O material abaixo foi publicado
pelo site da editora Fiel e é de autoria de George Mardsen.
No outono 1740, a visita de
George Whitefield a Jonathan Edwards trouxe consigo uma onda de entusiasmo com
respeito à fé. Um novo avivamento irrompeu. Muitos clérigos da Nova Inglaterra
começaram a ser itinerantes e a cruzar os interiores da região, pregando o
avivamento. Pastores estabelecidos também achavam que provavelmente
despertariam mais fervor espiritual se eles mesmos se aventurassem fora de suas
paróquias. Ninguém tinha visto um avivamento desta dimensão antes. Até em
Boston, ministros favoráveis ao avivamento registraram interesses espirituais
sem precedentes e uma aparente transformação da cidade. Este grande avivamento
também cresceu dramaticamente em intensidade. Em resposta à pregação de
avivamento, pessoas choravam frequentemente pelo estado de sua alma,
desfaleciam e eram até tomadas de êxtases.
Edwards aproveitou o momento de
uma maneira que tem sido lembrada por muito tempo. Seguindo as novas tendências
do avivamento, ele alterou seus sermões para criar uma intensidade dramática e
começou a pregar mais fora de sua paróquia. Essa combinação levou ao mais
famoso – ou infame – incidente de sua vida: a pregação de “Pecadores nas mãos
de um Deus irado”, em Enfield (Connecticut).
O ambiente era uma vila próxima
da fronteira de Massachusetts e Connecticut, em meados de julho de 1741. A
cidade vizinha, Suffield, estivera experimentando um avivamento admirável por
algum tempo. No domingo, três dias antes do seu sermão em Enfield, Edwards,
como um ministro convidado, presidira um culto de Ceia do Senhor em que um
número admirável de 97 pessoas foram recebidas como membros comungantes. O
avivamento em Suffield havia produzido intensas erupções de êxtases. Na
segunda-feira, depois do culto de comunhão, Edwards pregou numa “reunião
privada” para uma multidão aglomerada em dois grandes cômodos de uma casa. Um
visitante que chegara depois do sermão disse que a uma distância de 400 metros já
podia se ouvir berros, gritos e lamentos, “como de mulheres em dores de parto”,
quando as pessoas agonizavam pelo estado de sua alma. Alguns desmaiaram ou
entraram em transe; outros foram tomados de extraordinário chacoalho no corpo.
Edwards e outros oraram com muitos dos consternados e levaram alguns a
“diferentes graus de paz e alegria, alguns a enlevo, tudo exaltando o Senhor
Jesus Cristo”, e exortaram outros a se achegarem ao Redentor.
Dois dias depois, Edwards se uniu
a um grupo de pastores visitantes que estava tentando propagar o avivamento até
Enfield, e lhe pediram, tendo em mente, sem dúvida, o seu sucesso em Enfield,
que pregasse um sermão. Edwards não era como Whitefield, que poderia cativar
uma congregação por meio de eloquência dramática e espontânea. Sua voz era
fraca, e pregava com base num manuscrito que ele havia quase memorizado. Usava
poucos gestos e fazia pouco contato de olhos. Dizia-se que ele parecia estar
fitando a corda do sino no fundo da igreja. Apesar disso, seus sermões eram uma
combinação de lógica muito clara e intensidade espiritual que poderia, às
vezes, encantar seus ouvintes. No caso de “Pecadores”, diferentemente de muitos
dos seus sermões, ele acrescentou muitas ilustrações vívidas. A combinação se
revelou poderosa.
“Pecadores” é citado
habitualmente como um exemplo da severidade da pregação de fogo do inferno na
América primitiva. Entretanto, vê-lo apenas como isso é perder de vista maior
parte da verdade. Os pregadores desta época pregavam com regularidade sobre o inferno
porque acreditavam que ele era uma realidade terrível sobre a qual as pessoas
precisavam ser alertadas. Eles consideravam a doutrina da punição eterna como
misteriosa e aterrorizante, mas o próprio Jesus se referira a ela, e a maioria
dos cristãos, em todas as eras, o entendera no sentido real. Alertar os
paroquianos quanto ao perigo real era uma coisa amável a ser feita, e, quanto
mais um ministro pudesse ajudá-los a sentir verdadeiramente seu perigo, tanto
mais eficaz era a advertência. Até pregadores de um tipo liberal usavam a
doutrina das recompensas e punições eternas para ajudar a controlar as pessoas
moralmente. Para os cristãos orientados por conversões, mais do que moralidade
estava em jogo. Evangélicos como Edwards falavam de “avivamentos” porque as
pessoas que eram cegadas pelos prazeres de seus pecados necessitavam ser
vivificadas para ver seu imenso perigo e o remédio de Deus em Cristo.
