Este estudo é parte de uma breve introdução ao
Antigo Testamento. Nosso interesse é ajudar todos os leitores a apreciarem a
rica herança que temos nas páginas da Antiga Aliança. No final de cada estudo o
leitor encontrará direções para outras partes desse estudo
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
Capítulo 3 – Quando Ocorreram os Eventos Narrados
do A. T.?
I. Quais são os Acontecimentos descritos pelo Antigo
Testamento? — ver no final dessa série a tabela contendo os: Períodos Arqueológicos
da História do Antigo Oriente Próximo.
Todos os eventos narrados no
Novo Testamento ocorrem em um século apenas. O mesmo não aconteceu com a
história narrada no Antigo Testamento. A história bíblica do Antigo Testamento,
desde que se torne possível identificar um período histórico, mesmo que seja de
maneira aproximada, estende-se durante quase dois milênios. Durante este longo
período de tempo, a nação israelita manteve contato com inúmeros povos e com
muitas nações diferentes. Entre estes povos, o Antigo Testamento menciona com
freqüência: os assírios, os babilônios, os egípcios, os arameus e muitos outros
povos importantes. É nosso interesse nesse capítulo situarmos, historicamente falando, quando ocorreram os eventos narrados
no Antigo Testamento em relação ao todo da História da Humanidade.
Conforme mencionamos acima, a
primeira data aproximada que pode ser estabelecida, com relativa certeza,
acerca das narrativas contidas no Antigo testamento diz respeito aos patriarcas
da nação de Israel. E será exatamente com eles que iremos iniciar. Os primeiros
11 capítulos do Livro do Gênesis serão analisados mais adiante em outra série
de estudos.
A. Os Patriarcas da Nação de Israel.
As datas que iremos mencionar
doravante são todas aproximadas, pois os historiadores não possuem provas
suficientes, até o momento, que permitam determinar as datas exatas dos
acontecimentos que iremos discutir aqui. Devido às grandes dificuldades
enfrentadas pelos historiadores e arqueólogos que tornam impossível traçar uma
cronologia mais definida, eles acabaram por dividir os milênios, antes da era
cristã, em períodos, baseados na “tecnologia” disponível em cada época. A
divisão consolidada hoje em dia segue o seguinte cronograma:
·
Idades
da pedra:
Ø Paleolítico: Período pré-histórico que principia
no final do plistoceno[1],
com o aparecimento dos mais antigos fósseis humanos, e se caracteriza pela
presença de artefatos de osso e/ou de pedra fragmentada ou lascada, datando do
final deste período notáveis desenhos e pinturas rupestres; divide-se esse
período em 3 fases: inferior, médio e superior, conforme os graus de
complexidade dos artefatos. Este período é também chamado de período da pedra
lascada ou idade da pedra lascada.
Ø Mesolítico: Período pré-histórico
intermediário, com características culturais próprias do paleolítico e do
neolítico, ocorrido no final do plistoceno, após as últimas glaciações.
Ø Neolítico: Período do holoceno[2]
em que os vestígios culturais do homem pré-histórico se caracterizam pela
presença de artefatos de pedra polida - ainda não era utilizado o bronze - e
pelo aparecimento da agricultura; período da pedra polida; idade da pedra
polida.
Ø Calcolítico: período de
transição entre o Neolítico e a Idade do Bronze.
·
Idade
do Bronze.
·
Idade
do Ferro.
Os termos acima, especialmente
“Idade do Bronze” e “Idade do Ferro”, são utilizados pelos arqueólogos de forma
bastante ampla. A utilização destes termos e, especialmente, a fixação de
datas, não indicam que as mudanças de pedra para bronze e do bronze para ferro foram
súbitas, ou que apenas o bronze era usado na Idade do Bronze e que só o ferro
era usado na Idade do Ferro. De qualquer maneira e, em termos gerais, as datas
são fixadas como seguem:
·
3300
a.C. é a data fixada pelos arqueólogos para o período aproximado em que o
conhecimento do uso do bronze espalhou-se pelo antigo Oriente Próximo.
Artefato de bronze
·
1200
a.C. corresponde à data aproximada em que os povos do antigo Oriente Próximo
descobriram os maiores benefícios do uso do ferro.
