terça-feira, 9 de dezembro de 2014

ENCONTROS DE PODER — 026 — UMA EXEGESE DE EFÉSIOS 1:20—23 — PARTE 4 — O SENHOR DOS LUGARES CELESTIAIS



Atenção esse artigo é parte de uma série onde pretendemos tratar dos alegados encontros de poder e de curas maravilhosas que nos são apresentadas todos os dias pelos pastores midiáticos. No final de cada estudo você encontrará links para outros estudos.

ATENÇÃO: PARA ENTENDER MELHOR O MATERIAL ABAIXO, RECOMENDAMOS A LEITURA DOS TEXTOS ANTECEDENTES QUE PODERÃO DER ACESSADOS POR MEIO DESSES LINKS AQUI:

023 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 9 — As Passagens Disputadas — Efésios 1:20—23 — AS REGIÕES CELESTIAIS — PARTE 1

024 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 10 — As Passagens Disputadas — Efésios 1:20—23 — AS REGIÕES CELESTIAIS — PARTE 2

025 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 11 — As Passagens Disputadas — EFÉSIOS 1:20—23 — PARTE 3

CONTINUAÇÃO...

Bispo Eusébio de Cesárea (260 – 339 a.D.), em sua obra “História Eclesiástica” registra o fato, citando outra fonte, de que este Dionísio teria sido o primeiro bispo da cidade de Atenas. Outro autor, Nicéforo, fala de Dionísio como tendo sido martirizado. Todavia, como dissemos, não há meios de provar a veracidade dessas alegações. Suídas — c. 970 a.D — que produziu um dicionário da língua grega repleto de notas biográficas informa que Dionísio, o areopagita, era ateniense de nascimento tendo se destacado por suas realizações literárias. Ainda de acordo com Suídas, Dionísio, teria sido educado primeiramente em Atenas, na Grécia, e também em Heliópolis — cidade do sol — no Egito. Suídas confirma a verdade bíblica de que Dionísio converteu-se ao Cristianismo bem como a tradição de que teria se tornado o primeiro bispo de Atenas. Outro autor, o filósofo ateniense Aristides — c. século II a.D. — concorda com a informação de que Dionísio havia sido martirizado por causa da fé cristã.

Esta discussão acerca de Dionísio, o areopagita, é pertinente ao nosso estudo acerca dos “lugares celestiais” porque um grupo de estudos de natureza mística, filosófica e religiosa, tratando dessas questões tem sido atribuído a ele. Essa atribuição é importante porque esse corpo literário foi aceito tanto pela Igreja Católica Romana quanto pela Igreja Ortodoxa como literatura “genuinamente cristã”. Uma vez aceito dessa maneira o mesmo acabou influenciando grandemente tanto a Teologia quanto a espiritualidade daquelas denominações. Estudos modernos, todavia, têm sido capazes de demonstrar que esse material foi composto depois do século IV a.D. por um ou mais autores neoplatônicos[1]. Alguns acham que esses escritos teriam sido produzidos no século V e mesmo no século VI a.D. Para se ter uma idéia precisa da influência que tais escritos alcançaram na cristandade medieval basta dizer que os mesmos foram traduzidos para o latim por Johannes Scotus — c. século X a.D. — tendo-se tornado muito populares como um compêndio de misticismo, e chegaram a ser quase tão influentes quanto os escritos do próprio apóstolo Paulo!

