quarta-feira, 27 de agosto de 2014

PARÁBOLAS E JESUS - LUCAS 10:25—37 — A PARÁBOLA DO SAMARITANO — SERMÃO 027D — PARTE 004 — O SAMARITANO



Esse artigo é parte da série "Parábolas de Jesus" e é muito recomendável que o leitor procure conhecer todos os aspectos das verdades contidas nessa série, com aplicações para os nossos dias. No final do artigo você encontrará links para os outros artigos dessa série.

As partes anteriores da Parábola do Samaritano poderão ser encontradas por meio dos links abaixo:

027A — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 1
027B — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 2 — Os Ladrões e o Sacerdote
027C — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 3 — O Levita

Sermão 027D

A PARÁBOLA DO SAMARITANO — PARTE 4 — O SAMARITANO

lUCAS 10:25—37

25 E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?

26 E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês?

27 E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo.

28 E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso e viverás.

29 Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?

30 E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram e, espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto.

31 E, ocasionalmente, descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo.

32 E, de igual modo, também um levita, chegando àquele lugar e vendo-o, passou de largo.

33 Mas um samaritano que ia de viagem chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão.

34 E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, aplicando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele;

35 E, partindo ao outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele, e tudo o que de mais gastares eu to pagarei, quando voltar.

36 Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?

37 E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai e faze da mesma maneira.

Continuação

4. O Samaritano

Existem outras passagens no evangelho de Lucas em que a narrativa se ocupa do progresso de três personagens. Elas são:

Lucas 14:18—20

18 Não obstante, todos, à uma, começaram a escusar-se. Disse o primeiro: Comprei um campo e preciso ir vê-lo; rogo-te que me tenhas por escusado.

19 Outro disse: Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-las; rogo-te que me tenhas por escusado.

20 E outro disse: Casei-me e, por isso, não posso ir.

Lucas 20:10—14

10 No devido tempo, mandou um servo aos lavradores para que lhe dessem do fruto da vinha; os lavradores, porém, depois de o espancarem, o despacharam vazio.

11 Em vista disso, enviou-lhes outro servo; mas eles também a este espancaram e, depois de o ultrajarem, o despacharam vazio.

12 Mandou ainda um terceiro; também a este, depois de o ferirem, expulsaram.

13 Então, disse o dono da vinha: Que farei? Enviarei o meu filho amado; talvez o respeitem.

14 Vendo-o, porém, os lavradores, arrazoavam entre si, dizendo: Este é o herdeiro; matemo-lo, para que a herança venha a ser nossa.

O mesmo ocorre na narrativa que temos diante de nós. Depois da passagem do sacerdote e do levita a expectativa da audiência era o surgimento de um judeu comum que iria surgir e “salvar” o dia.[1] Essa seria, para os ouvintes a sequência natural, já que todos sabiam que sacerdotes, levitas e pessoas comuns do povo subiam ao Templo para oficiar e adorar. Portanto, era apenas natura que desses grupos o terceiro fosse um judeu comum, alguém do povo e não um oficial religioso. Os ouvintes ouvem a narrativa acerca do primeiro e do segundo personagem com uma expectativa cada vez maior pelo terceiro personagem que seria alguém com um deles qualquer.

Todavia, a sequência esperada é bruscamente interrompida por Jesus. Para o grande choque e surpresa ainda maior da audiência, o terceiro homem que desce pela mesma estrada, não é um judeu e sim, um odiado samaritano! No Israel daqueles dias. Hereges e sismáticos, como os samaritanos eram considerados, eram vistos de modo muito mais negativo que os próprios incrédulos! Nós podemos ter uma percepção do verdadeiro sentimento que os judeus nutriam pelos samaritanos por meio desse texto de —

Eclesiástico 50:25—26

25 Há duas nações que minha alma detesta e uma terceira que nem sequer é nação;

26 os habitantes da montanha de Seir, os filisteus e o povo estúpido que habita em Siquém.

Pelo que podemos entender da leitura acima, os samaritanos são equiparados aos edomitas e aos filisteus. A Mishná[2] declara o seguinte: aquele que come pão de um samaritano é igual ao que come a carne de um porco. Nos dias de Jesus a amargura existente entre judeus e samaritanos havia alcançados níveis elevadíssimos, porque os samaritanos haviam, durante a celebração de uma Festa da Páscoa, invadido a área do templo e espalhado ossos de mortos na mesma tornando-a impura para a adoração. Isso causou enorme prejuízo para os que exploravam comercialmente a área do templo e também para o povo que não pode celebrar a páscoa depois de terem feito a viagem até Jerusalém[3].

