O artigo abaixo foi escrito Bobby
Jamieson e publicado no site da Editora FIEL
Deve-se dançar e tocar
shofar, pois está no Antigo Testamento?
O que exatamente nós estamos
fazendo quando nos congregamos como igreja para a adoração? Devemos fazer
aquilo que o povo de Deus fazia no Antigo Testamento? A fim de responder essas
questões, Bobby Jamieson, afirma que “precisamos de uma teologia bíblica da
adoração. Teologia bíblica é a disciplina que nos ajuda a observar tanto a
unidade como a diversidade, tanto a continuidade como a descontinuidade, em
meio ao vasto enredo da Escritura.” Sendo assim, entender as continuidades e
descontinuidades nas alianças nos ajudará a responder se devemos dançar ou
tocar o shofar no culto hoje. Jamieson continua:
Como então devemos nós olhar para
a Escritura, a fim de que ela nos ensine o que fazer na adoração corporativa?
Primeiro, acredito que é
importante afirmar que a Escritura de fato nos ensina o que nós devemos fazer
nas assembleias regulares da igreja. Lembre-se de que, embora a vida inteira
seja adoração, a reunião semanal da igreja ocupa um lugar especial na vida
cristã. Todos os cristãos são ordenados a se reunirem com a igreja
Hebreus 10:24—25 na
Nova Tradução na Linguagem de Hoje
24 Pensemos uns nos
outros a fim de ajudarmos todos a terem mais amor e a fazerem o bem.
25 Não abandonemos,
como alguns estão fazendo, o costume de assistir às nossas reuniões. Pelo
contrário, animemos uns aos outros e ainda mais agora que vocês vêem que o dia está
chegando.
Frequentar a igreja não
é opcional para o cristão. Isso significa que, efetivamente, tudo o
que uma igreja faz no culto se torna uma prática exigida dos seus membros. E
Paulo insta os cristãos a não permitirem que quaisquer regras ou práticas de
culto inventadas pelos homens sejam impostas à sua consciência
Colossenses 2:16—23
16 Ninguém, pois, vos
julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados,
17 porque tudo isso tem
sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo.
18 Ninguém se faça
árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se
em visões, enfatuado, sem motivo algum, na sua mente carnal,
19 e não retendo a
cabeça, da qual todo o corpo, suprido e bem vinculado por suas juntas e
ligamentos, cresce o crescimento que procede de Deus.
20 Se morrestes com
Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos
sujeitais a ordenanças:
21 não manuseies isto,
não proves aquilo, não toques aquiloutro,
22 segundo os preceitos
e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem.
23 Tais coisas, com
efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa
humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a
sensualidade.
Eu sugiro que esses princípios
bíblicos convergem na direção daquilo que historicamente se tem chamado de
“princípio regulador” do culto. Em outras palavras, em suas reuniões
corporativas, as igrejas devem realizar apenas aquelas práticas que são
positivamente prescritas na Escritura, seja por um mandamento explícito ou por
um exemplo normativo. Fazer qualquer outra coisa seria comprometer a
liberdade cristã. Assim, as igrejas devem olhar para a Escritura, a fim de que
ela nos ensine a adorar juntos, e devem fazer somente o que a Escritura nos
ordena fazer.
Mas isso levanta a pergunta: o
que exatamente a Escritura nos ordena fazer? Para ser mais preciso, como nós
sabemos qual material bíblico acerca da adoração é normativo e obrigatório?
Responder essa pergunta exaustivamente demandaria um livro; aqui, apresentarei
apenas um esboço muito breve.
Discernir quais ensinamentos
bíblicos acerca da adoração são obrigatórios exige alguma destreza, uma vez que
a Escritura em nenhum lugar nos apresenta, por exemplo, uma “ordem de culto”
completa e confessadamente normativa. Mas há alguns mandamentos no Novo
Testamento os quais são claramente obrigatórios a todas as igrejas. O fato de
as igrejas em Éfeso e em Colossos serem ambas ordenadas a cantar — Efésios 5:18—19;
Colossenses 3:16m —, bem como a referência ao canto na igreja de Corinto — 1Coríntios
14:26 —, sugere que todas as igrejas devem cantar. O fato de Paulo ordenar
Timóteo a ler e pregar a Escritura em uma carta destinada a instruir Timóteo
acerca de como a igreja deve se conduzir — 1Timóteo 3.15; 4.14 — sugere que a
leitura e pregação da Escritura são a vontade de Deus não apenas para aquela
igreja em particular, mas para todas as igrejas.
Por outro lado, alguns
mandamentos, como “Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo” — Romanos 16.16
—, parecem expressar um princípio universal —“recebam uns aos outros com amor
cristão” — em uma forma que pode não ser culturalmente universal.
