O material abaixo é de autoria de
M. L. Bibb e foi publicado no site da Editora FIEL.
Objeções
à Doutrina da Eleição
M. L. Bibb
OBJEÇÃO #1. Se desde a eternidade
Deus escolheu algumas pessoas, mas não outras para a salvação, de acordo com o
seu soberano querer, Ele não é justo. Ele revela parcialidade e, assim fazendo,
prova que “há injustiça” de sua parte.
Deste modo, o Juiz de toda a
terra é julgado pelo homem pequenino, que não pode acrescentar sequer uma
polegada à sua própria estatura. Não há uma enorme incoerência nalgum lugar,
uma lamentável má compreensão do caráter de Deus e dos ensinos claros de sua
Palavra, quando o Infinito tem de ser trazido a juízo por homens falíveis? Deve
haver.
A dificuldade não está na justiça
de Deus, e sim na inteligência humana em não compreender a relação entre a
justiça e a graça divina. A salvação não se fundamenta, de maneira alguma, no
rígido princípio da justiça; pelo contrário, fundamenta-se no fato de ser ela o
livramento da justiça. Se Deus tivesse resolvido exercer justiça para com os
filhos caídos de Adão, nenhum deles poderia salvar-se. A justiça não é, em
sentido algum, um fator determinante na salvação de nenhum homem. Se, portanto,
Deus escolhe salvar alguns e não outros, conforme o provam os acontecimentos de
cada dia, Ele ainda pode ser justo, como o seria, se não houvesse escolhido a
ninguém da raça pecadora para a salvação. Este é um fato que o calvinista
professa logicamente como uma das verdades das Santas Escrituras.
OBJEÇÃO #2. Se desde a eternidade
Deus escolheu algumas pessoas, mas não outras, para a salvação, de acordo com o
seu soberano querer, o homem não é responsável. Ele não pode mudar o curso de
seu destino, mesmo se desejasse fazê-lo. O seu destino está determinado, pois
ele não tem vontade própria quanto a este assunto. O homem não é “um agente
moral livre”, não importando o que isto signifique, e, portanto, não é
responsável.
“Que diremos, pois?” A objeção à
primeira vista parece ser séria ou, então, existe um grande engano a seu
respeito. É evidente que existe. A dificuldade não está na escolha por parte de
Deus, e sim na má compreensão humana sobre a relação entre a responsabilidade
do homem e a salvação divina. A objeção baseia-se na presunção de que a
responsabilidade do homem descansa sobre algo fora dele mesmo; que ele é
responsável apenas por algum ato especial de Deus; que, se Deus não o escolhe
para a salvação, ele não pode responder por coisa alguma que ele faz ou deixa
de fazer como um ser racional. Mas o fato é que a responsabilidade do homem e
sua salvação são duas coisas muito diferentes, tão diferentes que a primeira
pode existir (e existe) sem a segunda. O homem não é responsável por sua
salvação, e sim pelos seus pecados. Ele é um agente livre quanto à
sua conduta como um ser racional e no final será julgado a respeito do bem ou
do mal que praticou e não pela sua salvação. Sua salvação talvez não será
mencionada, quando ele se apresentar diante do tribunal de Deus; porém, os seus
maus feitos ou o bem que praticou em nome do Senhor virão à luz. “Ao Senhor
pertence a salvação” e o homem, portanto, não pode ser responsável por aquilo
que não lhe pertence. Mas todo homem deve responder diante do tribunal de Deus
pela sua conduta individual. O pecado é uma violação do relacionamento entre o
Criador e suas criaturas racionais, e este relacionamento constitui o princípio
fundamental da responsabilidade do homem. Se ninguém foi salvo, apesar disso,
todas as criaturas inteligentes serão responsáveis —
Romanos 3.23
Pois todos pecaram e
carecem da glória de Deus.
OBJEÇÃO #3. Se desde eternidade
Deus escolheu algumas pessoas, mas não outras, para a salvação, de acordo com o
seu soberano querer, o uso dos meios para alcançar este objetivo é supérfluo.
