quarta-feira, 3 de setembro de 2014

RELIGIÕES E OS SERES HUMANOS


O jornalista Lawrence Wright. Depois do fanatismo da al-Qaeda, seu alvo é a cientologia (Foto: Orjan F. Ellingvag/Dagbladet/Corbis)

A primeira vez que entrei em contato com Lawrence Wright foi quando ele veio a New York para o lançamento de seu livro Saints and Sinners – Santos e Pecadores. Desde então tenho acompanhado sua produção literária e foi com grande surpresa que me deparei com essa entrevista que ele concedeu para Rodrigo Turrer da Revista ÉPOCA. O material publicado pela revista segue abaixo:

Lawrence Wright: "A religião muda pessoas para o bem e para o mal"

O premiado jornalista americano mostra, em seu novo livro, como a cientologia se aproveitou da fama de astros de Hollywood para se popularizar entre os americanos

RODRIGO TURRER

QUESTIONADOR

O jornalista Lawrence Wright. Depois do fanatismo da al-Qaeda, seu alvo é a cientologia (Foto: Orjan F. Ellingvag/Dagbladet/Corbis)

O jornalista americano Lawrence Wright sempre se interessou pelo papel da religião na história do mundo. Em seu mais famoso livro, O vulto das torres, de 2006, ganhador do Prêmio Pulitzer, ele fez uma detalhada investigação da rede terrorista al-Qaeda e das raízes do fundamentalismo islâmico pregado pelo saudita Osama bin Laden. Em seu novo livro, A prisão da fé – Cientologia, celebridades e Hollywood (Cia. das Letras, 600 páginas, R$ 54), Wright se dedica a investigar os fundamentalistas da cientologia. “Sempre fui fascinado pelo poder que a religião tem de mudar o comportamento das pessoas e da sociedade”, afirmou Wright, de 66 anos, em entrevista a ÉPOCA.

ÉPOCA – O que levou o senhor a escrever sobre cientologia?

Lawrence Wright – A religião muda pessoas para o bem e para o mal. Sempre fui fascinado pelo poder que a religião tem de mudar o comportamento das pessoas e da sociedade. Um de meus objetivos em meus livros é analisar o processo da crença: o que leva alguém a acreditar numa religião. No caso da cientologia, não é uma conversão, uma iluminação, como ocorre na maioria das religiões. É uma espécie de lavagem cerebral, uma passagem em que pessoas instruídas, inteligentes e céticas se tornam crentes.

ÉPOCA – Foi o que aconteceu com o personagem central de seu livro, o roteirista Paul Haggis?

Wright – Sim. Como muitas pessoas, quando Haggis se envolveu com a cientologia, ele imaginou que aquilo fosse ajudá-lo. Ele estava à beira de um divórcio quando um conhecido lhe entregou um livro e disse: “Você tem uma consciência – esse é o manual de instruções”. Era um livro sobre a Igreja da Cientologia, e Haggis quis ir atrás. Ele achou que aquilo poderia ajudá-lo e começou a frequentar cursos ministrados por líderes cientologistas. Aquilo de fato o ajudou por algum tempo. Ele se mudou para Los Angeles, sua mulher entrou para a igreja, seus filhos se tornaram cientologistas. Muitos de seus amigos eram cientologistas. Ele se tornou parte de uma comunidade, e aquilo era muito significativo para ele. Haggis cresceu na igreja e achou alguns de seus preceitos insanos e sem sentido. Mas, como tudo aquilo era importante, ele insistiu, até chegar a um momento em que percebeu que nada daquilo fazia sentido. Demorou 20 anos para ele largar a igreja.

ÉPOCA – Como a Igreja da Cientologia se tornou um sucesso entre celebridades americanas?

