O jornalista Lawrence Wright.
Depois do fanatismo da al-Qaeda, seu alvo é a cientologia (Foto: Orjan F.
Ellingvag/Dagbladet/Corbis)
A primeira vez que entrei em
contato com Lawrence Wright foi quando ele veio a New York para o lançamento de
seu livro Saints and Sinners – Santos
e Pecadores. Desde então tenho acompanhado sua produção literária e foi com
grande surpresa que me deparei com essa entrevista que ele concedeu para
Rodrigo Turrer da Revista ÉPOCA. O material publicado pela revista segue
abaixo:
Lawrence Wright: "A religião muda pessoas para o bem e para o
mal"
O
premiado jornalista americano mostra, em seu novo livro, como a cientologia se
aproveitou da fama de astros de Hollywood para se popularizar entre os
americanos
RODRIGO
TURRER
QUESTIONADOR
O
jornalista Lawrence Wright. Depois do fanatismo da al-Qaeda, seu alvo é a
cientologia (Foto: Orjan F. Ellingvag/Dagbladet/Corbis)
O
jornalista americano Lawrence Wright sempre se interessou pelo papel da
religião na história do mundo. Em seu mais famoso livro, O vulto das torres, de
2006, ganhador do Prêmio Pulitzer, ele fez uma detalhada investigação da rede
terrorista al-Qaeda e das raízes do fundamentalismo islâmico pregado pelo
saudita Osama bin Laden. Em seu novo livro, A prisão da fé – Cientologia, celebridades
e Hollywood (Cia. das Letras, 600 páginas, R$ 54), Wright se dedica a
investigar os fundamentalistas da cientologia. “Sempre fui fascinado pelo poder
que a religião tem de mudar o comportamento das pessoas e da sociedade”,
afirmou Wright, de 66 anos, em entrevista a ÉPOCA.
ÉPOCA – O
que levou o senhor a escrever sobre cientologia?
Lawrence
Wright – A religião muda pessoas para o bem e para o mal. Sempre fui fascinado
pelo poder que a religião tem de mudar o comportamento das pessoas e da
sociedade. Um de meus objetivos em meus livros é analisar o processo da crença:
o que leva alguém a acreditar numa religião. No caso da cientologia, não é uma
conversão, uma iluminação, como ocorre na maioria das religiões. É uma espécie
de lavagem cerebral, uma passagem em que pessoas instruídas, inteligentes e
céticas se tornam crentes.
ÉPOCA –
Foi o que aconteceu com o personagem central de seu livro, o roteirista Paul
Haggis?
Wright –
Sim. Como muitas pessoas, quando Haggis se envolveu com a cientologia, ele
imaginou que aquilo fosse ajudá-lo. Ele estava à beira de um divórcio quando um
conhecido lhe entregou um livro e disse: “Você tem uma consciência – esse é o
manual de instruções”. Era um livro sobre a Igreja da Cientologia, e Haggis
quis ir atrás. Ele achou que aquilo poderia ajudá-lo e começou a frequentar
cursos ministrados por líderes cientologistas. Aquilo de fato o ajudou por
algum tempo. Ele se mudou para Los Angeles, sua mulher entrou para a igreja,
seus filhos se tornaram cientologistas. Muitos de seus amigos eram
cientologistas. Ele se tornou parte de uma comunidade, e aquilo era muito
significativo para ele. Haggis cresceu na igreja e achou alguns de seus
preceitos insanos e sem sentido. Mas, como tudo aquilo era importante, ele
insistiu, até chegar a um momento em que percebeu que nada daquilo fazia
sentido. Demorou 20 anos para ele largar a igreja.
ÉPOCA –
Como a Igreja da Cientologia se tornou um sucesso entre celebridades
americanas?
Wright –
Isso é obra de L. Ron Hubbard, o fundador da Igreja da Cientologia. Hubbard era
um gênio em muitos aspectos. Uma prova de sua genialidade foi entender que, nos
Estados Unidos do pós-guerra, celebridades eram adoradas – e o centro mundial
das celebridades é Hollywood. Hubbard estabeleceu como meta cortejar e atrair
gente famosa para sua igreja. De um ponto de vista publicitário, ele percebeu antes
de todos que os famosos vendem produtos. No caso de Hubbard, o produto que ele
tinha para vender era a cientologia.