Os que estão escolhidos para a salvação salvar-se-ão de qualquer maneira, e os
que já estão salvos não precisam se preocupar com este assunto; podem
assentar-se, cruzar os braços e deixar que o destino misterioso faça sua obra.
Assim têm se comportado os
“hipercalvinistas” e outros fatalistas.
Esta conclusão, porém, não se
fundamenta na Palavra de Deus, tampouco na experiência do seu povo eleito. É
perfeitamente certo que Deus escolheu tanto os meios como o fim e mandou ao seu
povo trabalhar e orar pela salvação do mundo. E colocou no mais profundo do
coração dos seus servos consagrados o fazer exatamente isto —
Efésios 2:10
Pois somos feitura
dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão
preparou para que andássemos nelas.
Os eleitos não-santificados, que
vagueiam pelo mundo como ovelhas sem pastor, devem, por algum meio, ser
chamados. Ora, visto que Deus ordenou a instrumentalidade humana para chamá-los
à salvação, sem ter revelado aos homens quem são exatamente os seus eleitos no
mundo, nós, que já respondemos ao seu chamado, somos aqueles que dirigem-se a
todo homem com as boas-novas do evangelho, para reunirmos no céu os que
pertencem a Ele.
Eclesiastes 11:6
Semeia pela manhã a tua
semente e à tarde não repouses a mão, porque não sabes qual prosperará; se
esta, se aquela ou se ambas igualmente serão boas.
A doutrina da eleição eleva-se
qual montanha majestosa sobre a planície das obras humanas. Contemplá-la visa
despertar na mente mais indiferente o pensamento sobre a grandeza e a soberania
do Deus de nossa salvação e inspirar na alma do fiel um interesse mais profundo
pelas coisas atinentes ao seu reino. Nenhuma outra verdade se apossa da alma
com mais firmeza do que a eleição da parte de Deus, e nenhuma outra verdade
abala mais fortemente o fundamento das obras humanas. Permita-me o leitor citar
uma experiência pessoal como exemplo deste fato.
Há alguns anos, minha mente
pareceu dirigir-se especialmente à doutrina da eleição, encorajando-me a pregar
aos meus amados dois entusiásticos sermões sobre o assunto. Para meu espanto,
criou-se em nossa congregação o maior bulício que eu já vira. Mesmo os mais ponderados
de nossa igreja tornaram-se grandemente perturbados pelo espírito de
investigação e crítica. Alguns vieram após o primeiro sermão a inquirir mui
fervorosamente se os batistas acreditavam no que eu acabava de expor. Comecei a
pensar que, com toda a certeza, eu mexera em uma casa de marimbondos.
Bem cedo, na manhã seguinte, uma
das irmãs dirigiu-se a mim com seus olhos inundados de lágrimas dizendo-me em
tom doloroso: “Irmão, não consegui dormir toda a noite passada. Se o que você
pregou a nós, ontem, é verdade, não sei por que orar pelos meus irmãos”.
Respondi àquela irmã, com bastante mansidão: “Ora, você está me falando algo
que eu não sabia; não sabia que você tinha alguns irmãos. Em nossas reuniões
você nunca os mencionou, embora por muitos anos tenha se mostrado assídua em
todas elas”. “Sim”, disse ela, “tenho dois irmãos perdidos, em Quincy”.
Recomendei-lhe que orasse mais fervorosamente por eles e prometi que em minhas
orações eu a auxiliaria quanto me fosse possível, porque, acrescentei eu, ambos
podem ser eleitos de Deus.
Algumas semanas mais tarde, ela
me procurou novamente, mas desta vez com júbilo em seu coração, dizendo-me que
ambos os irmãos haviam se convertido em um culto de uma das igrejas batistas de
Quincy; que um deles viera visitá-la e assistir ao culto que se realizava em
nossa igreja. A lição essencial deste artigo é que a doutrina da eleição não
constitui um entrave ao trabalho de ganhar almas. Quando bons crentes realmente
se incomodam com os seus vizinhos e amigos, pensando se estes pertencem aos
eleitos de Deus, algo grandioso acontecerá.
O artigo original poderá ser
visto por meio desse link aqui:
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
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