Wright – Isso é obra de L. Ron Hubbard, o fundador da Igreja da Cientologia. Hubbard era um gênio em muitos aspectos. Uma prova de sua genialidade foi entender que, nos Estados Unidos do pós-guerra, celebridades eram adoradas – e o centro mundial das celebridades é Hollywood. Hubbard estabeleceu como meta cortejar e atrair gente famosa para sua igreja. De um ponto de vista publicitário, ele percebeu antes de todos que os famosos vendem produtos. No caso de Hubbard, o produto que ele tinha para vender era a cientologia.

ÉPOCA – A Igreja da Cientologia ainda faz isso quando usa astros como John Travolta ou Tom Cruise para se promover?

Wright – Sim. Note como cada um desses atores esteve no topo das bilheterias mundiais mais de uma vez em sua carreira. Eles são figuras centrais, símbolos poderosos da cientologia e do sucesso que a igreja afirma trazer para quem aderir a ela. Cruise se tornou o mais importante, mas Travolta foi um dos pioneiros na promoção da cientologia e, por um longo tempo, foi o mais notável dos cientologistas. Por causa dos dois, uma incalculável quantidade de pessoas se juntou à cientologia, principalmente do entretenimento.

ÉPOCA – Seu livro anterior, O vulto das torres, explora a história da al-Qaeda – movimento também de inspiração religiosa. Nele, o senhor questiona até onde a al-Qaeda teria ido sem Osama bin Laden. Ele foi morto. E agora, até onde a al-Qaeda pode ir?

Wright – Não teríamos de lidar com o terrorismo islâmico no nível em que lidamos se não fosse por Osama bin Laden. Sem Bin Laden, eles ficaram muito enfraquecidos. Ninguém será capaz de substituir Bin Laden. Na verdade, eles já estavam enfraquecidos antes de sua morte. Não há ninguém tão significativo e carismático como ele. Isso não quer dizer que eles não sejam capazes de fazer mal. Enquanto Bin Laden estava vivo, a al-Qaeda era um símbolo da inabilidade do Ocidente em se livrar dele. Agora que morreu, o senso de invulnerabilidade da al-Qaeda se foi. Além disso, a al-Qaeda se tornou uma organização dividida, voltada para questões nacionais.

ÉPOCA – Matar Osama bin Laden era a única opção americana?

Wright – Não. Os Estados Unidos deveriam ter prendido Bin Laden, não tê-lo matado. Os EUA não poderiam levá-lo para Guantánamo, mas poderiam levá-lo para o Quênia, onde, em 1998, um atentado da al-Qaeda na embaixada americana matou 213 pessoas. Os Estados Unidos poderiam fazê-lo ser julgado em Nairóbi. Gostaria de ver Bin Laden dizer diante de 150 quenianos cegados pelo atentado que se tratava de um ataque a um símbolo do poder americano. Ele poderia ser julgado em cada um dos países onde a al-Qaeda cometeu assassinatos (Sudão, Iêmen, Somália), para que se explicasse.

ÉPOCA – A morte de Bin Laden pôs fim à Guerra ao Terrorismo?

Wright – Nem todo grupo terrorista é a al-Qaeda, e é difícil sustentar que tenhamos de jogar as regras da guerra para sempre. O terrorismo nunca acabará. Se sempre teremos uma Guerra ao Terror, é outra história. Não temos de viver num mundo em guerra eterna. Em algum ponto, a al-Qaeda desaparecerá, e a Guerra ao Terror terá de acabar. Mas o exemplo da al-Qaeda será perene: um pequeno grupo, com um profundo comprometimento por uma causa e técnicas sofisticadas de terror. Muitos grupos, com diferentes causas, seguirão esse exemplo. Por isso, é impossível acreditar no fim do terrorismo.

ÉPOCA – O senhor morou no Egito por muitos anos. Como encara o golpe militar no país e a atual perseguição à Irmandade Muçulmana?

Wright – Era inevitável que a Irmandade Muçulmana chegasse ao poder. Eles sempre foram o único grupo político organizado do país. O insucesso da Irmandade no poder também era inevitável, porque eles sempre foram um grupo pouco sofisticado na hora de lidar com problemas reais. A Irmandade sempre teve duas preocupações: cobrir a cabeça das mulheres e impor a sharia (lei islâmica). Mas os problemas do Egito são muito maiores e têm a ver com desemprego, analfabetismo, igualdade de gêneros, inflação. São problemas profundos, e a Irmandade nunca soube lidar com eles.