Além disso, alguns mandamentos
contextuais podem ter uma aplicabilidade mais ampla, como o fato de Paulo dizer
aos coríntios para separarem dinheiro no primeiro dia da semana. Aquilo era
para uma oferta específica aos santos em Jerusalém, mas todas as igrejas são
ordenadas a sustentar financeiramente os seus mestres, de modo que a oferta bem
pode ter lugar na adoração corporativa.
Gálatas 6:6
Mas aquele que está
sendo instruído na palavra faça participante de todas as coisas boas aquele que
o instrui.
Até aqui, porém, nós lidamos
apenas com o Novo Testamento. O que dizer do Antigo? Afinal, o Antigo
Testamento está repleto de mandamentos acerca da adoração:
Salmo 150:3—5
Louvai-o ao som da
trombeta; louvai-o com saltério e com harpa.
Louvai-o com adufes e
danças; louvai-o com instrumentos de cordas e com flautas.
Louvai-o com címbalos
sonoros; louvai-o com címbalos retumbantes.
Isso significa que, para serem
bíblicos, os cultos de nossas igrejas precisam incluir trombetas, saltérios,
harpas, tamborins, danças, instrumentos de cordas, flautas e címbalos? Eu sugiro
que não.
Lembre-se que os salmos são
expressões de adoração sob a aliança mosaica, referida por alguns dos
escritores do Novo Testamento como a “antiga aliança”
Hebreus 8:6
Agora, com efeito,
obteve Jesus ministério tanto mais excelente, quanto é ele também Mediador de
superior aliança instituída com base em superiores promessas.
Agora que a nova aliança
prometida em Jeremias 31 foi estabelecida, a antiga aliança é obsoleta. Nós não
estamos mais sob a lei de Moisés — Romanos 7:1—6;
Gálatas 3:23—26
23 Mas, antes que
viesse a fé, estávamos sob a tutela da lei e nela encerrados, para essa fé que,
de futuro, haveria de revelar-se.
24 De maneira que a lei
nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos
justificados por fé.
25 Mas, tendo vindo a
fé, já não permanecemos subordinados ao aio.
26 Pois todos vós sois
filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus.
Portanto, formas de adoração
atreladas à era mosaica não são mais obrigatórias a nós. O templo
era servido por sacerdotes, alguns dos quais especializados na música litúrgica
— 1Crônicas 9:33. De fato, são eles que nós vemos tocando os mesmos
instrumentos mencionados no Salmo 150 —2Crônicas 5:12, 13; 9:11. Assim, o Salmo
150 não está provendo um modelo para a adoração cristã; em vez disso, está
invocando uma forma específica de adoração da antiga aliança, associada ao
templo e ao sacerdócio levítico.
Isso não define, por si só, a
questão de quais instrumentos podem servir de acompanhamento apropriado ao
canto congregacional da igreja. Mas significa que o simples apelo a um
precedente do Antigo Testamento não tem lugar, assim como o apelo a um
precedente do Antigo Testamento não pode legitimar o sacrifício de animais. É
aqui que muitas tradições cristãs falham em alcançar uma teologia bíblica da
adoração, ao apelarem de modo seletivo a precedentes do Antigo Testamento, como
se certos aspectos do sacerdócio levítico e da adoração do templo adentrassem
na era da nova aliança.
Certamente, muito do Antigo
Testamento informa o modo como adoramos. Os Salmos nos ensinam a adorar com
reverência e temor, alegria e admiração, gratidão e júbilo. Mas o Antigo
Testamento não prescreve nem os elementos nem as formas da adoração na igreja
da nova aliança.
Nesse sentido, o Novo Testamento
provê uma nova constituição para o povo de Deus da nova aliança, assim como
muito do Antigo Testamento serviu como a constituição para o povo de Deus sob a
antiga aliança. Deus tem um único plano de salvação e um único povo a salvar,
mas o modo como o povo de Deus se relaciona com ele mudou radicalmente após a
vinda de Cristo e o estabelecimento da nova aliança.
É por isso que precisamos
empregar todas as ferramentas da teologia bíblica – agregando as alianças,
traçando as conexões entre tipo e antítipo, observando promessas e
cumprimentos, delineando continuidades e descontinuidades – a fim de chegarmos
a uma teologia da adoração congregacional. Como o povo de Cristo da nova
aliança, habitados pelo Santo Espírito da promessa, nós adoramos em Espírito e
em verdade, de acordo com os termos que o próprio Deus especificou na
Escritura.
O artigo original do site da
editora FIEL poderá ser visto por meio desse link aqui:
Que Deus abençoe a todos
Alexandros Meimaridis
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