O artigo abaixo foi publicado
pelo site da Editora FIEL e é de autoria de Dave Harvey
A
importância do perdão para o ministério pastoral
Dave Harvey
Quando um cara é selecionado na
Liga Nacional de Futebol Americano dos EUA, ele está agudamente ciente que o
futuro dele inclui algumas dores sérias. Ele sabe que os treinamentos de verão
serão quentes e que os técnicos irão triturá-lo. Ele sabe que os jogadores oponentes
estão pedindo por uma oportunidade de atingi-lo com força violenta. Ele sabe
que os seus ligamentos serão distendidos e suas juntas sentirão dor. E como se
isso não fosse suficiente, ele está ciente que seus maiores erros serão
reprisados pela televisão, enquanto milhões de espectadores riem de seu
desempenho inadequado em campo.
Sem qualquer dúvida: se um cara
quer ser bem-sucedido no futebol americano, precisa estar pronto para os riscos
do ofício.
Um homem que busca o ministério
pastoral precisa também estar agudamente ciente dos riscos do ofício que o
esperam. Pense nisso dessa forma: a igreja é um ajuntamento de
pecadores sendo liderados por pecadores. E em qualquer lugar onde os
pecadores se reúnam, o pecado acontece. Algumas vezes, em negrito e com letras
garrafais! O Novo Testamento certamente confirma isso. Quando os coríntios não
estavam justificando a imoralidade sexual (1Coríntios 5.1), estavam levando uns
aos outros aos tribunais (1Coríntios 6.1). Os gálatas estavam se desviando do
evangelho com Pedro, o mesmo discípulo que testemunhou tanto a transfiguração
quanto a ressurreição, liderando a hipocrisia (Gálatas 2.12-14).
Eu acho que foi Charles Colson
que disse que a igreja local é como a arca de Noé: o cheiro seria insuportável,
se não fosse a tempestade do lado de fora.
Eis o meu ponto: se você está
esperando entrar no ministério pastoral, você precisa estar pronto para lidar
com o pecado – o seu, o meu, o nosso, o de todo mundo! Como um líder, haverá
tempos nos quais você vai se achar num papel familiar, de alguém pecar contra
você. Haverá julgamentos, raiva, fofoca, deslealdade, e-mails cruéis,
comentários sem carinho, piadas cínicas e comentários sobre a sua família que
são como facadas. Algumas vezes, pode ser bem feio.
Como um pastor responde ao fato
de pecarem contra ele determina a direção do seu ministério. Eu acho que é
porque a maneira pela qual o pastor age quando pecam contra ele revela a
compreensão que ele tem do evangelho. É por isso que um homem chamado para
pregar é um homem chamado para entender algumas coisas sobre perdão.
Vamos começar com a coisa mais
importante.
UM HOMEM CHAMADO É UM HOMEM MUITO PERDOADO
Em Mateus 18.21,
vemos Pedro colocando a seguinte pergunta diante de Jesus: “Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe?
Até sete vezes?”.
É difícil saber exatamente o que
incitou a pergunta de Pedro. Um amigo o provocara, e agora ele estaria se
perguntando quantas vezes ele teria que perdoar antes que pudesse atingi-lo na
cabeça? Talvez esteja sendo oferecido a nós um pequeno insight da visão própria
de Pedro sobre perdão (“sete vezes, tudo bem. Mas ai do tolo que falhar comigo
oito vezes!”). Qualquer que seja a razão para a pergunta, Jesus acaba com todo
o paradigma de Pedro quando responde dizendo: “Não te digo que até
sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mateus 18.22).
Então, o tsunami mental vem.
Jesus sistematicamente destrói todo o conceito de perdão de Pedro com uma
parábola incrível sobre o cancelamento de uma dívida. Deixe-me resumir. Na cena
um da parábola, um rei perdoa uma dívida absurda de 10 mil talentos. Para
entender o escopo verdadeiro desse cancelamento, você precisa entender que
apenas um talento era aproximadamente 20 anos de salário. Um talento era a
medida de mais alto valor. E Jesus não pegou o número 10 mil aleatoriamente.
