O texto abaixo foi publicado no site da revista istoé e é de autoria de juliana alecrim
O avanço da rivalidade religiosa
Seguidores da umbanda e do
candomblé são vítimas de preconceito, sobretudo dos evangélicos, e a Justiça e
a polícia não estão preparadas para lidar com o crime
Juliana Dal Piva e Michel Alecrim
Uma característica atribuída ao
povo brasileiro é a tolerância religiosa. O caldeirão de culturas que formou o
País teria propiciado a convivência harmônica entre os diferentes credos, ao
contrário de outras nações onde violentas disputas derramam sangue inocente. Na
prática, porém, a realidade é outra. Seguidores das religiões afro-brasileiras
sempre conviveram com a desconfiança alheia. Nos últimos tempos, há indícios de
que a situação se agravou. Somente no Rio de Janeiro, são contabilizados, por
ano, quase 100 casos de agressões morais ou físicas envolvendo intolerância
religiosa em relação aos praticantes de umbanda e candomblé. “Em sua maioria
esmagadora, os ofensores são membros das igrejas neopentecostais”, afirmou à
ISTOÉ Henrique Pêssoa, delegado da 4a DP, no centro da cidade, que há três anos
recebeu uma designação especial e pioneira no Brasil para cuidar de casos que
envolvem crimes de viés religioso.
“Cada neopentecostal tem a missão
de ganhar adeptos, é uma obrigação religiosa, daí o proselitismo. A missão é
clara: divulgar e converter”, explica a antropóloga da Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro Sonia Giacomini, que pesquisa o tema há 20 anos. Ela
diz que o intuito de arrebanhar mais e mais fiéis é bastante organizado.
“Existe uma certa logística. Por exemplo, uma igreja é instalada onde havia um
cinema pornô, pois ali seria uma área especial para fazer uma conversão, cheia
de pessoas vulneráveis”, apontou.
PRECONCEITO - Chamada de “macumbeira safada”, Elisângela Queiroz não conseguiu registrar a ocorrência numa delegacia
O problema é que a busca por
fiéis transforma-se, às vezes, em perseguição. Na Ilha do Governador, na zona
norte, há denúncias na 4ª DP de representantes de religiões afro-brasileiras
contando que terreiros (os locais onde são realizadas as cerimônias de umbanda
e candomblé) estavam sendo destruídos e seus líderes escorraçados da Ilha por
traficantes evangélicos neopentecostais. “Ali, criamos a Comissão de Combate à
Intolerância Religiosa (CCIR) porque era extremamente necessário”, diz Ivanir
dos Santos, membro da comissão. Este e outros 39 casos em todo o País foram
denunciados em um relatório produzido pelo grupo que reúne 12 religiões e
entregue ao presidente do Conselho de Direitos Humanos da Organização das
Nações Unidas, Martin I. Uhomoibai.
Entre as denúncias, está a da
Associação da Resistência Cultural Afro-Brasileira Jacutá de Iansã, que não
conseguiu abrir conta-corrente na agência Abílio Machado da Caixa Econômica
Federal, em Belo Horizonte (MG). Os diretores contam que esperaram quatro meses
para receber a seguinte resposta: o banco é livre para abrir conta de quem
quiser, e não queria a associação como correntista. Em São Paulo, a Associação
Beneficente de Oyá e Ogun acusa a prefeitura de discriminação por ter lacrado
sua sede no bairro de Santa Mariana, sob a alegação de desrespeitar o
zoneamento. Segundo eles, o desrespeito se deve unicamente ao fato de eles
estarem no local. Até na considerada sincrética Salvador (BA), a prefeitura foi
denunciada por ter destruído parcialmente o terreiro Oyá Onipo Neto no bairro
de Imbuí. No processo, diz que o terreiro era vizinho à propriedade de um
funcionário da prefeitura que não gostava da proximidade com o templo. Os três
casos ocorreram em 2008 e ainda estão sendo investigados.
No Rio, um dos terreiros mais
antigos do País, de 1908, foi derrubado recentemente. Funcionava no município
de São Gonçalo, não muito longe da capital, em uma pequenina casa, que foi
posta abaixo para a construção de um galpão. A iniciativa da demolição foi do
dono do imóvel, o militar Wanderley da Silva, 65 anos, que desconhecia a
importância do endereço. O problema, segundo lideranças religiosas regionais,
não foi o ato dele e, sim, o da prefeita de São Gonçalo, Maria Aparecida
Panisset (PDT), que teria ignorado os pedidos de umbandistas para salvar o
local tombando-o. A prefeitura expediu uma nota dizendo que nada poderia fazer
porque a casa era particular. Mas outro caso envolvendo a prefeita Maria
Aparecida, que é frequentadora da Primeira Igreja Batista Renovada, provoca
dúvidas entre os religiosos.
