Papiro P86
Essa é uma série estritamente
acadêmica, mas não existe na mesma absolutamente nada que impeça a leitura por
todas as pessoas. De fato queremos incentivar que todos possam ler esses
artigos compartilhar os mesmos com todos os seus contatos, parentes e
conhecidos.
CONTINUAÇÃO...
O que se fazia com as folhas de
papiro depois que estavam prontas, dependia do propósito para o qual as mesmas
tinham sido produzidas. Folhas soltas de papiro eram, geralmente, vendidas para
serem usadas para registros diversos, memorandos, treinamento de escrita e etc.
Alguns argumentam que papiros de qualidade muito baixa eram usados apenas como “papeis”
de embrulho. Mas nosso interesse está centrado em seu uso para produzir livros.
Quando se trabalhava com papiro, o rolo era, sem sombra de dúvida, a melhor
forma de usar tal material. As folhas individuais eram unidas pelas suas
bordas. Plínio afirma que as melhores folhas eram geralmente colocadas no
início do rolo. Não sabemos se o motivo de tal procedimento era porque as
mesmas eram mais resistentes ou porque deixavam o rolo mais bonito e mais
valioso na hora de comercializá-lo. Ainda de acordo com Plínio, o rolo padrão
era composto de 20 folhas o que somadas se estendiam por cerca de 5 metros. Mas
existiam papiros mais longos com certeza. Um desses casos é o papiro Harris I
que está no Museu Britânico catalogado sob o número EA9999.61. Esse rolo tem quase
40 metros de comprimento.
Papiro Harris I
Os rolos também permitiam uma
série de curvas contínuas o que evitava colocar estresse em qualquer ponto do
papiro. Um codex — montagem em forma de livro — precisava ter dobras firmes e
bem definidas com relação a um conjunto de folhas simples ou no máximo duas. A
dobra definida tornava-se num ponto de extrema fragilidade como é fácil
deduzir. Até mesmo o papiro P66 que está quase intacto, apresenta muitos pontos
quebrados em sua espinha. Até onde esse autor sabe, somente o papiro P5
possui porções escritas tanto da parte da frente quanto de verso de suas folhas
dobradas. Mas a impressão que temos é que essas folhas não estavam unidas ou
que as mesmas pertenciam a algum conjunto central de páginas.
Todos os rolos eram produzidos de
acordo com certos padrões desenvolvidos ao longo do tempo. Por exemplo: todas
as tiras horizontais de uma determinada folha eram colocadas no mesmo lado do
rolo, pois somente um dos lados apenas deveria receber a escrita, e era mais
fácil escrever numa única direção. Abaixo temos uma reprodução do Papiro Rhind
no qual podemos perceber, com certa clareza, as linhas entre as tiras retiradas
da casca da planta. O Papiro Rhind que foi adquirido em 1858 por A. Henry Rhind,
e é um papiro fragmentado de um documento egípcio que apresenta esboços de
operações matemáticas. O mesmo foi escrito por um escriba de nome Ahmose e
data, provavelmente, do período em que o país estava dominado pelos Hicsos. Com
isso a idade provável do mesmo é de 3.700 anos. Alguns acreditam que o mesmo é
uma cópia de algum documento ainda mais antigo que pertencia, originalmente, à XII
Dinastia — de 1991 a 1782 a. C. Isso faz desse papiro um dos documentos
matemáticos mais antigos em existência.
O consenso entre aqueles que
escrevem acerca de papiros é que — com exceção dos papiros opistografos, ou
seja, papiros escritos na frente e no verso da folha — o normal era escrever
nos rolos apenas no lado da folha onde as tiras estavam colocadas na
horizontal. Isso é verdadeiro para os papiros gregos, mas nos papiros egípcios
era comum escrever-se dos dois lados. Outros papiros têm sido encontrados onde
o resumo do conteúdo está escrito do lado de fora do rolo, enquanto o conteúdo
está escrito na parte de dentro dos mesmos.
A maioria dos rolos eram montados
de tal maneira que, as linhas de escrita eram paralelas ao maior comprimento do
papiro. Com isso queremos dizer que: se ==== representa uma linha de texto,
então um rolo típico teria a aparência que mostramos abaixo:
+---------------------------------------------+ | === === === === === === === === === | | === === === === === === === === === | | === === === === === === === === === | | === === === === === === === === === |
+---------------------------------------------+
O historiador romano Suetónio, no
entanto, alega que na Roma pré-imperial os documentos oficiais eram escritos
conforme o formato a seguir.
