sábado, 6 de agosto de 2016

A TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR JESUS - UMA EXEGESE DE MARCOS 9:1—8



MARCOS 9:1—8

1  Dizia-lhes ainda: Em verdade vos afirmo que, dos que aqui se encontram, alguns há que, de maneira nenhuma, passarão pela morte até que vejam ter chegado com poder o reino de Deus.

2  Seis dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro, Tiago e João e levou-os sós, à parte, a um alto monte. Foi transfigurado diante deles;

3  as suas vestes tornaram-se resplandecentes e sobremodo brancas, como nenhum lavandeiro na terra as poderia alvejar.

4  Apareceu-lhes Elias com Moisés, e estavam falando com Jesus.

5  Então, Pedro, tomando a palavra, disse: Mestre, bom é estarmos aqui e que façamos três tendas: uma será tua, outra, para Moisés, e outra, para Elias.

6  Pois não sabia o que dizer, por estarem eles aterrados.

7  A seguir, veio uma nuvem que os envolveu; e dela uma voz dizia: Este é o meu Filho amado; a ele ouvi.

8  E, de relance, olhando ao redor, a ninguém mais viram com eles, senão Jesus.

Introdução

A. O versículo de Marcos 9:1 inicia com estas palavras: Dizia-lhes ainda. Tais palavras indicam que o material que vem a seguir é considerado pelo próprio Jesus como parte duma afirmação solene dentro dum discurso mais amplo, do qual apenas os pontos mais importantes foram preservados.

B. O conteúdo de Marcos 9:1 executa uma função importante na passagem que se inicia em Marcos 8:34 e termina, exatamente, aqui.

C. A passagem de Marcos 8:34—38 pode ser resumida da seguinte maneira:

1. O chamado para uma vida de consagração consciente e responsável diante de Deus — verso 34 — é imediatamente seguido pelo contraste apresentado entre o indivíduo que preserva sua vida à custa de negar o Senhor Jesus, e aquela outra pessoa que perde sua vida — por meio duma morte violenta, inclusive — por sua firmeza em confessar tanto a Jesus como o verdadeiro Evangelho da graça de Deus — verso 35.

2. Os próximos três versículos — Marcos 8:36—38 — explicam as consequências de negar a Cristo e o Evangelho. Negar a Cristo e o Evangelho equivale a perder a própria vida. Todavia, tal explicação, vem apenas por meio de implicações indiretas.

3. Jesus não espera nada menos que um compromisso absoluto da parte dos seus seguidores, diante das exigências que Ele faz. Isso fica bem claro em Marcos 9:1.

4. Por outro lado, a fantástica profecia anunciada por Cristo em Marcos 9:1 serve de conforto para aqueles que atendem ao chamado de Cristo, e que se importam com o custo de seguir o Mestre. Os que pretendem seguir a Jesus, fielmente, devem estar prontos para serem perseguidos e até mortos, por causa de sua lealdade.

2 Timóteo 3:12

Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos.

5. Mas, tal situação será algo passageiro e alguns dentre eles terão a oportunidade de ver o Reino de Deus se manifestar em glória e poder.

C. Quando Cristo diz: Em verdade vos afirmo, Ele garante a veracidade de suas palavras. A promessa que será feita em seguida está profundamente arraigada na mais absoluta certeza.

D. No Evangelho de Marcos existe uma notável proximidade entre a Pessoa e Obra do Senhor Jesus e o Reino de Deus. O Reino de Deus foi aproximado dos seres humanos pela manifestação de Jesus, Sua autoridade e poder em confrontar os poderes que são hostis a Deus. Tudo isso marca a presença real, ainda que profética, do Reino de Deus entre nós.

E. Assim temos que o reino de Deus vindo em poder é equivalente à vida do Filho do Homem vindo em glória.

F. Tudo isso aponta para resolver, definitivamente a ambiguidade representada pelo sofrimento e humilhação pelos quais o Filho de Deus precisa passar e o desprezo e a perseguição que o povo de Deus precisa experimentar. Tal ambiguidade será resolvida quando o Reino de Deus se manifestar com poder e o Filho do Homem se manifestar em glória.

