Essa é uma série na qual pretendemos,
dentro do possível, discutir alguns dos mais insidiosos pecados que ameaçam
nossas almas. Trata-se de ações ou reações que caracterizam um coração perverso
diante de Deus, algo com o que muitos personagens bíblicos tiveram que lutar,
mas que pela graça de Deus conseguiram vencer. Nós também, como seres humanos
iguais a eles estamos sujeitos a enfrentar esses mesmos pecados e temos que entender
como essas situações funcionam, para poder lançar mão da graça de Deus e vencer
as mesmas. A NONA questão que devemos analisar é:
9. Autoadulação
Não é algo incomum para um
coração mau e descrente assumir uma exaltação por conta de algum triunfo que
muito nos agradou, por alguma coisa que achamos que é verdadeiramente
inteligente, criativa ou bem considerada e pela qual somos reconhecidos. Esses
motivos são mais do que suficientes para nos mostrar que todo tipo de orgulho
precisa ser erradicado dos nossos corações. Uma das afirmações mais claras das
Escrituras Sagradas no que diz respeito à irracionalidade do orgulho, está em —
1 Coríntios 4:7
Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu
que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o
não tiveras recebido?
Essa passagem tem profundas
implicações na vida de todas as pessoas, crentes ou não e por isso, devemos
analisar a mesma com detalhes, como faremos a seguir —
A conjunção “Pois” com a qual o versículo inicia tem
a função de unir as perguntas do verso 7 com o conteúdo de 1 Coríntios 4:6, uma
vez que Paulo está pronto a demonstrar o modo como a soberba de alguns em
Corinto estava fora de lugar. O orgulho que alguns manifestavam por causa de
pessoas revela, de fato, uma perspectiva imprópria da realidade e uma absoluta
falta de gratidão, para com aquele a quem a gratidão era devida, i. e., o
próprio apóstolo Paulo.
O orgulho que podemos perceber
aqui é, geralmente, o resultado de uma perspectiva equivocada, tanto de nós
mesmos — seja por causa de alguma realização ou por causa do status — e também
acerca da verdadeira condição do ser humano diante de Deus — como alguém que
merece algo em vez de alguém desesperado e sem chance. A queda no pecado
produziu em nós, seres humanos caídos, uma falsa perspectiva do nosso
verdadeiro valor diante das pessoas e, até mesmo, do próprio Deus. Como somos
patéticos. Além disso, essa falsa perspectiva também gera em nós uma
apreciação, nivelando por baixo, todas as outras pessoas. Em vez de oferecerem
ações de graças com verdadeira humildade pelos dons recebidos da parte de Deus
— 1 Coríntios 1:4 — nossos irmãos em Corinto entenderam os dons da graça de
Deus, como resultado de algum tipo de status que possuíam. Essa postura da parte
de alguns causava uma profunda divisão entre os irmãos. Isto posto, podemos
entender melhor a verdadeira intenção de Paulo ao fazer as três perguntas
encontradas em nosso texto central.
Pois quem é que te faz sobressair? — A intenção precisa do
apóstolo Paulo na primeira pergunta não é totalmente transparente. A
dificuldade surge por causa do significado do verbo διακρίνει— diakrínei — cujo significado é: separar,
fazer distinção, discriminar, preferir. O uso desse verbo é, provavelmente, um
jogo de palavras praticado por Paulo tendo como referência dois outros verbos a
saber: ἀνακρίνω
— anakrino — cujo significado é examinar e
κρίνω — kríno — cujo significado é julgar,
conforme os mesmos são mencionados em 1 Coríntios 4:3—5. É necessário que
saibamos essas coisas, porque um dos pecados mais perceptíveis na igreja em
Corinto era o orgulho praticado, de formas diversas, na discriminação de
pessoas. Daí a pergunta de Paulo: — Quem é que fez
você superior aos outros? — Na NTLH. A implicação clara é que não existe
base verdadeira para uma pessoa exaltar a si mesma sobre outras pessoas, uma
vez que qualquer diferença é atribuída ao próprio Deus.
