Este estudo é parte de uma breve introdução ao Antigo Testamento. Nosso interesse é ajudar todos os leitores a apreciarem a rica herança que temos nas páginas da Antiga Aliança. No final de cada estudo o leitor encontrará direções para outras partes desse estudo
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
Capítulo 2 – Onde Ocorreram os Eventos Narrados do
A. T.?
Introdução.
A Revelação contida no Novo
Testamento é distinta daquela contida no Antigo Testamento. A história registrada
no Novo Testamento nos fala que Deus se revelou à humanidade por meio da
encarnação, ou seja, na pessoa de Jesus de Nazaré, Deus tomou a forma humana.
Isso significa que a revelação de Deus ocorreu em um tempo e lugar específicos.
Assim, para entendermos o Novo Testamento, precisamos estudar os acontecimentos
da vida de Jesus e da igreja primitiva[1].
A história e a geografia do mundo palestino durante o primeiro século
apresentam um pano de fundo importante para a leitura do Novo Testamento.
Mesmo sem uma revelação do
mesmo tipo, isto é, sem uma encarnação por parte da divindade, a verdade de
Deus também foi revelada no Antigo Testamento. Deus se revelou em tempos e
lugares específicos para pessoas e grupos específicos de pessoas. Portanto, é importante
que os cristãos conheçam e se familiarizem com os locais em que os eventos
narrados no Antigo Testamento tiveram lugar.
I. Os Locais Onde Ocorreram os Eventos Narrados no
Antigo Testamento?
A nação de Israel da
Antiguidade ocupava apenas uma pequena parte de uma área maior conhecida como o
Antigo Oriente Próximo. Esta região é conhecida e chamada em nossos dias como
Oriente Médio. Os limites desta extensão de terra são os seguintes:
- No Leste as Montanhas Zagros[2].
- No Oeste o mar Mediterrâneo.
- Ao Norte, os limites do Antigo Oriente Próximo se estendiam até o Mar Cáspio e o Mar Negro, tendo entre eles as montanhas do Cáucaso[3].
- Ao sul, o Antigo Oriente Próximo fazia fronteira com o Deserto da Arábia e os dois corpos de água conhecidos como Mar Vermelho e Golfo Pérsico.
A terra conhecida desde tempos
imemoriais como “Terra de Canaã”, ocupava uma pequena, mas bastante importante
porção de terra do Antigo Oriente Próximo. A localização privilegiada da Terra
de Canaã, no entroncamento entre três continentes – África, Ásia e Europa –
acabaram por transformá-la em um pedaço estrategicamente importante ao longo da
história antiga. Tal posição privilegiada despertou o interesse de todas as
nações da Antiguidade que tentaram, de todas as maneiras possíveis, manter uma
posição de domínio ou pelo menos de certo favorecimento sobre a mesma. Esta
atitude se manifestava por dois motivos, a saber:
- A região era importante por causa da necessidade que existia de comunicação e comércio entre os três continentes que a mesma interligava
- Para nós que estamos estudando o Antigo Testamento compreendermos esta situação nos ajuda a entender a enormidade de influências culturais a que estavam sujeitos seus habitantes daquela região, incluindo-se ai, o povo de Israel.
A. O Antigo Oriente Próximo.
Quando estudamos o Antigo
Oriente Próximo logo entendemos que o mesmo está dividido em três sub-regiões
geográficas. Estas regiões estão unidas por um arco de terra fértil que foi
chamado desde a Antiguidade de “Crescente Fértil — ele tem o formato de uma
meia lua. A maior parte “da área do Antigo Oriente Próximo era desértica e
pouco propícia à manutenção da vida humana. As poucas terras férteis estavam
enquadradas entre montanhas quase intransponíveis ao norte e vastos desertos ao
Sul. Todavia dentro da área que chamamos de Crescente Fértil existiam terras
planas e abundância de água. A Bíblia e a arqueologia moderna concordam que
esta é a região onde se originou a civilização humana.
