No mês em que a Reforma
Protestante do século XVI completa 499 anos, queremos compartilhar com todos os
nossos leitores, uma série de artigos que tratam da grande e necessária Nova
Reforma, como temos defendido em vários dos nossos artigos.
O artigo abaixo é de autoria de Wolfgang
Simson e parte de seu livro Casas que
Transformam o Mundo — Igreja nos Lares, publicado pela Editora Evangélica
Esperança
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Teses Acerca da Reforma Necessária à Igreja
Wolfgang Simson
CONTINUAÇÃO...
9. Das formas
organizadas para as formas orgânicas de cristianismo
O “corpo de Cristo” é linguagem
figurada para um ente profundamente orgânico e não para um mecanismo
organizado. Localmente a igreja consiste de uma pluralidade de famílias
espirituais extensas, que estão organicamente interligados em uma rede. A
maneira como cada igreja está ligada à outra constitui uma parte integrante da
mensagem do todo. De um máximo da organização com um mínimo de organismo é preciso
passar novamente para um mínimo de organização com um máximo de organismo. Até
aqui o excesso de organização muitas vezes sufocou o organismo “corpo de
Cristo” como uma camisa-de-força – por medo de que algo pudesse dar errado.
Contudo, medo é o oposto da fé, não representando exatamente uma virtude cristã
sobre qual Deus desejasse edificar sua igreja. O medo visa controlar – a fé
sabe confiar. Por isso, controlar pode ser bom, mas confiar é melhor.
O corpo de Cristo foi confiado
por Deus às mãos fiéis de pessoas que possuem um dom carismático especial: são
capazes de crer que Deus ainda mantém o controle da situação quando elas
próprias já o perderam há tempo. Sem dúvida o ecumenismo político e as
hierarquias denominacionais tiveram sua chance de mostrar resultados no
passado, mas não obtiveram êxito. Hoje é necessário criar redes regionais e
nacionais que se baseiam sobre a confiança, para que formas orgânicas de
cristianismo possam ser novamente desenvolvidas.
10. Cristãos adoram a
Deus, não a seus cultos
Visto de fora, o cristianismo se
apresenta do seguinte modo para muitas pessoas: pessoas santas dirigem-se, numa
hora santa, num dia santo, a um prédio sagrado, a fim de participar de um
ritual sagrado, celebrado por um homem santo em vestimentas sagradas, em troca
de uma oferta sagrada.
Uma vez que essas promoções
regulares, orientadas pelo desempenho e chamadas de “culto divino”, requerem
muito talento organizativo e consideráveis recursos administrativos, os rituais
formalistas e modelos de comportamento institucionalizados rapidamente se
solidificaram em tradições religiosas.
Em termos eclesiásticos, o
tradicional culto dominical de uma a duas horas de duração, com cifras do porte
de 20 a 300 visitantes, é extremamente voraz em termos de recursos. Apesar
disso, produz bem poucos frutos na forma de pessoas que estejam dispostas a
mudar de vida como discípulos de Jesus.
Em termos econômicos, o culto
tradicional é uma estrutura que exige muitíssimo investido, mas produz poucos
resultados.
Na história, o desejo dos humanos
de adorar “corretamente” a Deus levou aos constrangedores denominacionalismo,
confessionalismo e nominalismo.
É um enfoque que desconsidera que
os cristãos são chamados a adorar “em espírito e em verdade” – e não a repetir,
em pequenas e grandes catedrais, hinos costumeiros.
Essa mentalidade de programação,
que se compraz em reiterar o proverbial “Amém” na igreja, ignora que toda vida
é pulsante, muda constantemente e é absolutamente informal.
Sendo o cristianismo “o caminho
da vida”, ele é por natureza informal e espontânea, e tão somente o violentamos
por meio dos rituais religiosos repetitivos. O cristianismo precisa afastar-se
das impressionantes celebrações teatrais em recintos eclesiásticos e recomeçar
a viver de modo impressionante a vida cotidiana. É isso que verdadeiramente
serve a Deus.
11. Não mais levar o
povo à igreja, mas a igreja ao povo
A igreja está se transformando de
volta, saindo de uma estrutura do “vinde” para uma estrutura do “ide”. Uma das consequências
é que não se tenta mais levar as pessoas à igreja, mas a igreja até as pessoas.
A missão da igreja jamais alcançará seu alvo se meramente adicionar acréscimos
à estrutura existente. Ela unicamente acontecerá em termos multiplicativos por
meio da expansão das igrejas na forma de fermento, inclusive entre grupos da
população que ainda não conhecem a Jesus Cristo.
12. A santa ceia é
redescoberta como uma verdadeira refeição
A tradição eclesiástica conseguiu
a façanha de “celebrar” a santa ceia em doses homeopáticas, com algumas gotas
de vinho, uma bolacha insípida e um semblante triste. No entanto, segundo a fé
cristã, a “ceia do Senhor” é uma refeição substancial com significado
simbólico, não uma refeição simbólica com um significado substancial. Deus está
novamente afastando os cristãos das missas, de volta às mesas, de volta á
refeição.
13. Das denominações
para igreja da cidade
Jesus deu a vida a um movimento –
mas o que apareceu foram empresas religiosas com redes globais, que comercializavam
suas respectivas marcas do cristianismo, fazendo concorrência uma à outra. Por
causa dessa subdivisão em nomes e marcas a maior parte do protestantismo perdeu
sua voz no mundo e tornou-se politicamente irrelevante. Muitas igrejas estão
mais preocupadas com especialidades tradicionais e discórdias religiosas dentro
de seus muros do que com um testemunho perante o mundo em conjunto com outros
cristãos.
