Essa série pretende
disponibilizar as informações mais importantes acerca de cada um dos 27 livros
que compõem o Novo Testamento. Desde que lançamos nossa série de Introdução ao
Antigo Testamento, muitos leitores têm nos questionando acerca de algum
material semelhante com respeito ao Novo Testamento. Então, aproveitando que
iniciamos uma série de estudos acerca dos manuscritos do Novo Testamento —
tecnicamente chamada de “baixa crítica” — estamos usando essa oportunidade para
lançar uma série que trate também do texto do Novo Testamento em si, e da
interpretação geral do mesmo — “alta crítica”.
I. OS EVANGELHOS
D. O LUGAR OCUPADO PELOS
EVANGELHOS NO NOVO TESTAMENTO
Não é nossa intenção discutir
nessa série como foi o desenvolvimento do cânon do Novo Testamento. Para todos
que têm interesse nessa área específica recomendamos, em português, a obra de
Werner Georg Kümel Introdução ao Novo
Testamento, publicada no Brasil pela Editora Paulus. Mesmo não sendo nossa
intenção nesse momento, ainda assim cremos que devemos fazer um breve apanhado
descrevendo a atitude da igreja primitiva com relação aos Evangelhos, com o
objetivo de localizar o problema da introdução dos mesmos numa perspectiva
correta.
Perto do final do século II d.C.,
fica claro, por meio de toda a evidência que temos disponível, que os quatros
Evangelhos que chamamos de “canônicos” já haviam sido aceitos, não apenas como
sendo documentos autênticos, mas também como sendo Escrituras Sagradas, no
mesmo nível do Antigo Testamento. Irineu, um dos pais da Igreja — que viveu
entre 130 e 201 d.C., datas são aproximadas — faz uma afirmação muito
interessante, quando diz que: “a existência de quatro Evangelhos é análoga à
existência dos quatro cantos do mundo, dos quatro ventos que sopram sobre a
terra e da necessidade de uma construção ter quatro pilares de sustentação. É
óbvio que podemos questionar o método analógico de Irineu, mas por outro lado,
seu testemunho a favor da exclusividade desses quatro evangelhos e desses
quatro apenas, é inegável. Ou seja, já em seus dias a igreja não aceitava
nenhum outro Evangelho. Além disso, nessa mesma passagem original de Irineu,
ele nos fala acerca dos autores de cada evangelho, de acordo com as tradições
da sua própria época. Em seguida ele procede delineando a doutrina da
inspiração dos Evangelhos. Mesmo que Irineu nos apresente sua opinião de
maneira acrítica, ele o faz apoiado nas melhores tradições disponíveis em seus
dias. Ninguém, em sã consciência pode desprezar o testemunho de Irineu quando
discute qualquer questão introdutória relativa aos Evangelhos.
Apesar de Clemente de Alexandria
— viveu entre 150 e 215 d.C., datas são aproximadas — fazer algumas citações de
outros evangelhos tais como, por exemplo: O
Evangelho de Acordo com Os Egípcios, ainda assim ele procura fazer uma
clara distinção entre esses outros evangelhos e os Quatro Evangelhos. Já
Tertuliano — viveu entre 160 e 220 d.C., datas são aproximadas — cita,
exclusivamente, os quatro Evangelhos canônicos, ao mesmo tempo em que apresenta
uma forte argumentação para a autoridade dos mesmos, com base de que os mesmos
foram produzidos por apóstolos ou por pessoas diretamente associadas a eles.
Nenhum desses escritores que mencionamos, parece ter questionado a origem
desses quatro Evangelhos como oriundos, diretamente, da era apostólica. Mas a
posição deles tem sido desafiada por críticos modernos, que não apresentam
nenhuma alternativa melhor, nem conseguem fornecer uma interpretação mais
aceitável. Os críticos de hoje se limitam apenas a atacar as testemunhas do
passado.
Antes do ano 180 d.C., a
evidência disponível é menos específica, mas mesmo assim, continua apontando
para a alta estima dedicada aos quatro Evangelhos desde o início dos primeiro
registros existentes. A Harmonia de
Taciano — viveu entre 120 e 180 a.C., datas são aproximadas — é composta de
parte dos nossos quatro evangelhos canônicos, e demonstra a perplexidade que existia
diante desse material que contava as Boas Novas acerca de Jesus Cristo. Apesar
do material de Taciano ter recebido uma ampla aceitação na igreja do Oriente, o
mesmo foi logo abandonado pelo uso de cópias dos quatro Evangelhos canônicos.