NA MIRA - Cristiano Ramos, diante do Centro
Espírita Caboclo Pena de Ouro, no Rio de Janeiro, que pode ser desapropriado.
Maria Aparecida estaria forçando
a desapropriação de um local onde funciona outro histórico terreiro, o Centro
Espírita Caboclo Pena de Ouro. O presidente da Casa, Cristiano Ramos, diz que a
explicação oficial é a construção de um Complexo Poliesportivo no local –
embora haja um centro esportivo com características semelhantes na região. O
caso virou, em abril, uma disputa judicial. “Tentei negociar várias vezes, mas
ninguém quis me ouvir”, diz Ramos, que alega não ter recebido informações sobre
indenização até agora. Procurada por ISTOÉ, a prefeitura não deu retorno.
Muitas iniciativas para combater
a perseguição ainda dependem de apoio governamental. Por exemplo, o tombamento
de templos – que são pedidos e não são atendidos pelas prefeituras –, a
morosidade na apuração de denúncias de perseguição e a falta de providências
contra policiais que se recusam a investigar casos de intolerância. Para o
delegado Henrique Pêssoa, saber a abrangência exata desse tipo de crime, que
tem pena de um a três anos de reclusão e multa, é quase impossível. Os
registros raramente são feitos de maneira correta e, além disso, a lei não
costuma ser cumprida. A bancária Elisângela Queiroz descobriu isso na prática.
Chamada de “macumbeira safada” por um colega de trabalho, ela procurou uma
delegacia, mas recusaram o registro da ocorrência. “Chegaram a me dizer que era
apenas uma briguinha”, contou ela.
Pesquisa recente da Fundação
Getulio Vargas aponta que 0,35% da população declarou ser praticante de
religiões afro-brasileiras. O teólogo Jayro de Jesus acredita que é muito mais
e até estima um crescimento de quase 70% no número de terreiros nos últimos 30
anos. “Acho que as pessoas estão sendo segregadas e, por isso, não tiveram a
altivez de se autodeclarar nos censos”, afirma. Ele faz parte do grupo que está
discutindo o mapeamento dos terreiros existentes no Brasil, com apoio da
Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. A expectativa é de que
os trabalhos comecem no início do próximo ano e durem até 2013. Em um
levantamento feito em 2011, foram localizados até agora, somente na região
metropolitana do Rio, 847 terreiros. Com os dados obtidos, o próximo passo será
a implementação de um Plano Nacional de Proteção Religiosa. Para impedir a
propagação de conflitos movidos pela religião, é preciso agir rápido.
A reportagem original poderá ser
vista por meio do seguinte link:
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que
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Desde já agradecemos a todos.
OLÁ IRMÃOS ALEX, O QUE TEM A DIZER SOBRE A REFERIDA INTOLERÂNCIA RELIGIOSA DE ALGUNS EVANGÉLICOS PARA COM OS ADEPTOS DE RELIGIÕES DE MATRIZES AFRICANAS.
ResponderExcluirEU PARTICULARMENTE NÃO CONCORDO ACREDITO NO DIÁLOGO MUTUO, ACREDITO QUE DEVEMOS DIALOGAR FALAR DE JESUS E DE SEU REINO, MAS NÃO FAZER PERSEGUIÇÃO, O ESPÍRITO SANTO QUE NOS CONVENCE DO PECADO.DEVEMOS PREGAR COM A NOSSA VIDA, QUE AS PESSOAS VEJAM A CRISTO EM NÓS E ASSIM ELAS CONHECENDO A CRISTO VENHAM A ACEITA - LO. MAS SÓ OCORRERÁ SE NOS POSICIONARMOS COMO FILHOS DE DEUS.
Cara Bianca,
ExcluirEu concordo plenamente com você. Esse é o motivo porque sempre publico artigos denunciando o preconceito, o racismo e as perseguições por motivos religioso independente da origem.
Obrigado por escrever.
Abraço,
irmão Alex
Cara Bianca,
ExcluirEu concordo plenamente com você. Esse é o motivo porque sempre publico artigos denunciando o preconceito, o racismo e as perseguições por motivos religioso independente da origem.
Obrigado por escrever.
Abraço,
irmão Alex