ÉPOCA – O massacre de apoiadores da Irmandade Muçulmana pelo Exército egípcio, há duas semanas, significa um revés para a democracia?

Wright – Ainda acredito na democracia egípcia, mesmo com toda a violência e o massacre conduzido pelos militares. O risco é que o regime atual se desqualifique completamente para conduzir qualquer processo democrático. Antes, havia a esperança e a promessa de que os militares não estariam interessados em se prolongar no poder. Por isso, eles até formaram um governo com civis, com (Mohamed El) Baradei como vice-presidente. Com o massacre, isso terminou. Não sei o que acontecerá agora, mas o Exército precisa deixar o poder o quanto antes. Há dois elementos que nunca se misturam com democracia: Forças Armadas e religião. Essas são as duas principais forças disputando espaço na política egípcia neste momento.

ÉPOCA – Esse cenário pode levar a uma guerra civil nos moldes da Guerra da Argélia, nos anos 1990?

Wright – Esse é meu maior pesadelo. Não acredito que seja possível, porque os egípcios são mais moderados. Mas estamos falando do Oriente Médio. Não dá para saber até onde isso irá, se a Irmandade responderá à altura. A reação do Exército foi desproporcional, selvagem e sem justificativa – e pode dar margem a uma reação mais extrema dos islamitas. Nesse caso, o pesadelo pode virar realidade.

ÉPOCA – No caso da Síria, o senhor acredita que algum tipo de intervenção ocidental possa pôr fim ao conflito?

Wright – Podemos defender uma intervenção moral na Síria, mas não vejo como o Ocidente possa resolver o conflito. Os americanos não estão preparados para assumir esse compromisso. Os grupos radicais têm um grande papel na luta dos rebeldes, e não vejo como eles possam participar numa futura democracia. Qualquer intervenção é um erro. Os Estados Unidos estão armando rebeldes sunitas ligados à al-Qaeda, é um erro que já cometeram no passado. É muito importante que os Estados Unidos não escolham lados numa guerra como essa, que envolve questões locais, mas também faz parte de uma guerra civil dentro do islã, entre sunitas e xiitas.

A entrevista original concedida à ÉPOCA poderá ser vista por meio desse link aqui:


NOSSO COMENTÁRIO.

Como podemos perceber pelas próprias palavras do escritor Lawrence Wright, religião e política não devem se misturar.

Nossa convicção, exposta e argumentada em diversos dos nossos artigos é que é, exatamente, nesse quesito, RELIGIÃO, que a FÉ CRISTA é algo completamente diferente. A fé cristã não trata de uma série de obrigações que as pessoas envolvidas precisam praticar, mas está concentrada em um RELACIONAMENTO vivo com Deus e com o Senhor Jesus Cristo por meio da ação do Espírito Santo.

É esse RELACIONAMENTO que faz toda diferença do mundo entre as religiões, o fundamentalismo e a verdadeira fé cristã.

Jesus deixou bem claro a situação que se seguiria ao dizer as seguintes palavras:

Mateus 7:13—14

13 Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela),

14 porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela.

De fato são pouco os que acertam com a porta estreita, mas não devemos temer, pois Jesus também nos prometeu o seguinte:

Lucas 12:32

Não temais, ó pequenino rebanho; porque vosso Pai se agradou em dar-vos o seu reino.

Que Deus abençoe a todos

Alexandros Meimaridis

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Desde já agradecemos a todos.

2 comentários:

  1. Mais um ótimo tema abordado pela revista Época e pelo blog, pois nos dá uma noção "geográfica" do que está acontecendo no mundo no que tange a religião.
    Não tenho como deixar de parabenizá-lo irmão Alex por abordar este assunto.
    Toda honra e toda a glória á Deus.(Salmos 115)

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