Em alguns dias, a rede Telecine —
TV Paga — irá apresentar a última produção da série Guerra nas Estrelas — Star
Wars — The Force Awakens ou O Deespertar da Força. Certamente o mesmo irá
chamar a atenção de muitos. As mensagens transmitidas pela série têm sido sempre
muito intrigantes para a vasta maioria do povo evangélico, pois muitos procuram
ver elementos que possa estar alinhados com os ensinamentos da Bíblia. Mas a
realidade é completamente outra. A série está imersa em profundas imagens
gnósticas e o artigo abaixo, de autoria do Professor Doutor Wilson Roberto
Vieira Ferreira nos ajuda a compreender os diversos significados dos signos
apresentados pela série. Todavia, devemos ressalvar que as opiniões do Prof.
Wilson não representam, necessariamente, as do Blog O Grande Diálogo.
GNOSTICISMO E O SIGNIFICADO DA
“FORÇA” EM GUERRA NAS ESTRELAS
"Star Wars: o Despertar da
Força" mas... o que é "A Força"?
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Há muito tempo em uma galáxia
muito distante não havia Deus... mas “A Força”. “Star Wars” foi o ápice da
popularização do Panteísmo no Ocidente, iniciado com os Beatles nos anos 1960.
Conceito tomado do livro “Relatos de Poder” de Castaneda, George Lucas nunca
deixou clara as conexões teológicas do termo “A Força” com alguma religião em
particular, mas há evidentes ligações com cosmovisões budistas, taoístas e nas
atuais religiões New Ages. Mas o panteísmo de “Star Wars” é bem diferente: na
saga, a “Força” ora é uma energia cósmica impessoal, ora uma entidade
inteligente que manipula deliberadamente os eventos em busca do “equilíbrio”
como fosse Deus, ora um instrumento de poder dos Jedi. Estamos no panteísmo
hollywoodiano onde o confronto entre Bem e o Mal busca um equilíbrio sem
redenção final para que a franquia torne-se uma narrativa transmídia e se
expanda infinitamente em múltiplas mídias e plataformas.
Assistir à saga Star Wars chega a
ser uma experiência quase religiosa.
A série salvou os estúdios da
20th Century Fox da falência em 1977, criou o padrão blockbuster de
comercialização em Hollywood (onde um filme cria franquias de jogos, brinquedos
etc.), e foi tão influente que fez o presidente dos EUA Ronald Reagan a chamar
seu novo dispositivo de defesa militar durante a Guerra Fria nos anos 1980 de
“Guerra nas Estrelas”.
Além de ser o primeiro “filme
recuperativo”, série de retro-fantasias que se contrapôs à chamada Nova
Hollywood – conjunto de filmes críticos e realistas dos anos 1970 como Taxi
Driver, com Robert De Niro, e Um Estranho no Ninho, com Jack Nicholson. Depois
de Star Wars vieram Indiana Jones, E.T., De Volta Para o Futuro, Ghost Busters,
etc.
A retro-fantasia criada por
George Lucas (inspirada no timing narrativo de séries sci fi antigas como Flash
Gordon) pode também ser considerada a primeira produção hollywoodiana a
explorar mitologias de várias religiões e mitos antigos.
Podemos considerar que a
indústria do entretenimento explora três tipos de mitologias: as
judaico-cristãs monoteístas, as politeístas e as gnósticas. Certamente, Star
Wars chamou a atenção para a visão panteísta de Universo – da palavra grega
“pan”, que significa “tudo” e “teísmo”, que significa Deus.
Star Wars e o Panteísmo
no Ocidente
Lucas não tinha a intenção de
promover uma religião em particular no filme. No entanto ele queria que os
jovens pensassem em questões espirituais: “os jovens pensam sobre os mistérios.
Mas não quer dizer: ‘aqui está a resposta’. Mas sim: ‘pense nisso num segundo.
Existe um Deus? Como ele parece?’ Levar os jovens a pensar nesse nível é o que
tentei em Star Wars.”, afirmou George Lucas - leia MOYER, Bill. "Of Myth
and Men" In: Time Magazine, 26/04/1999, p.93.
