Manuscritos de 1700 anos descoberto na Biblioteca do Vaticano
Essa é uma série estritamente
acadêmica, mas não existe na mesma absolutamente nada que impeça a leitura por
todas as pessoas. De fato queremos incentivar que todos possam ler esses
artigos compartilhar os mesmos com todos os seus contatos, parentes e
conhecidos.
ESTUDO 006 — ARQUÉTIPOS
E AUTÓGRAFOS — PARTE 001
INTRODUÇÃO
A análise de textos antigos é
algo muito complexo. Ficamos chocados de ver como as pessoas são tão facilmente
manipuladas por historiadores, sociólogos, antropólogos que resolvem escrever
acerca da Bíblia ou da pessoa de Jesus Cristo sem ter o mínimo conhecimento de
como o material escrito foi processado para chegarmos onde estamos no século
XXI.
OS AUTÓGRAFOS ORIGINAIS
OS AUTÓGRAFOS ORIGINAIS
Costuma-se afirmar que, quando se
realiza uma análise textual estamos procurando encontrar o “texto original”.
Mas o que queremos dizer quando usamos a expressão “texto original”? Como
exemplo, vamos pegar o cronista grego Homero, suposto autor dos épicos “A
Ilíada e a Odisséia”. Quando falamos de “texto
original”, com relação à suas duas obras, estamos nos referindo, exatamente,
aos manuscritos originais que ele, supostamente, escreveu? Ou nos referimos às
palavras originais coletadas por ele e por muitos outros para, finalmente,
compor, as duas obras? Ou podemos falar de Shakespeare, alguém mais próximo de
nós. Quando nos referimos ao seu material original, estamos falando do primeiro
rascunho que ele escreveu de alguma de suas peças, ou dos atores quando
proferiram as palavras durante a primeira encenação?
No caso de Shakespeare e de
outros dramaturgos da era de Elizabeth I, a questão é ainda bem mais complicada,
do que as escolhas que temos que fazer podem nos dar a impressão. A relação
entre o escrito original e a apresentação no palco pode ser extremamente
complexa. O processo seguido por Shakespeare era, provavelmente, o seguinte: ele
preparava um rascunho inicial, geralmente chamado de “os papeis sujos”. Esses
papéis sofreriam depois, inúmeras correções e alterações, por meio de revisões
sistemáticas aplicadas sobre os mesmos. Esse processo tornava esses “originais”
impróprios para qualquer propósito relacionado com a produção da peça em si.
Assim, alguém — talvez o próprio autor, mas talvez não — se empenhava em
produzir uma cópia decente o suficiente para ser usada na produção. Os “papéis
sujos” eram então arquivados em algum lugar, na mais completa desordem. Mas
esses papéis sujos eram, provavelmente, a última cópia produzida pelas mãos do
próprio Shakespeare. E tudo isso é ainda mais verdadeiro a respeito de
Shakespeare quando comparado com outros dramaturgos elisabetanos, porque
sabemos que seus manuscritos eram, extremamente, difíceis de serem lidos.
Somente a cópia limpa, mesmo
vinda das mãos do próprio Shakespeare, servia para ser utilizada da produção da
peça teatral. Também sabemos que Shakespeare não entendia muito bem de como as
coisas se processavam no palco, onde suas peças eram representadas. Shakespeare
também costumava usar certas formas peculiares e confusas ao soletrar palavras.
Desse modo, alguém tinha que converter a cópia limpa num livro que pudesse ser
melhor utilizado pelos atores e diretores. Isso, em adição aos acréscimos
feitos pelas direções do palco e outras coisas semelhantes, que poderiam
envolver um nivelamento da linguagem, a remoção de termos não condizentes, e
pelo menos, em alguns casos, a clarificação de erros ou coisas não muito bem
entendidas. A produção no palco nunca estava sob a direção direta do próprio
Shakespeare. Era algum produtor não relacionado à peça que comandaria o
espetáculo em si. Mas Shakespeare estava sempre disponível para esclarecer
quaisquer dúvidas, e bem poderia ser o responsável final por certas mudanças ou
correções na linguagem final utilizada.
Desse modo, muitos acreditam que
Shakespeare atuava em algumas de suas peças, de tal maneira que pudesse
experimentar, em primeira mão, o toma lá dá cá da apresentação.
E tudo isso acontecia antes da
abertura oficial da encenação da peça. Depois da criação do livro definitivo
estar pronto, mudanças ainda podiam ser feitas — e, se as mudanças fossem
cortadas, as alterações não ficariam registradas no livro definitivo.