Este escritos de caráter profundamente místico e repletos de noções e conceitos do neoplatonismo, aplicavam novamente, à teologia cristã, as doutrinas cardeais dos filósofos Plotinos — 205 – 270 a.D.— e Proclus — 410 – 485 a.D. — que foram os dois maiores expoentes daquela escola filosófica. De fato a história reconhece Proclus como o mais influente filósofo no mundo grego — Bizâncio — latino — Roma — e islâmico — Arábia — simultaneamente. Os ensinos destes filósofos incluíam conceitos acerca da natureza inefável do Um, a extensão da emanação para além da substância divina à alma humana e ao universo, a constituição tríplice de todas as coisas e o conceito do processo mundial como um derramamento eterno e infinito da essência divina bem como o retorno da essência divina à sua origem. Estes ensinos aboliram as distinções ortodoxas de categorias entre Deus e o universo criado e, como eram completamente panteístas, eram positivamente heréticos. Independente destes fatos, esses escritos alcançaram enorme notoriedade e exerceram notável influência sobre todo misticismo cristão subsequente. Não foram poucos os que, seguindo estes ensinamentos abandonaram a fé histórica e ortodoxa para seguir, de forma apaixonada, estas heresias. Mas a questão mais pervasiva de todas é o ensino acerca da dicotomia de que existe uma diferença entre a vida espiritual e a vida física. De acordo com este ensinamento a pessoa devia buscar uma vida espiritual em oposição à vida física controlada pelos cinco sentidos. Esta vida espiritual devia ser buscada porque era um tipo de vida superior à vida física. O resultado deste ensino naqueles dias foi o desenvolvimento de um extenso misticismo com alguns pretendendo viver em um nível muito superior ao da maioria das pessoas. A Igreja Católica Romana cultiva até hoje o misticismo de “santos” como João da Cruz e Tereza de Ávila entre muitos outros. 

Por semelhante modo o estrondoso sucesso de bilheteria produzido e dirigido pelo ator estadunidense Mel Gibson, que é o filme “A Paixão de Cristo” foi, em sua maior parte, inspirado nos escritos de Anne Catherine Emmerich. Essa monja que nasceu no mesmo dia atribuído ao nascimento de Maria — 8 de Setembro — do ano de 1774 começou tendo visões ainda quando criança. Segundo suas alegações, ela costumava ver frequentemente seu anjo da guarda e dialogar com ele. O próprio Senhor Jesus teria participado pessoalmente de inúmeras de suas visões. Do seu anjo da guarda Anne teria aprendido a reverenciar a chamada eucaristia — a crença de que Jesus Cristo se acha presente, sob as aparências do pão e do vinho, com seu corpo, sangue, alma e divindade, no biscoito feito de água e farinha distribuído nas missas católico-romanas. Além de visões, Anne era também estigmática e manifestava as marcas das feridas do próprio Senhor nas mãos, pés, cabeça e peito! Suas visões, incluindo aquelas que foram ajuntadas sob o título de “A Dolorosa Paixão de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”, foram grafadas e editadas pelo poeta e fundador do movimento “Romântico” na Alemanha, Clemens Brentano. 

Da mesma maneira existem místicos entre os Budistas, entre os Hinduístas e entre os Islamitas. Portanto, experiências místicas não servem para provar a existência de uma verdadeira “vida espiritual” mais profunda e mais intensa. Esta tolice grega se instalou definitivamente na vida da igreja e suas conseqüências podem ser vistas até os dias de hoje em ensinamentos, igualmente tolos, de que existem cristãos espirituais e cristãos carnais. Pela descrição dada por estes mestres o cristão carnal não passa realmente de um incrédulo que não tem nada de cristão a não ser a aparência pretensiosa e vazia. Muitos existiram que, durante as diversas eras da igreja cristã pretenderam viver em um nível superior ao dos demais cristãos como se fossem mais espirituais, como se já estivessem vivendo nos céus! O fato é que Deus concedeu a todos os crentes sua completa bênção espiritual que se manifesta primariamente pela presença gloriosa do seu Espírito Santo em nós.  Aqueles que são habitados pelo Espírito de Deus não precisam de nenhuma patacoada!

A conclusão a que podemos chegar baseados exclusivamente nos ensinamentos da Bíblia é:
1. Os “lugares celestiais” não devem ser entendidos somente como um espaço ou localidade. As referências a “trono de poder” — ver Efésios 1:20 e 2:6 — bem como a principados e poderes nos lugares celestiais não se referem a lugares geograficamente limitados e devem ser entendidos como o ambiente onde poder e autoridade “celestiais” são exercidos.