Mapa do Crescente Fértil
As três regiões geográficas
contidas no Antigo Oriente Próximo eram: Mesopotâmia[4],
Egito e Síria-Palestina. Como não existe vida sem água, essas três regiões
foram marcadas na Antiguidade por importantes culturas ligadas aos rios.
1. A Mesopotâmia.
A Mesopotâmia
O que acabamos de referir acima
fica melhor evidenciado pela primeira região conhecida como Mesopotâmia, que se
localizava entre os Rios Eufrates[5]
e Tigre[6].
Esta região iniciava no Golfo Pérsico ao sul e se estendia rumo noroeste, ao
longo da curva do Rio Eufrates. O limite leste é o Rio Tigre que corre aos pés
das Montanhas Zagros no moderno Irã. Nos dias de hoje, todo o Iraque e partes
do Irã, da Síria e o Líbano compõe a área conhecida como Mesopotâmia.
O terreno físico da Mesopotâmia
é típico de toda aquela região: altas cadeias de montanhas ao norte e leste e
desertos escaldantes ao sul. Esta mistura é certamente responsável pelo clima
imprevisível da região. Além disso, as águas dos rios Eufrates e Tigre são
cheias de caprichos e movimentos de inundações e secas realmente súbitas. Estes
fatores consistiam em um perigo constante e real para todos os habitantes da
Mesopotâmia. Em decorrências dessas realidades, enchentes e secas,
especialmente a região sul da Mesopotâmia, variava sempre entre um terreno desértico
e um terreno pantanoso. Se invasores conseguissem vencer o deserto ou as
montanhas não havia nenhum outro tipo de defesa natural para proteger seus
habitantes.
Mesmo diante destas realidades
e da permanente possibilidade de invasões, a Mesopotâmia era capaz de
proporcionar uma vida relativamente tranquila para aqueles viviam por ali,
especialmente na região sul, onde as águas dos rios podiam ser canalizadas para
a irrigação das plantações ou serem navegadas com fins comerciais.
Existe um inusitado consenso
entre os estudiosos da Antiguidade quanto ao fato que a civilização humana
teria se iniciado na base das montanhas ao Norte do rio Tigre, quando os
mesopotâmicos do Período Neolítico - cerca de 7.000 a.C. - começaram a cultivar
plantas, domesticar animais e colher frutos para seu sustento. A Bíblia nos
ensina que o Jardim do Éden estava plantado exatamente entre quatro rios, dois
dos quais são o Eufrates e o Tigre – ver Gênesis 2:10. De que maneira poderia
Moisés, que escreveu o livro do Gênesis e que viveu por volta de 5600 anos
depois da data estabelecida pelos historiadores para o início da civilização
humana, saber que a mesma teve origem precisa e exatamente no mesmo local
apontado pelos historiadores? A resposta pode ser uma somente: Deus revelou.
Foi no sul da Mesopotâmia que,
entre 3500 a 3300 a.C., os sumérios inventaram a escrita, quando descobriram
que podiam usar marcas cuneiformes[7]
em diferentes materiais para representar palavras[8].
A escrita cuneiforme — do latim cunes
que quer dizer cunha e do latim forma
que quer dizer formato — era mais facilmente reproduzida em porções de barro
úmido, que era um material muito fácil de ser encontrado naquelas partes da
Mesopotâmia. Era comum “assar” as placas de barro no sol ou em forno. Dessa maneira,
eram obtidas placas extremamente duráveis com escrita cuneiforme, e muitos
milhares destas placas já foram encontradas por arqueólogos modernos. A escrita
cuneiforme também podia ser entalhada em metais e pedras, mas estas práticas
eram bem menos comuns.
Alfaberto Cuneiforme
Placas com escrita cuneiforme
Placas com escrita cuneiforme
Aquela vida, razoavelmente
tranquila do sul era motivo de inveja, especialmente dos povos vindos do norte.
