Esse artigo é parte da série "Parábolas de Jesus" e é muito
recomendável que o leitor procure conhecer todos os aspectos das verdades
contidas nessa série, com aplicações para os nossos dias. No final do artigo
você encontrará links para os outros artigos dessa série.
A
Parábola da Ovelha perdida
A EXPLICAÇÃO DA PARÁBOLA
4. As características da parábola
representam realidades teológicas? O pastor deve ser identificado com Deus, com
Jesus, com os discípulos ou com qualquer pessoa que esteja buscando o reino de
Deus? E, acima de tudo, existem implicações cristológicas nessa parábola?
Na parte anterior nós tivemos a
oportunidade de destacar que os Pais da Igreja enxergavam a encarnação do Filho
de Deus na narrativa dessa parábola. Além disso, vimos que o professor K.
Bailey, em seu comentário nas Parábolas de Jesus em Lucas, visualizou a
expiação no empenho demonstrado pelo pastor[1].
Outros autores, como J. Bengel chegaram à conclusão que o retorno do pastor
para sua casa, na narrativa, corresponde ao retorno de Jesus para o lar
celestial[2].
Para nós esse tipo de interpretação alegórica está fora dos limites que nos
impomos, mas entendemos que, quando estamos lidando com parábolas,
especialmente com essa parábola, as mesmas ensinam teologia sim. Se não for
assim, elas seriam inúteis para qualquer propósito, salvo o mero entretenimento
dos ouvintes.
Isso nos leva para a pergunta
número um quando abordamos uma parábola, qualquer parábola: quanto da parábola
possui importância teológica? A chave para isso é determinar de que maneira a
analogia funciona dentro da parábola. Precisamos também tomar muito cuidado com
a linguagem utilizada pelo autor: primeiro Jesus, depois Lucas. A parábola da
ovelha perdida não afirma que Deus é um pastor, do mesmo modo que as duas
parábolas seguintes não afirmam que Deus é uma mulher ou um pai. Essas três
parábolas são analogias implícitas. As ações e as atitudes descritas — e não as
pessoas envolvidas — refletem as ações e as atitudes do próprio Deus e do
Senhor Jesus. A parábola da ovelha perdida é uma analogia que leva em conta o argumento
que diz: se as coisas são assim, então quanto
mais elas serão se... O pastor não é Deus, nem Jesus nem qualquer outra
pessoa. E a ovelha não é representativa duma pessoa ou de um grupo de pessoas.
Todas essas figuras encontram-se na história e devem permanecer, estritamente,
dentro da história. Por outro lado, é mais certo ainda que as montanhas, o
deserto e os vizinhos não representam nada mesmo. Mas ao mesmo tempo, as
imagens selecionadas para compor as narrativas não são escolhidas ao acaso.
Elas são escolhidas para provocarem certas reações, pois ao mencionarem o pastor
e as ovelhas auxiliam as pessoas com imagens do Deus do Antigo Testamento, da
liderança do Povo de Israel no passado e da esperança prometida ao povo de Deus
— ver parte anterior.
Não existe absolutamente nada na
parábola que nos possa fazer acreditar que a mesma descreve uma pessoa que está
buscando o reino de Deus, conforme alega o pessoal do chamado Seminário de
Jesus, na pessoa de seu mentor John Dominic Crossan. A opinião de Crossan é a
grande responsável pelo surgimento da grande onda de pessoas correndo atrás da salvação — chamados de seeker ou buscadores — como defendida
pelos papas do evangelismo de passado recente, como Rick Warren e Carlos
Castellanos. Como acontece com todos os que não sabem nadar, eles acabaram se
afogando na própria onda que tentaram surfar. Mas ganharam muito dinheiro com
isso.
Dessa forma podemos afirmar que a
lógica da parábola, mais coerente com a narrativa é: Como deve ser do
entendimento geral, em condições normais, um pastor sempre irá em busca duma
ovelha perdida, e irá se alegrar muito quando conseguir encontrá-la. Se isso é
assim entre os homens, então quanto mais tais condições serão verdadeiras a
respeito de Deus, que veio buscar e salvar o perdido? Tanto Mateus quanto Lucas
procuram nos mostrar a pessoa de Deus como sendo análoga à pessoa do pastor na
forma como estruturam suas narrativas. Com isso, se aproveitam das imagens já
conhecidas pelas pessoas acerca do que afirmam as Escrituras do Antigo
Testamento com respeito a esses fatos.
E a parábola é sim importante do
ponto de vista cristológico. As associações com as narrativas do Antigo
Testamento estabelecem, fortemente, a esperança que Deus irá estabelecer um
descendente de Davi como pastor sobre seu povo.
Jeremias 23:4—5
4 Levantarei sobre elas
pastores que as apascentem, e elas jamais temerão, nem se espantarão; nem uma
delas faltará, diz o SENHOR.
5 Eis que vêm dias, diz
o SENHOR, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, rei que é, reinará, e
agirá sabiamente, e executará o juízo e a justiça na terra.
Ezequiel 34:23—24
23 Suscitarei para elas
um só pastor, e ele as apascentará; o meu servo Davi é que as apascentará; ele
lhes servirá de pastor.
24 Eu, o SENHOR, lhes
serei por Deus, e o meu servo Davi será príncipe no meio delas; eu, o SENHOR, o
disse.
Ezequiel 37:24
O meu servo Davi
reinará sobre eles; todos eles terão um só pastor, andarão nos meus juízos,
guardarão os meus estatutos e os observarão.
Miquéias 5:2—4
2 E tu, Belém-Efrata,
pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o
que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde
os dias da eternidade.
3 Portanto, o SENHOR os
entregará até ao tempo em que a que está em dores tiver dado à luz; então, o
restante de seus irmãos voltará aos filhos de Israel.
4 Ele se manterá firme
e apascentará o povo na força do SENHOR, na majestade do nome do SENHOR, seu
Deus; e eles habitarão seguros, porque, agora, será ele engrandecido até aos
confins da terra.
Se Jesus defende seu ato de se
alimentar junto com pecadores apontando para o caráter de Deus e afirmando que
Deus é como um pastor em busca dos perdidos, então o Senhor Jesus está, de modo
implícito, afirmando que ele está fazendo a vontade de Deus. Pelo menos na
parábola narrada em Lucas, nós temos plena certeza que a menção do pastor
aponta tanto para o caráter de deus, como para as atividades de Jesus. Sem o
entendimento ou a aceitação desses aspectos cristológicos, qualquer explicação
da parábola torna-se superficial.
CONTINUA...
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005 – O Credor Incompassivo
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036 — Introdução a Lucas 15 — Parábolas Acerca da Condição Perdida da Raça Humana — Parte 002
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037 — Parábolas de Jesus — Mateus
18:12—14 e Lucas 15:4—7 — A Parábola da Ovelha Perdida — Completa
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037 — Parábolas de Jesus — Mateus 18:12—14 e Lucas 15:4—7 — A Parábola da Ovelha Perdida — Completa
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038A — PARÁBOLAS DE JESUS — A PARÁBOLA DA DRACMA PERDIDA — LUCAS 15:8—10 —— PARTE 001
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa
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Desde já agradecemos a todos.
[1]
Bailey, Kenneth E. As Parábolas de Lucas.
Edições Vida Nova, São Paulo, 1995.
[2] Bengel, Jonh Albert. Gnomon of the New Testament — 3 Volumes. T. & T. Clark, Edimburgh, 1873.
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