Os períodos acima são, por sua vez, divididos da seguinte maneira:
1. O período que vai entre 3300 a 2000 a.C. é
conhecido como Antiga Idade do Bronze.
Durante este período temos a invenção da escrita com o consequente início dos
registros da História da Humanidade. Os sumérios, os inventores da escrita,
começaram a usar extensivamente a escrita cuneiforme na mesopotâmia. Conforme
vimos na série anterior sobre a “GEOGRAFIA DA BÍBLIA”, os egípcios já
utilizavam os hieróglifos – escrita sagrada – desde aos dias do período que
cobre o Antigo Império.
Politicamente falando, na
região da Síria-Palestina, as cidades-estado começaram a crescer e, com elas,
as necessidades de comunicação, viagens e comércio tornaram-se cada vez
maiores. Na Mesopotâmia, durante este período, uma série de cidades-estado mais
fortes ganharam dominância durante os períodos das antigas dinastias
sumerianas. Mais para o final da Antiga Idade do Bronze, o primeiro império
semítico assumiu o pleno controle de toda a região sul da Mesopotâmia, tendo
como base a cidade de Acade – datas aproximadas estão fixadas entre 2334—2193
a.C. No Egito, além da utilização da escrita, o período que estamos chamando de
Antiga Idade do Bronze, viu o florescimento do período do Antigo Império
egípcio, que foi a era das grandes pirâmides e marcou o apogeu da cultura
egípcia. De forma marcante, ao nos aproximarmos do encerramento da Antiga Idade
do Bronze, todas as principais características da civilização e da cultura
humanas estavam presentes tanto no Egito quanto na Mesopotâmia.
2. É impossível determinar com precisão as datas
entre as quais viveram os patriarcas da nação de Israel - Abraão, Isaque e
Jacó. Todavia existe um consenso entre os historiadores de que as mesmas podem
ser localizadas, de maneira mais ampla, durante a Média Idade do Bronze – entre
2000—1500 a.C.
De acordo com o professor John Bright, em sua obra “História de Israel”, estes
quinhentos anos foram um período da história do antigo Oriente Próximo que foi
marcado pelo movimento de grupos étnicos e novos impérios tomando o lugar de
antigos poderes do início da Idade do Bronze. Na Mesopotâmia, por exemplo,
depois de uma breve renascença da cultura sumeriana – durante a Dinastia de Ur
III — entre 2112—2004 a.C. — a nação passou a ser controlada por um novo grupo
semítico, os amoritas. Este povo dominou a Mesopotâmia logo no começo da Média
Idade do Bronze, a partir de várias cidades-estado fortes em um delicado
equilíbrio de poder. De repente, um único individuo da cidade da Babilônia,
conseguiu consolidar sua força e estabelecer um império por toda a Mesopotâmia.
Este indivíduo chamava-se Hamurabi e ele chegou ao poder em 1792 a.C. Hamurabi
estabeleceu o antigo império da babilônia, que durou quase 200 anos, até 1595
a.C. Hamurabi gravou seu nome na história através de um código de leis — Código
de Hamurabi. Existem certas semelhanças entre algumas leis do Código de
Hamurabi e aquelas que encontramos no conjunto de leis registradas no
Pentateuco.
Hamurabi e seu código
Enquanto isto, na outra
extremidade do Crescente Fértil, no Egito, depois de um período de escuridão e
confusão chamado de primeiro período intermediário — entre 2200—2000 a.C., o
país voltou a florescer durante o período do chamado Médio Império — entre 2000—1700
a.C.
As características marcantes do
Médio Império egípcio foram um abundante tempo de paz e muita estabilidade.
Durante esta época o Egito manteve um intenso intercâmbio com a região do
Levante - a região costeira da Palestina - resultando na aquisição de
considerável riqueza. Como havia acontecido antes com a Mesopotâmia, mais próximo
ao fim da Média Idade de Bronze, o Egito também sucumbiu ao domínio de grupos
semitas. Os egípcios acabaram perdendo o controle de sua nação quando os hicsos[3],
povo semita provavelmente vindo da Síria-Palestina, assumiu o controle do Delta
ao norte do país. Não se sabe se os hicsos invadiram a região e tomaram o poder
ou se eles já vinham aumentando sua força gradualmente. Os Hicsos governaram o
Egito por aproximadamente 150 anos durante o que foi chamado de segundo período
intermediário — entre 1700—1540 a.C. Esta foi a primeira vez na história do
Egito em que o país foi conquistado e dominado por estrangeiros.