G. O caráter humilde da manifestação terrena do Senhor Jesus é contrastado com sua manifestação gloriosa — Marcos 8:38 e Marcos 9:1. E aqueles que agora compartilham das humilhações do Senhor Jesus, certamente, compartilharão da sua glória.

H. Analisemos então, essa maravilhosa promessa de Jesus e sua fulgurante transfiguração...
A TRANSFIGURAÇÃO DE JESUS E SEU SIGNIFICADO PERENE

I. A FANTÁSTICA PROFECIA FEITA POR JESUS EM MARCOS 9:1

A. Em Marcos 9:1 Jesus afirma que alguns dentre os discípulos que estavam com Jesus, naquele momento, jamais passariam pela morte, sem que antes tivessem a oportunidade de experimentar a presença do Reino de Deus em todo seu poder.

B. Essa promessa profética de Jesus tem sido motivo de muita discussão e de muitas falsas e pesadas acusações contra a veracidade de Jesus e da própria Bíblia. Mas tudo isso acontece por um simples motivo: as pessoas não prestam atenção naquilo que estão lendo, e assim, é fácil pular para as conclusões mais estapafúrdias possíveis.

C. A promessa profética feita por Jesus tem seu cumprimento, poucos dias depois, no texto a seguir — Marcos 9:2—8 — na transfiguração de Jesus. Que o caso é, exatamente esse, é confirmado pelas palavras do apóstolo Pedro em:

2 Pedro 1:16—18

16 Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade,

17 pois ele recebeu, da parte de Deus Pai, honra e glória, quando pela Glória Excelsa lhe foi enviada a seguinte voz: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.

18 Ora, esta voz, vinda do céu, nós a ouvimos quando estávamos com ele no monte santo.

D. Devemos notar o claro paralelo que existe ente os termos foi transfigurado — μετεμορφώθη metemorfóthe — em Marcos e vindaπαρουσίανparousían — em 2 Pedro 1:16.

E. A transfiguração de Cristo, apesar de ser algo momentâneo, apontava para algo definitivo: isto é, sua vinda com poder e grande glória[1]. E essa verdade deve servir de consolo para os crentes de todas as épocas. Sim, a vinda do Senhor Jesus é algo absolutamente certo. A vinda do Senhor Jesus também serve de advertência para todos aqueles que amam mais suas vidas e não desejam sacrificá-las por amor a Cristo. Em Sua vinda Jesus irá trazer consolo para os seus e será juiz de todos os que não são seus.

II. A Transfiguração: A Glória Manifesta do Filho de Deus — Marcos 9:2—8
Introdução

A. No Evangelho de Marcos, a transfiguração representa uma manifestação dramática da glória resplandecente que pertence, exclusivamente, a Jesus como o Filho Unigênito de Deus.

B. A transfiguração de Jesus aponta para o grande dia quando o Senhor se manifestará como o Juiz escatológico que virá julgar todos os vivos e os mortos. Aponta também para os seguidores de Jesus, o seguinte: Aquele a quem eles seguem em meio a muitas humilhações e sofrimento é, de fato, o Filho do Homem, que está destinado a voltar na glória de seu Pai com os santos anjos.

C. A gloriosa transfiguração de Jesus serve como confirmação para as Palavras de Pedro, proferidas dias antes, quando disse —

Marcos 8:29

Então, lhes perguntou: Mas vós, quem dizeis que eu sou? Respondendo, Pedro lhe disse: Tu é o Cristo.

E também como confirmação para as Palavras do próprio Jesus quando falou acerca de seus sofrimentos e sua vindicação em:

Marcos 8:31

Então, começou ele a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do Homem sofresse muitas coisas, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas, fosse morto e que, depois de três dias, ressuscitasse.

D. Mas, acima de tudo, a cena da transfiguração, como iremos demonstrar, se identifica mais com as teofanias — manifestações do próprio Deus — realizadas no monte Sinai ou Horebe, envolvendo Moisés e Elias, que, não por acaso, também estão presentes na transfiguração.

III. A Transfiguração Propriamente Dita — Marcos 9:2—3

A. A menção de seis dias depois é incomum e deve ser notada como tendo a intenção de chamar nossa atenção para um evento muito especial, como a Transfiguração não poderia deixar de ser. Os seis dias, provavelmente fazem referência a todos os ensinamentos descritos anteriormente, começando com a grande confissão de Pedro.

