Este estudo é parte de uma breve introdução ao
Antigo Testamento. Nosso interesse é ajudar todos os leitores a apreciarem a
rica herança que temos nas páginas da Antiga Aliança. No final de cada estudo o
leitor encontrará direções para outras partes desse estudo
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
Capítulo 3 – Quando Ocorreram os Eventos Narrados
do A. T.?
I. Quais são os Acontecimentos descritos pelo
Antigo Testamento? — ver no final dessa série a tabela contendo os: Períodos Arqueológicos
da História do Antigo Oriente Próximo.
B. Nasce uma Nação – ver Deuteronômio 4:32—34.
O período que vai de 1550 a
1200 a.C., é chamado pelos arqueólogos de Nova
Idade de Bronze. Este período foi caracterizado por um tempo de comércio
internacional intenso e de equilíbrio entre as potências mundiais. Os egípcios
conseguiram dar um fim à dominação dos hicsos e entraram naquele que foi seu
período de maior força política e que ficou conhecido como o Novo Império -
dinastias 18 a 20, de 1550—1100 a.C. Este fato torna ainda mais impressionante
e significativa a libertação do povo judeu do jugo egípcio, independente da
data em que êxodo teria acontecido, já que as duas prováveis datas – século 15
ou século 13 a.C. – encontram-se dentro do período do Novo Império do Egito.
Novo Império Egípcio
Durante a Nova Idade de Bronze
o Egito gozou de hegemonia enquanto a Mesopotâmia passou por um tempo de
fraqueza política. Após a queda do Antigo Império Babilônico de Hamurabi, o sul
da Mesopotâmia foi invadido e passou a ser controlado por um grupo de
estrangeiros originários das Montanhas Zagros[1]: os
cassitas. A dinastia cassita reinou por um período que durou mais de trezentos
anos e trouxe paz e estabilidade à Babilônia, porém não trouxe superioridade
militar. Os cassitas preferiam fazer uso de tratados de paz e outros meios
não-militares de diplomacia, para defender suas fronteiras. Eles adotaram
muitos elementos tradicionais da cultura babilônica, inclusive o idioma
babilônico acádio o qual, durante esse período, tornou-se a língua franca
daquela época. Os cassitas elevaram todo o sul da Mesopotâmia a um novo nível
de prestígio internacional.
Montanhas Zagros
Uma das primeiras iniciativas
dos poderosos soberanos egípcios do Novo Império foi tentar controlar as áreas
costeiras da Síria-Palestina, a estrada costeira para a Fenícia – a Via Maris -
e a Núbia, ao sul. Uma vez estabelecidos tais controles, os egípcios passaram a
dominar o intercambio mercantil com o Mar Egeu e com o resto da Ásia ocidental.
Este domínio possibilitou o Egito alcançar incríveis níveis de prosperidade e
riqueza. No ápice desse império, Amenotep IV, da décima oitava dinastia,
tornou-se faraó em 1353 a.C. Em ato realmente surpreendente Amenotep IV mudou
seu nome para Akenaton e tentou implantar uma espécie de monoteísmo em uma
terra acostumada a adorar centenas de deuses.
Akenathon
Além disso, ele mudou a capital
do seu reino para trezentos quilômetros ao norte de Tebas, para a moderna Tel
El Amarna em 1348 a.C. Durante um período de aproximadamente dez anos, Akenaton
elevou de forma seguida, a imagem do deus-sol, Aton, à posição de divindade
suprema, e quase conseguiu implantar o monoteísmo religioso. Após a morte de
Akenaton a corte retornou para a cidade de Tebas e a cidade de Tel El Amarna
foi abandonada. Todavia, centenas de placas de barro escritas em babilônico
foram encontradas em duas expedições arqueológicas em 1890 e 1970 - as chamadas
cartas de Amarna. O conteúdo destas cartas revelou que as mesmas haviam sido
escritas por reis-vassalos na Síria-Palestina e governantes da Anatólia e
Mesopotâmia e as mesmas refletem a situação política que existia em suas
regiões durante a metade do século 14 a.C. Ao fim do reinado de Akenaton o
Egito começou a perder seu poderio internacional sobre o oeste da Ásia. Muitas
cidades da Síria-Palestina assumiram sua independência, em parte por causa da
negligência dos egípcios e em parte porque estes já não tinham o poderio
militar de antes.
Tel El Amarna
No extremo norte do Crescente
Fértil, na região conhecida por Anatólia, o Império Hitita havia se expandido
para o leste e obtido o controle de toda a Ásia Menor ocidental bem como do
norte da Síria. Durante mais de 100 anos, os hititas mantiveram, graças à uma
forte liderança real, o controle da Síria, tendo expandido seu domínio quase
até Damasco. Entre os anos de 1344—1239 a.C., os reis hititas lutaram contra os
faraós da décima nona dinastia do Egito, com os quais acabaram chegando a um
verdadeiro impasse, concernente ao poder, na metade do século 13. Próximo do
final da Nova Idade do Bronze – por volta de 1200 a.C. - o faraó Ramsés II e o
rei hitita Hattushili III concordaram em fazer um acordo de paz visando dar fim
às hostilidades entre as duas nações.