Não é à toa que quando os judeus quiseram ofender a Jesus disseram que ele tinha demônio e era samaritano, conforme —

João 8:48

Responderam, pois, os judeus e lhe disseram: Porventura, não temos razão em dizer que és samaritano e tens demônio?

Jesus poderia ter contado outra história, a de um nobre judeu ajudando um odiado samaritano. Essa história poderia ser melhor assimilada, do ponto de vista emocional, pela sua audiência naquele instante. Mas em vez disso, Jesus de um odiado samaritano como o herói. Isso demonstra a vigorosa coragem de Jesus. O autor do blog é grego de nascença e nunca me passou pela cabeça contar para meus patrícios uma história onde o herói fosse um turco, já que existe um ódio irreconciliável entre esses dois povos. Mas Jesus não, ele usou como herói de sua história um personagem notoriamente odiado por aqueles a quem Jesus estava falando!

A atitude de Jesus assume uma dimensão maior ainda, quando Jesus transforma um odiado inimigo em alguém moralmente superior aos líderes religiosos da audiência.
A expressão grega ἐσπλαγχνίσθη esplanchnísthe — traduzida por compadeceu-se tem um significado tocante na língua original que é: ser movido pelas entranhas; daí, ser movido pela compaixão; ter compaixão — pois se achava que as entranhas eram a sede do amor e da piedade. Jesus usa essa expressão para indicar a profundidade dos sentimentos do samaritano pelo desconhecido ferido à beira do caminho. É um verbo fortíssimo tanto no grego quanto nos idiomas semíticos! O samaritano não é um gentio. Ele é um indivíduo que conhece a Torá dos hebreus e sente-se obrigado a demonstrar compaixão pelo seu próximo conforme —

Levítico 19:18

Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o SENHOR.

O samaritano está viajando pela Judéia. Então ele sabe que a maior probabilidade é que o homem ferido seja um judeu. Mas isso não o impede de ajudar e socorrer o necessitado.

O texto torna-se cada vez mais claro e evidente à medida que Jesus desenvolve a narrativa. O sacerdote apenas “descia” pela estrada. O levita, por sua vez, “descia por aquele lugar”. Mas o samaritano “chegou-se até o homem”. Como os outros dois, o samaritano também corria o risco de contaminar-se, contaminação essa que incluiria seu animal e outros pertences! Além disso, ele é um excelente alvo para os ladrões da estrada, que poderiam, por respeito evitar atacar religiosos como o sacerdote e o levita, mas que não teriam nenhuma consideração por uma samaritano.

Jesus usa o samaritano, porque esse personagem tem uma vantagem. Como alguém de fora ele não será influenciado como um judeu comum poderia ser influenciado pelo mau exemplo daqueles que o precederam. Não sabemos em que sentido o samaritano estava seguindo pela estrada. Mas se estivesse subindo a mesma, ele tinha acabado de cruzar, primeiro com o sacerdote e logo em seguida com o levita, e sabia muito bem o que eles tinham feito, ou melhor, deixado de fazer. Caso o samaritano estivesse descendo, então como o levita ele tinha consciência de quem estava indo à sua frente. Essas situações poderiam telo levado a arrumar boas desculpas para não se envolver. Se os judeus não se interessaram em ajudar um provável judeu, porque deveria ele, um samaritano fazê-lo? Além do mais existe algo que não mencionamos até agora: caso o samaritano ajude o judeu ele corre o risco de sofrer graves retaliações por parte de amigos e parentes do homem ferido. Absurdo, mas, no entanto verdadeiro. Apesar de todas essas considerações ele sente profunda compaixão pelo homem ferido e tal compaixão o conduz a agir de modo eficaz para ajudar o necessitado.

CONTINUA...   