2. Os lugares celestiais podem ainda ser habitados por seres hostis a Deus e aos homens — ver Efésios 6:12 — mas esse fato não ameaça nem impede a ordem correta nas regiões celestiais que consiste e será consumada pela submissão de tudo ao Senhorio de Jesus —  ver Efésios 1:20—23. Ver também Filipenses 2:9— 11 e Colossenses 1:18—20.

Em resumo: a menção de “lugares celestiais” ou céus em Efésios 1:3, não possui nenhuma função limitadora da mesma maneira que aconteceu com a expressão “espiritual”. Pelo contrário, o uso da expressão “lugares celestiais” indica a extensão, a eficiência, a validade e a suficiência da bênção que Deus concedeu. Deus mesmo é a fonte da bênção e todas as dimensões da criação e da existência humana, sejam elas reais, sejam imaginárias, são permeadas e modificadas por esta bênção, mesmo que ainda alguns elementos permaneçam hostis à mesma — ver Efésios 6:12.

LISTAS DOS ESTUDOS DE ENCONTROS DE PODER

001 — Introdução =

002 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = Expressões Diversas

003 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = ἀρχῆ — arché e ἄρχων — árchon.

004 – A linguagem de “Poder” no Novo Testamento = ἐξουσίαις – exousías – potestades, autoridades.

005 – A linguagem de “Poder” no Novo Testamento = δυνάμεις — dunámeis — poderes.

006 – A linguagem de “Poder” no Novo Testamento = Θρόνοι— thrónoi — tronos.

007 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = κυριοτῆς — kuriotês — domínio.

008 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = ὀνόματι — onómati — nome.

009 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = ἄγγελοs — ággelos — anjo.

010 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = δαιμονίον — daimoníon — demônioπνεῦμα τὸ πονηρὸν — pneûma tò poniròn — espírito malignoἀγγέλους τε τοὺς μὴ τηρήσαντας τὴν ἑαυτῶν ἀρχὴν— angélous te toùs me terèsantas tèn eautôn archèn — anjos, os que não guardaram o seu estado original ou anjos caídos.

011 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = ἀγγέλους  τῶν ἐθνῶν — angélous tôn ethnôn — anjos das nações.

012 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = ἀγγέλους  τῶν ἐθνῶν — angélous tôn ethnôn — anjos das nações — Parte 2.

013 — A Linguagem de “Poder” no Novo Testamento = ἀγγέλους  τῶν ἐθνῶν — angélous tôn ethnôn — anjos das nações — Parte 3 — Final.

014 — A Evidência do Novo Testamento – Parte 1 — Introdução

015 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 2 — As Passagens Disputadas — 1 Coríntios 2:6—8 — Parte 1

016 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 3 — As Passagens Disputadas — 1 Coríntios 2:6—8 — Parte 2

017 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 3 — As Passagens Disputadas — Romanos 13:1—3

018 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 4 — As Passagens Disputadas — Romanos 8:31—39

019 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 5 — As Passagens Disputadas — 1 Coríntios 15:24—27a — PARTE 1

020 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 6 — As Passagens Disputadas — 1 Coríntios 15:24—27a — PARTE 2

021 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 7 — As Passagens Disputadas — Colossenses 3:13—15 — PARTE 1

022 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 8 — As Passagens Disputadas — Colossenses 3:13—15 — PARTE 2

023 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 9 — As Passagens Disputadas — Efésios 1:20—23 — AS REGIÕES CELESTIAIS — PARTE 1

024 — A Evidência do Novo Testamento — Parte 10 — As Passagens Disputadas — Efésios 1:20—23 — AS REGIÕES CELESTIAIS — PARTE 2

025 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 11 — As Passagens Disputadas — EFÉSIOS 1:20—23 — PARTE 3

026 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 12 — As Passagens Disputadas — EFÉSIOS 1:20—23 — PARTE 4

