Jesus expulsa os vendilhões do templo
Em outro artigo cujo link pode
ser visto mais abaixo, tivemos a oportunidade de publicar e criticar uma
entrevista concedida pelo teólogo e historiado Reza Aslan. Em sua entrevista
Reza Aslan repete velhos argumentos, alguns com mais de 200 anos como se fossem
os tópicos mais excitantes acerca da pessoa e da vida e morte de Jesus. Como
deixamos provado, suas afirmações antigas, têm sido refutadas por cristãos
durante os últimos dois séculos e meio.
Ver a entrevista de Reza Aslan
por meio desse link aqui:
Hoje queremos dar continuidade a
esse assunto publicando uma matéria também produzida pela Revista ÉPOCA da autoria
de Rodrigo Turrer na qual ele faz uma crítica literária ao livro de Reza Aslan,
além de nos contar um pouco da trajetória do mesmo, especialmente nos Estados
Unidos da América.
A
volta do Jesus revolucionário
AGITADOR Jesus expulsa os
vendilhões do templo. Um novo livro diz que ele não defendia a paz, mas a
espada (Foto: Rischgitz/Getty Images)
Um novo livro afirma que o Jesus
pacifista foi uma invenção dos evangelistas e sugere que, na vida real, ele foi
mais um Che Guevara que uma Madre Teresa de Calcutá
Por RODRIGO TURRER
Livros sobre Jesus são garantia
de polêmica e publicidade. Tornaram-se uma mina de ouro editorial e um fecundo filão
acadêmico. Todo ano publicam-se dezenas de obras e estudos que tentam iluminar
algum aspecto da vida de Jesus. Nas listas de mais vendidos, sucedem-se os
livros com “revelações” sobre o pai do cristianismo. O mais novo best-seller é Zealot:
the life and times of Jesus of Nazareth (Zelote: a vida e os tempos de Jesus de
Nazaré), do iraniano Reza Aslan, um estudioso de religiões e professor de
escrita criativa na Universidade da Califórnia. O livro, lançado há um mês nos
Estados Unidos, lidera há três semanas a lista de mais vendidos do The New York
Times e da Amazon. Desbancou até recordistas de vendas como a britânica
J.K.Rowling.
Aslan e seu livro ascenderam aos
céus do mercado editorial depois de uma polêmica entrevista na rede de
televisão americana Fox News, com grande audiência entre os cristãos
fundamentalistas dos Estados Unidos. Na entrevista de quase dez minutos, a
âncora Laura Green questionou duramente Aslan. Perguntou sucessivamente a ele
se tinha direito, por ser muçulmano, de escrever um livro sobre Jesus. Diante
do preconceito da inquisidora, Aslan argumentou que escreveu o livro como
acadêmico com doutorado e especializações em história das religiões e 20 anos
de estudo das origens do cristianismo. O quiproquó contribuiu para as vendas aumentarem
quase 50%.
Eis a tese defendida por Aslan no
livro: Jesus, ao contrário do que prega a Igreja Católica, não foi um pacifista
que, diante da violência, “oferecia a outra face” e amava os inimigos. Segundo
Aslan, Jesus foi um revolucionário, cujo objetivo principal era expulsar os
romanos da Judeia, criar um reino de Deus na Terra e assumir seu trono. Ele
recupera com novas cores uma antiga versão de cristianismo – em voga nos anos
1960 graças à Teologia da Libertação, que misturava cristianismo com marxismo.
Era um Jesus mais para Che Guevara do que para Madre Teresa de Calcutá. “Ele
era um zelote revolucionário, que atravessou a Galileia reunindo um exército de
discípulos para fazer chover a ira de Deus sobre os ricos, os fortes e os
poderosos”, escreve Aslan no começo de seu livro. Zelote é uma palavra derivada
do aramaico. Significa “Alguém que zela pelo nome de Deus”. Outra possível
tradução para o termo é fervoroso, ou mesmo fanático. Sua origem está ligada ao
movimento político judaico que defendia a rebelião do povo da Judeia contra o
Império Romano. Os zelotes pretendiam expulsar os romanos pela força.
Segundo Aslan, Jesus
compartilhava algumas das ideias igualitárias dos zelotes e, assim que se
estabeleceu numa vila de pescadores em Cafarnaum, começou a procurar seus
discípulos “entre aqueles que se viram lançados à margem da sociedade, cujas
vidas tinham sido interrompidas pelas mudanças sociais e econômicas que
ocorriam por toda a Galileia”. Na interpretação de Aslan, entre seus discípulos
recolhidos nas franjas da sociedade da época, Jesus, como muitos
revolucionários, tornou-se amado não apenas por seus ensinamentos, mas pelo
carisma. “Ele era visto como alguém com autoridade, mas, ao contrário dos
escribas inacessíveis e dos sacerdotes ricos, parecia um homem do povo, uma
dádiva de Deus.”
