O material abaixo tem o propósito
de chamar nossa atenção para o verdadeiro sentido do relacionamento de Jesus
com as crianças.
MARCOS 10:13—16
13 Então, lhe trouxeram
algumas crianças para que as tocasse, mas os discípulos os repreendiam.
14 Jesus, porém, vendo
isto, indignou-se e disse-lhes: Deixai vir a mim os pequeninos, não os
embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus.
15 Em verdade vos digo:
Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará
nele.
16 Então, tomando-as
nos braços e impondo-lhes as mãos, as abençoava.
EXEGESE
Verso 13
De início devemos notar que a
narrativa de Jesus abençoando os pequeninos ou as crianças é apropriada, como
continuação da narrativa anterior, que tratou da santidade do casamento —
Marcos 10:2—12. Em dias quando os próprios pastores estão dando péssimos
exemplos divorciando de suas esposas para, geralmente, desposarem outras
mulheres mais novas, é importante associarmos a santidade do casamento com o
verdadeiro bem estar das crianças.
Apesar da narrativa ser simples
ao extremo e elementos quanto ao tempo e o lugar em que mesma se passa estarem
completamente ausentes, ainda assim a situação é bastante clara: crianças
estavam sendo trazidas para Jesus com o intuito de que Ele proferisse uma
bênção sobre suas vidas futuras. O ato subsequente de Jesus de tomar as
crianças em seus braços sugere que, até mesmo, crianças bem pequenas lhe foram
trazidas. Todavia, o verbo utilizado por Marcos e traduzido por trouxeram, não implica necessariamente
que as crianças vieram carregadas. Ainda acerca disso, também devemos notar que
a expressão crianças usada aqui é a
mesma que utilizada em Marcos 5:39—49 para se referir a uma menina de 12 anos
de idade.
Mesmo que seja natural pensarmos
que tais crianças fora trazidas por suas mães o uso do pronome masculino na
língua original quando se diz que os discípulos os repreendiam parece apontar para os pais ou, até mesmo, para as
próprias crianças. Nesse caso último caso, teríamos crianças maiores trazendo
as crianças menores. Essa ideia parece ser confirmada pelo verso 14, onde as
palavras de Jesus não os embaraceis é
uma referência clara às crianças. Marcos não nos informa porque os discípulos
interferiram nesse processo e por que os mesmos não consideravam as crianças
importantes. A atitude dos discípulos era, na realidade, um verdadeiro abuso da
autoridade que tinham. Tal abuso é derivado da mesma atitude que eles tiveram
quando interferiram com o trabalho dum exorcista desconhecido, o qual exercia o
poder do nome de Jesus de modo eficiente — Marcos 9:38. De modo bastante
significativo, também naquela ocasião, Jesus disse para seus discípulos não
proibirem aquele homem de realizar a obra —
Marcos 9:39
Mas Jesus respondeu:
Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagre em meu nome e, logo a
seguir, possa falar mal de mim.
Verso 14
A referência à indignação de
Jesus contra a atitude imprópria de repreensão das crianças por parte dos
discípulos é algo que aparece apenas na narrativa de Marcos estando, portanto,
ausente das narrativas paralelas que encontramos em Mateus 19:16—22 e Lucas 18:18—23. A manifestação da emoção de indignação por
parte de Jesus é comum em outras passagens do Evangelho de Marcos, como podemos
ver em: Marcos 1:41, 43; 3:5; 7:34 e 9:19. A sugestão da indignação de Jesus
manifestada em forma de impaciência e irritação é fortalecida pela forma
pausada e contrastante como Ele fala: Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis. A atitude dos discípulos
em tentar impedir a aproximação das crianças, porque consideravam as mesmas
pouco importantes, nos revela a tendência que tinham, em diversas ocasiões, de
pensar dos seres humanos apenas em categorias de pessoas caídas, algo que Jesus
combateu diversas vezes, conforme: Marcos 8:33; 9:33—37. O Reino de Deus pertence
às crianças ou pequeninos, e também a
outros que, como crianças, parecem não ter nenhuma importância. Isso é assim,
porque essa é a vontade de Deus. Esse é o motivo porque as crianças precisam
ter livre acesso a Jesus, porque é em Jesus que o Reino de Deus se aproxima dos
seres humanos — Marcos 1:15. Diferentemente dos adultos que não gostam que nada
lhes seja dado, as crianças são humildes e receptivas ao que lhes é oferecido.
O Reino pertence a esse tipo de pessoas porque o mesmo é sempre recebido como
um dom, um verdadeiro presente. A raiz das palavras de Jesus não deve ser
procurada em qualquer valor subjetivo que as crianças possuem e sim, na
humildade objetiva das mesmas, além da manifestação surpreendente da graça de
Deus, que se dispõe a conceder o Reino, gratuitamente, a todos que não possuem
nenhum tipo de reivindicação sobre o mesmo, por méritos próprios.
Verso 15
A afirmação solene que
encontramos nesse versículo é dirigida aos discípulos, mas tem implicações para
todos os seres humanos confrontados pelo Evangelho, porque a mesma fala da
condição para alguém — qualquer um — entrar no Reino de Deus. A exigência que
um homem adulto torne-se como uma criança chama a nossa atenção para o fato
que, com relação ao Reino de Deus, todos nós nos encontramos numa situação de
mais completo desespero. O Reino é aquilo que Deus dá e o ser humano recebe.
Essencial para a comparação apresentada no verso 15 é a fraqueza e a total
falta de capacidade duma criança, que também são pressupostas no verso 14. Só
podem entrar no Reino de Deus aqueles que estão plenamente conscientes de que
são pequenos e precisam de ajuda e que, não apresentam nenhum tipo de
reivindicação sobre o mesmo baseado em méritos próprios ou boas obras, de
qualquer natureza. As palavras que Jesus usa na comparação o dizer como uma criança, encontram sua força na
natureza da criança, de aceitar de modo aberto e confiante, o que lhe está
sendo oferecido gratuitamente. As palavras de Jesus são enfáticas; todo aquele
que não receber o Reino de Deus agora, de forma simples e natural como uma
criança, não poderá entrar nele quando o mesmo se tornar plena realidade no
final dos tempos. O que está sendo afirmado, de modo claro, é a necessidade que
todos têm de receber o Evangelho e o próprio Senhor Jesus, como aquele por meio
de quem o Reino foi aproximado de todos — Marcos 8:35, 38; 9:1.
Verso 16
A ação de Jesus descrita nesse
verso é tão significativa quanto suas palavras mencionadas antes. Jesus
demonstra um amor genuíno e Sua ternura pelas crianças das seguintes maneiras:
1) Jesus toma as crianças em seus braços; 2) Jesus abençoa as crianças por meio
duma oração. As atitudes de Jesus só podem ser entendidas quando consideramos a
dureza de coração, com relação às crianças, que prevalecia nas sociedades
helenísticas do século 1.
A ação de Jesus em honrar as
crianças nos apresenta uma ilustração concreta da forma como o Reino de Deus é
concedido gratuitamente. Dentro desse contexto fica evidente que, a invocação
da bênção por parte de Jesus sobre as cabeças das crianças, constitui uma
renovação do chamado para o verdadeiro discipulado e obediência à vontade
manifesta de Deus.
Que Deus abençoe a todos
Alexandros Meimaridis
PS.
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