No famoso sermão de avivamento de
Edwards, ele admitiu o fogo do inferno como algo real e colocou a ênfase na
solene tensão entre o julgamento de Deus e a misericórdia de Deus. Edwards
apresentou Deus como o juiz perfeitamente justo que estava corretamente
indignado em face da rebelião dos seres humanos contra seu amor. Ao mesmo
tempo, Deus havia se restringido misericordiosamente, por um tempo, na execução
de seus juízos, para dar aos pecadores uma oportunidade de receberem o amor
redentor de Cristo e serem salvos da condenação horrível, justa e certa.
Edwards formulou as imagens
impressionantes do sermão ao redor da ira de Deus iminente e retida por muito
tempo. “As negras nuvens da ira de Deus [estão] pairando sobre a nossa cabeça,
cheias de tempestade horrível e grandes trovões.” Ou “como grandes águas que
são represadas no presente; elas aumentam cada vez mais e sobem cada vez mais”.
Outra vez, “o arco da ira de Deus está armado, e a flecha está pronta na corda,
e a justiça dispara a flecha em seu coração e desarma o arco”. Assim, Edwards
acumulava imagem sobre imagem. Além disso, ele insistia em que não era a ira ou
a justiça que estava errada, mas a pecaminosidade essencial de cada pessoa que
tornava justo o julgamento. “A sua impiedade o torna tão pesado quanto o chumbo
e o faz tender para baixo, com grande peso e pressão, rumo ao inferno”. “Homens
não convertidos andam sobre o abismo do inferno, em uma cobertura podre”, e
podem cair a qualquer momento. Ou na passagem mais famosa: “O Deus que o segura
sobre o abismo do inferno, muito mais do que alguém segura uma aranha ou algum
outro inseto abominável sobre um fogo... não é nada, senão a mão de Deus que o
segura para não cair no fogo cada momento; e o fato de que você não foi para o
inferno na noite passada tem de ser atribuído a nada mais”, ou “visto que você
se levantou nesta manhã”, ou “visto que você está sentado aqui na casa de
Deus”. “Ó pecador!”, ele apelou. “Considere o terrível perigo em que você
está... você está pendurado em um fio muito tênue, e as chamas da ira divina ao
redor dele, prontas a cada momento a queimá-lo, e queimá-lo totalmente; e nada
você tem... em que segurar para salvar a si mesmo... nada que possa fazer para
levar a Deus a poupá-lo por mais um momento.”
Edwards nunca terminou o sermão
em Enfield. O tumulto se tornou muito grande quando a audiência foi tomada por
gritos, lamentos e clamores: “O que farei para ser salvo? Oh! estou indo para o
inferno! Oh! o que farei por Cristo?” Um dos ministros registrou que “os gritos
agudos e clamores eram comoventes e admiráveis”. Várias “pessoas foram
esperançosamente mudadas naquela noite. Oh! que prazer e alegria havia em seus
semblantes!”
O sermão e seus efeitos foram
ainda mais assustadores porque a cacofonia no recinto impediu Edwards de chegar
à parte que abordava a misericórdia de Deus: “E agora vocês têm uma
oportunidade extraordinária, um dia em que Cristo abriu amplamente a porta de
misericórdia e está à porta chamando e clamando, com voz alta, a pobres
pecadores”. Estes eram temas que Edwards pregava frequentemente em seus outros
sermões. Neste dia específico, ele planejara lembrar os ouvintes de tão grande
provisão, de como muitos outros tinham ouvido o chamado de Cristo com amor e
alegria e de “quão terrível é ser deixado para trás num dia como esse!”
Ironicamente, seus ouvintes o impediram de chegar às boas novas que lhes viera
comunicar.
Edwards podia, literalmente,
amedrontar uma audiência, mas também possuía um lado muito mais gentil. Temos
um vislumbre dessa qualidade de cuidado pastoral em uma carta de conselho que
Edwards escreveu naquele mesmo verão. Deborah Hathaway, uma jovem de 18 anos
convertida no avivamento de Suffield, se voltara a Edwards em busca de
conselho. Por isso, ele ofereceu uma lista de orientações para jovens cristãos.
Em um tempo, esta carta ficou talvez mais amplamente conhecida do que
“Pecadores”, visto que nos anos anteriores à Guerra Civil Americana ela foi
impressa em grandes números como um folheto intitulado “Conselho a Jovens
Convertidos”. Na carta, Edwards salientava a importância de humildade e de
não ser desanimado. O tom de Edwards na carta oferece um impressionante
contraste com “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado”. O Deus trino é não apenas
o espantosamente justo juiz, mas também o Cristo amável, cujas mãos são gentis.
“Em todo o seu proceder”, Edwards instou, “ande com Deus e siga
a Cristo como uma criança pequena, frágil e dependente, agarrando a mão de
Cristo, mantendo os olhos nas marcas das feridas no lado e nas mãos dele, de onde
vem o sangue que purifica você do seu pecado”.
Fonte: trecho do
livro "A Breve Vida de Jonathan Edwards", por George Marsden.
O artigo original poderá ser
visto por meio desse link aqui:
Que Deus abençoe a todos
Alexandros Meimaridis
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