De acordo com um
artigo escrito por Paula Adamo Idoeta e publicado pela BBC Brasil, o
crescimento dos evangélicos estimula o mercado comercial e une o consumismo com
a religião.
O artigo que pode
ser acessado pelo seguinte link:
pode ser lido, na
íntegra abaixo:
Crescimento evangélico estimula mercado que
une consumo e religião
Paula Adamo Idoeta
Da BBC Brasil em São
Paulo
É um grupo cada vez
mais numeroso e com sede de prosperar e consumir. O crescimento dos evangélicos
no Brasil, em especial no ramo pentecostal, provocou mais do que mudanças
religiosas: fortaleceu um mercado econômico, que chama a atenção tanto de
igrejas como da iniciativa privada.
De seu lado, as igrejas
criaram estratégias de negócios. Algumas desenvolveram estruturas empresariais
e planos de carreira; outras lançaram até cartões de crédito. E diversas
montaram grupos e reuniões em que estimulam os fiéis a abrir negócios próprios
e sanar suas finanças, com base na Teologia da Prosperidade - movimento que
prega o bem-estar material do homem.
"Passava uma vida
de miséria, comendo carcaça de frango", conta uma frequentadora da Igreja
Universal do Reino de Deus (IURD), acrescentando que, depois que começou a
assistir às "reuniões da prosperidade" semanais da igreja, "as
portas começaram a se abrir". O depoimento é exibido pela própria IURD no
YouTube.
Em outro vídeo, um fiel
diz que seus negócios não deram certo até ele entrar para o culto. Depois de
"sair das trevas", ele comprou "quatro, cinco casas", onde
cabem "sete ou oito carros".
"A igreja é um
local de ritos, mas hoje também um espaço de trocas e bens simbólicos",
diz Leonildo Silveira Campos, do departamento de Ciências Sociais e Religião da
Universidade Metodista.
Mara
Maravilha tem loja na Conde de Sarzedas, rua especializada em atender público
cristão
"É voltada a
pessoas cada vez menos preocupadas com questões transcendentais, e sim com o
aqui e o agora. Para o novo pentecostal, o dinheiro não é para ser acumulado
como previa a ética protestante, mas para comprar o carro e o apartamento novo.
Para se inserir no mercado de consumo."
Igrejas e empresas
respondem a isso com produtos, que incluem cartões de crédito - emitidos pelas
igrejas Internacional da Graça de Deus e Assembleia de Deus - e lançamentos
constantes.
A rua Conde de Sarzedas,
no Centro de São Paulo, se especializou em atender consumidores cristãos. Ali,
é possível comprar de bíblias segmentadas a CDs, jogos de tabuleiro com temas
bíblicos e pacotes de turismo para Egito e Israel.
Público fiel
"É um lugar onde
as pessoas sabem o que querem consumir. É um público fiel", diz à BBC
Brasil a cantora e apresentadora Mara Maravilha, que, há 15 anos convertida à
fé evangélica, tem uma loja onde vende seus CDs e DVDs gospel na Conde de
Sarzedas.
Daniel dos Reis
Berteli, 29, da igreja Nazareno do Brasil, comprava livros, roupas e CDs
evangélicos em uma loja ao lado. "Antes, não tínhamos essa variedade de
livros", diz. "Há uns 15 anos, minha mãe fazia lembrancinhas
religiosas com cartolina. Hoje, está tudo mais profissional."
A percepção de que o
setor caminhava rumo à profissionalização levou Eduardo Berzin Filho a promover
a feira ExpoCristã, realizada há dez anos em São Paulo. Ele diz que a edição de
2010 atraiu 160 mil visitantes e expositores como editoras, gravadoras gospel,
empresas de mobiliário para igrejas e até consultorias de gestão de templos.
O mais claro exemplo
pentecostal de estratégia de negócios vem da Igreja Universal do Reino de Deus
(Iurd), que diz ter presença em mais de cem países – mais do que qualquer
multinacional brasileira.
A IURD montou uma
estrutura empresarial que faz de seus pastores "profissionais da religião,
com metas de atração e conversão de fiéis, de arrecadação (de dízimo) e de
ampliação de recursos", afirma Ricardo Mariano, professor da PUC-RS e autor
de um livro sobre a Universal.
Daniel
Berteli é comprador de produtos evangélicos, mas se incomoda com
'profissionalização' de igrejas
Para os pastores, diz
Mariano, "existe quase um plano de carreira, que permite que eles passem
para congregações maiores, vão para outros países e participem de programas de
TV" se baterem as metas.
