31.out.2004 - Padre Marcelo Rossi joga balde de água benta em fiéis durante cerimônia em São Paulo - João Wainer
O artigo abaixo foi escrito pelo
jornalista Ricardo Feltrin e publicado no site do UOL.
Vaticano investigou padre Marcelo Rossi por quase 10 anos
Por
Ricardo Feltrin
O padre
Marcelo Rossi teve seus passos, CDs, livros, missas e aparições na TV seguidos
de perto pelo Vaticano do final dos anos 90 até cerca de quatro anos atrás.
A
investigação, que durou quase 10 anos, foi provocada por uma denúncia feita por
um religioso brasileiro, que acusou o padre de culto ao personalismo,
exibicionismo por ir demais às TVs, de desvirtuar as práticas católicas e de
transformar a missa em uma espécie de "circo".
A investigação
foi comandada pela Congregação para a Doutrina da Fé, liderada pelo cardeal
Joseph Ratzinger, que mais tarde se tornaria o papa Bento 16. A Congregatio pro Doctrina Fidei é o novo
nome que o Vaticano dá para a assassina Inquisição.
O UOL
apurou com exclusividade que, entre o final dos anos 90 e a década de 2000, a
Congregação recebia regularmente vídeos com as participações do padre Marcelo
em programas como o de Gugu Liberato no SBT e de Fausto Silva, na Globo.
A
Cogregatio matou na fogueira, por asfixia ou afogamento centenas de milhares de
pessoas no mínimo entre os séculos 12 e século 19 (mas há relatos de
incipientes matanças já no século 10).
A
Inquisição também calou, excomungou ou proibiu de ensinar milhares de padres e
freiras ao redor do mundo até o presente.
Procurada,
a assessoria do padre Marcelo e do bispo dom Fernando, da Mitra de Santo Amaro,
superior direto do padre, disseram desconhecer a investigação. A assessoria do
padre afirma que, "se isso realmente ocorreu, trata-se de um fato do
passado."
O
Vaticano, por meio de sua embaixada no Brasil, se recusou a se manifestar a
respeito.
Procurada
por telefone e por e-mail durante vários dias, a CNBB também se calou sobre o
fato.
A
investigação foi feita no Vaticano ao mesmo tempo em que ocorriam outras
centenas de investigações a respeito de outros padres, freiras e bispos ao
redor do mundo.
A
Congregação costuma se reunir aos sábados, no Vaticano.
PERTO DA
SUSPENSÃO
A
reportagem do UOL levantou junto a fontes da Santa Sé que o padre Marcelo Rossi
e o bispo dom Fernando estiveram a ponto de serem chamados ao Vaticano para
prestar contas, no final de 2004 e início de 2005.
Padre
Marcelo Rossi e dom Fernando rezam missa em abril de 2004 — José
Patrício/Folhapress
O padre
esteve próximo de ter suas atividades suspensas, bem como a publicação de
livros e CDs por pressão do denunciante, cuja identidade o Vaticano mantém
oculta sob sete chaves. Ele não poderia mais celebrar missas, ouvir confissões
e dar a hóstia.
Curiosamente,
o que acabou por livrar padre Marcelo da punição foi a morte do papa João Paulo
2º, em abril de 2005, quando praticamente toda a atividade da Congregação para
a Doutrina da Fé foi interrompida com a eleição de Ratzinger para o posto de
novo papa. Ele era o "prefeito" da congregação.
BARRADO
NO BAILE
Em 2007,
padre Marcelo tentou se reunir com papa Bento 16 durante a visita deste ao
Brasil.
No
entanto, o padre foi impedido de se encontrar com Bento 16. Segundo dados
obtidos pelo UOL, quem impediu o papa de aceitar o encontro foram funcionários
da Congregação que estavam presentes na comitiva de Bento 16.
Segundo
eles, não cairia bem ao papa receber um religioso que estava "sob
investigação". Bento 16 concordou e se recusou a receber Marcelo Rossi no
mosteiro de São Bento. O padre o aguardara desde as 5h e mal havia dormido, de
tão ansioso que estava pelo encontro.
Na
ocasião, o UOL publicou reportagem contando o ocorrido, sobre o impedimento do
padre, com exclusividade. Padre Marcelo então negou veementemente que isso tivesse
acontecido.
Dois anos
atrás, porém, em entrevista à revista "Veja", o padre se retratou e
confirmou que a reportagem estava correta e que, sim, fora barrado pela
comitiva de Bento 16.
O que o
padre não sabia era que o veto se devia à investigação a que ele estava sendo
submetido pelo Vaticano.
No final
de 2009, a Congregação decidiu encerrar as investigações sobre padre Marcelo.
Ele foi inocentado de todas as falsas "acusações".
O padre
Marcelo Rossi foi recebido por Bento 16, no Vaticano, em 2010 — Arquivo pessoal
Em 2010,
o padre finalmente foi recebido por Bento 16, no Vaticano, e este lhe outorgou
um prêmio de Evangelizador Moderno, concedido pela Fundação São Mateus.
Foi o
final feliz para quase dez anos de suspeitas sobre o trabalho do padre, que
chamou a atenção desde que um de seus CDs vendeu quase 3,5 milhões de cópias e
se tornou um fenômeno social e midiático.
O artigo original de Ricardo
Feltrin poderá ser visto por meio desse link aqui:
RICARDO FELTRIN
Ricardo Feltrin, 50, é colunista
do UOL, onde apresenta o programa Ooops! às segundas, e também colunista do F5,
site de entretenimento da Folha. Trabalhou por 21 anos no Grupo Folha, como
repórter, editor e secretário de Redação, entre outros.
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Alexandros Meimaridis
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