Os hicsos
Abrão viveu, provavelmente,
durante este tempo de grandes deslocamentos. Ele mesmo foi um indivíduo que
saiu de Ur dos Caldeus para Harã, e de lá, para a terra de Canaã. Abrão não foi
o único a tentar se estabelecer em Canaã. Vários outros grupos e tribos de
origem semita estavam também tentando o mesmo. Existem registros arqueológicos
de que durante o terceiro milênio — entre 3000—2000 a.C. — os chamados cananeus
já estivessem fundando cidades-estado nas planícies costeiras e nos vales da
terra de Canaã. É bastante possível que a maioria destes povos tivessem a mesma
origem amorita que aqueles que haviam se estabelecido na Mesopotâmia.
A família de Abrão saiu de Ur
dos caldeus, ao sul da Mesopotâmia, ainda liderados pelo pai deste e que se
chamava Terá. A princípio a família se estabeleceu em uma localidade próxima do
rio Eufrates, chamada Harã, que ficava na região noroeste da Mesopotâmia. O pai
de Abrão faleceu em Harã e Abrão - cujo nome foi mais tarde mudado para Abraão — foi chamado por Deus a viajar,
pela fé, para terras desconhecidas – ver Hebreus 11:8.
Já em Canaã, Deus apareceu
várias vezes a Abraão. Nessas teofanias, Deus fez uma aliança com ele e
prometeu dar-lhe um grande número de descendentes bem como a terra de Canaã por
herança. Para um amorita migrante entre tantos outros, estas promessas tinham
um caráter único. De fato Deus prometeu abençoar a todas as famílias da terra
através da descendência de Abrão. De acordo com a promessa de Deus e, depois de
muitos anos e de maneira miraculosa, Abraão e sua esposa Sara tiveram um filho
deles mesmos, independente do fato dela já ter noventa anos de idade e Abraão
estava com cem anos. A promessa acerca desse filho foi até ao detalhe do nome,
com o qual o mesmo deveria ser chamado: Isaque – ver Gênesis 17:19 e 18:14.
Viagens de Abraão
Isaque casou com uma de suas primas,
Rebeca, e com ela teve filhos gêmeos – Esaú
e Jacó. Esaú era o primogênito, mas coube a Jacó tornar-se o filho das
promessas patriarcais. Jacó teve o nome mudado para Israel. Ele teve doze filhos de quatro mulheres diferentes – duas
esposas e duas concubinas. O filho favorito de Jacó era José que era o filho primogênito de Raquel a quem Jacó amava
profundamente. José, por causa da inveja e dos ciúmes que levantava nos irmãos,
foi traído por estes e vendido como escravo para uma caravana de midianitas ou
ismaelitas que se dirigia ao Egito. Uma vez no Egito, José foi abençoado por
Deus e, de forma miraculosa, chegou a um alto cargo político naquela terra
estrangeira. José assumiu uma autoridade tão grande no Egito, que somente o
Faraó, quando estivesse sentado no seu trono, seria superior a ele – ver
Gênesis 41:40. Durante diversos períodos de seca, os filhos de Israel viajaram
para o Egito à procura de comida para a família que haviam deixado em Canaã. Em
uma destas viagens foram amorosamente confrontados pelo irmão que haviam
traído. Eles estavam realmente com medo, mas José tinha somente palavra de paz
para eles – ver Gênesis 44:1—5. José providenciou comida para eles e os salvou.
Atendendo ao chamado de José, Israel e todos os seus filhos se mudaram de Canaã
para Gósen, na região nordeste do Delta do Egito.
