Em 1995 eu tomei conhecimento
sobre a existência de um professor do MIT chamado Noam Chomsky. Ele já era um
senhor de cabelos grisalhos que só fazia palestras para auditórios onde as
pessoas tinham que ficar em pé, com o intuito de permitir que um grupo maior de
pessoas pudessem ouvir o que ele tinha que dizer. A partir daí me interessei
por sua obra escrita e fui lendo diversas de suas obras. Foi lendo os livros de
Chomsky que eu ouvi pela primeira vez o conceito de manufacturing consent ou fabricação de consenso, por meio de seu
livro Manufactoring Consent — The Plitical
Economy of The Mass Media, ou
Fabricando Consenso — A Economia Política da Comunicação em Massa — de autoria
de Noam Chomsky e Edward S. Herman.
Hoje queremos repercutir um
artigo escrito pelo professor Dr. Wilson Roberto Vieira Ferreira que trata do
fato da Rede Globo estar fabricando consenso para defender seus — da Rede Globo
— interesses. Recomendamos a todos a leitura do material abaixo.
Globo tenta abafar o
barulho do seu silêncio na greve geral
Por Wilson Roberto Vieira Ferreira
A Globo, acompanhada do restante
da mídia corporativa, ressente-se de um cada vez mais grave processo de negação
da realidade. Os sintomas são cada vez mais agudos, como demonstrou o silêncio
dos últimos dias sobre a articulação da greve geral pelas centrais sindicais e
movimentos sociais. Um silêncio bem barulhento, pois revelou a sua
autoconsciência do poder de duas armas semióticas que sempre dispara em
contextos de desestabilização política: a “profecia autorrealizável” e o
“efeito copycat”. O constrangimento e “saia justa” dos apresentadores nas
primeiras horas da manhã de sexta-feira — 28 de Abril — também revelou uma
aposta: "as nossas armas semióticas são tão poderosas que, se ficarmos em
silêncio, nada vai acontecer! Mas a negação tautista da mídia corporativa
descobriu da pior forma possível que existe vida lá fora, no deserto do real.
Como de hábito esse humilde
blogueiro enfrenta a perigosa missão de entrar em contato com o material
altamente tóxico e volátil emitido diariamente pela mídia corporativa, em
particular com as bombas semióticas disparadas pela vetusta TV Globo.
Como acompanhamos nos últimos
tempos, uma emissora cada vez mais fechada em si mesma e alheia a
transformações ao redor, inebriada com o seu poder de impor agendas,
transformar interinos em presidentes e turbinar o narcisismo de policiais
federais, juízes do STF e forças tarefas de moralização – chamamos isso de
“tautismo” (tautologia + autismo), a doença dos sistemas que se fecharam em si
mesmos - sobre esse conceito veja o arquivo pelo link abaixo:
Mas ontem, dia 28, foi no mínimo
divertido acompanhar a verdadeira saia justa a que se submeteram os
apresentadores de telejornais da grande mídia nas primeiras horas da manhã.
Todos pareciam ser pegos de surpresa: terminais de ônibus vazios? Pneus
queimando nas estradas? Trens e metrôs parados? O que está acontecendo?
Enquanto a Band mantinha o tom
monocórdico que sustenta até agora (o “desafio” dos trabalhadores em chegar ao
trabalho numa greve que só atrapalha), na Globo os momentos mais impagáveis
ficaram com a dupla Rodrigo Bocardi e Gloria Vanique. Enquanto a apresentadora
se agarrava na pièce de resistance do aeroporto de Congonhas que mantinha a
normalidade dos pousos e decolagens, Bocardi tentava minimizar as imagens de
incêndios e barricadas em ruas e estradas: “Não é uma greve geral! São apenas
ALGUNS sindicatos... quer dizer, muitos...”, titubiava.
Bocardi: "sexta-feira
amanheceu um dia diferente"
O termo “greve geral” era
evitado. Falava-se em “manifestações”, “sindicatos” e “greve nos transportes”.
A Globo ainda apostava no esvaziamento da greve geral. Só mais tarde, quando
perceberam a intensidade das mobilizações e o alcance nacional, não teve jeito
e começaram a anunciar a temida expressão “greve geral”.
O fato é que durante toda a
semana simplesmente ignoraram o tema. Nenhuma notícia sobre a convocação da
greve pelas centrais sindicais em protesto contra as reformas trabalhistas e
previdenciárias impostas pelo governo do desinterino Temer.
Apesar do movimento ter alcance
nacional, nem sob o ângulo da prestação de serviços para os telespectadores a
grande mídia tratou o tema: haverá transportes na sexta-feira? Como ficarão os
serviços públicos? Como sairei de casa?
Profecia
Autorrealizável e a linguagem performática
Um silêncio “barulhento” porque
repleto de significados: em primeiro lugar revela a parcialidade e partidarismo
da mídia corporativa que insiste em fingir ser a vestal da ética e da
imparcialidade jornalística.
E segundo, porque revela a
autoconsciência do poder de duas armas semióticas que a própria Globo utilizou
nos últimos anos para a desestabilização política e econômica que culminou no
golpe: a profecia autorrealizável e o efeito copycat.
A mídia corporativa (e
principalmente a TV Globo pelo monopólio da audiência) sabe que numa sociedade
midiatizada a informação é muito mais do que um simples meio de transmissão de
conteúdos. A linguagem não apenas representa, mas também transforma-se em ação,
performatiza, faz coisas serem realizadas.
