EM NOITE DE CULTO NA AVENIDA SÃO
JOÃO, EM SÃO PAULO, ROSANIA CANTA PARA OS FIÉIS (FOTO: LALO DE ALMEIDA / MARIE
CLAIRE)
O artigo abaixo foi publicado
pela revista Marie Claire.
Por
dentro da igreja das lésbicas: casal de pastoras reúne milhares de evangélicos
homossexuais em cultos
Nem Deus, nem Diabo, nem homem
algum foi capaz de acabar com o amor entre duas mulheres religiosas. Depois de
anos de negação e um encontro com a morte, Lanna Holder e Rosania Rocha
decidiram assumir a relação. Como não encontraram uma igreja capaz de aceitá-las,
fundaram a própria. Hoje, os templos da Cidade de Refúgio acolhem evangélicos
que, como elas, são homossexuais
Diz a tradição cristã que
enxurradas de enxofre e labaredas de fogo caíram do céu no dia em que Deus
destruiu as cidades de Sodoma e Gomorra e matou todos os seus habitantes. Esse
teria sido o castigo divino pelos pecados que os cidadãos tinham cometido:
assassinato de crianças e idosos, estupros e sexo grupal entre homens. Assim,
os sodomitas, tais como os ladrões e tantos outros criminosos listados na
Bíblia, não herdariam o reino dos céus.
A história é repetida à exaustão
hoje em templos evangélicos como a prova de que Deus condena os homossexuais.
Programas de televisão pentecostais defendem a “cura gay” apoiados nessa
passagem do texto bíblico e defendem que reverter a sexualidade não só é
possível como necessário para evitar o encontro com o Diabo. “A verdade é que
ninguém quer ir pro inferno”, diz Lanna Holder, 40 anos, sete dos quais passou
defendendo essa tese.
Em 1996, aos 21 anos, ela entrou
para a Assembleia de Deus, a maior organização evangélica do Brasil, em busca
de solução para dois problemas que considerava graves: o uso de drogas (Lanna
cheirava cocaína, fumava maconha e bebia muito) e a atração por meninas. O
primeiro ela solucionou depois de um só culto. Já o segundo, descobriu ser mais
difícil.
Por anos, tentou afastar o
“pecado”, evitou manter amizade com mulheres e usou a própria história de
“ex-lésbica” para convencer outros gays de que era possível mudar. Até que
entendeu que estava mentindo para si mesma: podia largar as drogas, mas não
algo que nascera com ela.
Hoje, Lanna é diretora da igreja
inclusiva que mais cresce no país. Tem a seu lado a mulher, a cantora Rosania
Rocha, 41 anos, que também lutou por anos contra a própria natureza. Criada em
2011, a Comunidade Cidade de Refúgio é fruto da história de amor das duas
pastoras e já possui quatro filiais além da sede, no Centro de São Paulo, onde
os cultos dominicais extrapolam a lotação máxima de 300 fiéis – quase todos
gays. Este ano, um novo templo, com capacidade para 2 mil pessoas, será
inaugurado.
AMOR IMPOSSÍVEL
A sintonia das duas é antiga e
teve início 12 anos atrás, em Boston, nos Estados Unidos. Rosania, então com 29
anos, morava na cidade com o marido e o filho pequeno. Cantava em igrejas da
comunidade latina e tinha alguns discos gravados. Era uma estrela em ascensão
no mundo gospel.
Enquanto isso, no Brasil, Lanna
se tornava conhecida pela “cura” de sua homossexualidade. Era casada com outro
pastor e também tinha um filho. Sua história lotava cultos e ela viajava cada
vez mais longe para contá-la. Assim chegou a Boston, onde faria uma rodada de
pregação. Elas ainda não se conheciam, mas Rosania havia sido escalada para
cantar na ocasião. Quando se viram, a atração foi imediata.
“Lembro de hora, data, cada
detalhe”, diz Rosania ao recordar o episódio. No início, mantiveram uma
amizade. “Dessas de fazer trancinha no cabelo, trocar confidências.” Lanna
queria se tornar mais feminina e ela tentava ajudar. “Dizia para colocar unhas
postiças, essas coisas.”