B. A transfiguração de Jesus diante de três de seus discípulos — Pedro, Tiago e João — é uma teofania que manifesta a vinda do Reino de Deus em poder. Os seis dias e a luminosidade mencionada, certamente, faz referência a algo semelhante acontecido no monte Sinai conforme —

Êxodo 24:16—17

16 E a glória do SENHOR pousou sobre o monte Sinai, e a nuvem o cobriu por seis dias; ao sétimo dia, do meio da nuvem chamou o SENHOR a Moisés.

17 O aspecto da glória do SENHOR era como um fogo consumidor no cimo do monte, aos olhos dos filhos de Israel.

C. A escolha de Pedro, Tiago e João como testemunhas da transfiguração reflete a relação especial que mantinham com o Senhor Jesus, conforme outras passagens do próprio Evangelho de Marcos parecem indicar: 5:37; 13:3; 14:33.

D. A expressão um alto monte nos remete às teofanias no Sinai ou Horebe, conforme Êxodo 24 e 1 Reis 19. Foi naquele monte, em ocasiões diferentes que Moisés e Elias receberam revelações vinda diretamente de Deus.

E. Dante dos olhos dos discípulos a aparência de Jesus foi alterada de forma perceptível, de modo que refletia o mundo transfigurado. Por um breve instante o véu da humanidade foi removido e Jesus pode ser visto como o verdadeiro ser de pura luz que é. Tal luminosidade é uma manifestação da glória que é pertinente ao próprio Deus, com exclusividade. Foi acerca dessa visão que João disse o seguinte:

João 1:14

E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai.

F. A Glória manifestada por Jesus representava uma antecipação da glória futura da eternidade. Naquele instante os discípulos tiveram um vislumbre do grande mistério representado pela vinda do Senhor. A vinda do Senhor Jesus será superior a todo e qualquer tipo de revelação anterior, superior, até mesmo, a grandiosa manifestação de Deus no monte Sinai.

IV. A Presença de Moisés e Elias — Marcos 9:4

A. A presença de Moisés e Elias é bastante apropriada. Os dois tiveram experiências marcantes com Deus no Sinai ou Horebe. E agora estão aqui para testemunhar a favor do caráter e da missão de Jesus.

B. Moisés foi figura fundamental no Êxodo e Jesus é o representante, por excelência do segundo Êxodo, da libertação do povo de Deus da escravidão ao pecado e ao diabo.

João 8:36

Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.

C. Elias ficou conhecido como o restaurador que conduziu o povo de Israel de volta para Deus e Jesus é o restaurador por excelência. Ele irá conduzir o povo de Deus nos caminhos do próprio Deus, pois Ele mesmo, Jesus, é o caminho que conduz ao Pai.

D. Desse modo, a presença de Moisés e Elias se reveste dum significado especialmente escatológico, já que Cristo é aquele que cumpre todas as promessas feitas no Antigo Testamento, conforme afirma o apóstolo Paulo em —

2 Coríntios 1:20

Porque quantas são as promessas de Deus, tantas têm nele o sim; porquanto também por ele é o amém para glória de Deus, por nosso intermédio.

V. A Impulsividade de Pedro — Marcos 9:5—6

A. O texto é bem claro. Toda aquela revelação em andamento, não era motivo de júbilo irracional da parte dos discípulos, mas de verdadeiro pavor. O texto de Marcos diz, literalmente, que eles estavam aterrados. Ou seja, eles estavam diante de algo que lhes provocava verdadeiro terror. Isso certamente se devia ao fato deles reconhecerem que a manifestação em glória do Messias e do Reino de Deus em poder, representava a chegada do justo juízo de Deus.

B. Os apóstolos não sabiam o que dizer. Todavia, Pedro foi capaz de reconhecer a presença de Elias e de Moisés e então, como era mesmo do seu feitio, se atreveu a fazer uma surpreendente proposta.

C. Apesar de estar com muito medo, Pedro ainda assim, entendia o valor daquela situação, pelo ângulo da consolação. Ele entendia que estava desfrutando na terra, de preciosos momentos da eternidade. Daí, sua intenção de tentar prolongar, o quanto possível, aqueles instantes.