OUTRAS PARÁBOLAS DE JESUS PODEM SER ENCONTRADAS NOS LINKS ABAIXO:

001 – O Sal

002 – Os Dois Fundamentos

003 – O Semeador

004 – O Joio e o Trigo =

005 – O Credor Incompassivo

006 — O Grão de Mostarda e o Fermento

007 — Os Meninos Brincando na Praça

008 — A Semente Germinando Secretamente

009 e 010 — O Tesouro Escondido e a Pérola de Grande Valor

011 — A Eterna Fornalha de Fogo

012 — A Parábola dos Trabalhadores na Vinha

013 — A Parábola dos Dois Irmãos

014 — A Parábola dos Lavradores Maus — Parte 1

014A — A Parábola dos Lavradores Maus — Parte 2

015 — A Parábola das Bodas —

016 — A Parábola da Figueira

017 — A Parábola do Servo Vigilante

018 — A Parábola do Ladrão

019 — A Parábola do Servo Fiel e Prudente

020 — A Parábola das Dez Virgens

021 — A Parábola dos Talentos

022 — A Parábola das Ovelhas e dos Cabritos

023 — A Parábola dos Dois Devedores

024 — A Parábola dos Pássaros e da Raposa

025 — A Parábola do Discípulo que Desejava Sepultar Seu Pai

026 — A Parábola da Mão no Arado

027 — A Parábola do Bom Samaritano — Completo

027A — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 1

027B — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 2 — Os Ladrões e o Sacerdote

027C — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 3 — O Levita

027D — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 4 — O Samaritano

027E — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 5 — O Socorro

027F — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 6 — O transporte até a hospedaria

027G — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 7 — O pagamento final

027H — A Parábola do Bom Samaritano — Parte 8 — O diálogo final entre Jesus e o doutor da Lei

028 — A Parábola do Rico Tolo —

029 — A Parábola do Amigo Importuno —

030 — A Parábola Acerca de Pilatos e da Torre de Siloé

031 — A Parábola da Figueira Estéril

032 — A Parábola Acerca dos Primeiros Lugares

033 — A Parábola do Grande Banquete

034 — A Parábola do Construtor da Torre e do Grande Guerreiro

035 — Introdução a Lucas 15 — Parábolas Acerca da Condição Perdida da Raça Humana — Parte 001

036 — Introdução a Lucas 15 — Parábolas Acerca da Condição Perdida da Raça Humana — Parte 002

037A — Parábolas de Jesus — Mateus 18:12—14 e Lucas 15:4—7 — A Parábola da Ovelha Perdida — Parte 001

037B — Parábolas de Jesus — Mateus 18:12—14 e Lucas 15:4—7 — A Parábola da Ovelha Perdida — Parte 002

037C — Parábolas de Jesus — Mateus 18:12—14 e Lucas 15:4—7 — A Parábola da Ovelha Perdida — Parte 003

037D — Parábolas de Jesus — Mateus 18:12—14 e Lucas 15:4—7 — A Parábola da Ovelha Perdida — Parte 004 — A Influência do Antigo Testamento

037E — Parábolas de Jesus — Mateus 18:12—14 e Lucas 15:4—7 — A Parábola da Ovelha Perdida — Parte 005 — Características Cristológicas da Parábola da Ovelha Perdida

037F — Parábolas de Jesus — Mateus 18:12—14 e Lucas 15:4—7 — A Parábola da Ovelha Perdida — Parte 006 — A importância das pessoas perdidas.

Que Deus abençoe a todos.

Alexandros Meimaridis

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Desde já agradecemos a todos.



[1] Jeremias, J. The Parables of Jesus. SCM Press, London, 1963
[2] Mishná que também pode ser escrito como Mishnah significa em hebraico “estudo repetido” e cujo plural é Mishnayot. O Mishná é a mais antiga e autoritativa coleção e codificação da legislação judaica pós Antigo Testamento. Esta coleção foi sistematizada por inúmeros estudiosos, chamados de “tannanim”, durante um período superior a duzentos anos. Esta codificação assumiu sua forma definitiva no início do século III d.C. pelas mãos do estudioso conhecido como Judah ha-Nasi. O objetivo da coleção encontrada no Mishná era suplementar as leis escritas que estão registradas no Pentateuco. No Mishná podemos encontrar, na forma escrita, a interpretação seletiva de inúmeras tradições que haviam sido preservadas na forma oral, com algumas destas tradições sendo bastante antigas e datando dos dias de Esdras c. 450 a.C.

[3] Josefo, Flávio. Antiguidades Judaicas. Casa Publicadora das Assembleias de Deus, Rio de Janeiro, 8ª edição: 2004.  

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