ÉPOCA – A
Igreja da Cientologia ainda faz isso quando usa astros como John Travolta ou
Tom Cruise para se promover?
Wright –
Sim. Note como cada um desses atores esteve no topo das bilheterias mundiais
mais de uma vez em sua carreira. Eles são figuras centrais, símbolos poderosos
da cientologia e do sucesso que a igreja afirma trazer para quem aderir a ela.
Cruise se tornou o mais importante, mas Travolta foi um dos pioneiros na
promoção da cientologia e, por um longo tempo, foi o mais notável dos
cientologistas. Por causa dos dois, uma incalculável quantidade de pessoas se
juntou à cientologia, principalmente do entretenimento.
ÉPOCA –
Seu livro anterior, O vulto das torres, explora a história da al-Qaeda –
movimento também de inspiração religiosa. Nele, o senhor questiona até onde a
al-Qaeda teria ido sem Osama bin Laden. Ele foi morto. E agora, até onde a
al-Qaeda pode ir?
Wright –
Não teríamos de lidar com o terrorismo islâmico no nível em que lidamos se não
fosse por Osama bin Laden. Sem Bin Laden, eles ficaram muito enfraquecidos.
Ninguém será capaz de substituir Bin Laden. Na verdade, eles já estavam
enfraquecidos antes de sua morte. Não há ninguém tão significativo e
carismático como ele. Isso não quer dizer que eles não sejam capazes de fazer
mal. Enquanto Bin Laden estava vivo, a al-Qaeda era um símbolo da inabilidade
do Ocidente em se livrar dele. Agora que morreu, o senso de invulnerabilidade
da al-Qaeda se foi. Além disso, a al-Qaeda se tornou uma organização dividida,
voltada para questões nacionais.
ÉPOCA –
Matar Osama bin Laden era a única opção americana?
Wright –
Não. Os Estados Unidos deveriam ter prendido Bin Laden, não tê-lo matado. Os
EUA não poderiam levá-lo para Guantánamo, mas poderiam levá-lo para o Quênia,
onde, em 1998, um atentado da al-Qaeda na embaixada americana matou 213 pessoas.
Os Estados Unidos poderiam fazê-lo ser julgado em Nairóbi. Gostaria de ver Bin
Laden dizer diante de 150 quenianos cegados pelo atentado que se tratava de um
ataque a um símbolo do poder americano. Ele poderia ser julgado em cada um dos
países onde a al-Qaeda cometeu assassinatos (Sudão, Iêmen, Somália), para que
se explicasse.
ÉPOCA – A
morte de Bin Laden pôs fim à Guerra ao Terrorismo?
Wright –
Nem todo grupo terrorista é a al-Qaeda, e é difícil sustentar que tenhamos de
jogar as regras da guerra para sempre. O terrorismo nunca acabará. Se sempre
teremos uma Guerra ao Terror, é outra história. Não temos de viver num mundo em
guerra eterna. Em algum ponto, a al-Qaeda desaparecerá, e a Guerra ao Terror
terá de acabar. Mas o exemplo da al-Qaeda será perene: um pequeno grupo, com um
profundo comprometimento por uma causa e técnicas sofisticadas de terror.
Muitos grupos, com diferentes causas, seguirão esse exemplo. Por isso, é
impossível acreditar no fim do terrorismo.
ÉPOCA – O
senhor morou no Egito por muitos anos. Como encara o golpe militar no país e a
atual perseguição à Irmandade Muçulmana?
Wright –
Era inevitável que a Irmandade Muçulmana chegasse ao poder. Eles sempre foram o
único grupo político organizado do país. O insucesso da Irmandade no poder
também era inevitável, porque eles sempre foram um grupo pouco sofisticado na
hora de lidar com problemas reais. A Irmandade sempre teve duas preocupações:
cobrir a cabeça das mulheres e impor a sharia (lei islâmica). Mas os problemas
do Egito são muito maiores e têm a ver com desemprego, analfabetismo, igualdade
de gêneros, inflação. São problemas profundos, e a Irmandade nunca soube lidar
com eles.