+----------+ | === === | | === === | | === === | | === === | | === === | | === === | | === === | | === === | +----------+
Mas tal afirmação é difícil de
ser confirmada porque não existem documentos disponíveis nesse formato. Pelo
menos que sejam conhecidos.
Alguns são da opinião que no princípio
da produção de papiros, os mesmos costumavam ter suas folhas costuradas umas
nas outras. Mas isso causava mais prejuízos que benefícios. Os fabricantes de
rolos e livros logo perceberam as vantagens de colar as folhas. Partindo de
descrições antigas e de ilustrações disponíveis, parece que desde cedo se
tornou prática comum enrolar os papiros em pedaços de madeiras. Figuras da Torá
judaica sugerem que a mesma estava enrolada em dois pedaços de madeira.
Infelizmente temos pouquíssimos exemplos dessas madeiras disponíveis para
análise. Os títulos dos materiais contido no papiro eram, geralmente, escritos
na própria madeira onde o rolo era colocado.
Papiro Oxy 208
Papiro altamente fragmentado
O maior problema com os papiros
era sua fragilidade. A umidade era suficiente para destruí-los por completo.
Esse é o motivo porque os papiros sobreviveram apenas no Egito ou em outras
regiões desérticas, como o deserto próximo ao Mar Morto na Palestina. Mas se no
tempo seco os mesmos estão protegidos da umidade, eles tendem a ficar
quebradiços com o passar do tempo. Por isso, seria praticamente impossível
fabricar um volume de papiro que se torna-se referência. Infelizmente o mesmo
não duraria tanto tempo assim. Por outro lado, temos poucos, se de fato
existirem, papiros que podem ser considerados palimpsestos — papiros ou
qualquer outro material que foram apagados e depois reescritos por cima.
O papiro foi utilizado como
material de escrita durante um período que se estendeu por 3.000 anos. Podemos
afirma com toda certeza, que as primeiras produções cristãs escritas foram
produzidas sobre esse tipo de material. Mas à medida que a igreja cresceu e
passou a ter maior disponibilidade financeira a tendência foi passar a produzir
os escritos cristãos em materiais mais duráveis como os pergaminhos, por
exemplo. Nossas Bíblias grafadas em papiros e que continuam preservadas até
hoje datam do século VIII d.C. Acredita-se que a produção de papiro para uso
comercial teve seu fim por volta do século X d.C. Mesmo assim, a igreja romana
continuou a usar papiros para seus registros e para as bulas papais até o
século XI d.C. O último documento dessa natureza que tem sua data preservada
foi produzido e assinado pelo papa Vitório II em 1057.[1]
OUTROS ARTIGOS DE COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 001 – MATERIAL DE ESCRITA ANTIGO
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 002 – MATERIAL DE ESCRITA ANTIGO — O PAPIRO
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 003 – MATERIAL DE ESCRITA ANTIGO — O PAPIRO — FINAL
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 004 – MATERIAL DE ESCRITA ANTIGO — OS PERGAMINHOS
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 005 – MATERIAL DE ESCRITA ANTIGO — PAPEL E BARRO
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 006 – ARQUÉTIPOS E AUTÓGRAFOS — PARTE 001
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 007 – ARQUÉTIPOS E AUTÓGRAFOS — PARTE 002
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 008 – ARQUÉTIPOS E AUTÓGRAFOS — PARTE 003 – FINAL
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 009 – OS ESCRIBAS E OS COPISTAS E OS MANUSCRITOS QUE ELES PRODUZIRAM — PARTE 001
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 010 – OS ESCRIBAS E OS COPISTAS E OS MANUSCRITOS QUE ELES PRODUZIRAM — PARTE 002
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 011 – OS ESCRIBAS E OS COPISTAS E OS MANUSCRITOS QUE ELES PRODUZIRAM — PARTE 003
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 012 – OS ESCRIBAS E OS COPISTAS E OS MANUSCRITOS QUE ELES PRODUZIRAM — PARTE 004
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 013 – OS ESCRIBAS E OS COPISTAS E OS MANUSCRITOS QUE ELES PRODUZIRAM — PARTE 005
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS — PARTE 014 — OS ESCRIBAS E OS COPISTAS E OS MANUSCRITOS QUE ELES PRODUZIRAM — PARTE 006
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa
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Desde já agradecemos a todos.
[1]
Deuel, Leo. Testaments of Time: The
Serach for Lost Manuscripsts and Records. Alfred A. Knopf, New York, 1965.
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