A religiosidade é traço forte de presidiários, que pedem proteção divina antes de praticar crimes e até nas fugas carregam a bíblia. Mais de 50 foragidos foram recapturados com elas nas mãos, após fuga em massa de quase 200 detentos do Ipat, em Manaus
O material abaixo foi publicado
pelo site A Crítica de Manaus. A notícia é uma verdadeira tragicomédia,
bastante representativa, da grande confusão que o movimento chamado evangélico
tem criado por todas as partes do Brasil
Detentos
usam a Bíblia como 'proteção' durante fugas
Manaus (AM)
Por Joana Queiroz
Boa parte dos presos que fugiram
do Instituto Penal Antônio Trindade (Ipat), localizado no km 8 da BR-174,
durante a rebelião do dia 9, deixou tudo pra trás na hora da fuga: roupa,
sandálias e até dinheiro. Mas levou as bíblias que guardavam nas celas.
O fato chamou a atenção de
policiais militares que trabalham na recaptura dos detentos e do
tenente-coronel da Ronda Ostensiva Cândido Mariano (Rocam), Renan Carvalho, que
contou que, dos mais de 50 foragidos que ele ajudou a recapturar na mata no
entorno do Ipat, a maioria estava carregando uma bíblia.
O tenente-coronel disse que
outros fugitivos foram recapturados fora das matas, também carregando uma
bíblia debaixo do braço. Alguns estavam nas paradas de ônibus e foram
identificados pelos arranhões que tinham no corpo. O tenente disse que eles não
tinham uma explicação para levar a bíblia na fuga. “Acredito que eles carregam
a bíblia como forma de proteção”, disse Renan.
A fé também é o tema de mensagens
de texto trocadas entre os detentos, segundo constatou a polícia por meio da
análise de telefones celulares apreendidos durante as operações policias. Nas mensagens, presos invocam o nome de
Deus como proteção para cometer crimes, como assaltos, homicídios e até mesmo
fugas de presídios. “Vá lá mano. Vai dá (sic) tudo certo, Deus está contigo
e ele vai cegar esses vermes pra não te enxergarem dentro da mata. Vc (sic) vai
conseguir”, dizia uma das mensagens flagradas na caixa de entrada de um dos
foragidos do Ipat recapturados.
E foi por meio de um celular que,
no dia 5 de junho, a detenta da cadeia pública Raimundo Vidal Pessoa, Aline
Fontoura Silva, 22, que cumpre pena por tráfico de drogas, postou, na rede
social Facebook, mensagens de fé, de dentro da cadeia. “Obrigada senhor por
tudo perdoa meus erros e abençoa minha família e o meu amor, boa madrugada a
todos(sic)”, dizia a mensagem.
Em outra postagem, Aline
demonstra fé ao se declarar para o namorado, o traficante Rubens Rodrigues, o
“Rubão” - um dos líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC) no Ipat. “O nosso
amor e abençoado por Deus. Eu profetiso em nome de Jesus(sic)”, dizia a
postagem.
Justificativa
Quem faz trabalhos religiosos
dentro dos presídios acredita que criminosos costumam recorrer a argumentos
religiosos para justificar os maus atos, em uma tentativa de se livrar do
sentimento de culpa. É o que afirma a voluntária da Pastoral Carcerária,
Marlúcia da Costa Souza.
A religiosidade expressada pelos
detentos e os conflitos com as práticas criminosas foram comparados pelo
ex-arcebispo de Manaus, Dom Luiz Soares Vieira, à vida do cangaceiro Lampião,
que era um cristão fervoroso que, segundo relatos históricos, costumava rezar o
ofício de Nossa Senhora aos sábados e, depois, saía para assaltar, estuprar e
matar. “Não seria uma espécie de esquizofrenia ou dualidade diante de Deus?”,
questionou Dom Luiz.
Alternativa para deixar
a criminalidade
Mas nem sempre a religião é usada
como “ponto de equilíbrio” por quem vive no mundo do crime. Para muitos, a fé é
o que dá forças para deixar a criminalidade.
Duas vezes por semana,
voluntários da Pastoral Carcerária vão aos presídios evangelizar. Segundo uma
das voluntárias, Marlúcia da Costa Souza, 57, grande parte dos internos
participa das reuniões.
Eles cantam os louvores, leem o
evangelho e oram fervorosamente. Alguns choram e fazem pedidos a Deus, a
maioria ligados à liberdade e à família. Durante as celebrações, muitos pedem
perdão e se dizem arrependidos dos crimes que cometeram, contou ela.
Uma vez por ano, na época da
Páscoa, a pastoral leva um confessionário e um padre para as cadeias, e muitos
presos aproveitam para se confessarem. Para Marlúcia, apesar de os frutos desse
trabalho não serem visíveis, muitos acabam mudando de vida após o “encontro com
Deus” na cadeia.
O artigo original do site do A
Crítica poderá ser visto por meio desse link aqui:
Que Deus abençoe a todos e nos dê
discernimento na hora de votar.
Alexandros Meimaridis
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