Jesus jamais pediu aos seres
humanos que se organizassem em denominações. Nos primeiros dias da igreja os
cristãos tinham uma dupla identidade: eram seguidores de Jesus Cristo,
convertidos verticalmente a Deus. Em segundo lugar, congregavam com base na
geografia, quando também se convertiam localmente uns aos outros, formando
movimentos eclesiais. Não somente se ligavam em igrejas de vizinhanças ou nos
lares, nas quais partilhavam sua vida cotidiana, mas também expressavam sua
nova identidade em Cristo – na medida em que as respectivas circunstâncias
políticas o permitissem. Encontravam-se para cultos festivos de abrangências
locais ou regionais. Neles celebrava sua unidade como movimento eclesial da
região ou cidade e demonstravam um testemunho conjunto perante o mundo.
Deus está chamando o cristianismo
de volta a essas dimensões. O retorno ao modelo bíblico da “igreja da cidade” –
ou seja, uma nova credibilidade das igrejas nos lares dos bairros, aliada a
cultos festivos de abrangências local ou regional, em que todos os cristãos de
uma região se congregam regularmente – não apenas fomenta a identidade coletiva
e credibilidade espiritual dos cristãos, mas também confere à igreja um peso
político, e chamará a atenção que a mensagem cristã merece.
14. Uma mentalidade à
prova de perseguição
Jesus, o cabeça de todos os
cristãos, foi crucificado. Hoje seus seguidores estão tão ocupados com suas
posições e seu papel respeitável na economia, política e sociedade, ou pior
ainda, estão adaptados e quietos de forma tão pouco cristã, que quase não são
mais notados.
Jesus diz: ”Abençoados sois quando
por minha causa as pessoas vos injuriarem e perseguirem” (Mt 5.11).
O cristianismo bíblico é uma
ameaça para o ateísmo e pecado gentílicos, para um mundo que foi dominado pela
ganância, pelo materialismo, pela inveja e pela tendência de crer em
absolutamente tudo, a menos que esteja na Bíblia. Isso levou aceitação social
de comportamentos na esfera da moral, do sexo, do dinheiro e do poder que
somente podem ser explicados na dimensão demoníaca. Até o momento o
cristianismo atualmente conhecido não constitui um contraste para isso, mas em
muitos países ele é simplesmente inócuo e gentil demais para que fosse digno de
perseguição.
Quando, porém os cristãos
começarem a redescobrir os valores do Novo Testamento, a viver a vida
resultante e perder a vergonha de dar nome ao pecado, o mundo em seu redor será
atingido no cerne de sua consciência e reagirá como de costume, com conversão
ou com perseguição. Ao invés de construir para si ninhos em zonas confortáveis
de presumida liberdade religiosa, os cristãos precisam preparar-se novamente
para serem descobertos como réus principais e ovelhas negras.
Nada mais farão que seja um
estorvo para o humanismo universal, para a moderna escravidão do entretenimento
e para a descarada adoração do Eu, o falso centro do universo. É por essa razão
que cristãos despertos rapidamente sentirão as consequências do liberalismo
fundamentalista e da “tolerância repressiva” de um mundo que perdeu suas normas
absolutas porque negou a reconhecer se Deus Criador com seus padrões absolutos.
Em conexão com a crescente
ideologização, privatização e espiritualização da política e economia, os
cristãos obterão mais cedo do que esperavam uma nova chance para ocupar, ao
lado de Jesus, o banco dos réus da sociedade do bem-estar. É bom que hoje mesmo
já se preparem para o futuro, desenvolvendo uma mentalidade à prova das
perseguições e, em consequência, construam uma estrutura à prova de
perseguições.
15. A igreja volta para
casa
Qual é o lugar mais simples para
uma pessoa ser santa? Ela se esconde atrás de um grande púlpito e, trajado com
túnicas sagradas, prega palavras santas e uma massa sem rosto, desaparecendo
depois em seu gabinete. E qual é o lugar mais difícil e, por isso mais
significativo, para uma pessoa ser santa? Em casa, na presença de sua família,
onde tudo o que ela diz e faz é submetido a um teste espiritual automático e
conferido com a realidade. Ali todo farisaísmo devoto está irremediavelmente
condenado à morte.
As parcelas mais significativas
do cristianismo fugiram do enraizamento na família como lugar flagrante do
fracasso pessoal para salões sagrados, onde se celebram missas/cultos
artificiais bem afastados do cotidiano. No entanto, Deus está em vias de
reconquistar novamente às próprias raízes, ao lugar de onde ela procede a um movimento
de igrejas nos lares. Assim, a igreja volta literalmente para casa. Na última
fase da história da humanidade, pouco antes do retorno de Jesus Cristo,
fecha-se o círculo da história da igreja.
Quando cristãos de todos os
segmentos sociais e culturais, de todas as situações de vida e denominações
sentirem em seu espírito um eco nítido daquilo que o Espírito de Deus diz à
Igreja, eles começarão a funcionar claramente como um corpo, a ouvir
globalmente e agir localmente. Deixarão de pedir que Deus abençoe o que fazem e
começarão a fazer o que Deus abençoa. Na própria vizinhança se congregarão em
igrejas nos lares e se encontrarão para cultos festivos que abrangem a cidade
ou região toda.
Você também está convidado a
aderir a esse mover aberto, e dar a sua própria contribuição. Dessa maneira
provavelmente também a sua casa há de ser uma casa que transforma o mundo.
FIM
(Texto publicado em português no
livro “Casas que transforma o mundo — Igreja nos lares”, de Wolfgang Simson —
Editora Evangélica Esperança)
O artigo original em Inglês
acesse:
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
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