Como não possuíam defesas naturais os habitantes do sul precisavam manter
atenção permanente sobre possíveis ameaças externas. A história antiga da
mesopotâmia está pontilhada pelo fluxo de inúmeros grupos. Este fluxo foi o
responsável por muitas alternâncias de poder naquela região. Os sumérios foram
sucedidos por uma longa séria de povos semitas, de diferentes nacionalidades.
Durante o último quarto do terceiro milênio – entre 2250 e 2000 a.C., o
primeiro grupo de semitas, os acádios, chegou ao poder e ocupou o sul da
Mesopotâmia junto com os sumérios. Todavia tal domínio não foi muito extenso,
pois na virada do milênio, outro grupo semita, conhecido como os amoritas,
começou a chegar à região em grandes números. Os amoritas são importantes
porque dominaram a Mesopotâmia pelos 1000 anos seguintes da história. Eles
estabeleceram um grande foco de poder ao sul, na cidade de Babilônia, no
Eufrates, e ao norte, em Assur e Nínive, ao longo do rio Tigre. A herança dos
amoritas pode ser vista pelo fato dos babilônios ao sul e dos assírios ao norte
terem sido os dois grupos mais importantes na Mesopotâmia e que tiveram, como
iremos ver, um papel significativo na história do Antigo Testamento.
Babilônia
Nínive
Outros artigos acerca da Introdução ao Antigo Testamento
A. O Texto do Antigo Testamento
001 – O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO
002 – A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA
003 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 1 = Os
Escribas e O Texto Massorético — TM
004 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 2 = O Texto
Protomassorético e o Pentateuco Samaritano
005 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 3 = Os
Manuscritos do Mar Morto e os Fragmentos da Guenizá do Cairo
006 - A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 4 = A
Septuaginta ou LXX
007 - A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 5 = Os Targuns
e Como Interpretar a Bíblia
Que
Deus abençoe a todos.
Alexandros
Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem
que “curtam” nossa página no facebook através do seguinte link:
Desde já agradecemos a todos.
O
material contido nesses estudos foi, em parte, adaptado e editado das seguintes
obras, que o autor recomenda para todos os interessados em aprofundar os
conhecimentos acerca do Antigo Testamento:
Bibliografia
Aharoni,
Yahanan; Avi-Yonah, Michael; Rainey, Anson F. e Safrai, Ze’ev. Atlas Bíblico. Casa Publicadora das
Assembléias de Deus – CPAD, Rio de Janeiro, 1998,
Arnold,
Bill T. e Beyer, Bryan E. Descobrindo o
Antigo Testamento. Editora Cultura Cristã, São Paulo, 2001.
Durant, Will. The History of Civilization Volume 1 – Our
Oriental Herritage. Simon and Schuster, New York, 1963.
Heródoto de
Halicarnassus. The Histories. Penguin
Books Ldt, Middlisex, reprinted, 1986.
Hallo, William
W. e Simpson, William Kelly. The Ancient
Near East: A History. Nova York, Harcourt Brace Jovanovich, 1971.
King, Philip
J. American Archaeology in the Mideast: A
History of the American Schools of Oriental Research. ASOR, Philadelphia,
1983.
Millard, Alan;
Stanley, Brian e Wrigth, David. Atlas
Vida Nova da Bíblia e História do Cristianismo. Sociedade Religiosa Edições
Vida Nova, São Paulo, reimpressão, 1998.
Schoville,
Keith N. Biblical Arcaheology in Focus.
Baker Book House, Grand Rapids, 1978.
Wilson, John
A. The Culture of Ancient Egypt.
Chicago University Press, Chicago, 1951.
__________Britannica Atlas. Encyclopaedia
Britannica Inc., Chicago, 1996.
Enciclopédias
__________The New Encyclopaedia Brtannica.
Encyclopaedia Britannica Inc., Chicago, 15th Edition, 1995.