Esse número era o numeral grego mais alto. Em outras palavras, a dívida que foi
perdoada era ininteligível, astronomicamente alta. Jesus está tentando ilustrar
o perdão num nível quase incompreensível.
Jesus então se dirige à cena
dois, na qual o devedor recentemente perdoado encontra um homem que deve a ele
uma quantia pequena de dinheiro. O primeiro devedor ficou incontroladamente
zangado para com o segundo devedor, dando a ele um aperto de pescoço bem forte
e exigindo que fosse paga a dívida. O segundo devedor não podia pagar de volta
essa dívida pequena, e o primeiro devedor o atirou na prisão.
Quando o rei fica sabendo das
ações mesquinhas do homem que ele recentemente perdoou, ele o chama para que as
explicasse, e aí o atira na prisão.
Caso o leitor tenha interesse em conhecer melhor essa parábola,
sugerimos a leitura do nosso material, por meio desse link aqui:
Para assegurar que Pedro, que
sempre era meio lento para entender as coisas, não se perdesse na argumentação,
Jesus resume o ponto da parábola dizendo: “Assim também meu Pai celeste vos
fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão” (Mateus 18.35).
O que essa passagem longa tem a
ver com o ministério pastoral? Apenas isso: os pastores são os primeiros (e
mais importantes) pecadores perdoados, e pecadores perdoados perdoam muito.
Se você entrar no ministério
pastoral, as pessoas inevitavelmente pecarão contra você. Na verdade, como um
líder, as pessoas vão pecar contra você de forma única, porque você traçará a
direção e falará a verdade, e as pessoas reagirão e responderão numa variedade
de maneiras. Algumas vezes, você vai ser o para-raios do pecado e do
criticismo. Você deve viver ciente de tudo que foi perdoado em você para que
haja rapidez para perdoar quando pecarem contra você. Pecadores perdoados
perdoam o pecado.
Para o perdão ser real, não pode
se limitar a você. Para que o perdão frutifique no seu ministério, você precisa
passá-lo às outras pessoas. A coisa engraçada sobre o perdão é que ele vem com
uma redundância divina anexa. Você é chamado para reproduzir a outros o perdão
que você recebeu.
Isso levanta uma pergunta
importante. Enquanto considera o chamado para o ministério, você está preparado
para abraçar o chamado para pecarem contra você e perdoar? E quanto a
exatamente agora – há algum pacote cheio de falta de perdão em sua vida? Há
pessoas em seu passado contra as quais você guarda algum rancor sério? Se sim,
agora é a hora de lidar com isso. A falta de perdão, como gangrena, tem uma
maneira de apodrecer em nossas almas. Como calúnia para a alma, fala-nos e
murmura para nós, lembrando-nos de injustiças cometidas e rancores não
resolvidos. Se você não lidar com a falta de perdão, isso irá dificultar
seriamente sua eficácia no ministério.
Mas eu não vou simplesmente dizer
a você para “superar isso”, como se o perdão fosse como uma ferida menor que
você pode ignorar. Entretanto, há coisas para serem feitas. Por exemplo, eu
quero encorajar você a meditar em Efésios 4.32, que diz: “Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos
uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou”. O caminho
em direção ao perdão está em considerar a grande dívida da qual Deus perdoou
você. Deus nos perdoou, cada um de nós, de uma dívida incrível, impressionante
e incompreensível. Nós fomos muito perdoados, mas estamos dispostos a amar
muito (Lucas 7.47)? Você está disposto a passar esse perdão a outros?
Se você está prosseguindo no
ministério pastoral, você precisa encarar essa realidade fundamental: pecadores
perdoados perdoam o pecado. Sua eficácia como um pastor irá requerer de você
acreditar nisso e aplicar isso para que outros possam experimentar e desfrutar
disso.
Tradução: João Pedro Cavani
Revisão: Yago Martins
Dave Harvey
Dave Harvey é pastor na Convenant
Fellowship Church, Pennsylvania (EUA), que faz parte da família de igrejas do
ministério Sovereign Grace.
O artigo original poderá ser
visto por meio desse link aqui:
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
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