Para Lanna, a convivência era
novidade. “Não tinha amigas. Por causa do meu passado, evitava ter”, diz.
Durante seis meses, elas viajaram pelos Estados Unidos a convite de diferentes
templos. Lanna pregando e Rosania cantando.
“Um dia, paramos na estrada e o
pessoal foi comprar um vinho. Ficamos a sós. Eu estava confusa, mas tinha
liberdade com Lanna e decidi falar: 'Acho que estou gostando de você de um
jeito diferente'”, lembra Rosania. A resposta foi rápida: “A recíproca é
verdadeira”. No hotel onde o grupo se hospedou, elas dividiram uma das camas de
casal (“A gente não fazia nada naquela época”, se apressa em explicar a
cantora). “Mas não conseguimos dormir. Ficamos nos olhando, sem saber o que
fazer.”
Rosania e Lanna, as fundadoras da
Comunidade Cidade do Refúgio - Foto Divulgação
ESCÂNDALO E DIVÓRCIO
Casadas com homens e apaixonadas
uma pela outra, as duas amigas decidiram apelar para Deus. “Choramos e oramos.
A nossa primeira ideia foi fugir daquele sentimento”, conta Rosania. Não deu
certo. Por mais que rezassem, a atração foi maior. Poucos dias depois,
beijaram-se pela primeira vez, e aí foi difícil parar. O caso cheio de culpa
durou seis meses, ao fim dos quais decidiram pedir ajuda. Sentaram os dois
maridos à mesma mesa e, juntas, confessaram tudo.
Eles esbravejaram e se
indignaram. Só não houve mais xingamentos por causa da postura religiosa dos
dois. “Reagiram como maridos traídos”, diz Lanna. O segundo passo foi falar com
os superiores da igreja, e aí a história foi escancarada. Os pastores as
orientaram a lidar com o caso em segredo, mas, no dia seguinte, a comunidade
inteira já sabia. “Minha caixa de e-mails estava lotada, o telefone não parava
de tocar”, conta Rosania.
O plano dos religiosos foi
separá-las. Rosania mudou-se para Connecticut, numa operação “resgate de
casamento”, e Lanna retornou ao Brasil, onde radicalizou: decidiu pedir o
divórcio e se desligar da igreja.
Sem a renda da congregação, no
entanto, ela voltou para os Estados Unidos endividada e com o filho pequeno no
colo. Lá trabalhou como entregadora de pizza, pintora e pedreira. Estava
afastada de Rosania, que ainda acreditava na cura gay, e da religião, pois já
não queria mais mentir. “Tinha perdido a esperança de mudar. Deus tinha
transformado tudo o que podia, menos essa parte, que era (e é) minha natureza.”
"Deus tinha transformado
tudo o que podia, menos essa parte, que era (e é) minha natureza" Lanna
Holder, pastora
Sete meses se passaram antes que
Rosania recebesse notícias dela por uma amiga. “Lanna tinha voltado a beber,
estava na balada e ficava com umas dez meninas ao mesmo tempo”, conta a
cantora. “Fiquei brava. Estava fazendo tudo certinho, e ela tinha voltado pra
bagunça.”
Enciumada, mesmo sem vê-la havia
meses, dirigiu até Massachusetts, onde Lanna morava, e foi confrontá-la. O
reencontro acendeu de novo a paixão e, a partir de então, passaram a se ver com
frequência. Rosania ainda era casada e tentava manter a família unida, mas não
conseguia evitar Lanna. Em dias alternados, elas dirigiam até quatro horas para
se encontrar, às vezes no meio do caminho.
Num desses encontros, tudo mudou
outra vez. “Havia deixado Rosania na casa dela e estava na estrada quando dormi
no volante. O carro despencou de um barranco e quase morri. Quebrei quatro
costelas, os ossos perfuraram meu fígado, meu pulmão foi esmagado e o fêmur,
deslocado da bacia.”
Lanna acordou do coma três dias
depois, ainda sob risco de morte, e encontrou à sua volta o ex-marido e outras
pessoas da igreja. A grande culpada, diziam, era Rosania. Um castigo dos céus.
Para piorar, um religioso trazia um suposto recado divino: se quisesse
sobreviver às cirurgias (seriam nove no total), ela deveria cortar todos os
laços com a amante.