NOTAS
[1] Os historiadores definem o
período da igreja primitiva como aquele que se estende do início da igreja até
o ano 100 a.D. aproximadamente.
[2] As Montanhas Zagros – Kuhhã Ye
Zagros – estão localizadas no país moderno do Irã.
[3] As Montanhas do Cáucaso — Bol
Soj Kaukaz — estão localizadas nos países modernos da Rússia, Geórgia, Armênia
e Azerbaijão.
[4] Mesopotâmia — do grego mésos — no meio, entre e potamós — rio e que significa
entre-rios e designava a extensão de terra contida entre os rios Eufrates e
Tigre.
[5] O rio Eufrates é chamado de
Buanunu em sumério, Parattu em acádio, Ufrat em persa antigo, Eufrates em grego
e latim, Furat em arábico e Firat em turco.
O Eufrates é o rio mais comprido do oeste da Ásia e se inicia nas
planícies da Armênia, na Turquia moderna, e segue rumo sudeste através da Síria
e da parte sul do Iraque onde se une ao rio Tigre para formar o que é chamado
de Shatt al-'Arab,
que termina por desaguar no Golfo Pérsico. A extensão total do Eufrates é de aproximadamente 2.700 km.
[6] O rio Tigre é chamado de Tigra
em persa antigo, de Tigres ou Tigris em grego, de Tigris em Latim, de Idiclat
em acádio, na Bíblia é chamado de Hiddekel, de Dijla em arábico e de Dicle em
turco. O rio Tigre tem sua origem ao Sul das Toros Daglan — Montanhas Taurus na
Turquia — e segue em direção sudeste por aproximadamente 1.900 km em direção ao
Golfo Pérsico, quando se junta ao Eufrates e juntos,
sob o nome de Shatt al-'Arab penetram
no Golfo Pérsico. O Shatt al-'Arab
possui uma extensão de 193 km.
[7] Escrita Cuneiforme: Sistema de
escrita provavelmente inventado pelos sumérios e depois adotado por babilônicos
e assírios, constituído de sinais em forma de cunha, produzidos sobre tabletes
de argila.
[8] Durant, Will. The History of Civilization Volume 1 – Our
Oriental Herritage. Simon and Schuster, New York, 1963.
Parabéns pelo estudo.
ResponderExcluirSegundo autores e estudiosos do tema , a Bíblia, AT & NT,foram desenvolvidas ao longo de 1600 anos,obra de quarenta autores aproximadamente.Quanto ao AT,a única fonte seria a Torá.Quais seriam,então,as razões por que a versão ou versões cristãs divergem dessa fonte?
ResponderExcluirCaro blog da esquina,
ExcluirLamento, mas tuas informações acerca da Torá estão equivocadas.
Para se informa melhor, sugiro que leia os seguintes artigo, todos disponíveis no blog, por meio dos link abaixo:
Outros artigos acerca da Introdução ao Antigo Testamento
A. O Texto do Antigo Testamento
001 – O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2012/09/o-canon-do-antigo-testamento.html
002 – A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2012/09/a-inspiracao-do-antigo-testamento.html
003 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 1 = Os Escribas e O Texto Massorético — TM
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2012/09/a-transmissao-do-texto-da-biblia-parte-1.html
004 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 2 = O Texto Protomassorético e o Pentateuco Samaritano
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2012/09/a-transmissao-do-texto-da-biblia-parte-2.html
005 – A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 3 = Os Manuscritos do Mar Morto e os Fragmentos da Guenizá do Cairo
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2012/09/a-transmissao-do-texto-da-biblia-parte-3.html
006 - A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 4 = A Septuaginta ou LXX
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2012/10/a-transmissao-do-texto-da-biblia-parte.html
007 - A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 5 = Os Targuns e Como Interpretar a Bíblia
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2012/10/a-transmissao-do-texto-da-biblia-parte-5.html
Abraço,
irmão Alex