Imagina-se que Shakespeare talvez não tivesse controle total ou absoluto sobre
essas mudanças, porque o produtor poderia exigir um corte de, digamos, 20
minutos em uma determinada parte. É possível que Shakespeare pudesse escolher
as partes que seriam cortadas, mas não temos certeza absoluta disso.
Desse modo, a questão fundamental
que queremos tratar nesse e outros artigos dessa subsérie torna-se bastante
real e crítica. Quais das versões poderá ser chamada de “original”: os chamados
“papeis sujos” que é a única cópia conhecida como tendo sido inteiramente
produzida por Shakespeare? Mas essa cópia continha erros, algo que, certamente
não era a intenção do autor. E o que podemos dizer da copia limpa, mas que
continha algumas correções feitas pelo próprio autor? Ou o livro final, que
podia conter alterações que não foram feitas pelo autor, mas que contém
materiais que ele poderia ter sugerido, isso para não falarmos das instruções
referentes à encenação no palco e a identificação correta dos atores. E ainda
podemos falar da versão final que foi utilizada pelos produtores.
E uma vez que decidimos qual
manuscrito deve ser o objeto central do nosso estudo e análise, nós ainda
teremos que repassar todo o material produzido no processo de desenvolvimento
até atingirmos o livro final. Algumas das peças escritas por Shakespeare
existem apenas na impressão chamada de “First Folio” e adições feitas a partir
dele. Acredita-se que as peças encontradas nos “fólios” sejam derivadas de
diversas fontes: desde os papéis sujos escritos pelo próprio Shakespeare até
cópias do livro final impresso, mas que foram produzidos pelos mais variados
editores.
Outras peças existem em quatro
volumes individuais, cada uma correspondendo a uma das partes das mesmas.
Alguns são “quartos” muito bons quando retirados de fontes semelhantes aos
fólios. Já outros são considerados “quartos” ruins, pois procedem das
lembranças de atores que participaram na peça. Esses são marcados pro trechos
esquecidos ou cortados pelos produtores. No entanto, ainda assim todo esse
material constitui a única fonte externa ao que encontramos nos fólios. Isso
pode ser uma indicação que os mesmos são mais antigos que o material contido nos
próprios fólios.
Muitos
outros escritos têm sofrido de complicações similares e não temos motivos para
pensar que apenas as obras de Shakespeare ou mesmo do Novo Testamento sejam as
únicas envolvidas nessas questões. O problema da recomposição é algo bastante
verdadeiro e sensível.
Esses problemas ocorrem através
de todo o campo e dos processos do que chamamos de crítica do texto. Nós sempre
devemos ter em mente o que estamos tentando reconstruir. Apesar de todos os
nossos esforços em recriar os autógrafos originais, aquilo que foi escrito
originalmente pelo próprio autor, o que estamos fazendo, de fato, é trabalhando
com um arquétipo que pode ser definido assim: o ancestral comum mais antigo de
todas as cópias sobrevivente de um determinado material.
OUTROS ARTIGOS DE COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 001 – MATERIAL DE ESCRITA ANTIGO
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 002 – MATERIAL DE ESCRITA ANTIGO — O PAPIRO
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 003 – MATERIAL DE ESCRITA ANTIGO — O PAPIRO — FINAL
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 004 – MATERIAL DE ESCRITA ANTIGO — OS PERGAMINHOS
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 005 – MATERIAL DE ESCRITA ANTIGO — PAPEL E BARRO
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 006 – ARQUÉTIPOS E AUTÓGRAFOS — PARTE 001
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 007 – ARQUÉTIPOS E AUTÓGRAFOS — PARTE 002
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 008 – ARQUÉTIPOS E AUTÓGRAFOS — PARTE 003 – FINAL
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 009 – OS ESCRIBAS E OS COPISTAS E OS MANUSCRITOS QUE ELES PRODUZIRAM — PARTE 001
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 010 – OS ESCRIBAS E OS COPISTAS E OS MANUSCRITOS QUE ELES PRODUZIRAM — PARTE 002
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 011 – OS ESCRIBAS E OS COPISTAS E OS MANUSCRITOS QUE ELES PRODUZIRAM — PARTE 003
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 012 – OS ESCRIBAS E OS COPISTAS E OS MANUSCRITOS QUE ELES PRODUZIRAM — PARTE 004
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS – PARTE 013 – OS ESCRIBAS E OS COPISTAS E OS MANUSCRITOS QUE ELES PRODUZIRAM — PARTE 005
COMO O NOVO TESTAMENTO CHEGOU ATÉ NÓS — PARTE 014 — OS ESCRIBAS E OS COPISTAS E OS MANUSCRITOS QUE ELES PRODUZIRAM — PARTE 006
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
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