Esse artigo é parte da série "Parábolas de Jesus" e é muito
recomendável que o leitor procure conhecer todos os aspectos das verdades
contidas nessa série, com aplicações para os nossos dias. No final do artigo
você encontrará links para os outros artigos dessa série.
A
Parábola da Ovelha perdida
A EXPLICAÇÃO DA PARÁBOLA
4. O que a parábola nos ensina acerca do arrependimento? Algumas
pessoas não precisam de arrependimento?
A primeira coisa que devemos
registrar quando tentamos responder as perguntas acima é que a posição de Jesus
no que diz respeito ao arrependimento é frontalmente contrária à posição
sustentada pelo judaísmo e pelo nacionalismo judaico da época, que viam o
arrependimento como mérito da parte dos judeus[1].
Mas a parábola trata do tema do
arrependimento? Temos que admitir que, a parábola em si mesma, não trata da
questão do arrependimento. A parábola não nos apresenta uma definição de
arrependimento e nem culpa a ovelha por ter se extraviado. O que a parábola faz
é nos apresentar uma analogia do modo como Deus age, ou reage, com respeito às
atitudes dos que estão perdidos. A ideia do arrependimento é mencionada apenas
no texto de Lucas e a mesma está ausente do texto de Mateus. Nesse último a
ênfase está colocada na alegria experimentada no céu pela restauração dos
perdidos. Já para Lucas, a restauração do perdido está relacionada ao
arrependimento. De qualquer forma que seja, a ideia do arrependimento não pode
ser minimizada, independentemente do que falamos na abertura desse parágrafo.
Ainda nessa questão envolvendo o
arrependimento, a pergunta mais intrigante diz respeito aos noventa e nove
justos que não necessitam do mesmo, conforme Lucas 15:7. Uma vez que, da
perspectiva teológica, assume-se que tais pessoas justas não existem e que os
evangelhos entendem que os próprios fariseus precisavam de arrependimento,
então a afirmação de Jesus é vista como sendo: irônica, exagerada ou, até
mesmo, sarcástica. Mas analisando bem o texto não creio que essa seja a solução
mais viável para a dificuldade apresentada pelo mesmo. É fato que o judaísmo
atribuía uma ausência absoluta de pecado a certos personagens. Por outro lado,
a expressão justo não indicava a
ausência absoluta de pecado na vida duma pessoa descrita dessa maneira. Ela se
refere a todas as pessoas que, de alguma maneira, acertaram sua condição diante
de Deus. O arrependimento era algo tão central no pensamento judaico que é
difícil de imaginar que os judeus pensassem que eles ou até mesmo a maioria das
pessoas não necessitavam de arrependimento. A ideia que poderiam existir, entre
eles, 99 pessoas que não necessitavam de arrependimento era incabível no
pensamento judaico. Todavia, uma ideia semelhante é apresentada em —
Lucas 5:31—31
31 Respondeu-lhes
Jesus: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes.
32 Não vim chamar
justos, e sim pecadores, ao arrependimento.
E em Lucas 15, na parábola dos
dois filhos perdidos, o mais velho alega nunca ter transgredido nem mesmo um
mínimo mandamento de seu pai. Era, portanto, junto nesse sentido — Lucas 15:29.
Por outro lado, temos as palavras
de Jesus que ensinam, com clareza, que todos precisam se arrepender ou
perecerão.
Lucas 13:3
Não eram, eu vo-lo
afirmo; se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis.
Os pais da Igreja procuraram
evitar a dificuldade alegando que o número noventa e nove fazia referência aos
anjos.
Já o renomado autor I. Howard
Marshall[2]
sugere que falta no texto uma palavra que precisa ser suprida. Para ele, então,
a leitura em vez de ser:
“do que por noventa e
nove justos que não necessitam de arrependimento”
Deveria ser:
“Mais do que por
noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento”
Com isso, os noventa e nove
justos são relativizados e é como se os mesmos fossem citados apenas como uma
ilustração e não algo real. Todavia, nesse caso devemos ponderar dois
importantes aspectos:
1. Modificações no texto original
não devem ser bem-vindas, independentemente de onde tenham se originado.
2. Nossa necessidade é centrarmos
o foco na função exercida pelas palavras utilizadas pelo Senhor Jesus. A
intenção primordial de Jesus é valorizar os perdidos e os desprezados pela
sociedade daqueles dias, especialmente pelos fariseus, e não devemos centrar
nosso foco nos noventa e nove chamados justos. A importância de entendermos as
palavras de Jesus de modo adequado em Lucas 15:7 é perceptível pelo fato das
últimas palavras serem a consequência natural duma escalada que se inicia com a
expressão digo-vos utilizada por
Jesus, para enfatizar a verdade de sua afirmação.
Lucas 15:7
Digo-vos que, assim,
haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e
nove justos que não necessitam de arrependimento.
Leituras parafraseadas do verso
acima, tentando entender a intenção de Jesus — algo muito subjetivo —
apresentam as seguintes possibilidades:
1. Um pecador arrependido traz
mais alegria para Deus, que noventa e nove pessoas que já estão reconciliadas
com Deus.
Ou,
2. Um pecador arrependido traz
mais alegria para Deus do que noventa e nove pessoas que estão reconciliadas
com Deus.
Que a ênfase de Jesus está no
valor colocado sobre os perdidos fica mais evidente na passagem paralela de Mateus
onde lemos o seguinte, já no início da passagem:
Mateus 18:10
Vede, não desprezeis a
qualquer destes pequeninos; porque eu vos afirmo que os seus anjos nos céus veem
incessantemente a face de meu Pai celeste.
As palavras de Jesus acima são
uma forma metafórica de indicar a grande importância dos chamados pequeninos. Desse modo, a ênfase de
Jesus está na importância dos perdidos que precisam de salvação e não tanto na
ideia de arrependimento. Esse último é crucial para a salvação, mas não é o
elemento principal da parábola da ovelha perdida.
CONTINUA...
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038A — PARÁBOLAS DE JESUS — A PARÁBOLA DA DRACMA PERDIDA — LUCAS 15:8—10 —— PARTE 001
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa
página no Facebook através do seguinte link:
Desde já agradecemos a todos.
[1]
Para maiores detalhes a esse respeito ver as seguintes obras de Kenneth Bailey:
Finding the Lost: Cultural Keys to Luke
15. Concordia Publishing,
St. Loius, 1992; Jacob & the
Prodigal: How Jesus Retold Israel´s Story. IVP Academics, Downers Grove,
2003.
[2] Marshall, I. Howard. The Gospel of Luke: A Commentary on the Greek Text. William B. Eerdmans, Grand Rapids, 1978.
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