ÉPOCA – O
massacre de apoiadores da Irmandade Muçulmana pelo Exército egípcio, há duas
semanas, significa um revés para a democracia?
Wright –
Ainda acredito na democracia egípcia, mesmo com toda a violência e o massacre
conduzido pelos militares. O risco é que o regime atual se desqualifique
completamente para conduzir qualquer processo democrático. Antes, havia a
esperança e a promessa de que os militares não estariam interessados em se
prolongar no poder. Por isso, eles até formaram um governo com civis, com (Mohamed
El) Baradei como vice-presidente. Com o massacre, isso terminou. Não sei o que
acontecerá agora, mas o Exército precisa deixar o poder o quanto antes. Há dois
elementos que nunca se misturam com democracia: Forças Armadas e religião.
Essas são as duas principais forças disputando espaço na política egípcia neste
momento.
ÉPOCA –
Esse cenário pode levar a uma guerra civil nos moldes da Guerra da Argélia, nos
anos 1990?
Wright –
Esse é meu maior pesadelo. Não acredito que seja possível, porque os egípcios
são mais moderados. Mas estamos falando do Oriente Médio. Não dá para saber até
onde isso irá, se a Irmandade responderá à altura. A reação do Exército foi
desproporcional, selvagem e sem justificativa – e pode dar margem a uma reação
mais extrema dos islamitas. Nesse caso, o pesadelo pode virar realidade.
ÉPOCA –
No caso da Síria, o senhor acredita que algum tipo de intervenção ocidental
possa pôr fim ao conflito?
Wright –
Podemos defender uma intervenção moral na Síria, mas não vejo como o Ocidente
possa resolver o conflito. Os americanos não estão preparados para assumir esse
compromisso. Os grupos radicais têm um grande papel na luta dos rebeldes, e não
vejo como eles possam participar numa futura democracia. Qualquer intervenção é
um erro. Os Estados Unidos estão armando rebeldes sunitas ligados à al-Qaeda, é
um erro que já cometeram no passado. É muito importante que os Estados Unidos
não escolham lados numa guerra como essa, que envolve questões locais, mas
também faz parte de uma guerra civil dentro do islã, entre sunitas e xiitas.
A entrevista original concedida à
ÉPOCA poderá ser vista por meio desse link aqui:
NOSSO COMENTÁRIO.
Como podemos perceber pelas
próprias palavras do escritor Lawrence Wright, religião e política não devem se
misturar.
Nossa convicção, exposta e
argumentada em diversos dos nossos artigos é que é, exatamente, nesse quesito,
RELIGIÃO, que a FÉ CRISTA é algo completamente diferente. A fé cristã não trata
de uma série de obrigações que as pessoas envolvidas precisam praticar, mas
está concentrada em um RELACIONAMENTO vivo com Deus e com o Senhor Jesus Cristo
por meio da ação do Espírito Santo.
É esse RELACIONAMENTO que faz
toda diferença do mundo entre as religiões, o fundamentalismo e a verdadeira fé
cristã.
Jesus deixou bem claro a situação
que se seguiria ao dizer as seguintes palavras:
Mateus 7:13—14
13 Entrai pela porta
estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e
são muitos os que entram por ela),
14 porque estreita é a
porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são
poucos os que acertam com ela.
De fato são pouco os que acertam
com a porta estreita, mas não devemos temer, pois Jesus também nos prometeu o
seguinte:
Lucas 12:32
Não temais, ó pequenino
rebanho; porque vosso Pai se agradou em dar-vos o seu reino.
Que Deus abençoe a todos
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a
todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa página no Facebook
através do seguinte link:
Desde já
agradecemos a todos.
Mais um ótimo tema abordado pela revista Época e pelo blog, pois nos dá uma noção "geográfica" do que está acontecendo no mundo no que tange a religião.
ResponderExcluirNão tenho como deixar de parabenizá-lo irmão Alex por abordar este assunto.
Toda honra e toda a glória á Deus.(Salmos 115)
Caro Cleiton,
ExcluirObrigado e que Deus te abençoe.
Irmão Alex