D. As palavras de Pedro, todavia, refletem sua falha em entender que a transfiguração era apenas uma mera antecipação da glória futura e que essa glória futura estava reservada para todo o povo de Deus e não para algumas pessoas apenas.

E. Além do mais, a concretização da manifestação da glória futura, de forma absoluta, só seria possível por meio da consumação da obra salvadora e sacrificial de Cristo a favor do povo de Deus. A travessia custosa do deserto ainda não tinha terminado, mesmo com a gloriosa transfiguração do Senhor Jesus.

VI. A Nuvem de Glória e Voz Vinda do Céu — Marcos 9:7

A. A Nuvem mencionada nesse verso cumpre os dois seguintes propósitos:

1. Ela revela a glória de Deus de forma que possa ser percebida pelos olhos humanos.

2. Ela oculta a verdadeira manifestação da glória de Deus, de modo que os seres humanos não sejam destruídos.

B. A voz ouvida no meio da nuvem que os envolvia é a voz do próprio Deus que vem, mais uma vez, reafirmar Sua plena aprovação das ações de Seu Filho Unigênito, confirmando com isso, a dignidade transcendente do Filho, apesar dele ter assumido a forma de servo, conforme predito em Isaías 53 e confirmado depois pelo apóstolo Paulo em Filipenses 2:5–11.

C. Jesus é a única pessoa que desfruta da permanente e inquebrantável presença e aprovação de Deus, o Pai.

D. Por causa de Sua condição especial como Filho Unigênito do Pai e da comunhão e aprovação desfrutada por Jesus, os discípulos são exortados, pelo Pai, a ouvirem e obedecerem ao que Jesus falar.

E. Jesus é a própria Palavra de Deus — Ele é o Verbo de Deus — e, por isso, Sua revelação deve ser ouvida com toda atenção e empenho e colocada em prática.

F. O próprio Moisés profetizou acerca de Jesus dizendo:

Deuteronômio 18:15—18

15 O SENHOR, teu Deus, te suscitará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim; a ele ouvirás,

16 segundo tudo o que pediste ao SENHOR, teu Deus, em Horebe, quando reunido o povo: Não ouvirei mais a voz do SENHOR, meu Deus, nem mais verei este grande fogo, para que não morra.

17 Então, o SENHOR me disse: Falaram bem aquilo que disseram.

18 Suscitar-lhes-ei um profeta do meio de seus irmãos, semelhante a ti, em cuja boca porei as minhas palavras, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar.

G. Jesus foi, nesse sentido, o derradeiro profeta enviado pelo Deus ETERNO.

VII. A Única Resposta Apropriada Diante de Toda Essa Revelação — Marcos 9:8

A. Do mesmo modo súbito como havia aparecido, assim também, de modo repentino, a nuvem, a voz, Moisés, Elias e todo o resplendor desapareceram e os discípulos se viram diante apenas da pessoa de Jesus, como o novo portador da grande revelação a ser manifestada por meio da cruz e da ressurreição.

B. Moisés e Elias eram exemplos dignos do Antigo Testamento, mas agora não tinham nada que eles pudessem fazer para ajudar a Jesus a terminar a travessia pelo deserto dessa vida. A obediência da cruz era uma responsabilidade que o Filho de Deus precisava cumprir sozinho, sem o auxílio de quem quer que fosse.

C. A transfiguração, todavia, trouxe uma revelação adicional: Jesus é o verdadeiro tabernáculo onde habita a glória divina. A revelação trazida por Jesus é superior a todas as outras manifestações anteriores.

D. Essas foram as verdades que confrontaram os discípulos quando se depararam, novamente, sozinhos com Jesus.

E. E essas mesmas verdades devem nos consolar e nos sustentar pelos próximos anos, enquanto comunidade local e Igreja do Senhor Jesus.

Que Deus abençoe a todos.

Alexandros Meimaridis

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Desde já agradecemos a todos.




[1] Ridderbos, H. N. The Coming of The Kingdom. The Presbyterian and Reformed Publishing Company, Philadelphia, 1976.

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