Isso é uma prova indisputável, de que esses últimos eram tidos na mais alta
estima quando comparados a quaisquer outros escritos que, nessa altura já
começavam a circular e se multiplicar. Os cristãos daqueles dias estavam mais
interessados numa “vida de Cristo” consecutiva, compilada de fontes originais,
do que nas próprias fontes originais. Numa data ainda anterior, Justino Mártir
— viveu entre 100 a 165 d.C., datas são aproximadas — aparentemente conhecia e
usou todos os quatro Evangelhos canônicos, apesar de não podermos ter absoluta
certeza disso, por causa da forma livre com que as citações são feitas. De
grande importância para nós é sua afirmação de como as memórias dos apóstolos eram usadas nos cultos a Deus. Essas
memórias são identificadas, em outros lugares como sendo εὐαγγέλια — euvangélia — Evangelhos, e fica claro pelo uso dessa
expressão que os mesmos eram considerados autoritativos, por causa da relação
direta com as lembranças dos próprios apóstolos.
Tanto Clemente Romano — viveu
entre 35 a 97 d.C., datas são aproximadas — quanto Inácio de Antioquia — viveu
entre 35 a 107 d.C., datas são aproximadas — fizeram uso do material dos quatro
evangelhos e, mesmo que tal uso tenha sido na forma de alusões e não de
citações diretas, todo o material encontra paralelos no material original dos
quatro Evangelhos canônicos. A única exceção é uma citação de Clemente que
contém um dito dominical de Jesus que não se encontra nos escritos originais.
Mas apesar de tudo isso, existe muita discussão se os chamados pais da igreja —
entre os séculos II e VII d.C., — e o material que produziram chamado de patrística
— tinham conhecimento do material contido nos quatro Evangelhos canônicos.
Todavia, alguns autores falam de uma espécie de “tradição pré-sinótica”, como por exemplo, H. Köster. Por outro
lado, a Epístola de Policarpo, contém
paralelos precisos com os quatros Evangelhos canônicos, o que nos dá plena certeza
que o mesmo estava familiarizado com os mesmos. Policarpo de Esmirna viveu
entre 69 a 155 d.C., as datas são aproximadas. Com respeito a todos esses
autores citados nesse parágrafo, os estudiosos críticos têm duvidas se os
mesmos tinham conhecimento do Evangelho de João.
Durante o período chamado de
sub-apostólico, o Testemunho de Papias de Hierápolis — viveu entre 70 e 155
d.C., datas são aproximadas — acerca de dois Evangelhos é notável, mesmo sendo
um tanto quanto enigmático. Iremos discutir todos esses aspectos de maneira
mais aprofundada, à medida que avançarmos nesses estudos. Por agora, basta
reafirmar que não existe nada em Papias que contradiga a evidência patrística
citada anteriormente nesse estudo. Papias fez duas afirmações acerca dos
Evangelhos, uma de Mateus e outra de Marcos, que são consideradas as mais
antigas citações acerca da autoria desses Evangelhos. Papias acreditava que
Marcos era o intérprete do apóstolo Pedro e que Mateus escreveu seu Evangelho,
originalmente em hebraico. Suas duas afirmações se tornaram em verdadeiros
campos de batalha para os críticos que não conseguem, realmente, provar nata
mais apenas levantar suspeitas. Para nós, que cremos na inspiração das
Escrituras a evidência é importante por causa da sua antiguidade.
CONTINUA...
OUTROS ESTUDOS ACERCA DA INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — PARTE 001 — INTRODUÇÃO GERAL AOS EVANGELHOS — ESTUDO 001
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — PARTE 002 — A FORMA LITARÁRIA DOS EVANGELHOS
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — PARTE 003 — MOTIVOS PORQUE OS EVANGELHOS FORAM ESCRITOS
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — PARTE 004 — O LUGAR OCUPADO PELOS QUATRO EVANGELHOS NO NOVO TESTAMENTO
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — PARTE 005 — A MELHOR FORMA DE ABORDAR OS QUATRO EVANGELHOS
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 006 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 001
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 007 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 002
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 008 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 003
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 009 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 004
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 010 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 005
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 011 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 006
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 012 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 007
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 013 — INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 008
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 014 — INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 009
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 015 — INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — MATEUS — PARTE 010 — AUTOR — PARTE 002
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 016 — INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — MATEUS — PARTE 011 — DATA DA COMPOSIÇÃO
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
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