Com a ideia de “A Força” que
transpassa a narrativa da saga Star Wars, Lucas quis passar uma cosmovisão
monista ou panteísta. É a crença de que Deus é impessoal, como uma essência que
rege todo o Universo. Deus habita todas as coisas, seja a vida ou uma simples
pedra. Deus não está separado do Universo, mas está contido dentro dele.
Essa cosmovisão está na base das
religiões hindus, budistas e nas atuais religiões New Ages. Essa visão de mundo
ganhou popularidade no Ocidente a partir da década de 1960 por meio de
celebridades como os Beatles e os livros de autoajuda da atriz Shirley McClain.
O sucesso de Star Wars despertou ainda mais o interesse popular pelas ideias do
panteísmo.
Até então tanto a literatura como
nos filmes sci-fi (C.S. Lewis, J.R. Tolkien ou filmes como O Planeta Proibido
de 1956 ou 2001 de Kubrick) também apresentavam respostas a questões
espirituais, porém ainda dentro de uma perspectiva teísta ou judaico-cristã. Ou
mesmo sci-fis gnósticos dos anos 1970 como Zardoz ou O Homem Que Caiu na Terra.
Star Wars foi o ápice popular
dessa cosmovisão panteísta. Panteístas acreditam na ausência de um ser divino
pessoal e criador. Atestam uma força impessoal, uma energia cósmica que flui ao
longo de todas as coisas do universo. Essa energia pode ser chamada “O Um”, o
“Divino”, “Chi”, “Mana” ou “Brahma”. Em Star Wars é chamada de “A Força”.
A Força
O Mestre Jedi Obi Won Kenobi
introduz a ideia de Força no primeiro filme em 1977, ao explicar para Luke
Skywalker a sua natureza: “A Força é o que dá ao Jedi o seu poder. É um campo
de energia criado por todas as coisas vivas. Ela nos cerca, nos penetra e
conecta todas as galáxias.
Embora George Lucas tenha se
inspirado nas religiões orientais como o Taoísmo que ensina que essa energia
cósmica chama-se “Chi”, em Star Wars essa ideia de Força é, no mínimo, ambígua.
Em certos momentos da série é vista um poder vinculativo, metafísico e onipresente;
mas em outros momentos vê-se a Força como uma entidade sensível, dotada de
pensamento inteligente e que direciona eventos na busca de um equilíbrio
cósmico futuro; ou ainda como simples ferramenta para o Jedi aumentar a
resistência, curar, telepatia, velocidade, telecinesia (movimentação de objetos
à distância), visões pré-cognitivas e aguçamento dos sentidos.
O equilíbrio da Força
A saga Star Wars gira em torno da
figura de Anakin Skywalker, que é identificado pelo Mestre Jedi Qui Gon Jinn como
“O Escolhido” para restaurar o “equilíbrio da Força”, esperança que atravessa
toda a série.
Esse é o centro da mitologia Star
Wars: a Força envolve um equilíbrio de luta pelo poder entre os Jedi (do lado
da Luz) e os Siths – o lado escuro da Força. Lembrando o princípio taoísta de
Yin/Yang, o universo é composto por forças que serão sempre mantidas em estado
de oposição. Nenhum dos lados tem domínio sobre o outro. Forças mutuamente
dependentes – um não pode ser conhecido sem o outro. A Escuridão, a Morte e o
Mal nunca serão derrotados; somente há equilíbrio enquanto existir oposição.
Em Star Wars o desequilíbrio
ocorreu porque o lado escuro tornou-se mais influente com a consolidação do
Império e deve ser levado ao equilíbrio pelas forças do bem. O lado escuro
jamais será derrotado de forma permanente pela Luz, mas deve-se apenas
restaurar a Força por meio da recuperação do equilíbrio. Esse é o conceito que
George Lucas explora ao longo da série.
O ardil da Força
Percebe-se na série o ardil da
Força, revelando também ser uma entidade inteligente como um Deus o que,
paradoxalmente, o panteísmo pretende negar. A Força manipula eventos, cria
profecias e sonhos e até mesmo engravida uma mulher da qual nascerá a figura
messiânica (Luke Skywalker) que trará o equilíbrio da Força.
Em última análise, ao passar para
o lado negro da Força e transformar-se em Darth Vader, Anakin traz um novo
equilíbrio a um desequilíbrio inicial: a purga dos Jedi aos transformá-los em
inimigos da República surge num momento em que o lado luminoso era mais forte,
quando haviam centenas de Jedi, enquanto no lado escuro havia um número
reduzido.
