O artigo abaixo foi
publicado pelo site G1 de São Paulo
Suicídio é segunda maior causa de morte de mulheres
jovens em SP
40 mulheres de 15 a
29 anos tiraram a própria vida em 2014. O artigo é de Paula Paiva Paulo e Anne
Barbosa
Transtornos mentais
como depressão são principais causas.
Paula Paiva Paulo e
Anne Barbosa
Do G1 São Paulo
O suicídio é a
segunda maior causa de morte entre mulheres de 15 a 29 anos na cidade de São
Paulo. Em 2014 foram registrados 40 casos de suicídio de mulheres jovens. Esse
tipo de morte ficou atrás apenas dos homicídios, que mataram 59 mulheres desta
faixa etária.
Os dados são do
Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade (Pro-Aim), da
Prefeitura de São Paulo, feitos com base em atestados de óbito, obtidos com
exclusividade pelo G1.
Entre os homens
jovens, o número foi mais que o dobro – 91 casos. Mas, como o número de mortos
por outras causas como homicídios e acidentes de trânsito são muito altos, o
suicídio fica só em quarto lugar entre as causas de morte.
O médico psiquiatra
do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(USP) Teng Chei Tung disse que o suicídio “está muito associado a quadros
psiquiátricos, como depressão ou uso de drogas. Nas grandes cidades, a mulher
tem mais chance de ter depressão, pois o estilo de vida urbano é sobrecarregado.
A pressão é muito grande. A mulher tem de cuidar da casa, dos filhos e
trabalhar. Isso tudo piora a condição de saúde mental.
Para o médico, as
mulheres costumam dar sinais. "É bem comum as mulheres comentarem que
estão deprimidas ou que estão pensando em desistir com pessoas próximas. Isso
pode ser um pedido de socorro.”
Mensagem
no celular e carta de despedida
O pai lembra o
horário exato. Às 16h59 do dia 6 de março de 2007, recebeu uma mensagem da
filha no celular: “Pai, reza muito por mim. Estou precisando muito das suas
preces.” No mesmo dia, a jovem de 25
anos se jogou do oitavo andar do prédio onde trabalhava.
Mas chegou uma época
que ela não aguentou mais, escreveu uma carta pra mim, pra mãe, pro namorado,
dizendo que ela tinha chegado no limite." Pai de jovem que se suicidou
O administrador, hoje
com 59 anos, prefere não se identificar. Ele contou que a filha sofria de
depressão e tinha transtorno bipolar. Ela tentou o suicídio cinco vezes,
tomando comprimidos e cortando os pulsos, por exemplo.
A jovem fazia
faculdade de Direito. Nas crises, o pai contou que ela entrava em desespero
porque “não conseguia assimilar mais o que aprendia na faculdade”. Ela fazia
tratamento com um psiquiatra. “Mas chegou uma época que ela não aguentou mais,
escreveu uma carta pra mim, pra mãe, pro namorado, dizendo que ela tinha
chegado no limite.”
A família tenta se
recuperar emocionalmente até hoje, e o pai mudou o modo de pensar sobre o
assunto. “Antes eu só pré-julgava, e quando acontece com a gente, a gente vê
que a coisa não é bem assim.”
Check–up
emocional
Há 23 anos, Carlos
Correia, 62, passa pelo menos quatro horas da sua semana atendendo pessoas com
intenção de cometer suicídio. Ele é voluntário do Centro de Valorização da Vida
(CVV). Correia disse que percebeu um aumento no número de jovens que procuram a
associação e que, no atendimento por Skype e e-mail, até pela familiaridade com
a plataforma, a demanda de jovens é muito grande.
“Se eu não perceber
como está o meu emocional, ele é como um copo de água, vou pondo mais dentro,
mais, mais, e posso ser surpreendido por uma gota d’água que vai fazer
transbordar" Carlos Correia, 62, voluntário do Centro de Valorização da
Vida (CVV)
O veterano voluntário
acredita que, com a mesma frequência que as pessoas fazem check-ups de saúde,
também deveriam ter o costume de fazer um “check-up emocional”. Ele disse que
muitos vivem como uma “panela de pressão”.
“Se eu não perceber
como está o meu emocional, ele é como um copo de água, vou pondo mais dentro,
mais, mais, e posso ser surpreendido por uma gota d’água que vai fazer
transbordar”, completa.
No final do ano, as
ligações aumentam. Segundo Correia, é nessa época que “acontecem muitas
coisas”, como vestibular, aprovação de ano nas escolas, primeiro Natal ou Ano
Novo após uma separação, demissões de empresas.
Nem sempre alguém que
liga para o CVV quer se matar. “A pessoa vive sozinha, mas precisa ouvir uma
voz humana, dar uma ligadinha para ouvir um boa noite.”
Para ajudar, as
pessoas próximas não devem minimizar o sofrimento alheio, aconselha Correia.
“Para você pode ser apenas um grão de areia, mas para quem tá sofrendo pode ser
uma montanha intransponível.”
Tabu
e prevenção
O psiquiatra José
Manoel Bertolote, da Unesp, disse que o suicídio é um tabu não só no Brasil
como em outros países. Ele trabalhou por 20 anos na Organização Mundial de
Saúde (OMS), e ajudou a montar a cartilha mundial de prevenção ao suicídio.
Segundo ele, 85% das
pessoas que cometem suicídio têm transtornos mentais que poderiam receber
tratamento. Os mais frequentes são depressão, alcoolismo e esquizofrenia.
O psiquiatra
considera que esse tipo de tratamento ainda é muito defasado no Sistema Único
de Saúde (SUS). “A saúde mental é muito precária, e esses pacientes com esses
casos não têm onde ser atendidos.” Segundo ele, uma consulta nos Centros de
Atenção Psicossociais (Caps) demora para ser marcada, e “o tempo do suicida é
agora”.
Como exemplo, o
profissional citou a Hungria, que há 10 anos tinha altas taxas de suicídio.
“Foi implantado um treinamento específico a todos os clínicos gerais do país, e
a taxa de suicídio caiu pra menos da metade.”
O artigo original
poderá ser visto por meio do seguinte link:
http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/10/suicidio-e-segunda-maior-causa-de-morte-de-mulheres-jovens-em-sp.html
Que Deus abençoe e dê
sabedoria a todos.
Alexandros Meimaridis
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