Em Zealot, o ponto central da
vida de Jesus não é seu nascimento nem sua Ressurreição, mas o Domingo de
Ramos, um acontecimento mencionado nos quatro Evangelhos canônicos (Marcos,
Mateus, Lucas e João). Nesse episódio, Jesus entra em Jerusalém de forma
triunfal, montado num jumento. O povo comemora sua entrada sob gritos de
Hosana, canta partes de um salmo e jogam ramos de árvores à sua frente. “Mais
do que qualquer outra palavra ou ação, sua entrada em Jerusalém ajuda a revelar
quem era Jesus e o que ele quis dizer”, diz Aslan. “Um camponês analfabeto
entra em Jerusalém e é o tão aguardado Messias – o verdadeiro rei dos judeus –,
que veio para libertá-los da escravidão.”
POLÊMICA Reza Aslan (acima). Ao
lado, ele discute com a âncora da Fox News, Laura Green. Ela achou estranho que
ele, por ser muçulmano, escrevesse um livro sobre Jesus (Foto: Bret Hartman/For
The Washington/Getty Images e reprodução)
A prova de que Jesus pretendia
livrar os judeus do jugo romano pelas armas está, segundo Aslan, na passagem do
Evangelho de Mateus em que Jesus diz a seus apóstolos: “Não penseis que vim
trazer paz à Terra; não vim trazer paz, mas a espada”. Ao dizer isso, Jesus
demonstra ser um “adorador do sangrento Deus de Abraão, Moisés, Jacó e Josué”.
Logo, Jesus passa das palavras à ação. Ao chegar ao Templo de Jerusalém, para a
Páscoa Judaica, se enfurece com a visão de centenas de pessoas vendendo,
comprando e trocando moedas no local sagrado. Com um chicote na mão, Jesus
expulsa os que ali vendiam e compravam, derruba as mesas dos cambistas e acusa
os comerciantes de profanar o local de culto e de mercantilizar a fé.
Para Aslan, o episódio revela
todos os “segredos messiânicos” de Jesus. “Atacar o comércio do templo era uma
ofensa semelhante a atacar a nobreza clerical, o que, considerando a emaranhada
relação do templo com Roma, era o mesmo que atacar o próprio Império”, escreve.
Com esse gesto, Jesus diz, no entender de Aslan, que a terra sagrada não
pertencia a Roma, mas a Deus, e era hora de César devolvê-la ao verdadeiro rei
dos judeus – ele mesmo. Diante disso, afirma Aslan, Jesus se torna um
personagem “tão radical, tão perigoso, tão revolucionário que a única resposta
concebível para Roma seria prendê-lo e executá-lo por insurreição”. Como era o
mais grave dos crimes contra o Império Romano, a punição foi também a mais
severa: a crucificação.
Se Jesus foi de fato um
revolucionário, como se deu sua conversão num pacifista humilde, que ensina a
amar a todos, até ao inimigo? Foi, diz Aslan, obra dos Evangelhos canônicos e
das epístolas de Paulo de Tarso, escritas depois da crucificação, no período em
que a perseguição aos judeus e aos primeiros cristãos se intensificou. Receosos
de ser vistos como insurgentes, os primeiros seguidores do cristianismo
quiseram se afastar do fervor revolucionário de Jesus. “Assim começou o longo
processo de transformar Jesus de um revolucionário nacionalista judeu num líder
espiritual desinteressado de questões terrenas”, diz Aslan. Como judeu, Jesus
se rebelaria contra qualquer noção de que Deus pudesse encarnar num humano. Por
isso, a ascensão de Jesus a divindade surgiu quase 30 anos após a crucificação,
pelas mãos de “judeus cristãos” que, na tentativa de evitar as perseguições do Império,
“transformaram o Jesus revolucionário num semideus romanizado”. Foi dessa
maneira que Paulo criou a religião universal, sem distinção entre as pessoas,
que três séculos depois conquistou o Império Romano e se espalhou pelo mundo.
JESUS EM ARMAS Um grafite na
Venezuela mostra Jesus com um fuzil. Ele
virou símbolo revolucionário (Foto: Miguel Gutierrez/AFP)
As teses de Aslan reacenderam uma
acalorada discussão acadêmica acerca de Jesus. Há décadas, duas vertentes do
estudo de sua vida se digladiam. Uma delas tenta desvendar o “Jesus histórico”:
quem foi Jesus de Nazaré, antes de ele se transformar no Filho de Deus,
cultuado pelos cristãos. A outra está mais interessada no “Cristo da fé”, o
Jesus da religião. A busca pelo Jesus da história, desvinculado da divindade,
começou com o alemão Herman Samuel Reimarus (1694-1768). Ele foi o primeiro de
uma série de escritores a condenar os dogmas religiosos que, na sua visão,
embaçavam a compreensão do cristianismo.
