Atenção esse artigo é parte de uma série
onde pretendemos tratar dos alegados encontros de poder e de curas maravilhosas
que nos são apresentadas todos os dias pelos pastores midiáticos. No final de
cada estudo você encontrará links para outros estudos.
CONTINUAÇÃO...
Mas o que é que a Bíblia ensina? Em primeiro
lugar devemos destacar que, diferentemente das religiões humanas da antiguidade
que procuravam explicar aos seus iniciados, nos mínimos detalhes, as questões
mais profundas que um ser humano pode fazer — Quem sou? De onde eu vim? Por que
estou aqui? Para onde vou? — a revelação bíblica é bastante discreta e sóbria
não elaborando detalhes acerca da vida futura. De fato ao contrário de Osíris
que podia “desvendar todas as coisas”, o que é um desejo humano perene, o Deus
da Bíblia tem reservado certas coisas, exclusivamente, para seu próprio
conhecimento – ver Deuteronômio 29:29.
No Antigo Testamento a palavra usada para
céu — mesmo quando traduzida no singular em nossa versão de Almeida Revista e
Atualizada — ver, por exemplo, Gênesis 7:19 — está sempre no plural. Isto não
quer dizer que os autores bíblicos do Antigo Testamento tinham uma visão de que
a estrutura do universo consistia de vários céus que formavam esferas
concêntricas, umas em cima das outras, como as camadas de uma cebola cortada
pela metade. Analisando os versículos do Antigo Testamento onde a expressão
hebraica הַשָּׁמַיִם — hashamaim — os céus, aparece, nós podemos deduzir que no Antigo Testamento a
revelação de Deus indicava a existência de, pelo menos dois céus, e
possivelmente três —
1 Reis 8:27
Mas, de fato, habitaria Deus na terra? Eis que
os céus e até o céu dos céus não te podem conter, quanto menos esta casa que eu
edifiquei.
Esdras 9:6
E disse: Meu Deus! Estou confuso e
envergonhado, para levantar a ti a face, meu Deus, porque as nossas iniquidades
se multiplicaram sobre a nossa cabeça, e a nossa culpa cresceu até aos céus.
Mas a informação que temos não nos permite
definir um número preciso.
No Novo Testamento a expressão grega οὐρανὸς — ouranòs — céu, no singular, é usada tanto para
descrever o local onde o trono de Deus está quanto o espaço onde os pássaros
voam —
Mateus 5:34
Eu, porém, vos digo: de modo algum jureis; nem
pelo céu, por ser o trono de Deus.
Mateus 6:26.
Observai as aves do céu: não semeiam, não
colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta.
Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves?
Por sua vez a expressão que Paulo usa em
Efésios 1:3 é ἐπουρανίοις — epouraníois e a
mesma é traduzida por “lugares celestiais”, o que por si só já indica a
existência, pelo menos conceitual, de pelo menos dois céus ou lugares distintos
que podem ser chamados de “céu. Mas o próprio apóstolo Paulo no fala em 2
Coríntios 12:1—4 que um homem — a modéstia não lhe permite usar seu próprio
nome — se no corpo ou fora do corpo, somente Deus sabe, foi arrebatado até ao terceiro
céu, chamado de paraíso, onde ouviu palavras inefáveis — que não podem ser
pronunciadas — as quais não é lícito ao homem referir.
2 Coríntios 12:1—4
1 Se é necessário que me glorie, ainda que não
convém, passarei às visões e revelações do Senhor.
2 Conheço um homem em Cristo que, há catorze
anos, foi arrebatado até ao terceiro céu (se no corpo ou fora do corpo, não
sei, Deus o sabe)
3 e sei que o tal homem (se no corpo ou fora
do corpo, não sei, Deus o sabe)
4 foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras
inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir.
