Essa é uma série cujo
propósito é estudar, com profundidade, os ensinamentos da Bíblia acerca do
pecado, com uma ênfase especial na questão do chamado “pecado para a
morte”.
UM ESTUDO
ACERCA DO PECADO – ESTUDO 4
Continuação...
Verso 6:
Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore
desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao
marido, e ele comeu.
De repente, a árvore proibida possuía, da perspectiva da mulher
três qualidades que a recomendavam:
A. Em primeiro lugar a árvore era fisicamente agradável, isto é,
“era boa para se comer”.
B. Em segundo lugar, a árvore parecia ser esteticamente agradável,
pois o texto bíblico nos diz que a árvore era: “agradável aos olhos”.
C. Em terceiro lugar, e isto é bastante estranho, a árvore parecia
possuir uma qualidade que, aos olhos da mulher, a transformavam em uma árvore:
“desejável para dar entendimento”. Isto parece ser resultado direto da fantasia
que existia na cabeça de Eva, pois não temos nenhuma idéia de como é que alguém
pode tornar-se mais sábio apenas por comer determinado fruto. Todavia, esta
parece ser, das três qualidades, aquela que mais apelava à mulher em sua
desvairada fantasia.
A ironia da cena está finamente estampada na trama. Ao decidir
desobedecer ao mandamento de Deus, a mulher manifestava a mais absoluta falta
de entendimento, que por ironia, era exatamente o que ela estava buscando
alcançar mediante o ato de desobediência ao mandamento de Deus
Excitada pela idéias disseminadas pela Serpente, a mulher acredita
realmente que o fruto desta árvore possui a capacidade de satisfazer não
somente ao apetite e ao paladar, mas também à razão! Aliado a isto, existia a
promessa da serpente de que eles poderiam “ser como Deus, conhecedores do bem e
do mal”. Mas tomar e comer do fruto proibido, não representava para eles também
a realidade da morte, de acordo com as palavras de Deus quando disse: “no dia
em que dela comeres, certamente morrerás”. Sim, e eles certamente sabiam disto.
Mas como é que eles entendiam a expressão “morte”? Temos que tomar sempre muito
cuidado para não trazermos para dentro dos textos bíblicos nossas idéias
preconcebidas. Neste caso me refiro a lermos a expressão morte da maneira como
estamos acostumados a utilizá-la, que é, como representativa dos conceitos de:
cessação da vida ou da existência ou mesmo da consciência. Para o homem e sua
mulher estes conceitos não estavam presentes, pois se este fosse o caso, que
vantagem teriam realmente de tomar e comer do fruto? Para eles, portanto, o
conceito representado pela expressão “morte” implicava sim, na separação de
Deus, de Seus favores e da possibilidade de participar, em algum tempo futuro,
da árvore da vida. Mas, diante da fantasia causada pelo desejo de ser algo mais,
tudo isto poderia ser amplamente compensado pelo conhecimento adquirido, pela
elevação alcançada e pela exaltação de ser exatamente como Deus mesmo. Aqui
estamos diante de uma complexa “teia” dos mais intricados sofismas[1]
e, devemos ter a humildade para nunca presumir que podemos entender exatamente
tudo o que estava se passando na mente de nossos primeiros pais.
Em resumo podemos dizer que, para a mulher, não havia nenhuma
outra maneira de se alcançar o conhecimento, a não ser por um ato de aberta desobediência a um mandamento direto
de Deus. Por outro lado era como se não existisse nenhuma outra maneira de
ser semelhante a Deus, que não fosse esta, alcançada mediante um ato voluntário de desobediência.
Para a mulher, comer do fruto, em
flagrante desobediência ao mandamento de Deus, era a única maneira de
alcançar – sequil - entendimento. Esta última expressão significa literalmente
o seguinte: “prosperar, fazer prosperar ou ter sucesso”. E é exatamente nisto
mesmo que reside a essência da cobiça: um desejo veemente de possuir algo de
tal maneira que parece que só poderemos alcançar a verdadeira felicidade se
possuirmos o objeto desejado. O homem e sua mulher são culpados desta terrível
transgressão. Quando iremos aprender que nossa verdadeira felicidade só pode
ser alcançada, de forma exclusiva, mediante nosso relacionamento com Deus? E
isto nas condições estabelecidas por Deus mesmo.
O primeiro relato de pecado na Bíblia está limitado ao uso de 8
palavras apenas:
וַתִּקַּח = wattiqqah - tomou-lhe.
מִפִּרְיוֹ = mippireyo - do fruto.
וַתֹּאכַל = wattokal - e comeu.
וַתִּתֵּן = wattitten - e deu.
גַּם־לְאִישָׁהּ
= gam-leîsah - também ao marido.
עִמָּהּ = immah – esta palavra funciona literalmente como um advérbio ou uma
preposição significando “com” e não é normalmente traduzida.
וַיֹּאכַל = wayyokal – comeu.
Ao contrário da crença popular que diz que eles comeram uma maçã,
a Bíblia não especifica qual tipo de fruto Adão e Eva comeram. A única árvore
frutífera mencionada diretamente no texto é a figueira, no verso 7. A tradição,
geralmente aceita de que nossos primeiros pais comeram uma maçã, provavelmente
está baseada na similaridade sonora, em latim, entre malus, “mal”, e malum, “maçã”.
