Essa é uma série estritamente
acadêmica, mas não existe na mesma absolutamente nada que impeça a leitura por
todas as pessoas. De fato queremos incentivar que todos possam ler esses
artigos compartilhar os mesmos com todos os seus contatos, parentes e
conhecidos.
CONTINUAÇÃO...
II OS PERGAMINHOS
A história dos pergaminhos –
material feito do couro de animais diversos — é, provavelmente, a mais
complicada de todos os materiais usados para se escrever. A explicação
histórica, tanto acerca do material em si, como também do próprio nome procedem
da História Natural de Plínio[1]
que cita outro autor da antiguidade — Marco Terêncio Varrão — o qual conta uma
história acerca de um rei do Egito — provavelmente Ptolomeu V — que embargou
toda exportação de papiro para a cidade de Pérgamo na Ásia Menor —
provavelmente durante o reinado de Eumenes III —, com o objetivo de impedir que
a biblioteca daquela cidade pudesse rivalizar com a grande biblioteca em
Alexandria. Os cidadãos de Pérgamo, desenvolveram então o pergaminho como
material de escrita. O nome pergaminho, provavelmente é derivado da própria
cidade de Pérgamo.
A dificuldade com essa história é
que, de fato, materiais de escrita feitos de couro de animais já existiam muito
antes de Pérgamo vir a existir como cidade.
O pergaminho deve, realmente, ser
considerado como o resultado de um longo e gradual processo de desenvolvimento.
O couro tem sido usado como material de escrita por, pelo menos, quatro mil
anos. Do próprio Egisto nós temos um fragmento em couro de um rolo manuscrito
que data da sexta dinastia – c. de 2300 a.C., que indica em seu texto o uso do
couro como material de escrita datando de vários séculos antes desse próprio
documento. Temos ainda um importante rolo de couro dos dias de Ramsés II, e um
terceiro rolo ainda, que apesar de não podermos precisar sua data, é possível
que o mesmo seja do tempo da invasão do Egito pelos Hicsos, que antecederam
Ramsés por vários séculos.
Mas o couro em si, não é,
tecnicamente, um pergaminho. O couro era preparado deixando o mesmo secar ao
sol, mas o resultado final não era material muito apropriado para a escrita.
Era pouco flexível, não aceitava bem as tintas e muito exemplares continuavam
com pelos e suas raízes.
Já o pergaminho era um material
bastante distinto, que exigia uma preparação laboriosa para torná-lo macio, e
bastante flexível. Do modo ideal era necessário começar com a pele de um animal
recém nascido, ou até mesmo, não nascido. Primeiro o couro era lavado e limpo,
tanto quanto possível, de todos os pelos. Em seguida o mesmo era imergido numa
solução de cal, estendido numa estrutura apropriada e raspado ainda outra vez.
Essa raspagem era uma parte vital do processo. Se algum pedaço de carne ficasse
grudado na pele, o mesmo apodreceria e faria com que a pele tivesse um mau
cheiro insuportável. Depois o pedaço de couro era vergastado, coberto com giz,
em seguida o mesmo era alisado com o uso de pedras pome e deixado para secar,
enquanto ainda estava preso à estrutura que o esticava. Todos esses processos
exigiam um grande esforço e o uso de materiais especiais, do que os utilizados
na simples produção de couro curtido. Mas o resultado final de toda essa
trabalheira era um material de escrita que continua a ser bastante valorizado até
os nossos dias.
Certamente o papiro era o melhor
material de escrita conhecido na Antiguidade. Era mais macio que o couro
curtido e até mesmo que o papiro. Além disso, aceitava a escrita em suas duas
faces. Sua maciez permitia escrever com grande rapidez e precisão sobre sua
superfície. Não havia no uso do papiro nenhuma preocupação com as que existiam
com relação ao uso do papiro. Além disso o mesmo era durável, e sua coloração
clara servia para um excelente contraste entre o background e a tinta.
Com tudo isso, não estamos
querendo dizer que o papiro era o material perfeito para a escrita. O mesmo era
bem mais denso que o papiro, fazendo com que o volume escrito fosse sempre bem
mais pesado. Além disso, suas páginas tinham a tendência de criar “orelhas”. Em
cima de tudo isso o mesmo era extremamente caro quando comparado com outros
materiais.
Como acontecia também com o
papiro, também existiam diferenças nas faces duma folha de pergaminho. O lado
da carne era sempre mais escuro que o lado dos pelos, mas aceitava melhor a
tinta. A diferença de tonalidade fazia com que os escribas organizassem seus
cadernos de tal maneira que duas folhas provindas dos pelos ficassem sempre uma
de frente para a outra. O mesmo acontecia com o lado das folhas que procediam
do lado da carne. Estudiosos acreditam que os gregos preferiam ter a página oriunda
do lado da carne como a página esquerda, enquanto que os manuscritos romanos
preferiam a página do lado dos pelos no lado esquerdo do caderno.
Outra desvantagem dos
pergaminhos, da nossa própria perspectiva, é que os mesmo podiam ser apagados e
utilizados novamente. Alguns consideram isso uma vantagem. A maciez e solidez
do pergaminho permitiam que tinta, especialmente fresca, fosse facilmente
removida. Tinta seca dava mais trabalho, mas também podia ser removida. Junte
essa característica com o preço de um pergaminho novo e você terá ampla s razões
para justificar o surgimento dos palimpsestos[2].
São muitos os preciosos volumes que fora destruídos por meio desse recurso,
deixando a escrita original quase ilegível, ou até mesmo completamente
ilegível. Por outro lado se tais pergaminhos não tivessem sido apagados e
reescritos talvez não teríamos o material contido nos mesmos. Que pode dizer?
OUTROS ARTIGOS DE COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 001 – MATERIAL DE ESCRITA ANTIGO
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 002 – MATERIAL DE ESCRITA ANTIGO — O PAPIRO
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 003 – MATERIAL DE ESCRITA ANTIGO — O PAPIRO — FINAL
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 004 – MATERIAL DE ESCRITA ANTIGO — OS PERGAMINHOS
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 005 – MATERIAL DE ESCRITA ANTIGO — PAPEL E BARRO
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 006 – ARQUÉTIPOS E AUTÓGRAFOS — PARTE 001
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 007 – ARQUÉTIPOS E AUTÓGRAFOS — PARTE 002
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 008 – ARQUÉTIPOS E AUTÓGRAFOS — PARTE 003 – FINAL
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 009 – OS ESCRIBAS E OS COPISTAS E OS MANUSCRITOS QUE ELES PRODUZIRAM — PARTE 001
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 010 – OS ESCRIBAS E OS COPISTAS E OS MANUSCRITOS QUE ELES PRODUZIRAM — PARTE 002
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 011 – OS ESCRIBAS E OS COPISTAS E OS MANUSCRITOS QUE ELES PRODUZIRAM — PARTE 003
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 012 – OS ESCRIBAS E OS COPISTAS E OS MANUSCRITOS QUE ELES PRODUZIRAM — PARTE 004
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 013 – OS ESCRIBAS E OS COPISTAS E OS MANUSCRITOS QUE ELES PRODUZIRAM — PARTE 005
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS — PARTE 014 — OS ESCRIBAS E OS COPISTAS E OS MANUSCRITOS QUE ELES PRODUZIRAM — PARTE 006
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa
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Desde já agradecemos a todos.
[1] Pliny,
the old – Gaius Plinius Secundus. Natural History: A Selection — in Penguin
Classics. Penguin Books, London, Reprint Edition 1993.
.
[2] Palimpsesto
— Manuscrito
em pergaminho que, após ser raspado e polido, era novamente aproveitado para a
escrita de outros textos — prática comum na Idade Média. Modernamente, a
técnica tem permitido restaurar os caracteres primitivos.
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