ESSA É UMA SÉRIE DE ESTUDOS QUE
VISA ABORDAR DA MANEIRA COMO CONSIDERAMOS APROPRIADA A IMPORTANTE QUESTÃO
RELATIVA À RESSURREIÇÃO DE CRISTO. TOMANDO COMO BASE AS OBRAS DE GEERHARDUS VOS
E HERMAN RIDDERBOS. NOSSA INTENÇÃO É MOSTRAR A CENTRALIDADE DA RESSURREIÇÃO DE
CRISTO NA TEOLOGIA PAULINA.
A RESSURREIÇÃO DE
CRISTO E A RESSURREIÇÃO PASSADA DO CRENTE
Os versículos que vimos na parte
anterior enfatizavam a conexão orgânica entre a ressurreição de Jesus e a
ressurreição futura, corporal, dos crentes. Mas concluir que o significado
salvífico se resume à ressurreição futura dos crentes, é apreciar apenas parte
da verdade ensinada pelo Novo Testamento. Para resolver isso, é necessário
apreciarmos as referências, nas quais o apóstolo Paulo menciona o fato que os
crentes já foram ressuscitados com Cristo. Essa verdade é apresentada de forma
mais incisiva nas seguintes passagens:
Efésios 2:5—6
5 E estando nós mortos em nossos delitos, nos
deu vida juntamente com Cristo, —pela graça sois salvos,
6 e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos
fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus.
O problema que temos diante de
nós diz respeito à referência temporal do verbo συνηγείρω — sunegeíro
— cujo significado é ressuscitar com.
Também teremos que prestar bastante atenção em outros verbos, especialmente, na
forma grega chamada de aoristo. De modo
específico, nossa missão será determinar se o uso desses verbos está restrito à
experiência histórica de Jesus, ou se os mesmos se aplicam ao que tem
acontecido, de fato, na experiência dos crentes individualmente. Ao lançar mão
desses verbos, não estaria Paulo fazendo uma referência direta a fatos
específicos que são parte da verdadeira experiência dos crentes?
Quando analisamos as opiniões de
exegetas reformado acerca desse tema, podemos perceber que as mesma estão aglutinadas
de acordo com a localização geográfica dos mesmos. Os exegetas holandeses
enfatizam a presença do aspecto histórico-redentivo excluindo qualquer
consideração à experiência dos indivíduos. Herman Ridderboss, por exemplo, faz o
seguinte comentário acerca dos versos de Efésios acima: “Pela úkltima palavra,
parece que Paulo está fazendo referência à cristologia e a aspectos
histótico-redentivos e não a aspectos antropológicos”[1]. Por
outro lado, intérpretes britânicos e estadunidenses, ao mesmo tempo em que
reconhecem uma alusão à solidariedade entre a obre histórica de Cristo e os
crentes, mantêm que o interesse distinto de Paulo nesses versos é a
transformação dos indivíduos[2].
Enquanto a linguagem empregada
pelo apóstolo Paulo reflete sua perspectiva histórico-redentiva, a conclusão de
que ele está também descrevendo o que aconteceu na vida dos crentes, da
perspectiva existência, não pode ser nem ignorada nem desprezada. A
ressurreição mencionada faz uma referência direta à morte mencionada no verso
5. Deve ser óbvio que a expressão estando
nós mortos não se refere ao nosso envolvimento solidário com o Senhor Jesus
Cristo, em sua morte, pois nós estávamos mortos em nossos delitos e pecados. Paulo está falando, com clareza, da
morte existencial, tanto dele como dos seus leitores. Os versos precedentes
confirma esse entendimento: Os versos 4 e 5 apresentam um resumo do que foi
iniciado com o verso 1 de Efésios 2. Já os versos 2 e 3 funcionam como uma parênteses
que expande o conceito de pecado e transgressões mencionado no verso 1, e não
podem ser dissociados do verso 5. Os versos anteriores — Efésios 2:1—4 — nos apresentam
uma descrição estendida da depravação moral de Paulo e dos seus leitores. Entre
outras coisa, eles estavam acostumando a andar
de acordo com os padrões estabelecidos pelo príncipe das trevas; com o espírito
da desobediência. Andavam segundo os
desejos da carne, fazendo a vontade da mesma. Essa linguagem exige que a morte mencionada no verso 5, não apenas envolve,
mas se refere, acima de tudo, à depravação moral do indivíduo. Por conseguinte,
a ressurreição mencionada nos versos 5 e 6 inclui a experiência inicial de
transformação e renovação ética.
Além disso, no verso 10 de Efésios
2 a ressurreição com Cristo mencionada no verso 5 é descrita dessa maneira:
Efésios 2:10
Pois somos feitura
dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão
preparou para que andássemos nelas.
Isso se alinha, perfeitamente,
com as palavras de Paulo em —
2 Coríntios 5:17
E, assim, se alguém
está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se
fizeram novas.
O propósito expresso de sermos
novas criaturas é para que possamos realizar as boas obras que Deus já preparou
para que andemos nelas. O verbo andar, nesse contexto, é elemento
fundamental na integração de todo o texto de Efésios 2:1—10. Tendo iniciado o
texto mencionando que andávamos em delitos e pecados, Paulo finaliza o mesmo
agora, mencionando a contrapartida que é, andando nas boas obras que Deus
preparou de antemão para nós. E qual é o elemento que torna possível essa
transformação? A resposta deve ser óbvia: o fato de termos sido ressuscitados
por Deus em Cristo Jesus.
Conclusão: Em Efésios 2:6 a
ressurreição com Cristo se refere à transição experimentada nessa vida pelos
crentes, por meio da qual eles deixam de ser objetos da ira de Deus — verso 3 –
para se tornarem recipientes da misericórdia e do amor de Deus — verso 4.
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http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2017/01/a-ressurreicao-de-cristo-dentre-os.html
A RESSURREIÇÃO DE CRISTO DENTRE OS MORTOS NA TEOLOGIA DE PAULO — PARTE 015 — A RESSURREIÇÃO DE CRISTO E A RESSURREIÇÃO PASSADA DOS CRENTES — PARTE 003
Que Deus Abençoe a Todos.
Alexandros Meimaridis
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Desde já agradecemos a todos.
[1] Ridderbos, Herman. Paul: Na Outlina of His Theology. William
B. Eerdmans Publishing Company, Grand Rapids, 1975.
[2] Ver, poo exemplo: 1) Hendriksen,
William. New testamente Commentary –
Exposition of Ephesians. Banner of Truth Trust, Edimburgh, 1972; 2) Hodge,
Charles. A Commentary on the Epistle of
Ephesians. CCEL.ORG consultada em 06 de outubro de 2016 às 10:00
horas BSB.; 3) Eadie. J. A Commentary on the Greek Text of the Epistle
of Paul to the Ephesians. Forgotten Book, Londres, 2015.
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