Devemos notar que a mulher não tenta o homem. Ela apenas estende a
mão e ele toma o fruto e come. O homem não questiona nem argumenta contra. Não
há diálogo registrado entre eles. O que move Adão não é o desejo de agradar sua
mulher como alguns poderiam supor. O que o move é sua própria cobiça como persuadido
pela sua própria consciência, de que aquela era a atitude certa a tomar. A
mulher permite que sua própria mente e julgamento sejam seus guias. O homem nem
aprova nem condena o que ela faz. Mas ao pecar, desobedecendo a uma ordem
direta do seu Criador, Adão pecou contra a verdadeira e grande sabedoria; pecou
contra incontáveis graças e misericórdias que lhe haviam sido manifestas e
demonstradas; pecou, ainda mais, contra a luz mais cristalina que alguém
poderia ter recebido e, contra o maior amor contra o qual uma criatura pode
pecar.
De acordo com o relato da queda no pecado que encontramos no livro
de Gênesis, o homem não se encontrava em liberdade para pecar. Pelo contrário
ele é mostrado como estando debaixo de um mandamento divino para não pecar e
tinha como grande incentivo a ameaça de Deus de que ele morreria caso
desobedecesse. Adão e Eva estavam debaixo de um mandamento restritivo de Deus
para não fazerem o que eles acabaram, de fato, fazendo. Liberdade, como
autoridade, é composta por dois elementos: capacidade ou força, associada ao
direito. Toda a autoridade que exercita a força sem o direito, constitui-se em
uma perversão desta mesma autoridade, naquilo que chamamos de totalitarismo.
Da mesma maneira a liberdade que faz aquilo que não tem o direito de fazer
constitui-se em uma perversão desta mesma liberdade naquilo que chamamos de anarquismo.
A afirmação teológica de que Deus criou o homem livre, isto é, com
uma liberdade tal que o permitia pecar – chamada tecnicamente de “posse pecare”, constitui-se em uma
explicação do pecado pelo próprio pecado. Se Deus dotou o homem com este tipo
de liberdade, então Deus não poderia, em justiça, permitir que a liberdade
humana sofresse a escravidão que o pecado impõe sobre ela.
OUTROS ESTUDOS SOBRE O PECADO
O PECADO — ESTUDO —001 — TERMOS GREGOS E HEBRAICOS E PALAVRAS INTRODUTÓRIAS
O PECADO — ESTUDO —002 — A QUEDA — UMA INTERPRETAÇÃO DE GÊNESIS 3 — PARTE 1
O PECADO — ESTUDO —003 — A QUEDA — UMA INTERPRETAÇÃO DE GÊNESIS 3 — PARTE 2
O PECADO — ESTUDO —004 — A QUEDA PROPRIAMENTE DITA — UMA INTERPRETAÇÃO DE GÊNESIS 3 — PARTE 3 — FINAL
O PECADO — ESTUDO 005 — A VERDADEIRA LIBERDADE
O PECADO — ESTUDO 006 — PECADO E LIVRE ARBÍTRIO
O PECADO — ESTUDO 007 — A BÍBLIA E O PELAGIANISMO
O PECADO — ESTUDO 008 — O PECADO E A SOBERANIA DE DEUS
O PECADO — ESTUDO 009 — HISTÓRIA E QUEDA
O PECADO — ESTUDOS 010 E 011 — O PECADO ORGINAL E A DEPRAVAÇÃO TOTAL
O PECADO — ESTUDOS 012 — PECADO E A GRAÇA DE DEUS
O PECADO — ESTUDOS 013A — PECADO E O CASTIGO PARTE A
O PECADO — ESTUDOS 013B — PECADO E O CASTIGO PARTE B — JESUS NO GETSÊMANI — PARTE 001
O PECADO — ESTUDOS 013C — PECADO E O CASTIGO PARTE C — JESUS NO GETSÊMANI — PARTE 002
O PECADO — ESTUDOS 013D — PECADO E O CASTIGO PARTE D — JESUS NO GETSÊMANI — PARTE 003
O PECADO — ESTUDOS 013E — PECADO E O CASTIGO PARTE E — JESUS NO GETSÊMANI — PARTE 004
O PECADO — ESTUDOS 013F — PECADO E O CASTIGO PARTE F — JESUS NO GETSÊMANI — PARTE 005
O PECADO — ESTUDOS 014A — O PECADO PARA A MORTE — PARTE A — INTRODUÇÃO — QUESTÕES HERMENÊUTICAS
O PECADO — ESTUDOS 014B — O PECADO PARA A MORTE — PARTE B —DIFERENTES TIPOS DE PENAS E CASTIGOS PARA O PECADO IMPERDOÁVEL
O PECADO — ESTUDOS 014C — O PECADO PARA A MORTE — PARTE C —DIFERENTES TIPOS DE PESSOAS QUE PODEM COMETER O PECADO IMPERDOÁVEL
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2015/08/um-estudo-sobre-o-pecado-parte-014_13.html
Grande Abraço e que Deus possa abençoar a todos.
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam”
nossa página no facebook através do seguinte link:
http://www.facebook.com/pages/O-Grande-Diálogo/193483684110775
Desde já agradecemos a todos.
[1]
Sofisma - Argumento aparentemente válido, mas, na realidade, não conclusivo, e
que supõe má-fé por parte de quem o apresenta; falácia. Por extensão
corresponde a um argumento falso formulado de propósito para induzir outrem a
erro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário