Este estudo é parte de uma breve introdução ao Antigo Testamento. Nosso interesse é ajudar todos os leitores a apreciarem a rica herança que temos nas páginas da Antiga Aliança. No final de cada estudo o leitor encontrará direções para outras partes desse estudo
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
Capítulo 2 – Onde Ocorreram os Eventos Narrados do
A. T.?
2. O Egito.
Na
região do Egito antigo não existiam cadeias de montanhas, mas a presença de
desertos e de um rio, o rio Nilo[1],
acabaram por reproduzir muitas das características geográficas que tornaram
possível a civilização Mesopotâmica.
Foto de Satélite do Rio Nilo com seu magnificente delta.
Todavia
existe uma diferença muito importante concernente ao desenvolvimento destas
duas civilizações. Enquanto a Mesopotâmia encontramos um desenvolvimento lento
e gradual desde a Idade da Pedra até o começo da história humana, o Egito
parece ter, da noite para o dia, pulado do Período Neolítico — teve seu fim por
volta do ano 4200 a.C. — para uma cultura urbana. Mas existem muitos
historiadores que acreditam que tal desenvolvimento, mesmo súbito, pode ser
atribuído a prováveis influências da Mesopotâmia no Vale do Nilo. Especula-se
inclusive, que o desenvolvimento de hieróglifos - do latim hiroglyphicos que quer dizer escrita sagrada — pode ter sido
influenciado pela escrita cuneiforme da Mesopotâmia.
Hieróglifos do Egito
Heródoto
Heródoto
de Halicarnassus, que é considerado o primeiro historiador da Antiguidade, descreveu
o Egito de um modo muito apropriado dizendo que ele era “uma dádiva do Nilo”[2].
O Nilo é sem dúvida, a característica geográfica de maior relevância do Egito.
Como tal ele teve um papel importante tanto na história quanto na perspectiva
cultural do povo que habitou às suas generosas margens. No seu último trecho o
rio Nilo se estende por 960 kilometros no deserto do norte da África até ao Mar
Mediterrâneo. Desta maneira o rio proporciona um grande contraste entre os
campos férteis às suas margens e os desertos que existe de ambos os lados[3].
O contraste causado pelas margens negras do rio Nilo emolduradas pelas areias
vermelhas e escaldantes dos desertos eram uma permanente lembrança do contraste
que existia entre a vida abundante em energia provida pelo rio Nilo, e a morte
representada pela esterilidade das areias dos desertos. Os egípcios chamavam o
solo rico do vale do Nilo de “terra preta” e os areias do deserto mais adiante
de “terra vermelha”[4].
Estas expressões denotavam a grande consideração que os egípcios nutriam pelas
águas do Nilo e o temor pavoroso que nutriam pelos desertos.
Trecho do rio Nilo e das terras ao seu redor
A
vasta maioria da população do Egito antigo vivia nas terras férteis do vale do
rio, que se estendiam por não mais do que quinze kilometros da margem do rio. O
rio Nilo não possui afluentes e o tempo absolutamente seco dos desertos impedem
a formação de nuvens de chuva sobre o Egito. Assim, não chove sobre todo o
país, com uma única exceção que é a costa às margens do mar Mediterrâneo. Desde
os primeiros registros escritos nós podemos observar que os egípcios sabiam o
quanto dependiam do rio Nilo para manter a fertilidade da chamada “terra preta”
da qual dependia a subsistência da nação. Os egípcios acreditavam que o seu rei—deus
— o faraó — era o verdadeiro responsável pelas cheias anuais do Nilo. Esta
cheia anual era de importância vital para a prosperidade no Egito, pois as
águas traziam camadas ricas em sedimentos que renovavam o solo, tornando a
“terra preta” do Egito em um dos solos mais férteis do mundo. Mas os egípcios
não entendiam que a estação das chuvas intensas no hemisfério sul era a
verdadeira causa responsável pelas inundações que, de forma previsível,
aconteciam todo mês de junho, e que alcançavam seu auge em setembro. A partir
daí um decréscimo constante era notado até que as águas voltassem ao seu nível
normal no mês de novembro.
O
rio Nilo é como o nosso rio São Francisco com respeito à direção com que se
desloca. Como o nosso “velho Chico”, o rio Nilo corre do sul para o norte. Este
fato somente é suficiente para causar fortes contrastes entre o norte e o sul
do Egito antigo. O sul que era chamado de Alto Egito tinha como sua principal
distinção o comprimento do Nilo. Já o norte, chamado de Baixo Egito, era distinguido
pelo delta criado e através do qual o Nilo se abre e desemborca no Mar
Mediterrâneo. Esse contraste resultou em diferenças significativas de
linguagem, de cultura e da maneira de ver a vida. O Alto Egito era provinciano
e conservador e dependia da criação de gado e das plantações às margens do
Nilo. O Baixo Egito, por sua vez, interessava-se pelo comércio devido ao seu
acesso aos portos da Europa e Ásia. Por este motivo o Baixo Egito era
constituído por pessoas que possuíam uma compreensão do mundo que era, de forma
predominante, internacional e cosmopolita. Unir estes dois grupos tão distintos
foi a primeira grande tarefa dos faraós. Não é à toa que os primeiro faraós a
estabelecerem um firme controle sobre os dois reinos – do norte e do sul — se
preocuparam em fundar e manter a cidade de Mênfis. Esta cidade tinha uma
localização estratégica, a meio caminho, por assim dizer, entre os dois reinos
e se localizava próxima de onde se inicia o delta do rio Nilo, ou seja, mais ou
menos onde o Alto Egito terminava e onde começava o Baixo Egito. A cidade de
Mênfis teve papel primordial na unificação do Egito.