No caso específico que
encontramos em Corinto, com tantas disputas, partidarismos e divisões internas
a pergunta de Paulo tem apenas um significado possível: Quem nesse mundo vê alguma coisa especial em você — conforme a
tradução do professor James Moffatt. Sobre que bases você manifesta esse tipo
de orgulho? Pelo contexto, podemos perceber que a atitude de alguns coríntios
com relação ao apóstolo Paulo estava baseada em uma pretensa sabedoria, algo
que eles entendiam como capacitando-os para julgar o apóstolo dos gentios. Tal
pretensão era apenas autocongratulatória. Em português bem simples, é como se
Paulo estivesse perguntado a essa pessoas o seguinte: Quem vocês pensam que são afinal? Que tipo de autoilusão é essa que permite que vocês julguem o servo
alheio?
Se a primeira pergunta de Paulo
caracteriza a vaidade pretensiosa e arrogante dos coríntios, a segunda revela a
falta de gratidão da parte dessas mesmas pessoas e é devastadora para todos
eles:
E que tens tu que não tenhas recebido? — A pergunta de Paulo é, na
realidade, um convite para que esses coríntios experimentassem um raro momento
de completa honestidade, que é algo que acontece quando qualquer um de nós
encontra-se na presença do Deus ETERNO e podemos reconhecer que tudo —
absolutamente tudo — que temos e somos é um dom
ou presente, que recebemos de Deus. A pergunta de Paulo está alinhada com outra
série de perguntas, igualmente devastadoras, que encontramos em Isaías 40:13—14 onde Deus questiona os sabichões humanos —
Isaías 40:13—14
13 Quem guiou o Espírito do SENHOR? Ou, como seu
conselheiro, o ensinou?
14 Com quem tomou ele conselho, para que lhe desse
compreensão? Quem o instruiu na vereda do juízo, e lhe ensinou sabedoria, e lhe
mostrou o caminho de entendimento?
Tudo o que temos e tudo o que
somos é fruto da graça de Deus em nossas vidas. Nada está baseado em algum tipo
de mérito ou conquista pessoal. Todos os que entendem e experimentam a graça de
Deus dessa forma, vivem numa permanente posição de gratidão a Deus. Por outro
lado, todos os que adotam a mesma atitude arrogante daqueles coríntios,
costumam pensar que são capacitados por Deus, duma forma tão especial com o
Espírito Santo e com sabedoria, que lhes permite julgar outros irmãos e irmãs,
algo que reflete uma compreensão completamente errada da graça de Deus. Essas
pessoas também não conseguem enxergar a humildade
do próprio Deus manifestada na crucificação do Senhor Jesus Cristo. No caso
específico dos coríntios, caso eles ainda não sejam capazes de enxergar seu
próprio orgulho e arrogância, Paulo faz uma terceira pergunta:
E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se
o não tiveras recebido?
— Paulo procura enfatizar o fato que aquelas pessoas em Corinto e, por
extensão, todos nós também, estavam numa posição onde tudo o que eram e tudo o
que tinham havia sido entregue para eles pelo próprio Deus, graciosamente.
Sendo assim, a atitude orgulhosa da parte deles transformava-se numa evidência
clara que eles não tinham compreendido o evangelho da graça. Em vez de
reconhecerem todas as coisas como presentes de Deus e terem uma postura de
gratidão, eles haviam se tornado em verdadeiros donos dos dons — enxergavam os
mesmos como se lhes pertencessem por direito — e desprezavam a Paulo, que lhes
parecia ter tão pouco, quando comparado a eles. A verdadeira graça nos conduz
para a gratidão, mas a falsa sabedoria e a autossuficiência nos conduzem para o
orgulho e desenvolvem em nós uma atitude de juízes com relação aos irmãos e
irmãs.
A graça nos ajuda a enxergar
nossa verdadeira condição em pé de igualdade uns com os outros. A verdadeira
graça produz a humildade em nós. Por outro lado, a autoadulação tem o efeito de
nos conduzir para a autoexaltação. E esse é o motivo porque Paulo lança mão de
um tom irônico em suas perguntas, para ajudar aquelas pessoas a enxergar o
profundo nível de sua tolice ao se compararem com outros e pensarem que estavam
saindo por cima.