Ramsés II
Múmia de Ramsés II
É provável que o menino Moisés
tenha nascido entre os descendentes da tribo de Levi durante a Nova Idade do
Bronze. Naqueles dias o povo de Israel estava sofrendo sob o pesado jugo da
escravidão no Egito. Nos dias em que Moisés nasceu, o faraó estava tentando
controlar o rápido crescimento da população israelita mandando matar a todos os
meninos israelitas recém-nascidos. Da mesma maneira como havia acontecido com o
nascimento de Isaque e com a ascensão de José no Egito, o menino Moisés foi
miraculosamente salvo pela própria filha do faraó e cresceu na corte real
egípcia, como filho da filha do faraó. No Egito Moisés cresceu com direito a
receber uma educação que refletia o apogeu da cultura egípcia - ver Atos 7:22.
Moisés
No tempo determinado por Deus,
Moisés foi chamado para liderar o povo de Israel e libertá-lo da escravidão do
Egito. Os egípcios acreditavam que o faraó, que era considerado um deus,
controlava a ordem cósmica. Mas o Deus verdadeiro, além de libertar Seu povo,
pretendia ainda trazer severo juízo tanto sobre a multidão de divindades que
existia no Egito, quanto sobre o próprio faraó-deus. Para alcançar estes
propósitos o SENHOR decidiu trazer uma série de pragas cujo propósito era
provar, acima de tudo, quem realmente estava em pleno controle de todas as
coisas. As pragas acabaram por demonstrar tanto a superioridade quanto a
majestade de יהוה
- YHVH[2]
– palavra que significa o ETERNO, o
Deus dos israelitas[3].
A saída do povo de Israel do Egito sob Moisés marcou o nascimento da nação de
Israel como que tendo sido forjada na fornalha de fogo que o Egito representava
– ver Deuteronômio 4:20. Deus conduziu
Seu povo até o monte Sinai, também chamado de monte Horebe e, ali celebrou uma
aliança com eles – ver Êxodo 19:4—6. Juntamente com a aliança o povo recebeu de
Deus um conjunto completo de Leis que deveriam regular o relacionamento do povo
com Deus, bem como o relacionamento que deveria existir entre os membros do
povo de Deus entre si.
Monte Sinai ou Horebe
De maneira surpreendente o povo
de Israel rejeitou a aliança com Deus e se recusou a entrar na terra prometida
temendo o que lhe poderia acontecer. A viagem de Horebe até Cades levou 11
dias. De Cades até a terra de Canaã não seriam necessárias mais do que 2
semanas. Mas o povo preferiu não se arriscar, em flagrante desobediência a
Deus. Tal ato foi a demonstração mais explícita de falta de fé e de confiança
em Deus. Israel, a nova nação, rejeitou a aliança de Deus no deserto e
recusou-se a entrar na terra prometida. O resultado? O povo de Israel teve que
vagar pelo deserto por 40 anos até que toda aquela geração de incrédulos
perecesse – ver Deuteronômio 2:14. Finalmente, quando estavam para entrar na
terra prometida, nas planícies de Moabe, no lado oeste do Jordão em frente a
Jericó, Deus recolheu a Moisés o qual não pode entrar na terra prometida – ver
Números 27:12—13. O povo passou a ser liderado por Josué. Sob sua liderança
Israel conquistou a terra prometida e assentou-se nela. Assim foram cumpridas
as promessas feitas a Abraão, Isaque e Jacó.
Josué e Calebe
O estabelecimento de datas
precisas continua a representar uma dificuldade considerável. Todavia, podemos,
usando a latitude disponível, dizer que o êxodo dos israelitas do Egito
aconteceu em algum momento durante a época do Novo Império da história do
Egito. A data do êxodo do Egito foi fixada pelos estudiosos em dois momentos
possíveis – 1446 a.C. e 1275 a.C., aproximadamente. Um dos maiores problemas
nesta discussão tem a ver com a incapacidade dos historiadores de estabelecer
quem era, exatamente, o faraó mencionado no livro do Êxodo. Opiniões variam
entre Tutmose III ou Amenotep II, ambos da décima oitava dinastia para aqueles
que defendem a data mais antiga. Os que aceitam a data mais recente insistem
que o faraó não era outro senão Ramsés II da décima nona dinastia. A dificuldade
dos historiadores, todavia, não deve nos levar a pensar, de maneira equivocada,
que a narrativa do livro do Êxodo seja lendária. Existem elementos históricos
suficientes no livro do Êxodo que fazem referências diretas tanto a práticas
quanto a costumes que são plenamente compatíveis com aqueles registrados em
outros povo e culturas durante a Nova Idade do Bronze.