A IURD e outras seguem
"os principais preceitos do marketing: preço, publicidade, praça
(localização de templos) e produto", opina Mario René, professor de
Ciências do Consumo na ESPM e doutor em teologia prática.
Os especialistas
ressaltam que há traços de profissionalização e mercantilização também em
outras religiões – só que eles estão mais evidentes nas pentecostais e
neopentecostais por conta de sua exposição midiática e do próprio crescimento
dos evangélicos no Brasil.
Segundo o estudo Novo
Mapa das Religiões, da FGV, os evangélicos representavam 20,2% da população
brasileira em 2009, contra 9% em 1991. Boa parte se concentra na emergente
classe C.
Os pentecostais são por
volta de 12% da população, mas, segundo estudo prévio da FGV, respondem por 44%
das doações feitas às igrejas.
Doações
Agora, além de
solicitar "ofertas" para continuar a "obra de Deus", a
Igreja Universal pede contribuições para financiar o Templo de Salomão - versão
brasileira de um histórico templo em Israel.
Em um culto recente da
igreja em São Paulo, o pastor exibia aos fiéis um vídeo sobre o templo, que
está sendo erguido na Zona Leste da cidade e custará R$ 350 milhões.
"Os (doadores)
terão seus nomes colocados nas 640 colunas do templo", diz o pastor, pouco
antes de serem entregues envelopes para doações. "O bispo disse que um
homem doou R$ 200 mil. Se você não pode 200 mil, pode mil, pode 500. Doe de
acordo com a sua fé."
Alguns fiéis apóiam o pagamento
do dízimo e doações desse tipo como forma de dar continuidade ao trabalho
religioso.
Mara Maravilha, fiel da
Universal, é uma delas. Para a cantora, quem não paga a contribuição está
"roubando de Deus" e "se o pastor vai fazer certo ou errado (com
o dinheiro), isso não cabe mais" ao fiel.
Igreja
Universal está construindo seu maior templo em São Paulo
"Graças a Deus que
se abrem muitas igrejas. É melhor do que abrir botequim", afirma Mara.
"A gente, por mais que dê, nunca vai conseguir dar mais do que Deus nos
dá."
Ela também rejeita as
críticas de mercantilismo. "Os produtos têm efeito que não tem dinheiro
que pague para uma pessoa sem esperança. Antes, eu vendia até revista
masculina. Hoje, vendo a palavra de Deus. Estou errada hoje ou estava antes?"
Perigo
A executiva Márcia
Félix, 37, fiel da Igreja Quadrangular, tem opinião semelhante. Afirma que sua
igreja incentiva seu crescimento e a realização de seus sonhos e que o eventual
enriquecimento de pastores não a incomoda.
"Busco primeiro o
Reino de Deus e sua justiça", argumenta a fiel evangélica. "Se tem
quem rouba, é cada um com Deus."
Já Daniel Berteli,
frequentador da Conde de Sarzedas, diz que considera a visão empresarial da
religião "perigosa". "(Algumas igrejas) têm deixado o princípio de
servir e viraram indústria."
O limite para a atuação
das igrejas é difícil de definir, levando-se em conta que é tênue a linha que
separa consumo e religião.
"Não temos um
compartimento mental para a religião", diz Mário René, da ESPM.
"Todos buscamos sentido, que pode ser atingido por espiritualidade,
responsabilidade social, esoterismo e até pelo consumo."
René avalia ainda que,
hoje, a prática comercial é praticamente inerente ao processo de angariar fiéis
para uma determinada crença.
"Posso abrir uma
igreja com praticamente nada. E daí, o que eu faço? Preciso de uma estratégia
de marketing para ter sucesso, então vou procurar um pastor carismático e assim
por diante", diz o pesquisador.
Para Ricardo Mariano,
da PUC-RS, a questão é se a narrativa do apelo à prosperidade terá força no
longo prazo. "Se a solução para os problemas (dos fiéis) é pontual, como
engajá-los por um longo período? Isso não foi resolvido ainda."
*Com Paulo Cabral, da
BBC News em São Paulo
Para refletir:
2 Pedro 3:1—3
1 Assim como, no meio
do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos
mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao
ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos
repentina destruição.
2 E muitos seguirão as
suas práticas libertinas, e, por causa deles, será infamado o caminho da
verdade;
3 também, movidos por
avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias; para eles o juízo
lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não dorme.
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
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