Por exemplo, o leitor deve
lembrar da famosa sequência do filme Matrix quando Neo (Keanu Reeves) vai
visitar o Oráculo e recebe uma advertência: “cuidado com o vaso”. “Que vaso?”,
pergunta surpreso Neo, virando-se e esbarrando no vaso que cai para se quebrar
no chão. O Oráculo não sabia que Neo quebraria o vaso. Mas foi sua advertência
que fez a queda do vaso acontecer. Em outras palavras, o Oráculo não
representou o futuro – fez o futuro acontecer através da função performativa da
linguagem.
Como autores como Wittgenstein e
Austin apontavam, a pragmática antecede a semântica. Antes do signo representar
ele pede uma ação – leia WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações Filosóficas, Vozes
e AUSTIN, J. Quando Dizer é Fazer, Artes Médicas, 1990.
A grande mídia nos últimos quatro
anos bateu diariamente, manhã tarde e noite, o bumbo de uma suposta crise
econômica descontrolada: desemprego, inflação, dívida pública, apagões etc. Se
até 2012 o País tinha um “crescimento econômico invejável” e “decolava” com a
entrada nos BRICS, como observava a revista The Economist, repentinamente tudo
mudou como se tivesse virado um disco de vinil para o lado B. Da euforia para a
catástrofe de uma hora para outra.
De tanto repercutir essa agenda,
um dos quesitos essenciais para a consumação do golpe político, os agentes
econômicos parece que acreditaram e a crise autorrealizou-se – contando ainda
com o auxílio luxuoso da Lava Jato que destruiu a cadeia produtiva do óleo,
gás, setor naval e construções gerando de uma hora para outra 600 mil
desempregados.
Portanto, a grande mídia sabe que
noticiar a articulação da greve geral pelos sindicatos e movimentos sociais
poderia criar o efeito recursivo ou autorrealizável. Foi nesse silêncio que a
TV Globo apostou. De forma alucinadamente tautista, as salas de guerra dos
aquários de redação da Globo imaginaram: se ficarmos em silêncio, nada vai
acontecer!
Mas a negação tautista da mídia
corporativa descobriu da pior forma possível que existe vida lá fora, no
deserto do real.
O efeito de imitação
Também Globo e a grande mídia que
a acompanha sabem que, além do efeito autorrealizável das notícias, há também o
chamado “efeito copycat”. Um efeito residual de imitação que acompanha a
personificação das notícias - ou um tipo de jornalismo que procura
“personagens” ao invés dos fatos.
Na ânsia em criar uma atmosfera
de desestabilização política, o noticiário global deu espaço para manifestações
de intolerância, ódio e preconceitos. Mesmo muitas vezes condenando, os
telejornais abriram uma verdadeira Caixa de Pandora – o efeito copycat fez a
psicologia do fascismo sair das sombras da vergonha para a claridade das telas
de TV com bolsonaros e felicianos.
Seguido pelo efeito de imitação
de protofascistas em redes sociais, espaços públicos das ruas, estações de
metrô e manifestações políticas.
É visível o esforço da emissora
em não personificar a greve geral – não há líderes ou pessoas, apenas “centrais
sindicais”, “vândalos”, “grupos” ou “manifestantes”. A mídia corporativa sabe
muito bem o alcance semiótico das armas que tem nas mãos e que sempre a utiliza
nos momentos-chave de ação política: a profecia autorrealizável e o efeito
copycat.
Metalinguagem e “mea
culpa”
A Globo não foi pega de surpresa
pela greve geral em si. Mas ficou surpresa em descobrir que existem movimentos
autônomos lá no deserto do real, para além do sistema que criou fechando-se em
si mesma.
Para reverter essa ironia
patética, a Globo se viu obrigada a fazer uma caprichada cobertura ao vivo da
greve geral ao longo de todo o dia – com direito a acompanharmos repórteres
tossindo e sufocando pelo efeito dos gases das bombas lançadas pelos pelotões
de choque da polícia.
Mais além, o Jornal Nacional
tentou fazer uma espécie de metalinguagem da cobertura da greve geral como uma
espécie de mea culpa do porquê manteve-se em silêncio todo esse tempo. “Todos
os programas da manhã abriram espaço para flashs com informações...”, relatou a
apresentadora Renata Vasconcellos como se, repentinamente por encanto, a Globo
acordasse e desse um “show” de cobertura jornalística.
É o mesmo “sentimento de culpa”
que parece dominar a emissora todas as vezes em que o tiro sai pela culatra,
sempre produzindo minisséries sobre a época da ditadura militar para expiar o
seu passado de franco apoio ao golpe de 1964..
Quando viu que o candidato que
apoiou, Collor de Melo, estava com os dias contados para o impeachment, colocou
no ar em 1992 a série Anos Rebeldes para criar a falsa imagem da imparcialidade
sobre uma história de amor em plena repressão da ditadura militar.
Agora, a Globo lança outra
minissérie, Os Dias Eram Assim, novamente sobre o tema da repressão militar em
um momento agudo de críticas por todos os lados sobre a participação decisiva
da emissora no golpe político de 2016.
Como sempre, a Globo tenta
exorcizar as “hordas bárbaras” que avançam do deserto do real. Porém, dessa vez
todo aparato metalinguístico não será suficiente para abafar o barulho do seu
silêncio.
O artigo original poderá ser
visto por meio desse link aqui:
Que Deus tenha misericórdia de
todos.
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa
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Desde já agradecemos a todos.
Rede Globo, Silêncio,
Manipulação, Fabricação de Consenso, Negação da Realidade, Semiótica, Profecia
Autorrealizável, Efeito Copycat, Imitação, Greve Geral, Euforia, Catástrofe,
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