Que
Deus abençoe a todos.
Outros
artigos acerca da Introdução ao Antigo Testamento
A. O Texto do
Antigo Testamento
001
– O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO
002
– A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA
003
– A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 1 = Os Escribas e O Texto Massorético
— TM
004
– A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 2 = O Texto Protomassorético e o
Pentateuco Samaritano
005
– A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 3 = Os Manuscritos do Mar Morto e os
Fragmentos da Guenizá do Cairo
006
- A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 4 = A Septuaginta ou LXX
007
- A TRANSMISSÃO TEXTUAL DA BÍBLIA — Parte 5 = Os Targuns e Como Interpretar a
Bíblia
B. A Geografia do
Antigo Testamento
001
– INTRODUÇÃO E MESOPOTÂMIA
002
– O EGITO
003
– A SÍRIA—PALESTINA
B. A História do
Antigo Testamento
001
– OS PATRIARCAS DA NAÇÃO DE ISRAEL
002
– NASCE A NAÇÃO DE ISRAEL
Que
Deus abençoe a todos.
Alexandros
Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem
que “curtam” nossa página no Facebook através do seguinte link:
Desde já agradecemos a todos.
O
material contido neste estudo foi, em parte, adaptado e editado das seguintes
obras, que o autor recomenda para todos os interessados em aprofundar os
conhecimentos acerca do Antigo Testamento:
Bibliografia
Aharoni,
Yahanan; Avi-Yonah, Michael; Rainey, Anson F. e Safrai, Ze’ev. Atlas Bíblico. Casa Publicadora das
Assembléias de Deus – CPAD, Rio de Janeiro, 1998,
Arnold,
Bill T. e Beyer, Bryan E. Descobrindo o
Antigo Testamento. Editora Cultura Cristã, São Paulo, 2001.
Bright,
John. História de Israel. Paulus, São
Paulo, 6ª Edição, 1980.
Durant,
Will. The History of Civilization Volume
1 – Our Oriental Herritage. Simon and Schuster, New York, 1963.
Heródoto
de Halicarnassus. The Histories.
Penguin Books Ldt, Middlisex, reprinted, 1986.
Hallo,
William W. e Simpson, William Kelly. The
Ancient Near East: A History. Nova York, Harcourt Brace Jovanovich, 1971.
Howard,
Jr. David M. “Philistines” em People of
the Old Testament World, org. Alfred Hoerth, Gerald L. Mattingly e Edwin M.
Yamauchi. Baker Book House, Grand Rapids, 1994.
King,
Philip J. American Archaeology in the
Mideast: A History of the American Schools of Oriental Research. ASOR,
Philadelphia, 1983.
Millard,
Alan; Stanley, Brian e Wrigth, David. Atlas
Vida Nova da Bíblia e História do Cristianismo. Sociedade Religiosa Edições
Vida Nova, São Paulo, reimpressão, 1998.
Schoville,
Keith N. Biblical Arcaheology in Focus.
Baker Book House, Grand Rapids, 1978.
Wilson,
John A. The Culture of Ancient Egypt.
Chicago University Press, Chicago, 1951.
__________Britannica Atlas. Encyclopaedia
Britannica Inc., Chicago, 1996.
Enciclopédias
__________The New Encyclopaedia Brtannica.
Encyclopaedia Britannica Inc., Chicago, 15th Edition, 1995.
Softwares
Ferreira,
Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio
Século XXI. Edição Eletrônica, São Paulo, 2004.
[1] As Montanhas Zagros – Kuhhã Ye
Zagros – estão localizadas no país moderno do Irã.
[2] O autor precisa advertir o
leitor que a expressão hebraica vocalizada como יְהוָה – é uma combinação das consoantes do nome “ETERNO” representados
pelo tetragrama YHVH
com as vogais da expressão hebraica אֲדֹנָי – Adonai – cujo significado
é soberano, e que é comumente traduzida por “Senhor” nas Bíblias na versão de Almeida Revista e Atualizada -
ARA. A combinação das consoantes de uma
palavra com as vogais de outra foi a responsável pela “invenção” deste curioso
nome que encontramos disperso no meio da cristandade que pode ser grafado,
entre outras, das seguintes maneiras: Jeová, Javé, Iavé, Iaweh, Iahveh etc. Esses
nomes não existem e só podemos rir da ignorância daqueles que insistem em
usá-los como se tivessem realmente
origem Bíblia.
[3] Para ajudar os leitores a
reconhecerem os versículos onde o tetragrama יהוה – YHVH
– o ETERNO é usado no nosso texto em português, os tradutores da versão Almeida
Revista e Atualizada – ARA – usam, de maneira consistente, a expressão “SENHOR” grafada com todos os caracteres
maiúsculos.
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