Os episódios do I ao III revelam
como a religião Jedi turvou seus próprios pontos de vista, corrompendo-os e
tornando-os tão maus quanto os Sith – passaram a operar pela mentalidade “os
fins justificam os meios” e sua reputação fica tão obscura que, quando são
enviados dois Jedi (ao invés de diplomatas treinados) para resolver uma disputa
comercial comum, causam grande medo – parecem a Gestapo da República.
Darth Vader traz um novo
desequilíbrio, cuja solução veio através dos próprios filhos de Anakin: Luke
Skywalker e Leia.
O perfeito panteísmo
hollywoodiano
Por isso essa noção panteísta da
Força é um moto-contínuo perfeito para uma franquia hollywoodiana: jamais
nenhum dos lados sofrerá uma derrota final. Potencialmente a série não tem um
fim, está em constante expansão. No universo Star Wars não há redenção e todos
os meios parecem justificar o fim – o equilíbrio da Força.
A Força parece ser sempre um
“deus ex machina” do roteiro (termo usado para designar intervenções
arbitrárias em uma narrativa para fazê-la fluir) – um panteísmo hollywoodiano
perfeito para produzir um blockbuster sem fim, uma narrativa transmídia onde a
história jamais termina, apenas continua através de múltiplas mídias e
plataformas.
Embora a série Star Wars tenha um
appeal gnóstico (as análises mais apressadas veem nos Siths o Demiurgo e nos
Jedi os anjos da Luz) e até um planeta chamado Geonosis (Gnosis?), não há uma
redenção, uma gnose que faça os personagens transcenderem a dualidade sem fim.
Na saga, a dualidade não é maniqueísta (no sentido do pensador gnóstico persa
Mani) mas monista - Bem e Mal são dependentes um do outro para manter uma ordem
onde indivíduos e acontecimentos são meras peças de um jogo.
Gnosticismo e Panteísmo
O Gnosticismo possui uma
cosmovisão essencialmente dualista: é impossível existir harmonia nesse cosmos
– o conflito entre o Bem e o Mal será sempre entre aqueles que anseiam fugir da
prisão cósmica material e as forças que pretendem nos manter prisioneiros –
tema central de um arco de produções que vai de Truman Show e Matrix até a
atual série Sense8 do Netflix — saiba mais por meio desse link aqui:
Nesses filmes até há sugestões
panteístas onde o protagonista somente será bem sucedido se puder sentir a uma
voz interior que o conecte a um Todo – principalmente em Sense8 onde os
sensates se conectam por meio de um sistema nervoso coletivo través do qual
partilham emoções e percepções. Porém, a finalidade não é a busca de um
equilíbrio, mas a destruição de uma sinistra conspiração que envolve a própria
construção da realidade.
Ao contrário, em Star Wars desde
a Realpolitik (tramas palacianas envolvendo Federações, Confederações,
Repúblicas e Impérios) até as relações afetivas são ardilosamente manipuladas
pela Força por meio de sonhos (as premonições de Anakin sobre a morte da sua
esposa grávida, Padmé, é o primeiro passo para a sedução pelo lado Escuro) e
profecias.
Por um ponto de vista gnóstico, a
Força é um Demiurgo – talvez bem próximo do Deus impiedoso do Velho Testamento
bíblico. Para a Força, o fim (equilíbrio/desequilíbrio) justificam os meios -
até a destruição de planetas inteiros.
E por um ponto de vista comercial
da indústria do entretenimento, a Força é o ardil dos roteiristas e da própria
franquia, agora da Disney. Nada mais irônico do que o novo filme da série Star
Wars chamar-se O Despertar da Força – depois de mais de uma década do último
filme e a aposentadoria do criador George Lucas, a saga continua em busca de um
equilíbrio. E os fãs e a Disney esperam que essa busca nunca tenha uma redenção
final.
O artigo original poderá ser
visto por meio desse link aqui:
Que Deus abençoe a todos por meio das insondáveis riquezas
de Cristo que são nossas porque estamos EM CRISTO.
Alexandros Meimaridis
PS.
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Desde
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