027 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 13 — As Passagens Disputadas — EFÉSIOS 1:20—23 — PARTE 5

028 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 14 — As Passagens Disputadas — EFÉSIOS 1:20—23 — PARTE 6

029 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 15 — As Passagens Disputadas — EFÉSIOS 1:20—23 — PARTE 7 — A DESTRUIÇÃO DA MORTE E DE SEUS ALIADOS

030 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 16 — As Passagens Disputadas — COLOSSENSES 1:16 — A CRIAÇÃO DE TODAS AS COISAS POR MEIO DE E PARA O PRÓPRIO CRISTO

031 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 16 — As Passagens Disputadas — COLOSSENSES 1:16 — TENTANDO DEFINIR OS PODERES

032 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 16 — As Passagens Disputadas — COLOSSENSES 1:16 — TENTANDO DEFINIR OS PODERES —PARTE 002

033 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 17 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 001

034 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 18 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 002

035 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 19 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 003

036 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 20 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 004

037 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 21 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 005

038 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 22 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 006

039 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 23 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 007

040 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 24 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 008

041 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 25 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 009

042 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 26 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 010

043 — A Evidência do Novo Testamento — PARTE 27 — As Passagens Disputadas — OS ELEMENTOS DO UNIVERSO — PARTE 011 — O PRÍNCIPE DA POTESTADE DO AR
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2017/02/encontros-de-poder-043-evidencia-do.html

Que Deus abençoe a todos.

Alexandros Meimaridis

PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa página no Facebook através do seguinte link:


Desde já agradecemos a todos.


[1] A escola filosófica conhecida como Platonismo foi fundada por Platão — 427 – 347 a.C. — que juntamente com Sócrates e Aristóteles compõem a tríade de “mamutes” filosóficos da cidade antiga de Atenas. Platão era tanto filósofo, quanto poeta e místico, e a ele devemos o registro por escrito dos ensinamentos de Sócrates. Ao misturar filosofia com poesia e misticismo Platão conseguia combinar uma enorme habilidade de raciocínio lógico com vôos poéticos imaginativos e profundos sentimentos místicos. Platão acreditava em um ser criador que ele chamava de Demiurgo. Este Demiurgo molda o mundo real — esse em que vivemos — de acordo com o padrão do mundo ideal, tão perfeitamente quanto possível utilizando a matéria. O Demiurgo funciona como uma espécie de arquiteto que impõe formatos a matéria pré-existente — esta idéia platônica é muito penetrante e podemos encontrá-la tanto no conceito do “Grande Arquiteto do Universo”, da Maçonaria, quanto na série de filmes “Matrix”, onde o chamado “arquiteto” faz exatamente o que Platão ensinou. Quando Platão fala da “alma do mundo”, ele está falando da sua fé panteísta. Para Platão existem inúmeros outros deuses, além do Demiurgo, mas nenhuma personalidade é atribuída a eles. Platão também acreditava na eternidade das almas já que ensinava que todo conhecimento é apenas reminiscência. Apesar de Platão não ter ocupado um lugar dominante na filosofia grega posterior à sua época, como pode ser facilmente demonstrado, veio a ocupar de maneira quase absoluta, uma posição dominante nos primeiros séculos do Cristianismo. A teologia dos assim chamados “Pais da Igreja” que é chamada de Patrística e que é objeto de estudos na ciência histórica chamada de Patrologia, foi formulada, em sua grande maioria, baseada na super estrutura da filosofia de Platão. Mas a influência de Platão não se resume ao Cristianismo. O Judaísmo também, principalmente através de Filo Judaeus de Alexandria —15 a 10 a.C – 45 a 50 d.C — bem como, em tempos posteriores, a filosofia Islâmica também devem muito à Platão. Sua influência pode ser vista na ênfase da realidade não material, na existência de uma alma imortal distinta do corpo físico, na idéia de uma religião cósmica — a beleza da ordem celestial acima — e seus ensinamentos acerca de uma sociedade justa.

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