Editorial por Mino Carta
As
mãos sujas
Que Deus ouça a presidenta Dilma,
mas o fenômeno é o de sempre
Fernando Henrique, um pioneiro. Léo
Pinheiro/FUTURA PRESS/Estadão Conteúdo
Admitia um parlamentar do Partido
Democrata-Cristão da Itália, envolvido na célebre Operação Mãos Limpas: “Os
partidos são máquinas de caça-níqueis”. A frase será certamente muito apreciada
por todos aqueles que enxergam nos políticos em geral outros tantos ladrões.
Nem por isso vale em todas as circunstâncias, embora em parte não destoasse
quando foi pronunciada e tampouco destoe no Brasil de hoje.
Pretende-se semelhança entre a
nossa Operação Lava Jato e a Operação Mãos Limpas dos começos dos anos 90.
Ambas visam devassar e condenar esquemas corruptos, mas há mais diferenças do
que parecenças. Aquelas, de saída. Tanto a Mãos Limpas quanto a Lava Jato
resultam de uma investigação inicial a respeito de fato e personagens de porte
miúdo. Tampas pequenas para panelões ferventes.
As duas operações apresentam os
rostos de figuras centrais, o PM Antonio Di Pietro e o juiz Sergio Moro. Na
Itália, o grande inquisidor Di Pietro foi logo secundado por um pool de juízes
e a operação levou à cadeia mais de mil cidadãos, atingidos ao cabo por
condenações inflexíveis e amiúde longas. Políticos e empresários. Alguns destes
mataram-se antes de ser presos. O político que dominara por dez anos, o líder
socialista e primeiro-ministro Bettino Craxi, condenado a oito anos de cárcere,
fugiu para a Tunísia, a salvo da extradição.
A comparação entre o PT e o PCI
exibe outra diferença. Ao contrário daquele, a se revelar igual a todos os
demais partidos brasileiros, não houve condições de provar que políticos
comunistas de qualquer escalão tivessem embolsado um único, escasso tostão,
conquanto não fossem isentados de meticulosas investigações.
O desfecho da Mãos Limpas foi a
implosão da Primeira República, nascida no imediato pós-Guerra. Nem sempre este
gênero de terremoto produz bons resultados, além do ataque à corrupção, eficaz
de saída. No vazio de poder que se seguiu, ao vir à luz a Segunda República,
instalou-se um predador clownesco chamado Silvio Berlusconi, enquanto o PCI
mudava de nome, chamuscava a sua identidade e se perdia em disputas internas.
Eis aí uma lição que seria
oportuno aproveitar: a antipolítica sempre deságua em desastre. Em nome da
negação da política, tida como origem de todos os males e de todas as mazelas,
as ideologias chamadas a nutrir o debate responsável são abandonadas em
proveito do desarme da consciência. Ou, por outra, da promoção da ignorância,
do preconceito, do equívoco. No Brasil, um pensamento antipolítico leva ao
fortalecimento da casa-grande e incentiva a mídia nativa no seu esforço de
despolitização de quantos a leem ou ouvem.
Aonde nos conduz a Operação Lava
Jato não é fácil prever. Creio que o juiz Moro queira apenas e tão somente
fazer justiça e creio que esta venha a ser aplicada com todo o rigor. Tenho
outra certeza: este processo vai confirmar o pecado capital da
política à brasileira, cometido desde sempre. Gostaria, portanto, que
outros fatos a enodoar o passado da política brasileira viessem à tona,
inclusive os ocorridos em tempos recentes, antes da primeira vitória de Lula.
Pois então, em um arroubo de
pacata ilusão, proponho: chamemos o tão falante Fernando Henrique Cardoso,
erguido no alto de livros que ninguém leu, para que explique como se deu a privatização das Comunicações, a maior bandalheira da história do
Brasil. Ou de como foi feliz na compra de votos para conseguir a sua
reeleição. Ou de que maneira foram enterrados os casos Sivam e Pasta Rosa.
Nesta terra pretensamente abençoada por Deus, uma multidão implora pelo
definitivo triunfo da moral, com M grande, e não se incomoda com quem inaugurou
a transgressão. A maioria, por viver no limbo, alguns por hipocrisia.
Se a Operação Lava Jato cumprisse
o cauteloso vaticínio da presidenta Dilma, ao imaginá-la capaz de provocar uma
mudança positiva nos hábitos políticos do País (e eu gostaria se também fossem
comportamentais para a sociedade em peso), que bem venha. Até para impedir,
daqui para a frente, que somente pobres e petistas sigam para a cadeia.
O artigo original de Mino Carta
para a Revista Carta Capital, poderá ser visto por meio desse link aqui:
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
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