Outra referência que trata de
forma direta desse pecado da autoadulação é a seguinte: Deuteronômio 8:11—18. Nesse texto nos podemos notar as seguintes
verdades, à medida que lemos o mesmo —
Verso
11 — Israel
esta irremediavelmente obrigado a obedecer ao Deus ETERNO — SENHOR — diante da
luz da sua enorme e graciosa bondade para com aquele povo. Diante dessa
obrigação o texto menciona os seguintes itens aos quais Israel devia obediência
—
מִצְוֹתָיו — mitzevotaym — mandamentos e, nesse caso, uma referência
especial aos mandamentos de Deus.
מִשְׁפָּטָיו — misheppataym — julgamento, justiça,
ordenação.
חֻקֹּתָיו — chuqqotaym — estatutos,
ordenanças, limites, leis, algo prescrito.
Versos
12—17 — Esses
versos, juntos com o verso 11, constituem uma única e a mais longa frase
encontrada na Bíblia Hebraica. Os tradutores da nossa versão Revista e
Atualizada no Brasil mantiveram a frase corrida, começando no verso 11 até o
16, quebrando, todavia, a sequência no verso 17 para facilitar tanto a leitura
quanto a compreensão de todo o texto.
Versos
12—13 — Esses
versos nos lembram de algo tão comum entre pessoas da espécie humana: sempre
que os seres humanos têm abundância de comida e a posse de muitos bens, eles
também revelam uma tendência de esquecer o abismo de onde foram tirados e do
caminho pelo qual seguiram, até alcançar a prosperidade. Para Israel não
haveria nenhuma prosperidade se o SENHOR não os tivesse tirado da escravidão no
Egito e não tivesse cuidado deles nas peregrinações pelos desertos da península
do Sinai — Versos 14—16. Sempre
existe o perigo que os corações humanos se elevem pelo orgulho — Verso 14 — e, esquecidos das realidades
da vida digam: A minha força
e o poder do meu braço me adquiriram estas riquezas — Verso 17. Ver também as seguintes passagens: Salmos 127; Provérbios 30:7—9 e Oséias 13:6. Esse tipo de afirmação,
contida no Verso 17 não passa, em
última instância, de uma elevação arrogante do EU humano, desejando ser como
Deus. Quanta torpeza.
Verso
18 — Israel é
por fim lembrado que o SENHOR e, apenas Ele, é capaz de suprir a força
necessária para adquirir toda e qualquer riqueza. O povo de Israel não devia
esquecer jamais que a prosperidade era o cumprimento da Aliança que Deus havia
feito com eles no monte Sinai e das promessas feitas aos patriarcas. Essa lição
aos Israelitas tem, também, amplas implicações para toda a humanidade. Riqueza
e propriedade jamais poder ser consideradas como direitos naturais. Elas são
sempre dádivas de Deus. Uma vez que a vasta maioria dos habitantes da Terra não
possuem riquezas, aqueles que as possuem precisam cuidar para que o orgulho que
sentem por suas próprias riquezas não os domine, causando desse modo sua ruína
na eternidade.
Diante do que acabamos de ver,
somente Deus, que é a causa de Sua própria existência, tem o direito de receber
toda a glória e tudo mais conforme —
Apocalipse 7:12
Dizendo: Amém! O louvor, e a glória, e a
sabedoria, e as ações de graças, e a honra, e o poder, e a força sejam ao nosso
Deus, pelos séculos dos séculos. Amém!
Outro texto que queremos
destacar é o seguinte —
1 Coríntios 1:27—31
25 Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os
homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.
26 Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto
que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem
muitos de nobre nascimento;
27 pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas
do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para
envergonhar as fortes;
28 e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e
as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são;
29 a fim de que ninguém se vanglorie na presença
de Deus.
30 Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se
nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção,
31 para que, como está escrito: Aquele que se
gloria, glorie-se no Senhor — Jeremias 9:24.
Na continuação desse estudo
iremos ver como a graça de Deus pode nos ajudar a vencer o terrível pecado da
autoadulação, vanglória, orgulho, vaidade, exaltação, pretensão e etc.
CONTINUA...
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Estudo 010 — DESEJOS INDULGENTES OU PECAMINOSOS
Que Deus nos abençoe a
todos.
Alexandros Meimaridis
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