Isaque e Abraão
Jacó lutando com o anjo
Não é possível datar esses
acontecimentos com precisão, mas de modo geral podemos dizer que ocorreram em
alguma época durante a Média Idade do
Bronze – entre 2000 - 1550 a.C. É possível que parte da história dos
patriarcas seja coincidente com o período do domínio dos hicsos sobre o Egito –
entre 1700 - 1550 a.C. Alguns especulam que o faraó dos dias de José era
realmente um soberano hicso. Assim, o “novo rei” mencionado em Êxodo 1:8 seria
um soberano egípcio que teria subido ao trono após a expulsão dos hicsos. É
bastante provável que expressão “novo rei” refere-se a um rei de outra
dinastia. Se os judeus estivesse mesmo associados aos hicsos isto ajudaria a explicar
a maneira brutal com que foram tratados durante os vários séculos seguintes. Os
egípcios usaram e abusaram dos judeus durante este tempo. Eles foram obrigados
a construir cidades para o faraó e a sustentar a economia com o trabalho
escravo.
Escravidão no Egito
Que
Deus abençoe a todos.
Outros
artigos acerca da Introdução ao Antigo Testamento
A. O Texto do
Antigo Testamento
001
– O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO
002
– A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA
003
– A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 1 = Os Escribas e O Texto Massorético
— TM
004
– A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 2 = O Texto Protomassorético e o
Pentateuco Samaritano
005
– A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 3 = Os Manuscritos do Mar Morto e os
Fragmentos da Guenizá do Cairo
006
- A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 4 = A Septuaginta ou LXX
007
- A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 5 = Os Targuns e Como Interpretar a
Bíblia
B. A Geografia do
Antigo Testamento
001
– INTRODUÇÃO E MESOPOTÂMIA
002
– O EGITO
003
– A SÍRIA—PALESTINA
B. A História do
Antigo Testamento
001
– OS PATRIARCAS DA NAÇÃO DE ISRAEL
Que
Deus abençoe a todos.
Alexandros
Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem
que “curtam” nossa página no Facebook através do seguinte link:
Desde já agradecemos a todos.
O
material contido neste estudo foi, em parte, adaptado e editado das seguintes
obras, que o autor recomenda para todos os interessados em aprofundar os
conhecimentos acerca do Antigo Testamento:
Bibliografia
Aharoni,
Yahanan; Avi-Yonah, Michael; Rainey, Anson F. e Safrai, Ze’ev. Atlas Bíblico. Casa Publicadora das
Assembléias de Deus – CPAD, Rio de Janeiro, 1998,
Arnold,
Bill T. e Beyer, Bryan E. Descobrindo o
Antigo Testamento. Editora Cultura Cristã, São Paulo, 2001.
Bright,
John. História de Israel. Paulus, São
Paulo, 6ª Edição, 1980.
Durant,
Will. The History of Civilization Volume
1 – Our Oriental Herritage. Simon and Schuster, New York, 1963.
Heródoto
de Halicarnassus. The Histories.
Penguin Books Ldt, Middlisex, reprinted, 1986.
Hallo,
William W. e Simpson, William Kelly. The
Ancient Near East: A History. Nova York, Harcourt Brace Jovanovich, 1971.
Howard,
Jr. David M. “Philistines” em People of
the Old Testament World, org. Alfred Hoerth, Gerald L. Mattingly e Edwin M.
Yamauchi. Baker Book House, Grand Rapids, 1994.
King,
Philip J. American Archaeology in the
Mideast: A History of the American Schools of Oriental Research. ASOR,
Philadelphia, 1983.
Millard,
Alan; Stanley, Brian e Wrigth, David. Atlas
Vida Nova da Bíblia e História do Cristianismo. Sociedade Religiosa Edições
Vida Nova, São Paulo, reimpressão, 1998.
Schoville,
Keith N. Biblical Arcaheology in Focus.
Baker Book House, Grand Rapids, 1978.
Wilson,
John A. The Culture of Ancient Egypt.
Chicago University Press, Chicago, 1951.
__________Britannica Atlas. Encyclopaedia
Britannica Inc., Chicago, 1996.
Enciclopédias
__________The New Encyclopaedia Brtannica.
Encyclopaedia Britannica Inc., Chicago, 15th Edition, 1995.
Softwares
Ferreira,
Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário
Aurélio Século XXI. Edição Eletrônica, São Paulo, 2004.
[1] Adjetivo geológico que faz
referência aos terrenos que formam o sistema inferior da era quaternária.
[2] Diz-se da época geológica mais recente do
período quaternário, que se inicia após o período glacial
[3] Hicsos: povo da Antiguidade, originário da
Síria, que se estabeleceu na metade oriental do delta do Nilo, no séc. XVIII
a.C.
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