AGITO NA PORTA DA IGREJA, NO CENTRO DE SÃO PAULO (FOTO: LALO DE ALMEIDA / MARIE CLAIRE)
EMBATE COM O PASTOR
Dias depois, quando já conseguia
andar, Lanna viu que uma das visitas deixara o celular perto da cama. Pegou o
aparelho, correu para o corredor e telefonou para Rosania. Ao contrário da
profecia do pastor, ela melhorou quando a amada chegou.
Lanna voltou mais uma vez ao
Brasil e começou a pregar em igrejas tradicionais. Rosania deu entrada no
divórcio e, dois anos depois, desembarcou em São Paulo. O filho ficou nos
Estados Unidos com o pai (hoje, passa as férias com a mãe). Estavam finalmente
juntas, vivendo como um casal na mesma casa, e com um projeto em mente.
“Nossos amigos gays haviam se
afastado da igreja e nos pediam para cantar hinos, recitar a palavra”, lembra
Rosania. Ninguém podia saber – muito menos as congregações que contratavam
Lanna –, mas elas pretendiam criar uma igreja dedicada a gays e lésbicas.
“Nossos amigos gays haviam se
afastado da igreja e nos pediam para cantar hinos, recitar a palavra” Rosania
Rocha, pastora
Em 2011, erguida com as economias
de ambas, surgiu a Comunidade Cidade de Refúgio – no mesmo período em que o
casamento gay passou a ser legal no Brasil e elas viraram esposas pela lei.
Havia cerca de 200 pessoas na inauguração.
Desde então, o número se
multiplica exponencialmente (três anos depois, a quantidade de fiéis – vários
com histórias parecidas com a do casal – já é dez vezes maior). Tanto que, no
culto, a voz de Lanna se dirige às muitas pessoas no salão da igreja, mas não
só. Há fiéis que acompanham ao vivo pela internet, no interior do país, em
Portugal, nos Estados Unidos e no Japão. A lista dos locais conectados é lida a
cada domingo, um jeito de aproximar o público online da sede, na Avenida São
João.
Lá, um telão instalado no subsolo
leva a imagem da pastora aos que não couberam no salão principal. De um espaço
improvisado, cheio de gente com vontade de se tornar visível, surgem vozes
guturais, sufocadas. Juntas, as fiéis gritam: “Aleluia!”.
A matéria original da revista
Marie Claire poderá ser vista por meio desse link aqui:
OUTROS ARTIGOS ACERCA
DE PRÁTICAS DE IMORALIDADES SEXUAIS
Que Deus tenha misericórdia de
todos.
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a
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Desde já
agradecemos a todos.
O negócio aí é pesado. Não diferente dos pastores héteros e adúlteros. A repercussão só foi maior porque elas são lésbicas.
ResponderExcluirIrmão Alex, já viu o caso recente do amigo do Silas Malafaia, o Pr Jabes Alencar, da Assembleia de Deus do Bom Retiro - SP, que separou-se(não sei o motivo) da esposa depois de 35 anos de matrimônio e casou-se com uma "novinha"?
Segundo notícias na internet, esse era uma caso que se arrastava pelo menos desde 2010, sob o pseudônimo de que Jabes estava afastado da presidência de sua igreja para "tratamento de saúde".
E, o que mais há na internet são fotos de Jabes e sua nova mulher(nova mesmo) com outros "pregadores", que o show gospel chama de defensores do casamento. Entre eles Silas, Jorge Linhares, Josué Gonçalves, Cláudio Duarte e Silmar Coelho, estes dois últimos estando mais para "stand-up comedy", literalmente, pois é isso que eles fazem de fato, usando a Bíblia como subterfúgio e trouxas como ouvintes.
Não estou julgando o tal pastor. Mas seria de bom tom que ele explicitasse o que o levou a acabar com um casamento de 35 anos, trocando a esposa por uma senhorita com idade para ser sua filha(não vem ao caso).
Caro Joel,
ExcluirQuanto a essa questão do Jabes de Alencar, veja o artigo que publicamos hoje, por meio desse link aqui:
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2015/02/jabes-de-alencar-divocio-mentiras-e.html
Abraço fraterno,
irmão Alex