Assim, a revelação no Novo Testamento nos
ensina que existem três céus, pelo menos. Se o terceiro céu mencionado por
Paulo for onde está o trono de Deus — Paulo chama o terceiro céu de Paraíso,
mas não faz menção à presença de Deus — então existem somente três céus. Se o
trono de Deus não está no terceiro céu então existirão tantos céus quanto
tiverem que existir até que cheguemos ao céu onde o trono de Deus está. O
apóstolo João, na revelação que recebeu do Senhor Jesus — o livro do Apocalipse
— foi chamado ao céu οὐρανὸς — ouranòs, onde “em espírito” teve a visão que
descreve em Apocalipse 4. Em nenhum momento, em todo o livro do Apocalipse João
menciona uma hierarquia de céus do tipo primeiro, segundo etc., mas usa a
palavra do mesmo modo que Jesus em Mateus 5 e 6, como foi indicado acima. O que
distingue a visão de João daquela de Paulo, é que João menciona, de forma
explícita, a presença do trono de Deus no céu para o qual ele foi chamado, mas
como acabamos de falar, João não menciona nenhuma hierarquia.
Independentemente da Bíblia não mencionar
uma hierarquia, esse conceito surgiu na tradição cristã através dos escritos,
pseudoepigráficos, de um indivíduo chamado Dionísio, o areopagita. O verdadeiro
Dionísio é personagem bíblico. Quando Paulo esteve em Atenas, por volta do ano
51 a.D., começou pregando o evangelho, como era seu costume, primeiro nas
sinagogas dos judeus. Depois Paulo levou sua pregação para a praça pública onde
argumentou com filósofos epicureus[1] e
estoicos[2]. Esses
por sua vez acabaram por levá-lo para o Areópago[3] onde
Paulo fez o discurso que está registrado em Atos 17:16—34. De acordo com o
texto de Atos, no final da pregação de Paulo alguns creram encontrando-se entre
esses um homem chamado Dionísio. Tudo o que sabemos, verdadeiramente histórico,
acerca desse homem, encontramos em Atos 17:34
e se resume ao seu nome, Dionísio e à sua função, areopagita, que indica
que ele era um dos doze juízes do Areópago em Atenas. Mas o fato de ele ser um
dos doze juízes nos revela algumas verdades a mais. Para alcançar a posição de
juiz no Areópago era necessário que o indivíduo tivesse ocupado antes a posição
de ἄρχων — árchon —
governador, da cidade de Atenas. E para ocupar a posição de governador era
necessário que fosse reconhecido pela comunidade como homem inteligente, dotado
de sabedoria e ser pessoa de conduta exemplar. Até aqui tudo é histórico.
CONTINUA...
LISTAS DOS ESTUDOS DE ENCONTROS DE PODER
001 — Introdução =
002 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = Expressões Diversas
003 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = ἀρχῆ — arché e ἄρχων — árchon.
004 – A linguagem de “Poder” no Novo Testamento = ἐξουσίαις – exousías – potestades, autoridades.
005 – A linguagem de “Poder” no Novo Testamento = δυνάμεις — dunámeis — poderes.
006 – A linguagem de “Poder” no Novo Testamento = Θρόνοι— thrónoi — tronos.
007 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = κυριοτῆς — kuriotês — domínio.
008 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = ὀνόματι — onómati — nome.
009 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = ἄγγελοs — ággelos — anjo.
010 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = δαιμονίον — daimoníon — demônio, πνεῦμα τὸ πονηρὸν — pneûma tò poniròn — espírito maligno, ἀγγέλους τε τοὺς μὴ τηρήσαντας τὴν ἑαυτῶν ἀρχὴν— angélous te toùs me terèsantas tèn eautôn archèn — anjos, os que não guardaram o seu estado original ou anjos caídos.
011 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = ἀγγέλους τῶν ἐθνῶν — angélous tôn ethnôn — anjos das nações.
012 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = ἀγγέλους τῶν ἐθνῶν — angélous tôn ethnôn — anjos das nações — Parte 2.
013 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = ἀγγέλους τῶν ἐθνῶν — angélous tôn ethnôn — anjos das nações — Parte 3 — Final.