Mênfis - A capital do Antigo Impérios
Por
estar cercado por deserto ao leste e ao oeste e por contar com a proteção do
mar Mediterrâneo ao norte o Egito, ao contrário da Mesopotâmia, gozava de certa
reclusão do mundo exterior. O mar e os desertos serviam como barreiras
geográficas. Isto representou para o Egito certos privilégios não desfrutados
pelos mesopotâmicos. Ameaças ocasionais, todavia, surgiam aqui e ali. A Líbia
ao oeste era um incômodo bem como algumas invasões procedentes do mar
Mediterrâneo. Mas a preocupação mais comum quanto à segurança dos egípcios eram
os invasores da Ásia, do outro lado da extensão de água que hoje chamamos de
Canal de Suez. Com raras exceções, entretanto, os egípcios foram capazes de
conter tais ameaças simplesmente com ações políticas. Comparado à Mesopotâmia,
o Egito estava relativamente livre de invasões. Como resultado não encontrou um
grande número de infiltrações étnicas e culturais como as que pontilharam a
história da Mesopotâmia.
Norte
da África
Canal de Suez
O
Egito não experimentou as dramáticas mudanças de poder registradas pela
Mesopotâmia. O que observamos na história do Egito é a ascensão e queda das
dinastias naturais do próprio país. Algumas dessas dinastias viram o Egito
desenvolver grandes impérios de relevância internacional para toda a história
do antigo Oriente Próximo. Os períodos de força imperial egípcia podem ser
divididos da seguinte maneira:
- Antigo Império - dinastias 3 a 6 - que se estende de 2700 até 2200 a.C.
- Médio Império - dinastias 11 a 13 - que se estende de 2000 até 1700 a.C.
- Novo Império - dinastias 18 a 20 - que se estende de 1550 até 1100 a.C.
É
bastante possível que o Egito do tempo dos patriarcas estivesse, provavelmente,
no período do Médio Império. Por sua vez o Egito em que Moises viveu e do
Êxodo, deve ter sido aquele representado pelo Novo Império. Quando Davi
consolidou a monarquia em Israel, o Egito já havia perdido sua posição de
superpotência internacional, apesar de continuar a ser de grande influência
cultural.
Outros
artigos acerca da Introdução ao Antigo Testamento:
A. O Texto do
Antigo Testamento
001 –
O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO
002 –
A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA
003 –
A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 1 = Os Escribas e O Texto Massorético —
TM
004 –
A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 2 = O Texto Protomassorético e o
Pentateuco Samaritano
005 –
A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 3 = Os Manuscritos do Mar Morto e os
Fragmentos da Guenizá do Cairo
006 -
A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 4 = A Septuaginta ou LXX
007 -
A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 5 = Os Targuns e Como Interpretar a
Bíblia
B. A Geografia
do Antigo Testamento
001 –
INTRODUÇÃO E MESOPOTÂMIA
Que
Deus Abençoe a Todos.
Alexandros
Meimaridis
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Desde já agradecemos a todos.
O
material contido nesses estudos foi, em parte, adaptado e editado das seguintes
obras, que o autor recomenda para todos os interessados em aprofundar os
conhecimentos acerca do Antigo Testamento:
Bibliografia
Aharoni,
Yahanan; Avi-Yonah, Michael; Rainey, Anson F. e Safrai, Ze’ev. Atlas Bíblico. Casa Publicadora das
Assembléias de Deus – CPAD, Rio de Janeiro, 1998,
Arnold,
Bill T. e Beyer, Bryan E. Descobrindo o
Antigo Testamento. Editora Cultura Cristã, São Paulo, 2001.
Durant, Will. The History of Civilization Volume 1 – Our
Oriental Herritage. Simon and Schuster, New York, 1963.
Heródoto de
Halicarnassus. The Histories. Penguin
Books Ldt, Middlisex, reprinted, 1986.
Hallo, William
W. e Simpson, William Kelly. The Ancient
Near East: A History. Nova York, Harcourt Brace Jovanovich, 1971.
King, Philip
J. American Archaeology in the Mideast: A
History of the American Schools of Oriental Research. ASOR, Philadelphia,
1983.
Millard, Alan;
Stanley, Brian e Wrigth, David. Atlas
Vida Nova da Bíblia e História do Cristianismo. Sociedade Religiosa Edições
Vida Nova, São Paulo, reimpressão, 1998.
Schoville,
Keith N. Biblical Arcaheology in Focus.
Baker Book House, Grand Rapids, 1978.
Wilson, John
A. The Culture of Ancient Egypt.
Chicago University Press, Chicago, 1951.
__________Britannica Atlas. Encyclopaedia
Britannica Inc., Chicago, 1996.
Enciclopédias
__________The New Encyclopaedia Brtannica.
Encyclopaedia Britannica Inc., Chicago, 15th Edition, 1995.
[1] O Rio Nilo – Bahr
An-nil ou Nahr An-nil – é o mais extenso rio da África —
6650 km — e corre do sul para o norte. O rio se inicia no lago Vitória no
Quênia e tem seu estuário no mar Mediterrâneo através de um magnificente delta.
Sua bacia ocupa incríveis 3.349.000 Km2. O Nilo deságua cerca de 3100 metros
cúbicos de água por segundo no mar Mediterrâneo.
[2] Heródoto de Halicarnassus. The Histories. Penguin Books Ldt,
Middlisex, (reprinted), 1986.
[3] Os desertos são: a oeste o
AS-SARAH AL GHARBIYAH – Deserto do Saara – e no leste AS-SARAH ASH SHARQUIYAH –
Deserto da Arábia.
[4] Hallo, William W. e Simpson,
William Kelly. The Ancient Near East: A
History. Nova York, Harcourt Brace Jovanovich, 1971.
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