.
Olhem para a Igreja dos dias
atuais. A escola moderna, eu digo. Em seu meio, vemos pregadores que têm uma
aparência de piedade, mas negam a eficácia dela. Eles falam do Senhor Jesus,
mas negam sua Divindade, que é o Seu poder. Eles falam do Espírito Santo, mas
negam sua Personalidade, onde reside Sua própria existência. Eles retiram a
substância e o poder de todas as Doutrinas da Revelação, embora eles ainda
finjam acreditar nelas. Eles falam de Redenção, mas eles negam a Substituição,
que é a essência dela.
Eles exaltam as Escrituras, mas
negam sua infalibilidade, onde reside o seu valor. Eles usam as frases da
ortodoxia e não acreditam em nada em comum com os ortodoxos. Eu não sei qual
abominar mais: seus ensinamentos ou o seu espírito, certamente estes são dignos
um do outro. Eles queimam o núcleo e preservam a casca. Eles matam a verdade e
depois fingem reverenciar o seu sepulcro, — se dizem judeus, e não
o são — Apocalipse 2:9.
Isso é horrível, mas o mal está
amplamente difundido e na presença dele os filhos de Deus estão concebendo
compromissos, vendendo o seu Senhor e tornando-se participantes com os
desprezadores de Sua Verdade. “Tendo aparência de piedade, mas negando a
eficácia dela”. É o pecado da época, o pecado que está arruinando as Igrejas de
nossa terra.
CONTINUA...
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Charles Spurgeon – A APARÊNCIA DA PIEDADE SEM PODER – PARTE 001
Charles Spurgeon – A APARÊNCIA DA PIEDADE SEM PODER – PARTE 002
— OS FALSOS IRMÃOS
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
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