014 — A Evidência do Novo Testamento – Parte 1 — Introdução
015 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 2 — As Passagens Disputadas — 1 Coríntios 2:6—8 — Parte 1
016 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 3 — As Passagens Disputadas — 1 Coríntios 2:6—8 — Parte 2
017 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 3 — As Passagens Disputadas — Romanos 13:1—3
018 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 4 — As Passagens Disputadas — Romanos 8:31—39
019 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 5 — As Passagens Disputadas — 1 Coríntios 15:24—27a — PARTE 1
020 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 6 — As Passagens Disputadas — 1 Coríntios 15:24—27a — PARTE 2
021 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 7 — As Passagens Disputadas — Colossenses 3:13—15 — PARTE 1
022 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 8 — As Passagens Disputadas — Colossenses 3:13—15 — PARTE 2
023 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 9 — As Passagens Disputadas — Efésios 1:20—23 — AS REGIÕES CELESTIAIS — PARTE 1
024 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 10 — As Passagens Disputadas — Efésios 1:20—23 — AS REGIÕES CELESTIAIS — PARTE 2
025 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 11 — As Passagens Disputadas — EFÉSIOS 1:20—23 — PARTE 3
026 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 12 — As Passagens Disputadas — EFÉSIOS 1:20—23 — PARTE 4
027 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 13 — As Passagens Disputadas — EFÉSIOS 1:20—23 — PARTE 5
028 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 14 — As Passagens Disputadas — EFÉSIOS 1:20—23 — PARTE 6
029 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 15 — As Passagens Disputadas — EFÉSIOS 1:20—23 — PARTE 7 — A DESTRUIÇÃO DA MORTE E DE SEUS ALIADOS
030 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 16 — As Passagens Disputadas — COLOSSENSES 1:16 — A CRIAÇÃO DE TODAS AS COISAS POR MEIO DE E PARA O PRÓPRIO CRISTO
031 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 16 — As Passagens Disputadas — COLOSSENSES 1:16 — TENTANDO DEFINIR OS PODERES
032 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 16 — As Passagens Disputadas — COLOSSENSES 1:16 — TENTANDO DEFINIR OS PODERES —PARTE 002
033 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 17 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 001
034 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 18 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 002
035 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 19 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 003
036 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 20 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 004
037 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 21 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 005
038 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 22 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 006
039 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 23 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 007
040 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 24 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 008
041 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 25 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 009
042 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 26 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 010
043 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 27 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 011 — O PRÍNCIPE DA POTESTADE DO AR
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2017/02/encontros-de-poder-043-evidencia-do.html
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que
puderem que “curtam” nossa página no Facebook através do seguinte link:
Desde já agradecemos a todos.
[1] A
filosofia conhecida como Epicureanismo foi fundada por Epicuro — 341—270 a.C.
Nesse momento o que nos interessa dessa filosofia é sua crença acerca da alma
humana. Para os filósofos epicureus a alma era material, constituída de átomos
minúsculos e se encontrava espalhada pelo corpo. Desta forma a morte era
insignificante já que tanto o corpo como a alma se dissolviam no meio.
[2] O
Estoicismo foi fundado por Zeno — 336—264 a.C. Um de seus seguidores, Crísopo —
(232— 204 a.C., tinha alunos de regiões tão distantes como Tarso e Babilônia. O
estoicismo como desenvolvido por Crísopo foi favoravelmente recebido em Roma
durante a República. Esta filosofia era bem mais complexa no que diz respeito
às implicações teológicas. Os estoicos acreditavam que as forças do universo
formam uma força todo-pervasiva e assim se mostram panteísta — o panteísmo
acredita que Deus é a soma de tudo quanto existe — mas existem também sintomas
de deísmo — o deísmo acredita na existência de um Deus, destituído de atributos
morais e intelectuais, e que poderia ou não haver influído na criação do
Universo. Para os estoicos o universo forma uma cadeia de causa e efeito onde
nada acontece por acaso. Dentro desta perspectiva o mal se torna inexistente ou
relativo. Acreditavam também que a alma é substância material, uma fagulha do
fogo divino e que a verdadeira religião consistia em se resignar ao destino.
Caso houvesse resistência na resignação, a crença da re-ocorrência cíclica
garantia o reaparecimento da alma, via reencarnação, para uma nova tentativa.
[3] Tribunal ateniense, assembléia de
magistrados, sábios, literatos, etc., localizado na “Colina de Marte” - Ares em
grego - na área adjacente ao Parthenon na Acrópole ateniense.
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