Apesar dos esforços de teólogos e
filósofos, a primeira busca foi em vão: pouco se revelou sobre o Jesus
histórico. No século XX, os teólogos alemães Martin Dibelius e Rudolf Bultmann
começaram uma segunda busca. Definiram critérios objetivos para separar o que
era histórico do que não era nos relatos bíblicos. A ideia era encontrar o real
Jesus, despindo-o dos mitos a ele acoplados por seus discípulos nos Evangelhos.
Para muitos, porém, a segunda leva de pesquisas continuou a revelar mais sobre
os pesquisadores do que sobre Jesus.
A terceira onda de busca do Jesus
histórico ressurgiu com intensidade no começo do nosso século, com livros,
filmes e programas de TV. Ela está baseada em métodos históricos e racionais,
incluindo a análise crítica dos Evangelhos, a pesquisa arqueológica e o estudo
do contexto histórico e cultural em que Jesus viveu. Como a busca pelo Jesus
histórico se atém ao racionalismo e nega a existência dos milagres, ela costuma
ser rechaçada pelos defensores do Cristo da fé. As críticas vêm tanto de
teólogos ligados à tradição dos Evangelhos, defensores dos milagres como
sustentáculo do cristianismo, como dos filósofos que rejeitam o materialismo e
a ideia de que tudo na existência pode ser descrito pelas ciências naturais.
Ao reavivar as teses do Jesus
revolucionário, Aslan conseguiu um feito: foi criticado por ambas as vertentes.
“Aslan usou demais suas habilidades de professor de escrita
criativa e ignorou seus estudos históricos”, afirma Stephen Prothero, professor
de história do cristianismo na Universidade de Boston. “O livro de Aslan é uma
litania de erros, todos causados pelo fato de ele aceitar premissas que não
existiam para reforçar suas teses.” De fato, sobram certezas
definitivas no livro de Aslan, que passa ao largo de quase todas as infindáveis
controvérsias a respeito da vida de Jesus. Teria ele nascido em Belém? Aslan
garante que ele nasceu em Nazaré. Por que Jesus saiu de Nazaré e foi para a
Judeia pela primeira vez? Aslan deixa nas entrelinhas que era para se juntar
aos zelotes revolucionários. Jesus era um profeta inovador e único? Aslan
afirma que nos tempos de Jesus havia um candidato a Messias em cada figueira e
oliveira da antiga Palestina. Quem eram os evangelistas? Para Aslan, eram
seguidores de Jesus que se reuniram em comunidades a partir do ano 70 d.C.
De onde vêm todas as certezas de
Aslan? Das mesmas fontes que ele critica. “Aslan diz que os Evangelhos não são
uma fonte confiável, mas se lambuza neles quando quer reforçar suas teses de um
Cristo revolucionário”, afirma o teólogo Martin Goodman,
professor de história romana em Oxford. “O problema não é ele ser muçulmano ou
ser iraniano. O problema é que ele usa uma tese ultrapassada e desacreditada
como se fosse uma verdade absoluta.” A entrevista na Fox News
provou, portanto, ter sido muito útil para Aslan. Ele escreve de modo fluente e
coloquial sobre complexas discussões acadêmicas e transforma densos emaranhados
filosóficos em narrativas emocionantes. Mas seu livro apenas prova como é
difícil cingir a compreensão do cristianismo à história de um personagem de
traços tão fugidios como Jesus.
A reportagem original de revista
ÉPOCA poderá ser vista por meio desse link aqui:
NOSSOS COMENTÁRIOS
1. Como no artigo anterior, ver
link no início desse artigo, Reza Aslan dá prosseguimento à sua fértil
imaginação e prova que nunca leu os evangelhos com atenção suficiente para
produzir um texto que valha à pena, pelo menos ser lido e levado em
consideração.
2. Quando Reza Aslan chama Jesus
de “semi-deus romanos”, de “revolucionário” e até mesmo de “Analfabeto”
demonstra sua ignorância quanto ao texto bíblico e seu terrível preconceito
contra o Deus que se fez carne.
3. Alguns de seus críticos
disseram bem de como devemos considerar o livro de Reza Aslan:
a. “Aslan usou demais suas
habilidades de professor de escrita criativa e ignorou seus estudos
históricos”, afirma Stephen Prothero, professor de história do cristianismo na
Universidade de Boston. “O livro de Aslan é uma litania de erros, todos
causados pelo fato de ele aceitar premissas que não existiam para reforçar suas
teses.”
b. Quando quer reforçar
suas teses de um Cristo revolucionário”, afirma o teólogo Martin Goodman,
professor de história romana em Oxford. “O problema não é ele ser muçulmano ou
ser iraniano. O problema é que ele usa uma tese ultrapassada e desacreditada
como se fosse uma verdade absoluta.”
Conforme bem notado pelo autor do artigo, essas especulações
acerca de Jesus tiveram início com Reimarus no século XVIII e de lá para cá
evoluíram à custa de padrões e limites que homens impuseram aos textos sagrados
que, por enquanto, continuam soberanos.
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa
página no Facebook através do seguinte link:
Desde já agradecemos a todos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário