quinta-feira, 16 de julho de 2015

INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 004 – INTRODUÇÃO OS EVANGELHOS — O LUGAR OCUPADO PELOS EVANGELHOS NO NOVO TESTAMENTO.



Essa série pretende disponibilizar as informações mais importantes acerca de cada um dos 27 livros que compõem o Novo Testamento. Desde que lançamos nossa série de Introdução ao Antigo Testamento, muitos leitores têm nos questionando acerca de algum material semelhante com respeito ao Novo Testamento. Então, aproveitando que iniciamos uma série de estudos acerca dos manuscritos do Novo Testamento — tecnicamente chamada de “baixa crítica” — estamos usando essa oportunidade para lançar uma série que trate também do texto do Novo Testamento em si, e da interpretação geral do mesmo — “alta crítica”.

I. OS EVANGELHOS

D. O LUGAR OCUPADO PELOS EVANGELHOS NO NOVO TESTAMENTO

Não é nossa intenção discutir nessa série como foi o desenvolvimento do cânon do Novo Testamento. Para todos que têm interesse nessa área específica recomendamos, em português, a obra de Werner Georg Kümel Introdução ao Novo Testamento, publicada no Brasil pela Editora Paulus. Mesmo não sendo nossa intenção nesse momento, ainda assim cremos que devemos fazer um breve apanhado descrevendo a atitude da igreja primitiva com relação aos Evangelhos, com o objetivo de localizar o problema da introdução dos mesmos numa perspectiva correta.

Perto do final do século II d.C., fica claro, por meio de toda a evidência que temos disponível, que os quatros Evangelhos que chamamos de “canônicos” já haviam sido aceitos, não apenas como sendo documentos autênticos, mas também como sendo Escrituras Sagradas, no mesmo nível do Antigo Testamento. Irineu, um dos pais da Igreja — que viveu entre 130 e 201 d.C., datas são aproximadas — faz uma afirmação muito interessante, quando diz que: “a existência de quatro Evangelhos é análoga à existência dos quatro cantos do mundo, dos quatro ventos que sopram sobre a terra e da necessidade de uma construção ter quatro pilares de sustentação. É óbvio que podemos questionar o método analógico de Irineu, mas por outro lado, seu testemunho a favor da exclusividade desses quatro evangelhos e desses quatro apenas, é inegável. Ou seja, já em seus dias a igreja não aceitava nenhum outro Evangelho. Além disso, nessa mesma passagem original de Irineu, ele nos fala acerca dos autores de cada evangelho, de acordo com as tradições da sua própria época. Em seguida ele procede delineando a doutrina da inspiração dos Evangelhos. Mesmo que Irineu nos apresente sua opinião de maneira acrítica, ele o faz apoiado nas melhores tradições disponíveis em seus dias. Ninguém, em sã consciência pode desprezar o testemunho de Irineu quando discute qualquer questão introdutória relativa aos Evangelhos.

Apesar de Clemente de Alexandria — viveu entre 150 e 215 d.C., datas são aproximadas — fazer algumas citações de outros evangelhos tais como, por exemplo: O Evangelho de Acordo com Os Egípcios, ainda assim ele procura fazer uma clara distinção entre esses outros evangelhos e os Quatro Evangelhos. Já Tertuliano — viveu entre 160 e 220 d.C., datas são aproximadas — cita, exclusivamente, os quatro Evangelhos canônicos, ao mesmo tempo em que apresenta uma forte argumentação para a autoridade dos mesmos, com base de que os mesmos foram produzidos por apóstolos ou por pessoas diretamente associadas a eles. Nenhum desses escritores que mencionamos, parece ter questionado a origem desses quatro Evangelhos como oriundos, diretamente, da era apostólica. Mas a posição deles tem sido desafiada por críticos modernos, que não apresentam nenhuma alternativa melhor, nem conseguem fornecer uma interpretação mais aceitável. Os críticos de hoje se limitam apenas a atacar as testemunhas do passado.

Antes do ano 180 d.C., a evidência disponível é menos específica, mas mesmo assim, continua apontando para a alta estima dedicada aos quatro Evangelhos desde o início dos primeiro registros existentes. A Harmonia de Taciano — viveu entre 120 e 180 a.C., datas são aproximadas — é composta de parte dos nossos quatro evangelhos canônicos, e demonstra a perplexidade que existia diante desse material que contava as Boas Novas acerca de Jesus Cristo. Apesar do material de Taciano ter recebido uma ampla aceitação na igreja do Oriente, o mesmo foi logo abandonado pelo uso de cópias dos quatro Evangelhos canônicos. Isso é uma prova indisputável, de que esses últimos eram tidos na mais alta estima quando comparados a quaisquer outros escritos que, nessa altura já começavam a circular e se multiplicar. Os cristãos daqueles dias estavam mais interessados numa “vida de Cristo” consecutiva, compilada de fontes originais, do que nas próprias fontes originais. Numa data ainda anterior, Justino Mártir — viveu entre 100 a 165 d.C., datas são aproximadas — aparentemente conhecia e usou todos os quatro Evangelhos canônicos, apesar de não podermos ter absoluta certeza disso, por causa da forma livre com que as citações são feitas. De grande importância para nós é sua afirmação de como as memórias dos apóstolos eram usadas nos cultos a Deus. Essas memórias são identificadas, em outros lugares como sendo εὐαγγέλιαeuvangélia — Evangelhos, e fica claro pelo uso dessa expressão que os mesmos eram considerados autoritativos, por causa da relação direta com as lembranças dos próprios apóstolos.    

Tanto Clemente Romano — viveu entre 35 a 97 d.C., datas são aproximadas — quanto Inácio de Antioquia — viveu entre 35 a 107 d.C., datas são aproximadas — fizeram uso do material dos quatro evangelhos e, mesmo que tal uso tenha sido na forma de alusões e não de citações diretas, todo o material encontra paralelos no material original dos quatro Evangelhos canônicos. A única exceção é uma citação de Clemente que contém um dito dominical de Jesus que não se encontra nos escritos originais. Mas apesar de tudo isso, existe muita discussão se os chamados pais da igreja — entre os séculos II e VII d.C., — e o material que produziram chamado de patrística — tinham conhecimento do material contido nos quatro Evangelhos canônicos. Todavia, alguns autores falam de uma espécie de “tradição pré-sinótica”, como por exemplo, H. Köster. Por outro lado, a Epístola de Policarpo, contém paralelos precisos com os quatros Evangelhos canônicos, o que nos dá plena certeza que o mesmo estava familiarizado com os mesmos. Policarpo de Esmirna viveu entre 69 a 155 d.C., as datas são aproximadas. Com respeito a todos esses autores citados nesse parágrafo, os estudiosos críticos têm duvidas se os mesmos tinham conhecimento do Evangelho de João.    

Durante o período chamado de sub-apostólico, o Testemunho de Papias de Hierápolis — viveu entre 70 e 155 d.C., datas são aproximadas — acerca de dois Evangelhos é notável, mesmo sendo um tanto quanto enigmático. Iremos discutir todos esses aspectos de maneira mais aprofundada, à medida que avançarmos nesses estudos. Por agora, basta reafirmar que não existe nada em Papias que contradiga a evidência patrística citada anteriormente nesse estudo. Papias fez duas afirmações acerca dos Evangelhos, uma de Mateus e outra de Marcos, que são consideradas as mais antigas citações acerca da autoria desses Evangelhos. Papias acreditava que Marcos era o intérprete do apóstolo Pedro e que Mateus escreveu seu Evangelho, originalmente em hebraico. Suas duas afirmações se tornaram em verdadeiros campos de batalha para os críticos que não conseguem, realmente, provar nata mais apenas levantar suspeitas. Para nós, que cremos na inspiração das Escrituras a evidência é importante por causa da sua antiguidade.    

CONTINUA...  

OUTROS ESTUDOS ACERCA DA INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO

INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — PARTE 001 — INTRODUÇÃO GERAL AOS EVANGELHOS — ESTUDO 001

INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — PARTE 002 — A FORMA LITARÁRIA DOS EVANGELHOS

INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — PARTE 003 — MOTIVOS PORQUE OS EVANGELHOS FORAM ESCRITOS

INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — PARTE 004 — O LUGAR OCUPADO PELOS QUATRO EVANGELHOS NO NOVO TESTAMENTO

INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — PARTE 005 —  A MELHOR FORMA DE ABORDAR OS QUATRO EVANGELHOS

INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 006 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 001

INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 007 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 002

INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 008 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 003

INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 009 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 004

INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 010 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 005

INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 011 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 006

INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 012 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 007

INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 013 — INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 008

INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 014 — INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 009

INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 015 — INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — MATEUS — PARTE 010 — AUTOR — PARTE 002



INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 016 — INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — MATEUS — PARTE 011 — DATA DA COMPOSIÇÃO

Que Deus abençoe a todos.

Alexandros Meimaridis

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Desde já agradecemos a todos.  

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