Essa série pretende
disponibilizar as informações mais importantes acerca de cada um dos 27 livros
que compõem o Novo Testamento. Desde que lançamos nossa série de Introdução ao
Antigo Testamento, muitos leitores têm nos questionando acerca de algum
material semelhante com respeito ao Novo Testamento. Então, aproveitando que
iniciamos uma série de estudos acerca dos manuscritos do Novo Testamento —
tecnicamente chamada de “baixa crítica” — estamos usando essa oportunidade para
lançar uma série que trate também do texto do Novo Testamento em si, e da
interpretação geral do mesmo — “alta crítica”.
I. O EVANGELHO DE
MATEUS
F. O Propósito, os
Destinatários e o Lugar de Origem
1. O propósito
— Quanto ao propósito do Evangelho de Mateus, nós precisamos destacar que em
nenhum lugar do Evangelho nós encontramos uma afirmação inequívoca acerca do
seu propósito. Caso o leitor já tenha ouvido que o propósito desse Evangelho é
do tipo A ou do Tipo B e etc., precisa ser lembrado que essas afirmações são
produzidas por meio da comparação de como Mateus e os outros evangelhos sinóticos
tratam temas semelhantes. Os temas que encontramos em Mateus são diversos,
complexos e, muitas vezes, contestados sem grandes dificuldades. Por esses
motivos todas as tentativas de determinar o propósito do livro estão fadadas ao
fracasso.
Isto posto, existem certas
características bem marcantes em Mateus, quando comparado como os outros dois
sinóticos, que devemos alistar para o conhecimento de todos:
1. Mateus não tem nenhuma preocupação
em explicar usos e costumes, preceitos e termos judaicos. Exemplos disso podem
ser encontrados nas seguintes passagens:
Mateus 15:2 — ver
Marcos 7:1—13
Por que transgridem os
teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam
as mãos, quando comem.
Mateus 23:5
Praticam, porém, todas
as suas obras com o fim de serem vistos dos homens; pois alargam os seus filactérios e alongam as suas franjas.
Mateus 23:24
Guias cegos, que coais o mosquito e engolis o camelo!
Mateus 23:27
Ai de vós, escribas e
fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros
caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios
de ossos de mortos e de toda imundícia!
Mateus 5:22 na Almeida
Revista e Corrigida — ARC
Eu, porém, vos digo que
qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão será réu de juízo, e
qualquer que chamar a seu irmão de raca será réu
do Sinédrio; e qualquer que lhe chamar de louco
será réu do fogo do inferno.
Mateus 27:6
E os principais
sacerdotes, tomando as moedas, disseram: Não é lícito deitá-las no cofre das
ofertas, porque é preço de sangue.
2. Mateus tem a tendência de
adotar formulações argumentativas tipicamente rabínicas em vez de adotar formas
mais diretas como encontramos no Evangelho de Marcos.
Mateus 19:3
Vieram a ele alguns
fariseus e o experimentavam, perguntando: É lícito ao
marido repudiar a sua mulher por qualquer motivo?
Marcos 10:2
E, aproximando-se
alguns fariseus, o experimentaram, perguntando-lhe: É
lícito ao marido repudiar sua mulher?
Mateus 19:9
Eu, porém, vos digo: quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de relações
sexuais ilícitas, e casar com outra comete adultério e o que casar com a
repudiada comete adultério.
Marcos 10:11
E ele lhes disse: Quem repudiar sua mulher e casar com outra comete
adultério contra aquela.
3. Mateus também apresenta uma
série de afirmações que parecem apoiar a ideia da permanência e continuidade da
Lei de Moisés.
Mateus 5:19
Aquele, pois, que
violar um destes mandamentos, posto que dos
menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus;
aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino
dos céus.
Mateus 23:3
Fazei e
guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis
nas suas obras; porque dizem e não fazem.
4. Mateus favorece as palavras de
Jesus que circunscrevem suas atividades ao povo de Israel, mas não sempre.
Mateus 10:5—6
5 A estes doze enviou
Jesus, dando-lhes as seguintes instruções: Não tomeis
rumo aos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos;
6 mas, de preferência,
procurai as ovelhas perdidas da casa de Israel;
Mateus 15:24
— esse verso está ausente na narrativa de Marcos
Mas Jesus respondeu: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.
5. Mateus prefere usar a
expressão Reino dos Céus — 30 vezes — contra Reino de Deus — apenas 4 vezes. A
expressão Reino de Deus nunca aparece nos Evangelhos de Marcos e Lucas.
6. Mateus também está carregado
de citações do Antigo Testamento quando coparado com os outros sinóticos.
Essas características de Mateus têm
levado muitos ao conceito que Mateus escreveu seu evangelho, prioritariamente,
para os judeus. Mas cremos que tal convicção se sustenta apenas se fizermos uma
enorme violência aos contextos onde os textos mencionados acima aparecem, isso
para não falar no contexto maior do próprio Evangelhos de Mateus que tem seu
ponto central na afirmação de —
Mateus 21:43
Portanto, vos digo que
o reino de Deus vos será tirado — dos judeus — e
será entregue a um povo — os gentios — que lhe
produza os respectivos frutos.
E cujo final é completamente
universalista em seu tom —
Mateus 28:19—20
19 Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em
nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
20 ensinando-os a
guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos
os dias até à consumação do século.
Muitos outros intérpretes de
Mateus preferem ver esse Evangelho como tendo o propósito específico de
apresentar uma defesa da pessoa e da obra de Jesus Cristo. Certamente s
narrativas da infância de Jesus tinham esse propósito contra as falsas
acusações da parte de judeus despeitados. O mesmo pode ser dito acerca de certos
aspectos da narrativa da ressurreição de Jesus que podem ser encontrados apenas
em Mateus. Mas esses são pequenos
aspectos dentro do quadro maior representado pelo Evangelho.
Para concluir podemos adotar dois
comedimentos sugeridos por D. A. Carson em seu comentário acerca do Evangelho
de Mateus. Ele diz:
1. Não é sábio especificar com
muita precisão um motivação e propósito , pois aumenta a probabilidade de erro
e de direção quando deixamos de lado evidências concretas para adotar
suposições.
2. Não é sábio especificar apenas
um propósito; o reducionismo não faz justiça à diversidade de temas em Mateus.[1]
CONTINUA...
OUTROS ESTUDOS ACERCA DA INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — PARTE 001 — INTRODUÇÃO GERAL AOS EVANGELHOS — ESTUDO 001
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — PARTE 002 — A FORMA LITARÁRIA DOS EVANGELHOS
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — PARTE 003 — MOTIVOS PORQUE OS EVANGELHOS FORAM ESCRITOS
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — PARTE 004 — O LUGAR OCUPADO PELOS QUATRO EVANGELHOS NO NOVO TESTAMENTO
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — PARTE 005 — A MELHOR FORMA DE ABORDAR OS QUATRO EVANGELHOS
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 006 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 001
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 007 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 002
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 008 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 003
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 009 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 004
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 010 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 005
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 011 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 006
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 012 – INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 007
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 013 — INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 008
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 014 — INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE MATEUS — PARTE 009
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 015 — INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — MATEUS — PARTE 010 — AUTOR — PARTE 002
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 016 — INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — MATEUS — PARTE 011 — DATA DA COMPOSIÇÃO
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2017/03/introducao-ao-novo-testamento-estudo_3.html
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO — ESTUDO 017 — INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS — MATEUS — PARTE 012 — IDIOMA ORIGINAL
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
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